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Teorias e Evidências Empíricas da Estética Ambiental

Abordagem da Paisagem Urbana Midiática

3.1 Teorias e Evidências Empíricas da Estética Ambiental

No prefácio da obra “Environmental Aesthetics” publicada em 1988, seu editor e também autor de alguns Artigos, Jack Nasar, expõe que a estética ambiental representa a fusão de duas áreas de investigação: a estética empírica e a psicologia ambiental. Ambas usam metodologias científicas para tentar explicar o estímulo físico e a resposta humana. A estética empírica está preocupada com as artes e a psicologia estética com a melhoria da qualidade do habitat humano. Combinando a preocupação com o valor estético, o problema focalizado no habitat humano e a ênfase metodológica na aplicabilidade, a estética ambiental se torna um empreendimento único. Dessa forma, a preocupação central dessa área abrange o entendimento das influências ambientais sobre a emoção e a tradução desse entendimento em um projeto para o ambiente julgado favoravelmente pelo público.

Embora a estética seja apenas uma entre várias outras considerações para o projeto do ambiente, a qualidade estética do ambiente pode afetar a experiência imediata (sensação de bem estar) das pessoas, induzir reações subsequentes para o ambiente e seus habitantes, assim como influenciar o comportamento espacial, na medida em que o público é atraído para os ambientes sedutores e está suscetível de evitar os ambientes que julgarem desagradáveis.

A preocupação para compreender os princípios da estética é bastante antiga, e tem uma longa história na filosofia, no design e no estudo científico. Tais princípios, subsequentemente foram sendo estendidos para o domínio do ambiente construído. Nos últimos cinquenta anos, foi possível acompanhar um interesse renovado no exame empírico da estética. Daniel Berlyne publicou algumas de suas obras seminais sobre a estética; Joachim Wohlwill ampliou esse trabalho para ambientes de larga escala; profissionais do projeto como, por exemplo, Robert Venturi e Amos Rapoport, usaram princípiosda estética empíricapara criticar aarquitetura moderna edefender diferentes tipos de soluções projetuais.

A importância da qualidade estética do ambiente para o público é evidente. Nasar(1988)destacaestudosqueexaminaramrespostassubjetivasparaambientes, indicando também a importância da dimensão avaliativa ou estética em resposta ao

ambiente. Aborda também que diversos estudos empíricos demonstraram efeitos de variações nas condições estéticas sobre o bem-estar e o comportamento humano.

As decisões sobre a qualidade visual do ambiente são muitas vezes tomadas por especialistas. Isso é particularmente verdadeiro para grandes espaços. Como esses espaçossãoexperienciadosregularmenteporumgrande númerodepessoas, podem ter influência significativa na imagem da cidade. Se os especialistas e o público compartilhassem os valores estéticos ou se os especialistas pudessem medir com precisão as necessidades estéticas do público, a confiança na intuição profissional poderia ser aceita. Pesquisas, infelizmente, indicam que os especialistas diferem do público em suas preferências ambientais (GROAT, 1982; NASAR, 1989). Além disso, tais diferenças são notáveis e podem resultar em efeitos generalizados.

Embora alguns especialistas desdenhem dos valores estéticos do público, muitos deles buscam um projeto sensível aos usuários. Para os últimos, a pesquisa sobre a estética do ambiente pode ajudar a informar sobre as decisões de projeto. Teóricos e pesquisadores podem lucrar com a compreensão das limitações práticas enfrentadas pelos tomadores de decisão. A investigação sobre os aspectos práticos da aplicação dos resultados da pesquisa no projeto e planejamento pode ajudar a transformar a teoria e a pesquisa em realidade física. É, portanto, através de uma compreensão da teoria, pesquisa e políticas públicas que os tomadores de decisões podem ser mais eficazes na melhoria da qualidade do ambiente.

As próximas seções deste item invocam conceitos e evidências empíricas da estéticaambientalparareferendaraimagemavaliativaeaqualidadevisualpercebida da paisagem urbana midiática. Abordam-se ainda os componentes notáveis desse tipodepaisagemquepresumivelmenteinfluenciamsuaqualidadevisualpercebida.

Antes de iniciar a abordagem, destaca-se, embasado em Rapoport (1978), que há a noção de um conhecimento perceptivo indireto ou de mensagens mediadas por imagens. Através dessa fonte não diretamente relacionada com a experiência, todos podem avaliar lugares onde jamais tenham estado. Essa avaliação está vinculada aos sentidos e implica o envolvimento do indivíduo com uma mídia específica. Isso é relevante, pois esta pesquisa irá solicitar que grupos sociais avaliem, a partir de fotografias, a paisagem urbana midiática. Assim, ao invés de tratar a paisagem urbana midiática como um objeto estético em si, sua aparência e seu significado são considerados sob o ponto de vista da interação com o público que a experiencia.

