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Inicialmente, imperativo registrar o que é a Teoria das Representações Sociais, já que esta servirá como alicerce para a análise dos dados obtidos durante a entrevista com os operadores do direito.

A Teoria das Representações Sociais surgiu, mais precisamente, em 1961 com o estudo realizado por Serge Moscovici, intitulado Psychanalyse: Son image et son public.10

O motivo que fez Moscovici desenvolver o estudo das Representações Sociais foi, principalmente, sua crítica aos pressupostos positivistas e funcionalistas das demais teorias que não davam conta de explicar a realidade em outras dimensões, principalmente na dimensão histórico-crítica.11

A partir de então, referida Teoria passou a desenvolver-se, no entanto, estabelecer seu conceito em definitivo nunca foi uma tarefa fácil. Contudo, alguns autores o arriscam, assim como faz Strey, ao definir as representações sociais como sendo

9 CANDELORO, loc. cit.

10 PAVARINO, Rosana Nantes. Teoria das representações sociais: pertinência para a pesquisa em comunicação

de massa. Comunicação e Espaço Público, Brasília, DF, v. 2, n. 1 e 2, p. 127-141, jan./dez. 2004. Disponível em: <http://www.fac.unb.br/site/images/stories/Posgraduacao/Revista/Edicoes/2004_revista.pdf#page=127> Acesso em: 12 maio 2011.

11 JACQUES, Maria da Graça Corrêa; STREY, Marlene Neves. Psicologia social contemporânea: livro texto.

‘teorias’ sobre saberes populares e do senso comum, elaboradas e partilhadas coletivamente, com a finalidade de construir e interpretar o real. Por serem dinâmicas, levam os indivíduos a produzir comportamentos e interações com o meio, ações que sem dúvida modificam os dois.12

Moscovici, o pioneiro desta Teoria, no entanto, sugere uma coleta de variadas noções para compor o seu conceito, veja-se:

Por representações sociais, entendemos um conjunto de conceitos, proposições e explicações originado na vida cotidiana no curso de comunicações interpessoais. Elas são o equivalente, em nossa sociedade, dos mitos e sistemas de crenças das sociedades tradicionais; podem também serem vistas como a versão contemporânea do senso comum13

Ainda, em conjunto com Nemeth, o referido autor completa dizendo que:

As representações sociais são conjuntos dinâmicos, seu status é o de uma produção de comportamentos e relações com o meio, o de uma ação que modifica uns e outros, e não o de uma reprodução [...], nem o de uma reação à um estímulo exterior determinado. [...] são sistemas que têm uma lógica própria e uma linguagem particular, uma estrutura de implicações que se referem tanto a valores como a

conceitos [com] um estilo de discurso próprio. Não as consideramos como

opiniões sobre nem imagens de, mas como ‘teorias’, como ‘ciência coletiva’ sui

generis, destinadas à interpretação e a construção da realidade.14

Além destes, tem-se o conceito elaborado por Jodelet, no qual se afirma que “as representações sociais são uma forma de conhecimento socialmente elaborado e compartilhado, com um objetivo prático, e que contribui para a construção de uma realidade comum a um conjunto social”.15

É possível ainda afirmar, segundo Minayo, que as representações sociais

se manifestam em palavras, sentimentos e condutas e se institucionalizam, portanto, podem e devem ser analisadas a partir da compreensão das estruturas e dos comportamentos sociais. [...] Fruto da vivência das contradições que permeiam o dia-a-dia dos grupos sociais e suas expressões marca o entendimento deles com seus pares, seus contrários e com a instituição […] as RS possuem núcleos positivos de transformação e de resistência na forma de conceber a realidade.16

12 Ibid., p. 105.

13 MORAIS, José Jassuípe da Silva. A representação social do contador e a imagem dele perante a sociedade.

Studia Diversa, CCAE-UFPB, v. 1, n. 1, p. 36-43, out. 2007. Disponível em:

<http://www.ccae.ufpb.br/public/studia_arquivos/arquivos_01/jassuipe_01.pdf>. Acesso em: 12 maio 2011.

