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2. A QUISIÇÃO , DESENVOLVIMENTO E APRENDIZAGEM DA LÍNGUA MATERNA E DA LÍNGUA N ÃO

2.4. Aprendizagem da Leitura

2.4.3. Teorias sobre a leitura – abordagem psicolinguística

De acordo com Castro e Gomes (2000) a linguagem é uma forma de comunicar e é uma faculdade de expressão humana, por isso, ser considerada como o mais poderoso instrumento de comunicação conhecido. Como parte integrante do meio onde o homem está inserido, é também a base do pensamento humano. Vimos que há uma estreita relação entre a linguagem e o pensamento. A fala e a escrita são as duas principais formas de se expressar através da linguagem verbal. Apesar de ambas serem formas de expressão linguística, há algumas diferenças relevantes entre elas que mostram que a aquisição da fala não representa automaticamente a aquisição da escrita.

Na comunicação, temos que analisar os discursos (oral e escrito). O discurso oral é um acto social. Pressupõe interacção e reacção entre os indivíduos e determina a presença de uma audiência sobre a qual as formas de intervenção assentam, visto serem determinadas pelo contexto situacional. Assim, a verificação imediata e a orientação da comunicação flui nos dois sentidos. A aquisição e domínio do discurso oral acontecem em processos naturais, portanto, informais. Enquanto o discurso escrito é, normalmente, adquirido pela via do ensino formal.

Para apreender a linguagem escrita é necessário realizar outras aprendizagens que têm em consideração vários aspectos gramaticais como a forma correcta de grafar as palavras e as suas componentes, o vocabulário, a sintaxe, de modo a organizar formalmente e a construir contextos significantes. O que mostra que o discurso escrito exige um esforço mental mais complexo que o discurso oral porque obriga a concentração na produção das ideias e no seu significado e nos planos psicológico, linguístico e cognitivo encontra-se mais favorecido que a linguagem falada, determinando a leitura como uma forma distinta de comunicação.

Castro e Gomes citando Goodman 65 definem a leitura como "um processo psicolinguístico através do qual o leitor, um utente da língua, reconstrói, o melhor que pode, uma mensagem codificada por um escritor com uma determinada disposição gráfica... Esta reconstrução assume as características de um processo cíclico envolvendo operações complexas de amostragem, previsão, testagem e confirmação, a partir da construção inicial de uma hipótese sobre a mensagem de um texto. O conceito de amostragem constitui algo de novo, em oposição directa a outros modelos, nos quais a leitura pressupõe o processamento de todas as letras do texto escrito. O que significa tal conceito? Apenas o seguinte: o bom leitor, tirando partido dos aspectos redundantes da linguagem, faz a reconstrução de um texto completo recorrendo apenas a uma parte do material gráfico, como que envolvido num processo de reprodução de uma réplica.”

Para verificar a situação da leitura confrontamo-nos com questões do tipo: i) O que se lê?; ii) Para que se lê?; iii) Quando?; iv) Para quem? v) Com quem?; vi) Em que condições a leitura é efectuada na sala de aula? Ao reflectir sobre estas questões o professor desenvolve a leitura, na sala de aula, com objectivos traçados, uma metodologia adequada, recursos precisos, respeito pelo tempo do aluno, com o propósito de fazer com que os alunos iniciem o processo de alfabetização de forma correcta e com ganhos para o processo educativo.

Torna-se importante que a escola, através dos professores, faculte aos alunos o contacto com diferentes géneros e suportes de textos escritos. Ou seja, a escola deve colocar os alunos em contacto com os diferentes tipos de texto, escritos ou falados, que circulam na

sociedade, reconhecidos com facilidade pelas pessoas, por exemplo: bilhete, romance, poema, conversa de telefone, notícia de jornal, anedota, letra de música, entre outros. Assim, o professor estará apto para escolher materiais para o ensino da leitura de acordo com a realidade do aluno, com o tempo preciso, tendo em conta a faixa etária, com a prontidão para a leitura e com a sua consciência fonológica.

As recentes investigações a nível da psicolinguística mostram que os discursos são

acontecimentos sociais que envolvem sujeitos com uma posição social e cultural onde se

articulam as situações de comunicação. O carácter interactivo e dialógico do indivíduo social e culturalmente posicionado afirma a criatividade linguística e o dispositivo inato que lhe permite produzir frases gramaticais e maximizar o “binómio competência-performance. Esta interactividade contribui para o desenvolvimento da sua consciência linguística. Há um encontro entre a teoria da enunciação com a pragmática que permite uma nova “concepção da língua/discurso como modo de acção com o objectivo de mostrar as condições de produção e características específicas dos actos que realizam.” 66

As perturbações de natureza linguística podem repercurtir sobre a aprendizagem escolar, considerando que tanto a recepção como a produção da linguagem são susceptíveis de afectar a realização escolar. Orton67 considera que os atrasos e perturbações na aprendizagem da leitura são devido à ausência ou atraso de desenvolvimento da dominância hemisférica. Mas a criança pode recuperar dessas perturbações através do treino motor de um hemisfério. Assim, as crianças que apresentam atrasos ou perturbações ao nível da linguagem têm evidentes repercussões no aproveitamento escolar, desde os níveis iniciais de escolaridade, pelos reflexos em processos essenciais, como a leitura, a escrita. Neste sentido medidas de reeducação são essenciais. Essas medidas devem pressupor a escolha de metodologias adequadas à natureza da dificuldade e definir critérios de ensino correctivo das dificuldades de linguagem num quadro social, que inclua “o conhecimento social, as funções linguísticas e as aptidões do pensamento.”68

66 Amor, 2001: 15

67 Apud Raposo, Bidarra & Festas, 1998 68 Raposo, Bidarra & Festas, 1998: 56 - 61

Para poder compreender e desenvolver o ensino da leitura de forma adequada e proveitosa, o professor tem de estar familiarizado com as características do sistema alfabético da escrita da LP para poder compreender e ajudar os alunos na resolução dos problemas que surgem durante o processo de aprendizagem. O professor tem de conhecer as particularidades da linguagem oral e da línguagem escrita e suas implicações na aprendizagem da leitura e da escrita, bem como, as representações sobre as funções da linguagem escrita que potencializem a organização de situações pedagógicas que

favoreçam o sucesso nestas aprendizagens”. A aprendizagem da leitura é uma tarefa

cognitiva onde a criança aprende conceitos e os transforma em procedimentos

automatizados.69