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3.3 TEORIA SUBSTANTIVA

A teoria substantiva19 20 resultou dos processos de análise e

ferramentas analíticas, sendo os principais: (a) comparação constante, (b) fazer perguntas e (c) saturação teórica, ao longo de toda a análise, como indicado por Corbin e Strauss (2014). Seguindo as definições desses autores, a comparação constante é o processo em que partes dos dados são confrontados e agrupados, fazer perguntas deixa aberto ao diálogo com os dados, para definir conceitos, propriedades e dimensões, até que se chegue à saturação teórica que é o estágio no qual não surgem novos dados para análise. Essas ferramentas analíticas foram essenciais para o processo de análise, embora Corbin e Strauss (2014) enfatizem que tratasse de ferramentas que auxiliam na análise, mas não são regras. Além disso, leitura e releitura dos dados, assim como pesquisar possíveis significados das palavras, também foram estratégias adotadas, atendendo às indicações dos autores.

Os três resultados possíveis, propostos por Corbin e Strauss (2014), foram organizados no Capítulo 4, Resultados e Discussão, que são: a descrição, o ordenamento conceitual e o esquema teórico que representa a teoria substantiva, mais afirmações sobre as relações na integração das categorias, propriedades e dimensões.

Para compreender o contexto de análise, adotou-se a matriz condicional/consequencial proposta por Corbin e Strauss (2014, p. 153, posição 4050 de 11566), que consiste em outra estratégia analítica que possibilita “identificar a variedade de condições possíveis que participam em qualquer situação e em torno de uma variedade de consequências que resultam de ação/interação”. Na Figura 16 está apresentada a matriz

19 Parece importante esclarecer a diferença entre teoria formal e teoria substantiva. Corbin e Strauss (2014, p. 63, posição 2007 de 11566, tradução nossa) explicam que “As teorias formais são menos específicas para um grupo ou lugar, são mais amplas, mais densas e podem ser usadas para entender uma gama mais ampla de preocupações e problemas sociais.”. Já uma teoria substantiva oferece explicações lógicas para fenômenos de uma área e contexto específicos.

20 Identifica-se que “Como metodologia geradora de teorias sobre fenômenos, a grounded theory vem ganhando importância em todos os campos do conhecimento, principalmente na ciência administrativa que, via de regra, importa teorias norte-americanas e europeias, dissociadas do contexto local.” (MATOS et al., 2015)

condicional/sequencial que foi adotada como referência para esta pesquisa, com base na matriz proposta pelos autores.

Figura 16 - Matriz Condicional/Sequencial

Fonte: Adaptada pela Autora, com base em Corbin e Strauss (2014, p. 163, posição 4304 de 11566). O diagrama original pode ser visto no Anexo IV.

Na Matriz Condicional/Sequencial, é possível perceber que as ações e interações dos processos em evolução se direcionam em diferentes níveis, descrevendo relações de reciprocidade e relacionados a alguns temas que podem estar implicados no contexto de análise.

Outras três ferramentas analíticas foram adotadas: Contexto, Paradigma e Processos, que são assim definidos por Corbin e Strauss (2014):

Contexto [...] localiza e explica a ação-interação dentro de um cenário de condições e consequências antecipadas. Ao fazê-lo, ele vincula conceitos e melhora a capacidade de explicação de uma teoria. (p. 153, posição 4053 de 11566, tradução nossa) Paradigma é uma ferramenta analítica que ajuda os analistas a codificarem uma categoria. Trata-se de uma perspectiva ou de um conjunto de questões que podem ser aplicadas aos dados para auxiliar os analistas a resolver conceitos e estabelecer vínculos. (p. 153, posição 4053-4056 de 11566, tradução nossa)

Processos: mudanças adaptativas na ação- interação tomada em resposta às mudanças nas condições. (p.153, posição 4056 de 11566, tradução nossa)

A matriz para o paradigma explanatório consiste na seleção de itens dos dados para criar o enredo e seus aspectos de destaque, de forma sequencial (CORBIN; STRAUSS, 2014) e está apresentada na Figura 17. Figura 17 - Matriz para o Paradigma Explanatório

Fonte: Corbin e Strauss (2014, p. 89, posição 2665-2668 de 11566).

Os esquemas ou ferramentas analíticas foram adotadas para organizar e compreender os dados, conforme indicado por Corbin e Strauss (2014), tendo-se em vista que:

A Matriz para o Paradigma Explanatório (a partir de) Perspectiva

(atributos) Dimensões-Propriedades (em) Contexto (sob) Condições Ações/Processos (com) Consequências

[...] para construir a teoria, é necessário ligar a ação-interação às condições em que ela ocorre e às quais as pessoas estão respondendo quando elas agem e aos resultados que resultam quando certas ações e interações são tomadas. [...] (p. 153, posição 4060 de 11566, tradução nossa)

Depois de elaborado o esquema teórico e a teoria, a etapa de validação se faz necessária e é apresentada a seguir.

