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No Brasil, desde 1540, há menções de água mineral, mas só em 1808, com a vinda da família Real para o Brasil, teve início a pesquisa cientifica de nossas águas. A visita da Princesa Isabel às estâncias hidrominerais do sul de

Minas Gerais em 1860 contribuiu para o desenvolvimento do Termalismo no Brasil.

A experiência européia era repetida, com sucesso, no Brasil, principalmente no que se referia à radioatividade, já que várias de nossas águas minerais tinham poderes terapêuticos embora não tivessem componentes químico que justificassem tal qualificação.

Assim, foi definido e aprovado pelo Congresso de Química de 1922 o limite mínimo de 10 Manches, estabelecido pelos europeus para que uma água mineral radioativa tivesse um efeito medicinal (Lopes 1931).

A partir daí, as estações climáticas iniciavam uma nova fase. Não mais precisariam ter águas quentes. As águas frias, oligominerais radioativas brasileiras ganhavam espaço no “Termalismo”, conceito que teve sua abrangência estendida a qualquer estação de tratamento de água mineral, independentemente da temperatura da água, uma vez que, nas estâncias hidrominerais de águas frias, eram providenciados, através do aquecimento artificial da água mineral, banhos termais.

No mesmo Congresso, de 1922, era aprovada a definição de água mineral proposta por Alfred Schaeffer, que reputa água mineral como “toda aquella que, pelas suas propriedades physicas ou composição chimica, se afasta de tal modo da medida das águas potáveis e de uso comum existentes no país, que possa com vantagem ser utilizada com fins terapêuticos ou como água de mesa naturalmente gasosa”. Essa definição, apesar de ser diferente da aceita pelo Conselho superior de Higiene Pública da França e referenciada pela Academia de Medicina de Paris, que define água mineral como: “toda água natural proposta ao consumo em razão de propriedades therapeuticas ou hygienicas especiaes” (Lopes, 1931).

Vários termos são usados para denominar a utilização da água mineral como meio de tratamento, seja através da ingestão ou, simplesmente, através da imersão. Crenologia, no entanto, é o termo mais difundido e o único a constar no Código de Águas Minerais do Brasil, de 1945.

O Código de Águas Minerais. Elaborados num período que ainda se caracterizava a água mineral com poderes terapêuticos, define águas minerais como: “aquelas provenientes de fontes naturais ou de fontes artificialmente captadas que possuam composição química ou propriedades físicas ou fisioquímicas distintas da águas comuns, com características que lhes confiram uma ação medicamento”. Essa definição impõe a toda e qualquer água classificada como mineral, uma ação medicamentosa. Na pesquisa bibliográfica realizada foram encontradas diversas publicações que enaltecem as qualidades terapêuticas das águas minerais.

Dessas publicações, foram elaboradas duas tabelas. (Ver tabela 1) São apontadas as qualidades terapêuticas das águas minerais brasileiras e suas respectivas classificações. Foram incluídas as contra-indicações a cada tipo de água mineral. Em ambos os casos, a bibliografia consultada é contemporânea ao Código de Águas Minerais o que permite concluir que, desde o inicio do século XX, já se tinha conhecimento das vantagens e desvantagens na utilização das águas minerais.

A referência bibliográfica é antiga, pois, a Comissão encerrou suas atividades em 1959, por falta de médicos crenólogos.

Em 1993, através da portaria do Ministério de Minas e Energia, a Comissão de Crenologia foi reinstalada, com a participação de dois médicos crenólogos, Drs. Benedicto Mário Mourão (hoje com 94 anos) e Waldemar Junqueira (já falecido), remanescentes das Escolas de medicina antigas, um representante do DNPM, a Engenheira Química Sonja Dumas Hauen, do 2°

Distrito e o Engenheiro e, na época, Presidente da sociedade Brasileira de Termalismo, René Simões.

A comissão instalada em 1993, apesar do esforço e dos diversos pequenos cursos criados com a intenção de especialização de médicos, não foi capaz de convencer as Faculdades de Medicina à reintegração das disciplinas de crenologia e crenoterapia nos currículos da graduação, nem da pós graduação.

