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redes interpessoais, relações de apoio e de vizinhança As redes sociais podem ser entendidas como o conjunto de contactos pes-

2.1.5 tipologia das redes interpessoais

A tipologia das redes interpessoais foi construída com base em duas caracte- rísticas estruturais, anteriormente examinadas, a saber: a dimensão e a compo-

sição. A partir de uma análise geral dos resultados apresentados no Quadro 2.9

é possível reforçar a ideia de que a generalidade das redes interpessoais da maior parte da população inquirida é diminuta e se baseia nos laços de paren- tesco. Porém, o facto de quase metade dos inquiridos (47,1%) estar inserido em redes pequenas e predominantemente familiares não impede que mais de um quarto dos inquiridos (28,9%) também apresente um predomínio da família nas suas redes de grande dimensão. O grande peso das redes predomi- nantemente familiares (76%) no conjunto das redes interpessoais contrasta com a menor expressão das redes predominantemente não-familiares (24%), continuando grande parte destas a serem também pequenas (16,1%).

Quadro síntese

2.8

P

erfis sociais das redes interpessoais

Dimensão Composição Frequência de contacto Densidade Pequena Grande Familiar Não-F amiliar Baixa Elevada Baixa Elevada Sexo Homens Mulheres Homens Mulheres ↑ Ambos os sexos Mulheres Homens Escalões etários ≥ 75 anos 65-74 anos ≥ 75 anos 50-64 anos ≥ 75 anos 50-64 anos 50-64 anos ≥ 75 anos Escolaridade 1º ciclo Ensino Básico Ensino Superior

N sabe ler nem

escrever Secundário Superior 3º ciclo Ensino Básico Secundário

N sabe ler nem

escrever

Com quem vive

Sozinho Acompanhado Em casal Sozinho Sozinho Em casal Sozinho Em casal Estado civil Viúvo

Solteiro & Divorciado

Casado Divorciado Divorciado Casado Solteiro Casado

Condição perante trabalho

Reform. Invalidez Empregado Doméstico Desempregado Reformado Doméstico Desempregado Doméstico

Situação perante a actividade profissional

Inactivos ≥ 75 anos Activos & Inactivos < 75 anos Inactivos ≥ 75 anos Activos Inactivos ≥ 75 anos Inactivos < 75 anos Activos Inactivos ≥ 75 anos

Escalão de rendimento do agregado familiar ≤ 350 € e 501-800 € > 2500 € ≤ 350 € 351-500 € ≤ 350 € 500-1500 € 351-500 € ≤ 350 €

Classe social subjectiva

Classe Baixa

Classe Média Alta

ou Alta

Classe Baixa e Média Baixa

Classe Média

Classe Média Alta

ou Alta

Classe Baixa

Classe Média Alta

ou Alta

Classe Baixa

Dimensão do lugar de residência < 50.000 habitantes ≥ 100.000 habitantes 50.000 a 99.999 habitantes ≥ 100.000 habitantes 50.000 a 99.999 habitantes < 10.000 habitantes 50.000 a 99.999 habitantes < 50.000 habitantes

Quadro 2.9 Tipologia das redes interpessoais

n % % acumulada

Pequena e predominantemente familiar 425 47,1 47,1

Pequena e predominantemente não-familiar 146 16,1 63,2

Grande e predominantemente familiar 261 28,9 92,1

Grande e predominantemente não-familiar 72 7,9 100,0

Total 904 100,0

Para uma caracterização mais pormenorizada da tipologia das redes interpessoais, importa analisá-la em função dos seguintes elementos adicio- nais sobre os seus membros: a distância do lugar de residência; a idade dos membros; os anos de interconhecimento entre o inquirido e os membros; e o grau de satisfação com esses membros (Quadro 2.10).

Quadro 2.10 Elementos adicionais de caracterização da tipologia (médias)

Redes Pequenas Redes Grandes

Total Pred.

Familiares Pred. Não-familiaresNão-familiares Pred. FamiliaresFamiliares Pred. Não-familairesNão-familiares Distância do lugar de residência dos membros

das redes interpessoaisu*** 2,3 3,6 3,1 3,6 2,8

Idade dos membros das redes interpessoais*** 51 57 45 56 51

Anos de interconhecimento entre os inquiridos e os membros das redes interpessoais inquiridos e os membros das redes interpessoaisuu***

4,5 3,7 4,6 3,6 4,3

Grau de satisfação dos inquiridos com os

membros das redes interpessoaisuuu*** 4,7 4,6 4,8 4,5 4,7

Diferenças estatisticamente significativas (Teste F de Snedecor): ***p<0,001

uEscala de medida: de 1=no mesmo alojamento/casa a 7=noutro local mais distante, no estrangeiro.

uuEscala de medida: 1= há menos de 5 anos; 2= entre 5 e10 anos; 3=entre 10 e 20 anos; 4=há mais de 20 anos; 5=desde sempre. uuuEscala de medida:1=muito insatisfeito; 2=insatisfeito; 3=nem satisfeito nem insatisfeito; 4=satisfeito; 5=muito satisfeito.