3.1.1 Imagem Avaliativa da Paisagem Urbana Midiática

O aspecto formal da paisagem urbana midiática, conforme exposto no Capítulo 1, é resultante de contínuas ações decorrentes de vários atores ambientais públicos e privados que, seguindo diversas regras culturais, ao longo do tempo, moldam uma “paisagem cultural reconhecível”, segundo descreve o arquiteto antropologista Amos Rapoport (1978). Por ser pública e transmitir mensagens de forma absolutamente compulsória, o aspecto formal e a aparência da paisagem urbana midiática devem satisfazer ao público que regularmente a experiencia, e não ao especialista. Para tanto, é essencial mensurar as respostas que são compartilhadas pela maioria.

Dentro dessa perspectiva, todo conjunto de regulamentações e controle que recaem na aparência da paisagem urbana midiática deveria incluir notratamento da questão um exame atento sobre como o público avalia sua imagem e os significados que veem nela, ou seja, a imagem avaliativa da paisagem urbana midiática. Isso tem um efeito poderoso, na medida em que a imagem da paisagem que nutre o observador pode afetar suas experiências diárias e moldar seu comportamento.

Cumpre destacar que a aparência e o significado não estão desvinculados das funções da paisagem urbana midiática, mas são centrais a elas. A aparência desagradável dessa paisagem vai além da falta de satisfação emocional e das noções abstratas da boa forma estética. Caso sejam incompatíveis às atividades humanas, segundo Nasar (1998), a aparência e o significado podem aumentar a carga sensorial, o medo e o estresse. A atenção especial para melhorar a imagem avaliativa, ao contrário, pode resolver esses problemas e melhorar o bem-estar.

A imagem avaliativa, de acordo com Nasar (op.cit.), decorre da pessoa e do ambiente, e da contínua interação entre os dois. A Figura 3.1, um esquema gráfico utilizado por Nasar como modelo de resposta avaliativa para o ambiente, foi aqui adaptado para a paisagem urbana midiática. A imagem avaliativa pode variar pela biologia, personalidade, experiência sociocultural, níveis de adaptação, objetivos, expectativas e fatores internos e externos. A paisagem urbana midiática tem muitos atributos. Seus observadores, em função tanto de fatores internos como ambientais, ignoram alguns desses atributos e prestam atenção em outros, avaliando o que veem. Essa avaliação pode envolver uma quantidade variável de atividade mental,

mostrada no modelo como a percepção dos atributos da paisagem urbana midiática. Pode também surgir a partir do significado do conteúdo da forma. Isso requer atividade mental para: 1| reconhecer seu conteúdo; 2| estabelecer inferências sobre tal e colocá-la num quadro mental; 3| avaliá-la. Esse processo é mostrado no modelo como a cognição,ouseja, ojulgamentodos atributos dapaisagem urbana midiática. Em suma, filtra-se a resposta avaliativa através das lentes da percepção e da cognição da paisagem urbana midiática observada.

Ainda sobre esse modelo, num estudo anterior, Nasar (1994) destaca que certos tipos de respostas avaliativas, especialmente aquelas denominadas “formais”, podem preceder e ocorrer independente da cognição. Na Figura 3.1, a seta de “PERCEPÇÃO” para “AFETO” mostra que a resposta afetiva tem relação probabilística direta com a percepção. Ainda para o autor, pesquisadores concordam e o registro empírico confirma que a cognição também afeta a emoção. A cognição não precisa envolver cálculo racional. Pode envolver categorização e inferência sem pensamento consciente e respostas metafóricas, como resultado de um esquema. Certos tipos de respostas avaliativas, tais como aquelas denominadas “simbólicas”, refletem esse componente cognitivo. Na Figura 3.1, a seta de “COGNIÇÃO” para “AVALIAÇÕES AFETIVAS” e de lá para “RESPOSTA ESTÉTICA” mostram a relação probabilística de respostas avaliativas aos processos cognitivos.

Conforme demonstrado, a percepção da paisagem urbana midiática remete à sensibilização visual provocada no observador através de seus atributos, enquanto a

Figura 3.1 | Modelo de resposta avaliativa para a paisagem urbana midiática

Fonte | Adaptado de Nasar (1998:5)

ATRIBUTOS DA PAISAGEM URBANA MIDIÁTICA A1 A2 A3 . . . . An OBSERVADOR

(personalidade, estado afetivo, intenções, experiências socioculturais)

PERCEPÇÃO