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Na terceira etapa, os participantes foram interrogados individualmente sobre o evento presenciado e cada interrogador poderia tomar o depoimento a) manualmente, b) por digitação ou c) por sistema de áudio e vídeo. No quesito subjetivo, o interrogador poderia a) insistir nas perguntas, b) insistir em um suspeito ou c) agir conforme a Entrevista Cognitiva (grupo de controle). O objetivo era reproduzir com o máximo de fidelidade possível os procedimentos comuns em coleta de provas testemunhais.

Os interrogadores foram previamente selecionados entre os alunos do mestrado em Direito e entre os funcionários da UFES, a maioria deles com alguma experiência profissional com interrogatórios. Havia juiz, promotor de justiça, advogado, assessor jurídico e servidores da UFES do setor de Processos Administrativos Disciplinares (PAD).

Todos os interrogadores foram instuídos e os comandos variaram conforme o quesito subjetivo a ser utilizado, ou seja, o interrogador que insistia em suspeitos deveria manter um comportamento bem mais invasivo do que aquele que interrogaria o grupo de controle.

Aos interrogadores do grupo de controle, os comandos foram muito parecidos com o que propõe a Entrevista Cognitiva desenvolvida nos EUA e muito defendida por pesquisadores brasileiros como Stein (2010).

As instruções dadas por escrito aos interrogadores do grupo de controle foram as seguintes:

1- Qualifique a testemunha perguntando seu nome e a letra e o número que indicam o seu grupo;

2- Procure deixar a testemunha à vontade e tranquila;

3- Permita, num primeiro momento, que ela desenvolva sua narrativa dos fatos livremente, sem interrupções;

4- Após a narrativa completa dos fatos, formule questões objetivas à testemunha, de modo a sanar suas dúvidas com relação ao evento; 5- Ao final, devemos descobrir: quem, como e porque a agressão ocorreu, individualizando condutas;

6- Precisamos da maior quantidade possível de dados objetivos sobre os fatos lembrados pela testemunha, então é preciso que pergunte à testemunha o que os atores disseram, cor de suas camisas, detalhes sobre os atores e sobre o evento, como quem começou, quem brigou etc;

7- Caso a testemunha diga não saber ou não estar certa sobre os fatos, não insista. Apenas registre (se for o caso), que a testemunha não se lembra ou que não tem certeza.

Em contrapartida, os interrogadores que já possuíam um suspeito de antemão (o homem de vermelho) deveriam seguir recomendações muito mais invasivas e não poderiam permitir que as testemunhas desenvolvessem seus pensamentos livremente.

1 – Qualifique a testemunha perguntando seu nome e o número e letra que estarão em seu crachá, por exemplo, 4C.

2 – Não permita que a testemunha desenvolva sua narrativa dos fatos livremente. Faça interrupções a cada informação relevante para esclarecer os fatos e a registre.

3 – A cada informação prestada, peça para que a testemunha reafirme o que disse e sempre pergunte se ela está tem certeza sobre o fato que afirma.

4 – Você terá um suspeito e já suspeitará de antemão sobre como os fatos ocorreram e quem os praticou. Insista a cada pergunta sobre os fatos e sobre o suspeito. Pergunte se a testemunha tem certeza sobre os eventos que excluem seu suspeito.

5 – Ao final, devemos descobrir: quem, como e porque a agressão ocorreu, individualizando condutas. Formule perguntas específicas sobre estas questões.

6 – Precisamos da maior quantidade possível de dados objetivos sobre os fatos lembrados pela testemunha, então é preciso que pergunte à testemunha o que os autores disseram, cor de suas camisas, detalhes sobre os autores e sobre o evento, como quem começou, quem brigou em seguida etc.

7 – Caso a testemunha diga não saber ou não estar certa sobre os fatos, insista. Sugira acontecimentos e suspeitos. Antes de registrar uma informação, insista nas sugestões de suspeito e acontecimento, e só depois registre dizendo se a testemunha afirmou não saber ou não ter certeza de alguma coisa.