No que respeita ao primeiro elemento, destaca-se o facto de os membros das redes predominantemente familiares viverem mais perto dos inquiridos do que os membros das redes predominantemente não-familiares. A maior proximidade física dos membros das redes familiares explica-se por uma pre- dominância de cônjuges e filhos que residem no mesmo alojamento ou em lugares muito próximos dos inquiridos. Pelo contrário, os vizinhos e os ami- gos, que são os membros predominantes nas redes não-familiares, tendem a residir na vizinhança ou em lugares mais distantes. Com efeito, em média, a principal diferença relativa ao lugar de residência estabelece-se entre a

maior proximidade física dos membros das redes familiares mais pequenas (2,3) e a maior distância física dos membros que integram as redes não-fami- liares, independentemente do seu tamanho (3,6). Daqui se depreende que, ao invés de ser a dimensão, é sobretudo a composição das redes interpes- soais que introduz diferenças estatisticamente significativas na distância do lugar de residência dos membros das redes interpessoais da população inqui- rida. Acresce que, em geral, os membros das redes interpessoais vivem muito perto do universo inquirido (2,8), apontando para o reforço da proximidade emocional através da proximidade física.

Relativamente ao segundo elemento, importa frisar que a idade dos membros varia de forma estatisticamente significativa em função do tipo de rede interpessoal. O conjunto dos inquiridos declarou que os membros das suas redes interpessoais têm, em média, 51 anos, à semelhança do que sucede nas redes pequenas e predominantemente familiares. Dado que mais do que a dimensão é sobretudo a composição das redes interpessoais a responsável pela maior variabilidade na idade, importa frisar que os membros das redes predominantemente não-familiares são os mais velhos. A  tendência geral aponta, assim, para que as redes predominantemente familiares sejam mais jovens do que as redes predominantemente não-familiares; sendo esse reju- venescimento mais evidente nas redes familiares de grande dimensão (cuja idade média dos membros é 45 anos), por oposição ao maior envelhecimento das redes não-familiares mais pequenas (cuja idade média dos membros atinge os 57 anos). O fenómeno de menor envelhecimento das redes familiares de grande dimensão é explicado pela existência de relações intergeracionais e pela presença de elementos familiares mais novos (filhos e netos), enquanto o menor envelhecimento das redes familiares mais pequenas se explica essencialmente pela convivência em casal e pela presença de um elemento familiar da mesma geração (cônjuge). Por contraste, as redes não-familiares são afectadas por um maior envelhecimento, sendo este último ainda mais marcante nas redes não-familiares de pequena dimensão devido às situações de viuvez. O envelhecimento das redes não-familiares mais extensas aponta para um fechamento intrageracional, isto porque, mesmo perante situações de viuvez, os inquiridos recorreram sobretudo aos elementos não-familiares da mesma idade (amigos e vizinhos) a fim de conversar sobre assuntos impor- tantes ou sobre problemas quotidianos, no último ano.

O terceiro elemento refere-se aos anos de interconhecimento entre os inquiridos e os membros das redes interpessoais. Em média, o conjunto da população inquirida conhece os membros das suas redes (4,3) há mais de 20 anos, sendo esse interconhecimento mais acentuado nas redes predominan- temente familiares do que nas redes predominantemente não-familiares.

Atendendo de novo ao facto de a composição das redes interpessoais intro- duzir maior variabilidade no grau de interconhecimento do que a dimen- são, verifica-se então que a antiguidade das redes familiares (com membros conhecidos há mais de 20 anos) se opõe à natureza mais recente da relação estabelecida entre os inquiridos e os membros das suas redes não-familiares (com membros conhecidos há menos de 20 anos). As  redes interpessoais mais antigas são as predominantemente familiares de maior dimensão (4,6), porque incorporam membros da família (filhos e netos) que os inquiridos conhecem desde sempre. Já a antiguidade das redes predominantemente familiares mais pequenas (4,5) é explicada pela conjugalidade, na medida em que os inquiridos conhecem há muito tempo o elemento familiar (côn- juge) com quem partilham assuntos importantes. Por contraste, em termos médios, o facto de as redes predominantemente não-familiares (especial- mente as maiores; 3,6) serem mais recentes explica-se pela maior incorpora- ção de membros (sobretudo amigos e vizinhos) que os inquiridos conhecem há menos tempo.

