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B. A PESQUISA: O ANDAR METODOLÓGICO

1.2. O CAMPO DA EDUCAÇÃO SEXUAL

1.2.2. TIPOS DE EDUCAÇÃO SEXUAL

Educação sexual, de uma maneira geral, compreende “toda ação ensino-aprendizagem sobre a sexualidade humana, seja em nível de conhecimento de informações básicas, seja em nível de conhecimento e/ou discussões e reflexões sobre valores, normas, sentimentos, emoções e atitudes relacionadas à vida sexual” (FIGUEIRÓ, 1996, p. 2). Ela engloba uma série de atividades cujo objetivo é promover uma relação satisfatória entre os alunos, no que se refere à socialização, respeito, autoconhecimento e informação científica sobre os processos fisiológicos e prazerosos ligados à sexualidade.

11 Escolas Municipais de Ensino Fundamental que participaram do SPE em 2008 - Anísio Teixeira, Deputado

Em uma escola, podem-se vivenciar duas modalidades de Educação Sexual: a Informal e a Formal, respectivamente, quando não há necessariamente a intencionalidade de formação e quando acontece em situação de interação entre as pessoas de forma sistemática e planejada (WEREBE, 1998; FIGUEIRÓ, 2006).

De acordo com Werebe (1998), a Educação Sexual Informal pode ocorrer na família, na escola ou em outras instituições, sendo a família o locus das primeiras experiências vividas, onde o que os pais fazem vale mais do que o que eles dizem. Na escola, ela acontece de várias maneiras e até, muitas vezes, sem ser percebida como, por exemplo, através de medidas de coibição de comportamentos dos alunos por parte dos educadores; da omissão e do silêncio sobre as questões sexuais que podem levar os alunos a entenderem que sexo é coisa da qual não se deve falar; de gestos, vestes, idéias e valores transmitidos pelos professores e de textos preconceituosos e estereotipados quanto aos papéis sexuais.

A escola é o local onde os jovens se encontram, se identificam e trocam informações, nem sempre corretas. É nesse ambiente que eles passam grande parte do tempo. Assim, é tarefa da escola sistematizar atividades regulares e planejadas sobre o tema sexualidade. A essa forma de trabalhar, segundo Figueiró (2006), dá-se o nome de Educação Sexual Formal que pode ser desenvolvida dentro e fora da escola.

Durante o percurso da educação sexual aqui no Brasil, alguns modelos de abordagem da sexualidade na escola foram surgindo, baseados nas aspirações da sociedade, impostas pela repressão da igreja e/ou da política. A escola se via obrigada a seguir, embora algumas quebrassem as regras e teimassem em assumir uma postura menos repressora e mais humanística. Figueiró (2006) apresenta quatro abordagens da educação sexual aqui no Brasil. Essas foram identificadas, em sua pesquisa de mestrado, nas publicações acadêmico-científicas brasileiras. São elas: religiosa (tradicional/libertadora), médica, pedagógica e política ou emancipatória.

Na abordagem religiosa tradicional “a vivência da sexualidade está condicionada à submissão às normas religiosas oficiais” (FIGUEIRÓ, 2006, p. 81), com uma variação entre uma “atitude conservadora”, totalmente submissa às regras e uma “atitude questionadora” (Ibid., p. 82) que, mesmo seguindo as normas, procura adaptá-las ao contexto social, histórico,

político e econômico. Esta última variação também considera as contribuições da ciência, mesmo com limitações.

A abordagem religiosa libertadora vai além da questionadora pelo fato de encarar a educação sexual “como um instrumento de transformação social”, compartilhando, assim, os embasamentos da abordagem emancipatória. Apesar de manter os princípios cristãos fundamentais como o amor, o respeito mútuo e a justiça, reconhece que “a doutrina moral oficial é controladora, repressiva e incoerente com o atual momento histórico” (Ibid., p. 82). Mesmo assim, permite uma visão crítica dos pressupostos religiosos e permite que as pessoas sejam sujeitos da sua própria sexualidade.

