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A TEORIA DE HAYES (1981, 1995) E O PROBLEMA PARA A ANÁLISE DA ESTRUTURA MÉTRICA DO MANXINERU

CAPÍTULO I 1 APRESENTAÇÃO DA PESQUISA

FONE ALTURA DO FORMANTE 1 (F1) ALTURA DO FORMANTE 2 (F2) DURAÇÃO

5.5 A TEORIA DE HAYES (1981, 1995) E O PROBLEMA PARA A ANÁLISE DA ESTRUTURA MÉTRICA DO MANXINERU

Como já apontado anteriormente, a teoria métrica proposta por Hayes (1981, 1995) nós traz dois problemas a serem solucionados: o primeiro diz respeito ao caráter geral de apenas três pés métricos como únicos para descrever as línguas do mundo, como sendo um tipo de universal linguístico; o segundo diz respeito tanto ao conceito de extrametricidade e licença métrica. Pois, como já postulado anteriormente, Hayes (1995) afirma que só pode haver sílabas extrassilábicas nas margens. O que dificulta, por esse viés, a descrição e explicação de alguns fenômenos que ocorrem com o Manxineru.

Uma solução encontrada para esse empasse, pelos menos para a extrametricidade, está em Lin (1997), pois o autor elabora, para a variedade Piro, uma análise de licenciamento do pé

métrico. Como exemplificado em (299) com palavra da variedade Piro ni.kja.wa.klu ‘local onde se come’. (299) PWd19 Ft Ft σ σ σ σ µ µ µ µ µ µ n i k j a w a k l u (LIN, 1997, p. 215, ex.: 21)

Essa representação arbórea é a solução encontrada pelo autor para que não haja sílabas fechadas e/ou para manter o padrão canônico CV. Estrutura defendida pelo autor para o Yine (variedade Piro). Nesse contexto as consoantes conservam a mora, mas não são ligadas ao domínio da sílaba, mas sim ao pé-métrico, como exemplificado em (300).

(300)

σ + σ → σ

µ µ µ µ

C V C V C C V (LIN, 1997, p. 210, ex.: 16)

Como se pode observar, o pé métrico licencia a ocorrência de consoantes extrassilábicas. O que, segundo Lin (1997), evita a construção de sílabas do tipo CCV, CVC e/ou CCCV, como postulado por Matteson (1965) e Hanson (2010), por exemplo.

Outro ponto importante na investigação, na perspectiva de Lin (1997), acerca da estrutura silábica do Yine (Piro), é a consideração de consoantes silábicas nessa língua, como descrito por Matteson (1954, 1965) e Sebastián (2006). A nossa hipótese a respeito dessa afirmação vai ao encontro de que foi postulado por Lin (1997), quando o autor afirma que:

20[...] É claro que Matteson considera que a silabicidade das consoantes é

diferente das vogais fonêmicas. Baseado em um levantamento de várias línguas do mundo exibindo vogais excrescentes, Levin (1987) argumentou que a consoante de Piro, a silabicidade envolve coarticulação universal de baixo nível e efeitos. Eu também sugeri em outro lugar (1993) que estas consoantes “silábicas” não constituem picos silábicos fonológicos, uma vez que nunca são sensíveis a quaisquer sílabas relacionadas com os processos fonológicos [...]. Portanto, o que é descrito como uma consoante “silábica” é melhor tratado como fenômeno fonético. (Tradução nossa).

A nossa hipótese é de que não há consoantes fonologicamente silábicas, mas sim realizações fonéticas motivadas por juntura morfofonológicas e sintáticas e estas com a adequação acentual da língua Manxineru.

Dessa forma, o sistema trocaico do Manxineru se configura, hipoteticamente, como não tendo coesividade métrica, uma vez que em alguns casos o que parece definir o acento principal, e consequentemente a estrutura do pé métrico, é o peso silábico. Assim, a nossa análise sugere que o Manxineru tem o padrão de sistema métrico trocaico silábico, mas, de certa forma, sensível à quantidade, isto é, em alguns casos se configura como trocaico-moraico, o que o configura, em muitos casos, como um sistema misto.

20Do original: “It is clear that Matteson considers syllabicity of consonants to be different from that of phonemic vowels. Based on a survey of various languages exhibiting excrescent vowels, Levin (1987) has argued that Piro consonant syllabicity involves low-level universal and language-particular coarticula-tion effects. I have also suggested elsewhere (1993) that these 'syllabic' consonants do not constitute phonological syllabic peaks, since they are never sensitive to any syllable-related phonological processes [...]. Therefore, what is described as a 'syllabic' consonant is best treated as a phonetic phenomenon (LIN, 1997, p. 406).”

5.6 CONSIDERAÇÕES FINAIS SOBRE O CAPÍTULO

Os dados analisados neste capítulo nos possibilitaram verificar e demonstrar algumas realizações da fonologia métrica do Manxineru, entre elas destaca-se o processo de ressilabificação das palavras na língua em análise. Processo esse que é comum a essa língua, pois a característica tipológica aglutinante e polissintética possibilita a ocorrência desse fenômeno.

Outro fator muito importante, que foi discutido neste capítulo, é o ritmo da fala e a posição de acento da palavra, que ocorre na penúltima sílaba, caso isso não ocorra, o sistema métrico da língua, normalmente, considera a última sílaba como extrassilábica, ou há ressilabificação do fonema nas derivações das palavras, formando, por exemplo, sílabas complexas (ramificada, cf. CLEMENTS; HUME, 1995). Dessa forma, concordamos com Lin (1997), quando o autor propõe, com base em Hayes (1991, 1996), que em Piro as sílabas com vogais breves mantém a mora, se tornando extrassilábica, mas sendo licenciadas pelos domínios mais altos da Hierarquia Fonológica, conforme proposto por Nespor e Vogel (1986). Porém acrescentamos que na ressilabificação, advinda da juntura morfofonológica e sintática, há restruturação silábica motivada por regra rítmica e morfofonológica da língua.

Assim, a nossa hipótese é a de que, em Manxineru, o padrão fonológico canônico é C(C)V(C). Outros padrões superficiais (fonéticos) são possíveis, mas isso ocorre principalmente em situações de ressilabificação e/ou de junção morfofonológica, como já postulado no início deste Capítulo. Também propomos que o pé métrico para a língua Manxineru é o troqueu (ou trocaico) silábico, mas ressaltando a forte interação da mora (peso) para formação do pé e do acento, ou seja, a mora tem forte influência na construção rítmica do Manxineru, o que configua a língua como um sistema incoerente em relação ao padrão do pé métrico.

Cabe salientar que, no Capítulo XI, abordamos, com o auxílio da fonética acústica experimental, os correlatos acústicos do acento e da entoação (duração, pitch e intensidade), como forma de verificar com melhor riqueza de detalhes a interação entre esses parâmetros e a marcação de acento em Manxineru.

CAPÍTULO VI