• Nenhum resultado encontrado

CAPÍTULO 2: O ENSINO DA MATEMÁTICA, O PROFESSOR E SEU MODELO DE

3.2. A TEORIA DO NÚCLEO CENTRAL

A Teoria do Núcleo Central (TNC) foi proposta pela primeira vez, em 1976, através da tese de Doctoral d‟Éat, por Jean-Claude Abric. A TNC não pretende substituir a Teoria das Representações sociais, mas sim a complementar para que a “grande teoria” se torne mais heurística para a prática social e para a pesquisa.

De acordo com Sá (2002) a TNC não é uma “teoria menor”, mas uma das maiores contribuições atuais ao refinamento conceitual, teórico e metodológico ao estudo da RS.

Como já enfatizado, para compreender e analisar o funcionamento de uma representação é indispensável identificar seus elementos estruturais e seu conteúdo. Neste sentido, a teoria do núcleo central parte da ideia que toda representação social é constituída por um núcleo e por um sistema periférico que são exatamente os elementos estruturais, ou seja, toda representação é organizada por um núcleo central constituído de elementos que ocupam uma posição de destaque na estrutura, sendo que, havendo uma alteração em alguns dos elementos ocasionará modificação na representação.

Desta forma, a ideia de Abric (2001) é que toda a representação está organizada em torno de um núcleo central que determina, ao mesmo tempo, sua significação e sua organização interna. E os outros elementos que entram na composição são chamados elementos periféricos, desempenhando um papel essencial no funcionamento e na dinâmica das representações.

Para Abric é o núcleo central que determina o significado e a organização da representação a partir de condições históricas, sociológicas e ideológicas. Já os elementos periféricos, organizado em torno do núcleo, permitem uma assimilação mais individualizada da representação social, de maneira mais flexível e diversificada (GRAÇA, MOREIRA e CABALLERO, 2004).

Para a identificação de tais elementos das representações, Abric preocupa-se em comprovar, através de pesquisas experimentais, que “os comportamentos dos sujeitos ou dos grupos não são determinados pelas características objetivas da situação, mas pela representação dessa situação” (ABRIC, 1989 apud SÁ, 2002, p. 54), e em seguida busca compreender a organização interna das representações.

O núcleo central (NC) oferece resistência às mudanças e revelam crenças arraigadas nos grupos, mantendo, assim, a identidade. Desempenha na estruturação e no funcionamento das representações sociais o cumprimento de duas funções essenciais: a função Geradora que será responsável pela criação ou transformação de uma representação, dando-a significado; e a função Organizadora (conhecida também como Unificadora) que determinará a natureza dos laços que unem os elementos da representação. E a tais funções, Abric, afirma que delas decorrem a função estabilizadora, como uma propriedade do núcleo central, e que conterá os elementos que mais resistem à mudança (SÁ, 2002; VILLAS BOAS, 2004).

O NC pode assumir também duas dimensões diferentes, definidas como Funcional e Normativa. Na dimensão Funcional os elementos mais importantes de uma determinada tarefa serão privilegiados na representação e constituirá seu núcleo central. Já uma dimensão será Normativa em todas as situações que demandam reações sócio-afetivas, ideológicas e/ou sociais, fazendo com que uma atitude fortemente marcada esteja ligada a um estereótipo ou a atitudes no centro da representação (SÁ, 2002).

Por mais importante que seja o núcleo central é indispensável o entendimento dos elementos periféricos que geram a interface entre a realidade concreta e o sistema central.

Abric (2001) destaca três funções para o sistema periférico, em complementaridade ao sistema central: sua primeira função é a Concretização que é diretamente dependente ao contexto imediato que produz os elementos periféricos, ou seja, permite adaptação à realidade concreta já que é mais sensível; sua segunda função é a Regulação que ao contrário do núcleo central, seus elementos são maleáveis, permitindo a diferenciação do conteúdo, integrando novos elementos em função de situações concretas de modo que esses novos elementos possam ser integrados à periferia da representação; já a terceira função é a Defesa que protege o sistema central, atuando no momento em que a representação precisa de defesa.

São os elementos do sistema periférico que permitem sua flexibilidade e sua elasticidade para integração na representação das variações individuais ligadas à própria história dos sujeitos, bem como das suas experiências pessoais, destacando que é somente neste sistema que poderão suportar as contradições.

Os elementos periféricos também concretizam, regulam e preservam os comportamentos, individualizando as representações, enquanto protegem o NC. Desta forma, Abric (2001) acredita que as modificações no núcleo central podem transformar as representações.

Sendo assim, Sá (2002) citando Abric comenta que o sistema central é estável, coerente, consensual e historicamente determinado. Já os elementos periféricos são flexíveis, adaptativos e relativamente heterogêneos quanto ao seu conteúdo, e que embora em posição de dependência do anterior, possibilita a integração das experiências de cada indivíduo com os objetos.

Está aí, a explicação do processo de mudança das representações ser tão lento, já que são os elementos centrais os principais responsáveis pela dinâmica interna de ressignificar e/ou manutenção das práticas vivenciadas por cada indivíduo.

Segundo Abric (1994 apud SANTOS, NOVELINO e NASCIMENTO, 2001) de uma forma ou de outra há mudança e ela pode ocorrer por três maneiras: pela transformação apenas dos elementos periféricos sem o núcleo central ser atingido, chamado de transformação Resistente; pela integração progressiva no núcleo central de esquemas ativados por novas práticas para formar um novo núcleo

central, chamado de transformação progressiva; e tem ainda, a transformação Brutal que ocorre quando há alteração radical do núcleo central, quando as novas práticas provocam o questionamento do significado central da representação.

Através dos princípios da TRS poderemos delimitar o significado atribuído pelos sujeitos a um determinado conhecimento e assim compreender, a partir da TNC, como esses significados se organizam num grupo determinado e até verificar de que maneira as representações norteiam a prática pedagógica dos indivíduos, o que constituem como uma possibilidade de inferir sobre a realidade educacional.

Dessa forma, identificar os elementos estruturais das representações que são o núcleo central e os elementos periféricos é nossa tarefa, já que nos propomos a compreender a organização das representações dos professores dos anos iniciais sobre o Ensino de Matemática do Município de Recife. Por isso que precisávamos conhecer a TRS, bem como a TNC, para podermos identificar como as representações se organizam e como elas se diferenciam em função das características dos sujeitos.

Acreditamos que tais representações sociais sobre o ensino da matemática refletem e determinam, em parte, a prática pedagógica destes professores dando significado às diversas situações (novas ou não) em que estão inseridos, isto é, orientam o seu agir/fazer, suas atitudes e suas maneiras de ensinar que devem ser fortemente influenciados pelas representações sociais que estes sujeitos possuem e constroem sobre o Ensino de Matemática.

Acreditamos também que, a partir da coleta dos dados da presente pesquisa, será possível inferir sobre alguns aspectos que levam o nível do IDEB a baixos níveis educacionais e inferir na relação das Representações Sociais dos professores sobre o Ensino da Matemática e o nível do IDEB das escolas que estes profissionais atuam.