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Outro instrumento que atrai a discussão doutrinária no sentido de se constituir ou não um método alternativo de resolução de conflitos é o Compromisso de Ajustamento de Conduta – CAC, também comumente chamado de Termo de Ajustamento de Conduta – TAC. A Lei de Ação Civil Pública (Lei Federal nº 7.347/85) prevê em seu artigo 5º, parágrafo sexto, a figura do termo de ajustamento de conduta, in verbis:

Art. 5o Têm legitimidade para propor a ação principal e a ação cautelar:

(...)

§ 6° Os órgãos públicos legitimados poderão tomar dos interessados compromisso de ajustamento de sua conduta às exigências legais, mediante cominações, que terá eficácia de título executivo extrajudicial. (Incluído pela Lei nª 8.078, de 11.9.1990)

Com efeito, na perspectiva do Direito Ambiental, havendo notícias da existência de danos ao meio ambiente, os órgãos públicos legitimados possam celebrar um compromisso de ajustamento de conduta com os infratores, que deverão assumir obrigações de reparação dos danos na forma e nos prazos pactuados.

Desde então, algumas questões são discutidas doutrinariamente. Indaga-se se esse termo seria um compromisso, um acordo ou uma transação? Ainda, o que é possível de ser negociado para que este compromisso seja válido?

É controversa a natureza jurídica do TAC, havendo quem entenda ter natureza de contrato, por ter a característica de ser bilateral e consensual,

outros sustentam ser negócio jurídico sui generis, uma vez que nem tudo pode ser ali transacionável, e alguns preferem tratar meramente como um título executivo extrajudicial (MAZZILLI, 2007)

A maioria dos juristas, no entanto, concebe o Termo de Ajustamento de Conduta – TAC como uma transação, que encontra limites no seu objeto: só se poderia pactuar as condições de modo, tempo e lugar. (FINK, 2001; AKAOUI, 2003).

Em que pese a discussão acadêmica acerca de sua natureza jurídica, certo é que o TAC é uma das formas mais utilizadas para compor litígios ambientais e um dos mais importantes instrumentos de proteção ambiental. O TAC pode ser celebrado antes do dano ambiental, a fim de evitá-lo, ou após o dano já consumado, ocasião em que terá a função de promover a reparação dos danos, seja a restauração dos bens lesados ou mesmo compensando danos irreparáveis. Afinal, quanto antes for reparado ou evitado o dano ambiental, melhor será sua recuperação e/ou proteção. A rapidez em tratar o problema ambiental pode ser um fator chave, já que muitos impactos negativos ao ambiente têm conseqüências graves e podem ser irreversíveis (FINK, 2001; AKAOUI, 2003).

Por essa razão, Fink (2001) sustenta ser um dever, e não apenas uma faculdade dos órgãos públicos, tentar obter uma solução para os conflitos ambientais através da negociação do TAC.

Com efeito, há outras razões para defender o TAC como importante instrumento do Direito Ambiental brasileiro, dadas as suas diversas vantagens frente à solução imposta pelo juiz no sistema tradicional. É que, no momento da negociação, as pessoas podem discutir sobre o que é possível ser feito à luz de suas condições e de suas realidades. Por se constituir em uma assunção voluntária e consciente de obrigações, os envolvidos participam do processo e escolhem a forma e o modo de reparação do dano ambiental, sendo conseqüência natural o cumprimento do acordo, uma vez que a

obrigação não lhes é imposta, mas advém de uma convergência de vontades. Não pode se olvidar também que a assunção voluntária de obrigações, evitando o processo judicial, tem o condão de preservar mais a imagem e a marca do empreendimento causador do dano, bem como diminuir custos de honorários, custas e sucumbências judiciais. (FINK, 2001)

Não obstante, vislumbra-se como uma das principais vantagens o fator tempo. Explica-se: a sentença da Ação Civil Pública costuma levar anos, iniciando-se por um demorado processo de conhecimento, seguida de mais um custoso processo de execução, ou de cumprimento de sentença. Nesse lapso, o dano ambiental que é o objeto de todas essas ações fica praticamente sem qualquer tutela, eis que, antes disso não é tomada nenhuma medida para reparação dos danos. Os prazos e o formalismo processuais acabam gerando desgaste material e psicológico para as partes. Além da perpetuação do dano, outros prejuízos ambientais podem ocorrer durante a ação judicial. Soma-se a isso o desgaste emocional e econômico, uma vez que, com o longo decurso de tempo entre os fatos e a determinação judicial final, o condenado possivelmente não terá interesse e nem fará muito esforço para resolver situações originadas há anos atrás.

Não são raras as vezes em que, “ao final de muito tempo, temos: um grande desperdício de dinheiro, partes, vencedoras e vencidas, desgastadas e um meio ambiente recuperado pela metade.”(FINK, 2001: 134). Fink (2001: 139) ainda adverte que o tradicional uso do processo judicial deve ser apenas em último caso, razão pela qual, “deve-se buscar a via da negociação, por meio da qual todos encontrarão seus lugares e ao final do processo sairão muito mais fortalecidos do que se fossem obrigados a obedecer um comando frio e inexorável de uma sentença.”

Sobre as vantagens do TAC, Soares (2008) salienta que:

o TAC abre a possibilidade de usar as novas abordagens alternativas de conflitos, que possibilitam tanto a participação da sociedade como a

busca do consenso, que, aliás, são condições para a efetivação do desenvolvimento sustentável, em regimes democráticos. A negociação não deveria ser a do paradigma tradicional, ganhar-perder, pois como sociedade e ambiente estão interligados e vinculados, ambos poderiam sair perdedores. Percebendo a gestão ambiental como um processo colaborativo e não competitivo, o comprometimento dos infratores com a solução do problema ambiental é maior. (SOARES, 2008, p. 112)

Com efeito, o uso termo de ajustamento de conduta demonstra que o verdadeiro interesse do constituinte de assegurar o meio ambiente ecologicamente equilibrado (artigo 225 da CRFB/88) como direito fundamental7

é mais coerente em um clima de colaboração e participação, do que através de mecanismos adversariais, que potencializam o conflito, eivados de excesso de formalismo, como a prática judicial.

2.12 Os limites da aplicação dos meios extrajudiciais de resolução de