Com relação à abordagem médica, a ênfase dada à saúde norteia as ações terapêuticas ou de programas preventivos de saúde pública, com objetivo de “assegurar a saúde sexual do indivíduo e da coletividade” (Ibid., p. 83).

A abordagem pedagógica evidencia o ensino-aprendizagem de conteúdos básicos da sexualidade, como também a discussão de valores, sentimentos e atitudes. Essa abordagem visa preparar o/a aluno/a para viver bem a sua sexualidade sem a preocupação com o processo de transformação social (Ibid.).

Conforme observa Figueiró (Ibid., p. 83): “tanto a abordagem médica quanto a pedagógica encaram a educação sexual como meio de levar o indivíduo a viver bem a sua sexualidade”. Isso é muito importante, desde que possa levar o/a aluno/a a refletir sobre sua condição, seu momento histórico e cultural e a extrapolar para as sua relações pessoais e sociais. Entendemos ser essa a forma coerente de contribuição entre as abordagens. Numa amplitude maior encontra-se a idéia central da próxima abordagem.

A abordagem emancipatória ou política traz consigo uma visão de educação sexual voltada ao compromisso com a transformação social, sem, no entanto, se desvincular da proposta citada pelas abordagens anteriores (médica e pedagógica), ou seja, criar condições para que o/a aluno/a viva de maneira saudável a sua sexualidade. Nessa abordagem, é fundamental a promoção de discussões envolvendo as relações de poder e a aceitação e o respeito às diferenças e às minorias.

Essa abordagem, inicialmente proposta por Goldberg (1985), considera a educação sexual como um processo ativo e contínuo, no qual as pessoas envolvidas também se educam. E, em se educando, educam primando pela transformação dos padrões de relacionamento sexual, resgatando o erotismo (o prazer e a boniteza da sexualidade) e as questões de gênero, levando em conta aspectos sociais, históricos e culturais (FIGUEIRÓ, 2006). Existem vários seguidores dessa proposta, citados por Figueiró (2006, p. 84) como: “Cunha (1988), Ribeiro (1990), Riechelmann (1993), Vasconcelos (1994), Simonetti (1994), Nunes (1996), Louro (1999), Melo (2001)” e a própria Figueiró (2006).

Observando o texto dos PCN (2001a), percebemos uma preocupação mais evidente com a abordagem pedagógica como, por exemplo, nos fragmentos a seguir: 1 - “O tratamento da sexualidade nas séries iniciais visa permitir ao aluno encontrar na escola ‘um espaço de informação e de formação”, no que diz respeito às questões referentes ao seu momento de desenvolvimento e às questões que o ambiente coloca (BRASIL, 2001a, p. 107. Grifos nossos). 2 – “A oferta por parte da escola, de um espaço em que as crianças possam ‘esclarecer suas dúvidas’ e continuar formulando novas questões contribui para ‘o alívio das ansiedades’ que muitas vezes interfere no aprendizado dos conteúdos escolares” (Ibid., p. 113-114. Grifos nossos). Figueiró (2006, p. 84) também fez uma análise semelhante ao afirmar que nos textos dos PCN relacionados à educação sexual “é possível constatar que o comprometimento maior é com a abordagem pedagógica”.

A abordagem médica também se faz presente, como nos trechos a seguir: “dentro da escola articula-se, portanto, com a promoção da saúde das crianças e dos adolescentes [...] ações preventivas às doenças sexualmente transmissíveis/AIDS, [...] prevenção de problemas graves como abuso sexual e a gravidez indesejada” (Ibid. p. 114).

Não é possível fazer uma educação sexual emancipatória sem incluir ações pedagógicas e informações científicas e biológicas. Mas, é preciso observar qual concepção de sexualidade e de educação sexual se faz presente em seu planejamento, evitando-se, assim, cair no erro de executar ações desvinculadas das suas convicções e em desacordo com a necessidade dos/as seus/suas alunos/as.