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1. Introdução

2.1.6. As teorias e as tendências atuais

Uma abordagem comum nos trabalhos encontrados sobre o tema é prever como o emprego da tecnologia afeta o fenômeno da comunicação, sob o aspecto de processo, conteúdo e resultado, e quais as vantagens e desvantagens em relação à comunicação “in natura”.

Algumas estratégias são comumente encontradas para sistematizar os estudos:

a) Comparar a comunicação mediada pela tecnologia com a comunicação face a face (FTF, do inglês face to face). Thomas Erickson (2003) comenta que esta estratégia permite propor novas concepções e realimentar as teorias de comunicação;

b) Após enunciar os objetivos de seus trabalhos, uma taxonomia é utilizada para sistematizar os fatores suspeitos que são estudados. Isso permite que suas argumentações sejam melhor estruturadas e, em geral, as principais classificações envolvem: modalidade, tempo/interatividade e espaço.

A teoria de largura de banda (“Bandwidth Theory”) (WHITAKER, 1996), bastante referenciada nos trabalhos, defende que quanto maior a semelhança da comunicação mediada com a comunicação face a face, independentemente da tarefa, melhor será uma tecnologia. De outra forma, quanto maior o número de canais empregados na comunicação maior a efetividade da comunicação. Enfim, com base na comunicação face a face, os autores relatam deficiências e potencialidades das tecnologias.

Conforme a maioria dos trabalhos comenta, uma carência é a perda de “turn-taking”, que usando uma expressão da linguagem cotidiana, diz respeito a “perder o fio da meada”.

Herring (2000) afirma que este “turn-taking’ é um dos pontos mais comprometidos quando ocorre o uso do computador. As razões disso são as constantes quebras de adjacências entre a “turns”, conseqüência do entrelaçamento de mensagens e do tempo mais longo para se retomar o assunto discutido. Além disso, quando sem modo visual, o feedback simultâneo é mais difícil de ser emulado.

Weinberger (2003) também comenta a perda de “turn-taking” e aponta esta deficiência como o principal motivo para as dificuldades de coordenação e gerenciamento das interações em uma reunião de grupo que, por sua vez, exige um maior tempo para se chegar a conclusões ou decisões.

Para eliminar ou amenizar as perdas de “turn-taking”, os trabalhos de Herring (2000) e de Weinberger (2003) comentam algumas ações compensatórias, por exemplo:

a) encadear as mensagens em árvore, muito usado em fóruns;

b) copiar trechos de mensagens para uma resposta fique próxima a questão anterior. Em geral a resposta é acompanhada de marcas (“>”, “>>”);

c) dispor filtros para permitir selecionar somente as mensagens envolvidas em uma mesma linha de conversa;

Outras perdas estão ligadas ao âmbito social. Weinberger (2003), por exemplo, comenta que a ausência de visual tende a diminuir a manifestação de afeto. Assim como para a perda de “turn-taking”, algumas estratégias são citadas:

a) usar “emoticons’, em texto ou em ícones, para melhorar a afetividade da mensagem;

b) criar uma atmosfera social, no caso virtualmente, por meio do uso de narrativas. Por exemplo: Fulano chegou mais perto, Ciclano apertou a mão dele e os dois brincaram com Y que estava sentada;

c) permitir tratar e referenciar páginas pessoais, com questionários tradicionais sobre gostos e preferências, para assim facilitar que os envolvidos encontrem afinidades.

Um impacto ainda a considerar, diz respeito ao aspecto lingüístico. Herring (2000) comenta que uma hipótese discutida no meio atribui à linguagem mediada por computador, menor compromisso com a corretude, maior complexidade e menor coerência do que as linguagens formais. Ela comenta que estas mudanças no uso da linguagem não estão tão ligadas ao desconhecimento da língua formal, mas sobretudo ao anseio de economizar o esforço de digitação, acrescentar características de linguagem falada junto com a escrita e, ainda, a uma maior exploração da criatividade ao se comunicar. Isso tem maior intensidade nas comunicações síncronas, onde o tempo para exprimir as mensagens é menor. Já nas comunicações assíncronas, a mudança na estrutura lingüística está principalmente relacionada com a relação social entre emissor e receptor.

Apesar de carências, algumas potencialidades podem ser exploradas na CMC. Uma primeira a citar é que o computador é um dispositivo que tem potencial de tratar qualquer tipo de mídia na comunicação: escrita, imagem, apresentações, vídeos e outros e isso, bem empregado, pode enriquecer o processo de comunicação. Além disso, como Weinberger (2003) argumenta, com a CMC é possível tratar idéias e conversas simultâneas.

Herring (2000) comenta que nestes meios os envolvidos conversam com maior segurança e menor inibição. Ela relaciona isso com o maior tempo que as pessoas têm para escolher as palavras e formular suas frases.

Outro ponto que Weinberger (2003) comenta é que nestes ambientes a percepção de poder dos envolvidos é menor e, com isso, as pessoas ficam menos inibidas por questões de hierarquias e a conversa tende a ser mais heterárquica. Nesse sentido, Herring (2000) também comenta que a ausência de modo visual explora mais o caráter lingüístico da comunicação, e somente por este aspecto, é difícil perceber e distinguir

etnias, raças e classes sociais. Estas características, conforme Herring (2000) favorecem o emprego destes ambientes para tratar temas mais ideológicos.

Após analisar carências e potencialidades, vale apresentar outras ações que, de maneira geral, podem facilitar o emprego destas tecnologias, dentre elas:

a) adequar os envolvidos, isto é, capacitar os usuários no uso destas ferramentas;

b) melhorar a expressividade dos envolvidos com a linguagem escrita.

c) conciliar conversas virtuais com conversas presenciais a fim de enriquecer as experiências sociais.

A escolha da mídia mais adequada serve também para melhorar a possibilidade da tecnologia atender às demandas da comunidade virtual. Para esta escolha, Weinberger (2003) faz as seguintes considerações organizadas em duas estratégias:

a) Tarefa (“task-media-fit-aproach”): tarefas de geração de idéias podem empregar “text-based” enquanto tarefas para busca de consenso requerem um melhor trato social. Tomada de decisões também apresentam resultados mais restritos.

b) A mídia deve levar em consideração a habilidade de cada um lidar com ela, em quais eles são mais capazes e quais eles preferem. Além disso, a quantidade de envolvidos podem levar para uma forma que permita mais envolvidos ou para uma forma mais restrita;

Para finalizar, vale relacionar a discussão com a comunicação face a face mediada pela tecnologia. Para Weinberger (2003), a redução de canal em sistemas de videoconferência é menor, pois consegue-se ter uma sensação social pela visualização das pessoas falando. Porém, ainda se percebe a redução de canal no que diz respeito a menor percepção de gestos e sensação de olhar, isso porque o vídeo não passa a mesma sensação de “olho no olho” e de presença social que uma reunião “tete a tete” proporciona.

Associado a isso, ele critica o fato da maioria das tecnologias apenas remontarem a conversa falada ao invés de explorarem outros pontos destas tecnologias, como a visualização e exploração do mundo ao redor de cada um, ou o trato de documentos e artefatos que podem dar suporte à conversa referenciada.

Ele conclui ainda que, apesar do esforço de adaptação à mídia ser menor em videoconferência do que em ambientes de comunicação escrita, a adequação não está totalmente eliminada.

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