3.3.1 Validação e avaliação da teoria

Validação e avaliação da teoria substantiva, constitui parte importante na pesquisa qualitativa, conferindo-lhe credibilidade (STRAUSS; CORBIN, 2008; TAROZZI, 2011; LOCKE, 2001). Partindo dessa ideia, apresenta-se a validação e os critérios de avaliação que foram adotados nesta pesquisa, ao encontro do que é proposto e reconhecido por Corbin e Strauss (2014).

Para Corbin e Strauss (2014), há duas formas principais de validar o esquema teórico que representa uma abstração dos dados: voltando aos dados e/ou validando junto aos participantes ou outros pesquisadores. Nesta pesquisa, optou-se por validar o esquema teórico e a teoria junto aos participantes e outros pesquisadores, convidando-os a participar e disponibilizando o texto elaborado para esse fim – item 4.3 (APÊNDICE L), verificando se eles se identificavam com a história analítica e se o esquema se ajustava a eles (CORBIN; STRAUSS, 2014). A validação também se deu retornando-se aos dados. No processo de validação foram obtidos cinco retornos (3 participantes e 2 especialistas – um pesquisador com experiência em GT e uma pesquisadora da área de educação). Os participantes referiram identificar-se com a história analítica (apenas um deles solicitou melhor esclarecimento sobre aspecto que foi modificado e esclarecido). Os especialistas também fizeram contribuições visando conferir melhor clareza e compreensão à história analítica e concordaram que o esquema teórico demonstrava lógica decorrente da integração das categorias, propriedades e dimensões.

Ainda, para avaliar a teoria substantiva gerada pela GT, nesta pesquisa foram adotados os critérios utilizados por Bandeira-de-Mello e Cunha (2004), elaborados por Kerlin (1997) a partir de Sherman e Webb (1988). A descrição e a contribuição para a qualidade da teoria, a partir de cada critério apresentado pelos autores, encontram-se no Quadro 10.

Quadro 10 - Critérios para avaliação da teoria substantiva

Critérios Descrição Contribuição

Grau de

Coerência (fit) As categorias da teoria devem ser derivadas dos dados e não de preceitos do pesquisador.

Confere credibilidade à teoria e permite que seja entendida por terceiros que não participaram do estudo. Funcionalidade A teoria deve explicar as variações

encontradas nos dados e as inter- relações dos construtos, de forma a fornecer capacidade preditiva acerca do fenômeno explicado.

Uma teoria substantiva funcional deve ser entendida como teoria útil para os envolvidos.

Relevância A teoria deve emergir fruto da sensibilidade teórica do pesquisador, que deve ser capaz de identificar a categoria central mais relevante para explicar o fenômeno.

A relevância é verificada pelo reconhecimento imediato do significado da categoria central pelos envolvidos.

Flexibilidade A teoria deve ser passível de modificação, permitindo que novos casos enriqueçam com a introdução de novas propriedades e categorias.

Uma teoria substantiva deve estar aberta para o aprimoramento da sua

capacidade de

generalização. Densidade A teoria deve possuir poucos

elementos-chaves e grande número de propriedades e categorias relacionadas.

A densidade confere maior validade aos construtos da teoria.

Integração Todos os construtos devem estar relacionados a uma categoria central e ser expressos em termos de proposições derivadas de um esquema teórico.

A integração evita existência de falhas na lógica explicativa da teoria.

Fonte: Adaptado de Sherman e Webb (1988) por Kerlin (1997), citado por Bandeira-de-Mello e Cunha (2004). O original pode ser visto no Anexo V.

A fim de atender aos critérios demonstrados no quadro supracitado, a pesquisadora foi a campo tendo ciência da existência deles em cada etapa do desenvolvimento da teoria e foram verificados ao final. No que se refere a esta pesquisa, o grau de coerência foi obtido por categorias derivadas dos dados, devidamente ajustadas e justificadas pelo contexto e pela literatura. Quanto à funcionalidade, a teoria foi verificada junto aos participantes e especialistas. Quanto à relevância, a categoria central também foi verificada junto aos participantes. Quanto à flexibilidade, espera-se que possa ser aprimorada pela incorporação de evidências futuras, permitindo a criação de novas categorias ou a ampliação para outro tipo de conhecimento – identidade ou concepção pedagógica, por exemplo. Quanto à densidade, as propriedades e categorias relacionadas serão apresentadas na sua totalidade e quanto à

integração, as proposições estão relacionadas com uma categoria central e em relação à literatura, como proposto por Corbin e Strauss (2014) – nas considerações mais recentes desses autores em relação à Grounded Theory, a apresentação de proposições não foi citado como possibilidade única e relevante. Isso conferiu maior liberdade de coerência para o trabalho de integração das categorias e sua representação no esquema teórico da teoria substantiva.