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A Teoria de George Kelly

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1.5 QUESTÕES DA APRENDIZAGEM: UMA RÁPIDA ABORDAGEM

1.5.3 A Teoria de George Kelly

Segundo a teoria de Kelly, o conhecimento é algo “constituído pelo sujeito em função dos significados atribuídos por ele a essa realidade e que têm relação com a maneira de percebê-la e interpretá-la” pensa o teórico que “estes construtos servem, por sua vez, para predizer os fatos e antecipar situações com a finalidade de controlar o curso dos acontecimentos” (MINGUET, 1998, p.7).

A Teoria do Construto Pessoal está organizada em um postulado fundamental e onze corolários. O postulado fundamental afirma que “os processos de uma pessoa são psicologicamente canalizados pela maneira como ela antecipa eventos” (KELLY, 1963, p. 46). Segundo o teórico, os seres humanos constroem sua realidade na qual respondem, e sua resposta está direcionada pelas suas experiências, utilizando conceitos prévios similares para antecipar as conseqüências do comportamento. (HALL et al., 2000).

Nessa teoria, parte-se do pressuposto de que não existe um conhecimento verdadeiro, absoluto e objetivo a respeito da realidade, mas, que o dito conhecimento é constituído pelo sujeito em função dos significados atribuídos por ele a essa realidade, e que tem relação com a maneira de percebê-la e interpretá-la. Estes construtos servem, por sua vez, para predizer os fatos e antecipar situações com a finalidade de controlar o curso dos acontecimentos (MINGUET et al, 1998).

Assim, os construtos são estruturados a partir da própria experiência. O sistema de construtos varia quanto à quantidade, sua organização e sua coerência. Logo, é natural ter-se sobre um mesmo tema, diferentes réplicas entre os participantes, uma vez que suas interpretações dependem de suas experiências prévias. O sistema de interpretação de uma pessoa varia conforme ela interpreta sucessivamente as reproduções dos eventos (HALL et al, 2000).

A teoria kellyana propõe um modo peculiar de perceber a experimentação humana, o que traz substanciais implicações para a aprendizagem. Primeiro, porque ela deixa de ser vista como

um fim e passa a ser vista como algo que define o sujeito; segundo, porque esta perspectiva prioriza os processos de construção e não os resultados finais.

Para Kelly (1963) “uma pessoa antecipa eventos construindo suas réplicas” (p. 50), a partir dos construtos que possui. É aí que recorrerá às idéias decorrentes de características abstraídas de experiências anteriores, projetando mentalmente a situação. As réplicas se dão a partir da apropriação de características abstraídas, sendo essas usadas para projetar eventos seguintes (MELO, 2005).

Para maior adequação e aprofundamento dos conceitos kelianos, com vista às questões da pesquisa, foram tratados neste trabalho, apenas três corolários, estes, condizentes com a individualidade e com as relações interpessoais dos envolvidos, o que privilegiou a análise pertinente ao afloramento das sensibilidades individuais e suas relações com novas experiências provocativas. Assim, foram discutidos sobre os corolários da Experiência, da Comunalidade e da Sociabilidade.

1.5.3.1 Corolário da Experiência

O Teórico explica o quanto experiências vivenciadas fortalecem as possibilidades de afirmação pessoal do indivíduo, pois é através dessas leituras particularizadas que as percepções interpretativas de mundo se estabelecem. Assim, “o sistema de construção de uma pessoa varia à medida que ela constrói sucessivamente a cópia dos acontecimentos” (KELLY, 1963, p. 72).

O foco da teoria de Kelly é o indivíduo, e não um grupo de pessoas, uma característica especifica do individuo ou apenas o seu comportamento. Também a idéia de aprendizagem é tratada no corolário da experiência, e não é vista como algo especial, mas como um sinônimo para qualquer processo psicológico. Portanto, representa o resultado das tentativas da pessoa de lidar com eventos, com suas experiências (BASTOS, 1992). Assim, para que ocorra a aprendizagem, é necessário que a pessoa esteja verdadeiramente engajada nesse processo complexo. Ou seja, os professores não devem esperar que seus alunos ‘mudem suas idéias’ porque tiveram ‘contato com um evento, se eles não tiverem investido na sua antecipação e se eles não considerarem o que ocorreu de uma forma crítica, nenhuma mudança será observada. (BASTOS, 1998, p. 2).

Bastos (1992) menciona que a maneira pela qual a pessoa muda seus sistemas de construtos, corresponde ao corolário da experiência, no qual as construções pessoais são hipóteses de trabalho que se confronta com as experiências, estando sujeitas à revisão e recolocação. O sistema de interpretação de uma pessoa varia conforme ela interpreta sucessivamente as reproduções dos eventos (HALL et al, 2000).

