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Tipo e gênero textual: concepções

4. METODOLOGIA

4.1 Tipo e gênero textual: concepções

Neste tópico apresentaremos algumas concepções de gêneros e de tipos textuais, além de caracterizarmos o relato de opinião, objeto de nossa análise.

Distinguir tipo textual de gênero textual nos desviaria muito dos objetivos da abordagem deste trabalho, por isso não vamos nos dedicar aqui à observação da diversidade terminológica existente no que tange aos estudos do texto, apenas, de forma sucinta, situaremos a natureza das discussões acerca desse assunto. Discutiremos alguns pontos que consideramos relevantes. Partiremos do pressuposto básico, apresentado por Marchuschi (2002: 22), em que ele nos mostra que

é impossível se comunicar verbalmente a não ser por algum gênero, assim como é impossível se comunicar verbalmente a não ser por algum texto. Em outros termos, partimos da idéia de que a comunicação verbal só é possível por algum gênero textual. Essa posição, defendida por Bakhtin [1997] e também por Bronckart (1999) é adotada pela maioria dos autores que tratam a língua em seus aspectos discursivos e enunciativos, e não em suas peculiaridades formais. Esta visão segue uma noção de língua como atividade social, histórica e cognitiva. Privilegia a natureza funcional e interativa e não o aspecto formal e estrutural da língua.

Partimos da idéia de que a língua é uma forma de ação social e histórica, logo consideramos que os gêneros textuais se constituem como ações sócio-discursivas para agir sobre o mundo e dizer o mundo, constituindo-o de algum modo. Ancorados na abordagem de Marchuschi, podemos acrescentar que entre os autores que defendem uma posição similar à aqui exposta estão Biber (1988), Swales (1990), Adam (1990), Bronckart (1999). Vejamos, a seguir, ainda citando

Marchuschi (2002: 22 – 23), uma breve definição das duas noções:

(a) Usamos a expressão tipo textual para designar uma espécie de construção teórica definida pela natureza lingüística de sua composição {aspectos lexicais, sintáticos, tempos verbais, relações lógicas}. Em geral, os tipos textuais abrangem cerca de meia dúzia de categorias conhecidas como: narração, argumentação, exposição, descrição, injunção.

(b) Usamos a expressão gênero textual como uma noção propositalmente vaga para referir os textos materializados que encontramos em nossa vida diária e que apresentam características sócio-comunicativas definidas por conteúdos, propriedades funcionais, estilo e composição característica. Se os tipos textuais são apenas meia dúzia, os gêneros são inúmeros. Alguns exemplos de gêneros textuais seriam: telefonema, sermão, carta comercial,

carta pessoal, romance, bilhete, reportagem jornalística, aula expositiva, reunião de condomínio, notícia jornalística, horóscopo, receita culinária, bula de remédio, lista de compras, cardápio de restaurante, instruções de uso, outdoor, inquérito policial, resenha, edital de concurso, piada, conversação espontânea, conferência, carta eletrônica, bate-papo por computador, aulas virtuais e assim por diante.

O autor em questão apresenta um quadro sinóptico. Fizemos a opção de reproduzi- lo aqui, tamanha a clareza com que define esses termos, muitas vezes, confundidos, até mesmo por grandes estudiosos.

TIPOS TEXTUAIS GÊNEROS TEXTUAIS

1. constructos teóricos definidos por

propriedades lingüísticas intrínsecas; 1. realizações lingüísticas concretas definidas por propriedades sócio-comunicativas;

2. constituem seqüências lingüísticas ou se- qüências de enunciados e não são textos empíricos

2. constituem textos empiricamente realizados cumprindo funções em situações comuni- cativas;

3. sua nomeação abrange um conjunto limitado de categorias teóricas determinadas por aspectos lexicais, sintáticos, relações lógicas, tempo verbal;

3. sua nomeação abrange um conjunto aberto e praticamente ilimitado de designações concretas determinadas pelo canal, estilo, conteúdo, composição e função;

4. designações teóricas dos tipos: narração,

argumentação, descrição, injunção e exposição 4. exemplos de gêneros: telefonema, sermão, carta comercial, carta pessoal, romance, bilhete, aula expositiva, reunião de condomínio, horóscopo, receita culinária, bula de remédio, lista de compras, cardápio, instruções de uso, outdoor, inquérito policial, resenha, edital de concurso, piada, conversação espontânea, conferência, carta.eletrônica, bate-papo virtual, aulas virtuais etc.

Tabela 4 – Tipos e gêneros textuais.

Concordamos com Marchushi ao dizer que trabalhar com gêneros textuais é uma oportunidade de lidar com a língua em seus mais diversos usos autênticos no cotidiano, podemos observar tanto a modalidade oral como a modalidade escrita da língua. Tal diferença pode ser observada de forma nítida no corpus D & G.

De acordo com Chafe (1982), dois fatos são responsáveis pelas diferenças fundamentais entre fala e escrita: a velocidade de processamento e a interação entre emissor e receptor. Ao observar o corpora que constituem o D&G, mesmo que de maneira pouco sistematizada, percebemos que existem diferenças, semânticas e gramaticais, entre as formas oral e escrita. A nossa hipótese é que a diferença de canal também influencie a maneira de produção de texto do entrevistado.

De acordo com a posição apresentada na tese de Cezário (2001), que versa sobre

Graus de integração de integração de cláusulas com cognitivos e volitivos seria de

tamanha vaguidão, discutir um assunto como esse e não contemplar a perspectiva de Tannen (1985) e de Biber (1988), que têm como foco esse estudo a partir da existência de um contínuo entre a fala e escrita, sem haver características exclusivas para cada canal. Dessa forma, podemos entender, assim como Cezário (2001:67), que a fala é dependente do contexto, não tem a coesão pelo uso de conectivos e a escrita depende pouco do contexto e os conectivos são mais explícitos, essas são as duas hipóteses, que afastam a fala e a escrita, apresentadas por Tannen.