14 ARRUDA, Angela. Teoria das representações sociais e teorias de gênero. Cadernos de Pesquisa, n. 117, p. 127-

147, 2002. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/cp/n117/15555.pdf> Acesso em: 12 mai. 2011. Grifo nosso.

15 ARRUDA, loc. cit.

16 MINAYO, Maria Cecília de S. O conceito de representações sociais dentro da sociologia clássica. In:

GUARESCHI, Pedrinho. JOVCHELOVICH, Sandra (Org.). Psicologia social: textos em representações sociais. Petrópolis: Vozes, 1995. p. 108.

Neste sentido, é possível afirmar que a Teoria das Representações Sociais se enquadra perfeitamente no que diz respeito às indagações feitas quanto à recusa do paciente à transfusão de sangue por motivos religiosos. Muitas vezes o modo como os aplicadores das leis vêem esta recusa, pode ser diferente daquele visto pelas Testemunhas de Jeová, ou seja, são grupos sociais distintos, podendo ter pensamentos distintos.

Vale ressaltar, que o objetivo aqui proposto, é analisar o discurso dos operadores do direito acerca do tema, os quais menciona-se, são discursos próprios, apresentados de acordo com seus com seus valores, conceitos, etc.

Assim sendo, devidamente estabelecido o conceito da Teoria das Representações sociais, faz-se necessário, ainda, determinar o sujeito e o objeto da representação social que aqui se quer analisar.

Não há como se falar em representação social sem especificar o sujeito que mantém tal representação e o objeto que é representado. Uma representação social é sempre de alguém e de alguma coisa, ou seja, de um sujeito e de um objeto.17

Portanto, os operadores do direito, já determinados, são nesta ocasião considerados como os sujeitos da pesquisa, enquanto que a transfusão sanguínea, com sua recusa por parte dos seguidores da religião Testemunhas de Jeová, é considerada o objeto.

Com efeito, vale ainda mencionar que a recusa do paciente à transfusão de sangue por motivos religiosos (objeto), tem seu saber construído socialmente sob certa reprovação. Muitos consideram a transfusão de sangue como uma medida de urgência capaz de salvar vidas e ao agir contrariamente, estariam as Testemunhas de Jeová negando-a.

Assim sendo, busca-se conhecer através das Representações Sociais a compreensão dos operadores do direito acerca desta recusa, quais são suas opiniões, suas crenças, seus valores e explicações em relação a este fenômeno que aqui se apresenta.

É possível perceber tamanha relevância através das palavras de um dos operadores entrevistados, veja-se:

“Com certeza influência, não é dois mais dois. A opinião do advogado conta, [...] pode bater no escritório de advocacia e o ‘cara’ dizer que não vai fazer porque acredita que ele tenha que morrer, ou que tenha que ser defendido o direito dele de religião. Vai bater na ‘mão’ de um promotor, vai bater na ‘mão’ de um juiz, todos são pessoas, cada um carrega seus conceitos”. [...] tem muito a ver com questão de valores, de educação, de religião, [...] Eu não posso isolar na hora de dar a minha posição profissional. Apesar de querer garantir toda a técnica do mundo, não tem como eu isolar”. (Promotor de Justiça nº. 1)

17 SÁ, Celso Pereira de. A construção do objeto de pesquisa em representações sociais. Rio de Janeiro:

Deste modo, é possível perceber que a utilização da Teoria das Representações Sociais traz para o presente trabalho não apenas um cunho psicossocial, mas também jurídico, tendo em vista que são estes operadores que lidam com o Direito diariamente, e que se ainda não foram questionados sobre esta recusa, em breve o serão, já que não se trata de um assunto acabado, é algo que perdura há anos, pois envolve a consciência religiosa, uma filosofia de vida, algo que deve ser respeitado.

Sendo assim, passa-se a apresentar a categorização estabelecida para a análise dos dados coletados.

4.3 CATEGORIZAÇÃO DAS REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DOS OPERADORES DO