Dessa forma, mais uma vez, a Comissão apesar do nome permanente foi desfeita, pela segunda vez em 1999.

Durante esse período, nenhuma solicitação de comprovação das ações terapêuticas das águas encaminhada à Comissão de Crenologia, teve seus efeitos medicamentosos comprovados. Segundo o Dr. Adelino Gregório Ales, Chefe da Seção de Águas Minerais do DNPM na época, o tempo para comprovação das ações das solicitações encaminhadas, não foi suficiente para um parecer favorável conclusivo.

A ação terapêutica das águas depende de um estudo elaborado por médicos especializados e de um tempo longo para correta verificação e confirmação dessas ações.

As Escolas de Medicina brasileiras já não possuem a disciplina de crenologia e crenoterapia, e, por isso, em 1959, a primeira Comissão Permanente de Crenologia foi desativada, dificultando ainda mais a retomada desse estudo, uma vez que não há formação acadêmica para esses profissionais no Brasil. O mesmo acontece com a segunda Comissão, também é desativada.

Em 02 de fevereiro de 2005, a Comissão Permanente de Crenologia foi recriada e seus membros nomeados. Apesar de se tratar de uma comissão

voltada ao estudo das características terapêuticas das águas minerais, não há, entre seus membros, qualquer um representante do Ministério da Saúde. Os demais membros representam o setor mineral (MME e DNPM) e o setor empresarial (ABINAM).

Constata-se a falta de um especialista em crenologia e crenoterapia entre os membros da atual Comissão Permanente de Crenologia. A falta destas disciplinas nas faculdades de medicina no Brasil pode ser explicação para esse fato.

Essa comissão estabelecida, provavelmente, não afetará o mercado de águas envasada, cujo crescimento não está vinculado às características terapêuticas de água e sim ao poder de distribuição, disponibilidade de volumes e embalagens e da capacidade de dessedentação, a partir de águas com poucos sais dissolvidos (normalmente classificadas como fluoretadas, radioativas, hipotermais, potáveis de mesa e as antigas oligominerais, que juntas, constituem a maior parte de água mineral envasada no Brasil.

Além disso, estudos científicos mais modernos estabelecem limites à utilização desse ou daquele gás, elemento ou sal.

Casos há, em que águas consideradas medicinais no passado, hoje podem ser consideradas como prejudiciais, As águas nitratadas, arsenicais e radioativas passam por uma fase de no mínimo, questionamento em relação às suas ações terapêuticas.

Dessa forma, independentemente da retomada da Comissão Permanente de Crenologia, o Ministério da Saúde através de seus Órgãos, ou mesmo Associação Médica Brasileira (AMB) deve iniciar um trabalho de reavaliação das propriedades terapêuticas das águas minerais brasileiras.

É importante diferenciar o momento vivido pela sociedade, na implantação do Código de Águas Minerais (1945) e, conseqüentemente, da Comissão de Crenologia, quando a água mineral era, efetivamente considerada uma substancia medicamentosa.

A água mineral hoje, em todo o mundo é considerada um produto industrializado que inclusive pode sofrer alguns tipos de tratamento. É tratada como uma commodity, disputando o mercado com refrigerantes, sucos, chás, etc...

Assim, é necessário que a Comissão de Crenologia, quando em funcionamento, tenha consciência desse fato e direcione suas pesquisas, principalmente, para os efeitos causados pela ingestão cotidiana da água mineral natural ou de fonte.

Com tratamentos autorizados pela comunidade européia à retirada do ferro, enxofre, manganês e arsênio, com a necessidade de pesquisa, para a retirada do excesso do flúor e níquel da água mineral natural e água de fonte (ou nascente) européia, nota-se uma tendência mundial (já que no EUA diversos tratamentos são autorizados para água envasada) mais direcionada para garantir a saúde do consumidor de água envasada, do que para enaltecer suas características, que podem ser bem indicadas ou contra-indicadas ao uso.

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