É importante mencionar que essa experiência para Kelly não representa apenas um simples encontro com um evento, mas um ciclo contendo cinco fases que se colocam na seguinte seqüência: “antecipação, investimento, encontro, confirmação ou desconfirmação, (validação) e revisão construtiva” (KELLY, 1963, p. 15).

FIGURA 01 - Ciclo da Experiência de Kelly

Representação de esquema sucinto de cada uma das etapas que compõe o Ciclo da Experiência de Kelly.

1.5.3.2 O ciclo da experiência de Kelly (1963)

A seguir tem-se em síntese a seqüência das etapas que compõem o Ciclo da Experiência de Kelly, ilustrado na FIGURA 01.

A Antecipação: essa etapa inicia-se quando a pessoa tenta antecipar o evento, utilizando os construtos que possui no seu sistema de construção;

Antecipação Confirmação desconfirma çção Revisão Construtiva Investimento Encontro

O investimento: quando a pessoa realiza a fase anterior, dependendo de sua capacidade de construir a réplica do evento, ela acaba por se engajar na fase de investimento, quando se prepara para encontrar com o evento;

O Encontro: momento em que a pessoa checa suas teorias pessoais;

A Confirmação ou Desconfirmação (validação): a checagem dessas teorias conduz à confirmação ou desconfirmação das mesmas pelo indivíduo;

A Revisão Construtiva: após a confirmação ou desconfirmação da teoria, surge uma revisão dos pontos que geram problemas. Essa revisão poderá levar a formação de novas construções dessa relação.

KELLY usou a expressão “experiências” para referir-se à sucessiva interpretação de eventos, não à seqüência de eventos em si: “Não é o que acontece ao redor dele que o torna um homem experiente; è a sucessiva interpretação e reinterpretação daquilo que acontece, à medida que acontece é que enriquece a experiência de sua vida” (1963, p. 73). A reprodução de eventos da qual depende o comportamento envolve a experiência de abstrair temas recorrentes de uma seqüência de eventos únicos. “Os resultados inesperados e a validação das expectativas nos obrigam a modificar os nossos sistemas de construtos“ (KELLY, 1963, p. 73).

O Ciclo da Experiência de Kelly (1963) propõe um modo peculiar de perceber a experimentação humana, o que traz substanciais implicações para a aprendizagem. Primeiro, porque ela deixa de ser vista como um fim e passa a ser vista como algo que define o sujeito; segundo, porque esta perspectiva prioriza os processos de construção e não os resultados finais.

1.5.3.3 Corolário da Comunalidade

Este corolário explica que, diante de acontecimentos, sendo esses, idênticos, semelhantes ou diferentes, seres humanos podem formar construções idênticas ou semelhantes em respostas a esses acontecimentos: “À medida que uma pessoa emprega uma construção da experiência similar à empregada por outra, seus processos psicológicos são similares ao da outra pessoa” (KELLY, 1963, p. 90, tradução livre).

Mesmo cada indivíduo, interpretando um mesmo evento de forma diferente e desenvolvendo construtos únicos, esses podem apresentar semelhanças entre si. Assim, quando as pessoas se comportam de forma semelhante, é porque interpretam os eventos com algumas similaridades, resultando que não é o simples fato de participarem de um mesmo evento que faz com que as pessoas ajam de maneira semelhante, mas a forma de interpretarem eventos. (BASTOS, 1992).

1.5.3.4 Corolário da Sociabilidade

Neste corolário, Kelly (1963) propõe que os relacionamentos significativos ocorrem quando as pessoas estabelecem um processo de entendimento mútuo. Nele não existe o sentimento de similaridade de personalidades, existe uma interação: Na medida em que uma pessoa constrói os processos de construção de outra, ela deve desempenhar um papel num processo social que envolva a outra pessoa (KELLY, 1963, p. 95). Assim, compreende-se que a interação social se baseia nas construções pessoais dos indivíduos em contínua interação com as mesmas e na construção das construções das outras pessoas (BASTOS, 1992).

As concepções individuais podem ser construídas a partir da influência de grupo familiar ao qual pertence ou com relação a outros contextos como os culturais ou o escolar, e podem ser alteradas.

Além da utilização do Ciclo da Experiência de George Kelly (1963), para estruturar a Intervenção Didática, buscou-se inserir o Círculo Hermenêutico-Dialético (CHD) nas etapas de Antecipação e Revisão Construtiva do Ciclo de Kelly FIGURA 02. Objetivou-se a escolha em função de uma melhor estruturação metodológica e de respostas mais conclusivas dos sujeitos pesquisados. Verificou-se serem estes os momentos oportunos para a melhor efetivação dos processos psicológicos dos envolvidos.

1.6 A METODOLOGIA INTERATIVA E O CÍRCULO HERMENÊUTICO-

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