O quarto e último elemento adicional de caracterização das redes interpessoais é o grau de satisfação dos inquiridos com os membros dessas redes. Globalmente, o universo inquirido declarou estar muito satisfeito com os membros das suas redes interpessoais (4,7), não obstante as análi- ses de médias revelarem diferenças estatisticamente significativas no grau de satisfação em função do tipo de rede. Com efeito, a principal tendência a destacar é o facto de as redes predominantemente familiares promove- rem maior satisfação do que as redes predominantemente não-familiares. Esta tendência reforça, assim, a importância atribuída à família por parte da população inquirida. Em termos médios, os inquiridos reportam um grau de satisfação com os membros das redes familiares mais extensas (4,8) ligei- ramente superior ao dos que têm redes familiares pequenas (4,7), levando a crer que, para além do cônjuge, também a presença de outros elementos familiares (sobretudo filhos e netos) confere ainda maior satisfação aos inquiridos. Por contraste, importa referir que o menor grau médio de satis- fação declarado por aqueles que têm redes predominantemente não-fami- liares de maior dimensão (4,5) sugere, então, que a maior presença de amigos e vizinhos não tem um impacto subjectivo tão favorável quanto a família na avaliação que os inquiridos fazem dos membros das suas redes interpessoais. Em síntese, sublinham-se as principais tendências apontadas pelos quatros elementos adicionais que caracterizam a tipologia das redes inter- pessoais, a saber:

Redes pequenas e predominantemente familiares destacam-se, sobretudo,

Redes pequenas e predominantemente não-familiares destacam-se tanto

pelo seu maior envelhecimento, como também pela maior distância física dos seus membros;

Redes grandes e predominantemente familiares destacam-se não só pela sua

maior juventude e antiguidade, mas também pela maior satisfação com os membros;

Redes grandes e predominantemente não-familiares destacam-se pelo seu

carácter mais recente, pela maior distância física e pela menor satisfação com os seus membros.

2.2 relações de apoio emocional, instrumental e de aconselhamento

Antes de entrarmos numa análise pormenorizada sobre os diferentes tipos de apoio (emocional, instrumental e de aconselhamento) recebido pelos inquiridos acima dos 50 anos de idade e prestado pelos membros das suas redes interpessoais, cabe salientar a sua importância para um envelheci- mento bem-sucedido (Antonucci, Sherman & Akiyama, 1996). Parte-se do princípio, com efeito, que as redes interpessoais favorecem a obtenção de apoio social e que constituem, além disso, um factor de protecção social relevante contra as situações de isolamento e de vulnerabilidade a que as pessoas estão potencialmente sujeitas com o aumento da idade (Mauritti, 2004; Gray, 2009). Numa lógica contrária, depreende-se que os indivíduos sem redes interpessoais tenham menos relações de suporte social.

Outro ponto de partida sustenta que o apoio obtido pelos membros das redes interpessoais depende não só da forma de constituição das redes (com-

posição), mas também da sua amplitude (dimensão) e do grau de integração

dos seniores nessas redes (Sarason & Pierce, 1990; Krause, 2001; Fernández- Ballesteros, 2002; Paúl, 2005). Uma forma de aferir a integração social da população inquirida reside na análise da qualidade das suas relações com os outros, a qual é mensurável tanto por via do apoio recebido como do apoio prestado aos membros das redes interpessoais. É de supor que as relações de apoio social não sejam exclusivamente unidireccionais nem estejam dotadas de um carácter estritamente funcional, visando colmatar estados de depen- dência. Ao invés disso, constituem desejavelmente verdadeiras relações bila- terais de solidariedade entre os inquiridos e os membros das suas redes inter- pessoais. A  este propósito, alguns autores (Norris & Kaniasty, 1996; Paúl, 2005) referem que, mais do que a ajuda efectivamente proporcionada pelos membros das redes interpessoais (apoio recebido), é sobretudo a crença de que as pessoas importantes ajudarão em caso de necessidade (apoio percepcionado) que produz efeitos positivos e duradouros no bem-estar desta população.

Neste capítulo, analisaremos as relações do apoio social prestado aos outros e daquele que é proporcionado pelos membros das redes interpes- soais. Após uma breve caracterização sociográfica dos inquiridos (segundo o sexo e a idade), o apoio social é perspectivado em função da tipologia das redes interpessoais ou da ausência destas redes, ou seja, quando os inquiri- dos não referiram relações interpessoais preferenciais. Os três tipos de apoio social considerados nesta análise são os seguintes:

• O emocional, tanto do ponto de vista negativo (sentimentos de tris-

teza ou solidão) como do ponto de vista positivo (sentimentos de ale- gria ou felicidade);

• O instrumental, respeitante à ajuda de não-coabitantes na realização

de tarefas domésticas;

• O de aconselhamento, que se refere aos pedidos de conselhos aquando

da tomada de decisões importantes.