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Tipologias de Urbanização 44 

CAPÍTULO I IDENTIFICAÇÃO DO DISPERSO 5 

1.2. Anatomia do Disperso 41 

1.2.3. Tipologias de Urbanização 44 

Os tecidos que compõem as estruturas de povoamento, identificadas no ponto anterior, são detentores das mais variadas configurações, quer por derivarem de concretizações em tempos distintos, quer por serem produto de agentes e motivos distintos.

Contudo nem sempre lhes foi dada a melhor atenção, como nos refere Antonio Font51: “Como as descrições territoriais não são independentes das intenções e linguagens projectuais que lhes subjazem, a habitual discussão do projecto metropolitano sempre prestou maior atenção aos aspectos estruturais da grande escala (infra-estruturas viárias e transporte público, reservas e protecção de espaços naturais, enclaves de actividade inovadora, etc.) do que aos processos mais difusos pelo território, configuradores dos tecidos metropolitanos, responsáveis da qualidade urbana e dos códigos genéticos da sua transformação.”

Percepcionada a natureza do povoamento disperso numa dada área, a sua contenção, regulação ou mesmo qualificação tende a ser desenvolvida à escala local. Os prementes aspectos da qualidade de vida, do conforto urbano, da segurança pública, da mobilidade e de todas as restantes pequenas, mas importantes, questões que nos inquietam no dia a dia têm a sua resolução nesta escala. Para tal, e após a análise da estrutura do povoamento da área de intervenção e da necessária correlação com o tecido produtivo, importa perceber de que forma os agentes actuam no território, como dele se apropriam. As tipologias de urbanização são reveladoras da existência (ou não) de processos de ocupação, das especificidades culturais e sociais em presença, bem como das motivações em jogo.

Num esforço de síntese identificam-se quatro tipologias de urbanização características do povoamento disperso: as unidades autónomas, o povoamento linear, o povoamento espraiado, e o povoamento avulso.

Unidades autónomas Povoamento linear Povoamento avulso Povoamento espraiado Fig. 12 - Tipologias de Urbanização

As unidades autónomas caracterizam-se por serem intervenções, regra geral realizadas por via de loteamentos urbanos ou da construção de (grandes) equipamentos, que, num curto espaço de tempo (3 a 5 anos), urbanizam uma determinada área territorial. Produtoras de novas vias, normalmente a disposição das obras de urbanização fica muito condicionada à configuração geométrica da(s) parcelas(s), sendo que a continuidade do espaço público produzido fica, também ela, muito condicionada, e muitas vezes impraticável, dada a localização afastada do empreendimento face aos aglomerados urbanos. As morfotipologias escolhidas variam consideravelmente, provocando rupturas com a envolvente pela diferença de escala ou

compacidade que introduz, e/ou pela escolha de tipologias estranhas, como habitação multifamiliar, actividades industriais ou logísticas, resorts ou de grandes superfícies comerciais.

Dado o seu carácter polarizador não é estranho despoletarem a ocupação nas suas áreas de influência. Esta tipologia tem ainda uma variante especifica, ainda não muito comum em Portugal: o desenho de uma nova área produtiva e especializada, caracterizada por quarteirões residenciais de boa qualidade, baixa densidade e com forte qualificação do espaço público, onde se produz a partir de casa.

O povoamento linear, vulgarmente associada ao fenómeno “mancha de óleo”, caracteriza-se pela construção marginal às vias de comunicação de uma forma indeterminada. Em Portugal tem grande expressão na conurbação do Médio Ave. Assume particular destaque nos estudos italianos e espanhóis quando incorpora mistura de funções, constituindo o fenómeno da strada mercato. As sucessivas ramificações desta tipologia dão origem a uma sua variante: o povoamento espraiado (por falta de melhor designação). Alicerçada numa rede de caminhos rurais, esta tipologia caracteriza-se pela pulverização de funções e construções por todas as direcções, a partir de aglomerados existentes. Ocupa, muitas vezes, as veigas agrícolas abandonadas no tardoz das habitações, alimentando as novas pequenas e médias empresas. Reproduz, ainda, a compatibilização entre as economias familiares mais tradicionais, com a manutenção de uma horta em redor das moradias, e o rápido acesso ao sector industrial e comercial, nova fonte de sustentação económica. As intervenções são realizadas individualmente, produzindo um espaço público descontínuo, cedido à medida de cada necessidade.

O povoamento avulso, tipicamente desconcentrado, representa a edificação solta sobre uma matriz rural. Corresponde a uma apropriação das parcelas agrícolas para fins habitacionais, sobretudo para efeitos de segunda residência, sem que haja, a curto prazo, qualquer intervenção no espaço público. É a tipologia que melhor representa a ânsia ilusória do retorno à Natureza, e está fortemente associada a classes com elevado poder de compra, sendo a edificação, na sua maioria, de autor.

Estas tipologias dão corpo a porções de território que integram as estruturas já identificadas à escala regional. A sua evolução raramente reflecte opções de planeamento. O planeamento físico, determinístico, caracterizado pela cascata de planos, tem-se mostrado incapaz de, atempadamente, oferecer soluções compatíveis com a nova geografia e ritmo de oportunidades. Resultam, sobretudo, dos processos de ocupação urbana.

O trabalho desenvolvido por Cidália Silva para o Vale do Ave constituirá um momento de reflexão sobre a pertinência e bondade das tipologias de urbanização identificadas no contexto da presente dissertação. No seu estudo, Cidália Silva identifica cinco “tipologias / suportes de urbanização”, a que designa de “formas elementares” (Fig. 13).

Quadro 3 - Carácter global das Tipologias de Urbanização

Formas Elementares Tipologias de Urbanização

Tectónica – transformação do solo natural em solo rural

Rarefeita – disseminação sucessiva de edifícios na estrutura tectónica (a ocupação inclui agricultura, floresta, industria, habitação e comércio)

Avulso (predominantemente habitação, agricultura e floresta)

Espraiado (diversidade de ocupações)

Linear – ocupação, predominantemente edificada, ao longo de uma infra-estrutura linear

Linear / Espraiado (consoante complexidade da rede de caminhos)

Nuclear – ocupação com funções polarizadoras

(industrias, equipamentos, serviços colectivos) dotadas de boa acessibilidade (cruzamento de vias)

Considera-se que resulta da polarização das unidades autónomas, por linearidade, ou que representa pequenos aglomerados anteriores ao fenómeno dispersivo

Planeada – alteração morfológica e funcional

concretizada num curto espaço de tempo Unidades autónomas

Este simples exercício permite-nos perceber que:

- a especificidade dos territórios pode induzir a combinações variadas de tipologias de urbanização, sendo que o predomínio de alguma em particular possa justificar, nesse contexto, uma designação (sub-categoria) específica;

- a matriz das tipologias de urbanização, proposta nesta dissertação, é suficientemente abrangente para ser um auxílio / referência em análises territoriais;

- a similitude das tipologias entre estudos decorre de uma análise da paisagem cruzada com os processos que lhe dão forma.

Considerando que as formulações de resposta ao fenómeno têm privilegiado o desenho urbano52 (enquanto meio privilegiado para o estabelecimento de um patamar de diálogo entre agentes), o estudo das tipologias de urbanização poderá ser a chave para a selecção, ou mesmo criação, de morfologias urbanas adequadas e estabilização de níveis de urbanidade diferenciados. A verificar-se esta inferição as tipologias de urbanização afiguram-se como um contributo valioso para a redacção e estruturação dos instrumentos de

gestão urbanística a implementar, bem como para a sustentação de estudos para implementação de sistemas de infra-estruturação.