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2 OCUPAÇÕES PRÉ-COLONIAIS E INDÍGENAS NO CENTRO-OESTE

3.6 TEORIAS E PRÁTICAS NA ANÁLISE DE ANTROSSOLOS

Ao identificar e interpretar os diversos tipos de marcas e atividades humanas no solo, é importante entender primeiro como ocorrem essas mudanças. Em princípio, as alterações do solo induzidas pelo ser humano podem ser provocadas por processos químicos, uma vez que os processos físicos estão sempre associados à química (Eidt, 1985), e certamente as mudanças no solo induzidas pelas ações humanas refletem na natureza de suas atividades. Porém, quais são elas?

Segundo Eidt (1985), cinco fatores devem ser observáveis: (l) nutrientes macro ou micro vegetais; (2) matéria orgânica; (3) características de redução de oxidação; (4) valores de pH; e (5) contaminantes exóticos (geralmente, industriais). O autor ressalta que estes cinco fatores químicos podem ser medidos e comparados a equipamentos relativamente baratos, em que os resultados preliminares guiaram as análises mais apuradas.

Entendemos estes cinco fatores voltados para atividades humanas da seguinte maneira: Primeiro, as análises dos micronutrientes15 são representadas por: N (nitrogênio), P

(fósforo), K (potássio), cálcio (Ca) magnésio (Mg) e enxofre (S). Como esses seis elementos são usados em quantidades relativamente grandes por todas as plantas, a remoção de vegetação por atividades humanas esgota sua concentração nos solos. Já os três primeiros nutrientes requerem quantidades de plantas e podem ser restaurados após a colheita por fertilização de solos, ou misturando-os com esterco de lixo ou fertilizante dos outros três; cálcio e magnésio, que podem aumentar o pH dos solos ácidos, são trabalhados no solo como calcário esmagado ou dolomita (EIDT, 19771985).

Ainda dentro do primeiro fator, deve-se ter em mente questões como: quais foram as práticas que levaram ao enriquecimento ou empobrecimento dos micronutrientes, erosão, lixiviação, tipos de solo. Geralmente, solos ácidos possuem níveis mais baixos de macro e micronutrientes que os solos fortemente alcalinos, orgânicos e arenosos (EIDT, 1977 1985).

O segundo fator, a matéria orgânica, é considerado um dos mais influenciados pela atividade humana. Ele desempenha um papel importante no desenvolvimento da fertilidade, estabilidade estrutural e reação dos micro-organismos nos solos. Sua composição consiste principalmente em compostos de carbono e nitrogênio. As principais fontes naturais de material orgânico são restos de plantas e animais (EIDT, 1977, 1985).

O carbono é um dos elementos mais ambulantes em solos antrópicos, como foi mencionado por Holliday (2004). Seu comportamento pode ser tanto siderófilo (na forma mais reduzida) como atmófilo (na forma oxidada) (SANTOS et al., 2018). Considerando a estrutura interna da Terra, o carbono ocorre na forma de grafita, e a profundidades maiores que 120km em condições redutoras, como diamante (SANTOS et al., 2018).

O ciclo geoquímico do carbono (Figura 04) é extremamente importante não só porque ele é um componente essencial da vida, mas também pela sua diversidade e facilidade de ligação com outros elementos e moléculas, como nitrogênio, fosfato, ferro, manganês e outros metais (ALBARÉDE, 2011).

Figura 4 – Ciclo do carbono.

Fonte: Toda Matéria, 2019. Disponível em: https://www.todamateria.com.br/ciclo-do-carbono/. Acesso em: agosto 2019.

É um sistema aberto que envolve entradas de carbono e nitrogênio e outros materiais a partir da biomassa acima da superfície e da atmosfera, bem como de enzimas, micróbios e decomposição logo abaixo da superfície. É diferente do ciclo de macro e micronutrientes, que depende de componentes de rocha inorgânicos (o material original do solo) para sua reserva básica. Na natureza, o ciclo do carbono pode ser interrompido se os compostos orgânicos presentes no solo forem oxidados (EIDT, 1977, 1985).

O terceiro fator, oxidação a redução, ocorre nas soluções do solo devido à interação química de micróbios e enzimas na presença de constituintes do solo e sistemas radiculares de plantas. À medida em que a oxidação ou a redução ocorre em um solo, esta tem um efeito marcado nas características deste. Os processos de redução de oxidação envolvem particularmente nitrogênio, ferro, manganês, enxofre e oxigênio, e variam com atividades humanas, como irrigação, drenagem e compactação. A medição dos efeitos de oxidação e redução pode ser altamente útil na avaliação de antrosóils. Quando a oxidação ocorre, os produtos resultantes são quase sempre solúveis. Assim, o exame de cores, sozinho, não indica a condição exata dos solos ou quando a descoloração ocorreu (EIDT, 1977, 1985).

O quarto fator é o Ph; em condições normais do solo, a troca de elétrons desempenha um papel importante na determinação da acidez deste. A água, que ioniza como H+ e OH-, fornece um recurso de íons H+ no solo. Uma reação comum do solo com um efeito semelhante resulta quando o CO2 se mistura com a água.

A alteração marcada do pH do solo altera as condições químicas, fazendo com que novos colonizadores de plantas apareçam e alterem a composição da cobertura vegetal. Os tipos de zonas áridas de alto pH são, portanto, os encontrados no mesmo nicho de ambientes mais ácidos e úmidos. O número de variedades de plantas presentes pode indicar a variação local do pH. Considerando que o pH é intimamente relacionado à disponibilidade (solubilidade) de certos nutrientes importantes, como o fósforo, associações vegetativas inteiras podem ser explicadas por essas relações (ADARNS & WALKER, 1975 apud EIDT, 1985).

Alterações no pH desempenham um papel importante na determinação da disponibilidade de nutrientes no solo. Variações sazonais do pH com ciclos úmidos secos influenciam a quantidade de material nutriente disponível durante estes ciclos ambientais. Eidt (1985) ressalta que a interpretação das mudanças de pH deve ser feita somente depois de ter em conta as mudanças climáticas naturais.

Já o quinto fator está ligado a contaminantes por ações humanas. Bertine & Goldberg (1971) acreditam que a combustão do carvão é uma importante fonte de contaminação por metais pesados, assim como o aumento de mercúrio nos solos também foi atribuído à

queima de carvão (JOENSUU, 1971). Uma das maneiras importantes pelas quais as atividades humanas alteram os solos quimicamente é pela adição de vestígios de metais e hidrocarbonetos. Esses produtos químicos frequentemente deprimem certos nutrientes até o ponto de deficiência e/ou aumentam outros até o ponto de toxicidade (DENEVAN, 1970; EIDT, 1985).