Os interrogadores que deveriam insistir nas perguntas agiram conforme as orientações abaixo:

1 – Qualifique a testemunha perguntando seu nome e o número e letra que estarão em seu crachá, por exemplo, 4C.

2 – Não permita que a testemunha desenvolva sua narrativa dos fatos livremente. Faça interrupções a cada informação relevante para esclarecer os fatos e a registre.

3 – A cada informação prestada, peça para que a testemunha reafirme o que disse e sempre pergunte se ela está tem certeza sobre o fato que afirma.

4 – Ao final, devemos descobrir: quem, como e porque a agressão ocorreu, individualizando condutas. Formule perguntas específicas sobre estas questões.

5 – Precisamos da maior quantidade possível de dados objetivos sobre os fatos lembrados pela testemunha, então é preciso que pergunte à testemunha o que os autores disseram, cor de suas camisas, detalhes sobre os autores e sobre o evento, como quem começou, quem brigou em seguida etc.

6 – Caso a testemunha diga não saber ou não estar certa sobre os fatos, insista. Apenas registre uma informação após a testemunha afirmar sem dúvida ou aceitar determinado fato como verdadeiro.

Analisando as fotos que foram capturadas durantes os interrogatórios, percebeu- se que, independentemente do método empregado, as testemunhas apresentaram uma tendência de mimetizar os gestos do interrogador, assim, se os interrogadores alteravam

bruscamente os gestos e as expressões faciais, as testemunhas frequentemente acompanhavam essa mudança. A título de exemplo, um interrogador fez gestos com a mão formando uma concha praticamente dutante todo o interrogatório e, ao final, a testemunha também foi flagrada fazendo tal gesto.

Acompanhando a hipótese acima, foi dito por um dos interrogadores que uma testemunha falava rápido demais, mas quando o interrogador passou a falar calmamente, ela passou a acompanhar seu o tom de voz.

Ainda com base nas fotografias, percebeu-se que as testemunhas desviaram muito o olhar dos interrogadores, focando no chão ou na parede, o que sugere medo de errar e apreensão por não terem a quem recorrer. Nesses casos, a figura do advogado durante as audiências representaria certo apoio para quem relata.

O trabalho dos interrogadores foi de suma importância para os resultados do trabalho e, apesar das instruções terem sido passadas com base nos procedimentos adotados por interrogadores reais, a experiência profissional prévia dos interrogadores do experimento contribuiu de forma positiva para a consecução dos fins propostos. Mas ainda assim, diversos foram os sentimentos por parte deles, uma vez que também estavam interpretando um papel por vezes contrário à sua personalidade.

Seguem abaixo relatos de alguns interrogadores quanto ao desempenho dos seus papéis no experimento, que serão todos aqui referidos no masculino.

O interrogador 1 disse que tentou aproveitar ao máximo o conteúdo do primeiro nos depoimentos seguintes e que a “pedagogia” utilizada para a formação do seu papel de insistente num suspeito foi resultado da sua observação pretérita no judiciário. Ele aproveitou para ser “mal-educado”, interrompendo os relatos das testemunhas e determinou inclusive que elas mantivessem uma postura condizente com a situação, obrigando-as a parar de mexer os braços, por exemplo.

O interrogador 2, do grupo de controle, encontrou dificuldades em dar continuidade ao interrogatório quando uma testemunha simplesmente dizia que não se lembrava de nada, pois sabia que não poderia influenciá-la e deveria acatar o lapso de memória.

O interrogador 3 percebeu uma necessidade da testemunha de controlar a verdade que relata; “no início falava-se muito, quando eu dizia que ia digitar as informações, as testemunhas mudavam um pouco seu conteúdo”.

O interrogador 4, que é juiz na vida profissional, encontrou dificuldades em insistir no suspeito porque esse tipo de procedimento é contrário às condutas que desempenha no seu trabalho real.