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Quanto aos tipos de definições, muito do que se sabe a respeito procede dos estudos sobre definições lexicográficas. Werner (1982) destaca que freqüentemente as definições lexicográficas seguem as regras da definição lógica, ou seja, pelo modelo gênero próximo (genérico) e diferença específica (específico). Esse tipo de definição é também chamada de analítica, lógica ou aristotélica (WELKER, 2004). Mesmo a obra lexicográfica dirigida ao surdo emprega definições desse tipo, como mostra o exemplo abaixo:

Exemplo 5

Aranha s.f. Animal artrópode aracnídeo de grande abdome, quatro pares de patas ambulatórias no cefalotórax, oito olhos, quelíceras terminadas em ponta para inoculação de veneno, e fiandeiras que fornece o material para as teias. Não tem antenas e não é inseto, já que seu corpo tem apenas dois segmentos e não três.

Dicionário Enciclopédico Ilustrado Trilíngüe da Língua de Sinais Brasileira

Outros dicionários agregam sinônimos às paráfrases de definição, o que permite ao consulente deduzir que cada um deles possui ao menos uma condição comum com o lema. O autor de uma obra lexicográfica que opte apenas por sinônimos supõe que o consulente possua competência lingüística para concluir sozinho a aproximação existente entre eles e a unidade léxica definida. Para isso, terá sempre de ter o cuidado de oferecer um número razoável de sinônimos, caso contrário, incorrerá no erro de ser insuficiente. A definição lexicográfica por paráfrase ou indicação de sinônimos é vista por Werner (1982: 279) como vantagem, pois “se puede prescindir, en gran parte, del uso de un inventario peculiar de signos metalingüísticos”. Vejamos:

Exemplo 6

Em muitos casos, além da definição analítica, os enunciados apoiam-se em conhecimentos gerais acerca do objeto a ser definido. Esse tipo de enunciação recebe o nome de definição enciclopédica e pode ser bastante enriquecedora, como no caso deste exemplo:

Exemplo 7

Beija-flor s.m. Nome genérico das menores aves do mundo, com bico alongado e plumagem prismática que decompõe o branco nas cores do arco- íris, que se alimentam do néctar das flores e de insetos minúsculos, e que são capazes de pairar em pleno ar, tamanha sua leveza e a velocidade de suas asas. Há várias centenas de espécies de beija-flor, sendo que todas elas são da América do Sul.

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Tem-se observado que muitos dicionários dirigidos ao público infantil vêm utilizando uma forma de definição constituída de textos simples, em linguagem dialógica, inspirada nos dicionários Cobuild, para aprendizes de inglês. A chamada definição instanciativa foi citada numa publicação da Secretaria de Educação Básica (MEC, 2006), dirigida essencialmente aos professores, com o intuito de estimular o uso de dicionários em sala de aula, como um rico instrumento de ensino-aprendizagem:

Exemplo 8

Lesão s.f. medicina Alguém tem uma lesão quando tem um problema físico

em uma parte do corpo, ou em algum órgão. (...)

Minidicionário Contemporâneo da Língua Portuguesa

Trata-se de um recurso muito empregado por professores e intérpretes, quando os surdos desconhecem uma palavra na língua portuguesa. Uma situação hipotética, em que um aluno perguntasse, por exemplo, o sentido de inóspito, a resposta poderia gerar uma definição assim: um lugar é inóspito se for ruim ou desagradável. Nós dizemos que é inóspito aquilo

que não é agradável, que nos agride. O deserto é inóspito para a maioria dos seres vivos,

porque é muito seco e os seres vivos precisam de água para viver.

O uso de sinônimos é também muito comum, em lugar de enunciados definitórios e, como o próprio nome indica, são conhecidas por definições sinonímicas. Esse tipo de definição muitas vezes traz dúvidas ao consulente, porque não há como se ter certeza de que os sinônimos se encaixam ao contexto. Além disso, se forem também desconhecidos do consulente, este será obrigado a pesquisar as respostas até descobrir a resposta ou desistir por

frustração. A apresentação de sinônimos é interessante quando complementa o enunciado definitório:

Exemplo 9

Debater: v.t.d. Tratar de examinar durante debate. Discutir. Contestar. Cotender. Questionar. (...)(CAPOVILLA; RAPHAEL, 2001)

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Já na sala de aula, durante a interpretação, é possível usar sinônimos para explicar uma palavra desconhecida no português, prescindindo da definição. É claro que, nesse caso, o intérprete está ciente do contexto em que deverá aplicá-los. Digamos que os alunos desconheçam o que significa oceano, empregado num texto de Geografia. Ao invés de usar a definição analítica, o intérprete opta pelo sinônimo mar.

Aferir a incompreensão parece ser mais tangível do que a compreensão, pois quando os resultados do processo de comunicação são inadequados ou inesperados, diz-se que o sujeito “compreendeu mal” (LYONS, 1979). Os insucessos dos alunos são constatados freqüentemente pelos resultados das provas. Entretanto, até que ponto a falha está no receptor, e quando podemos atribuí-la à fonte? Lyons (1979) lembra que os contextos que não se desenvolvem são aqueles em que os interlocutores não partem de conhecimento prévio um do outro ou da informação comunicada em enunciados anteriores, mas o que eles partilham é algo mais geral. Isso é o que provavelmente ocorre entre os livros didáticos e os alunos, quando se pressupõe que os leitores já possuam um conhecimento prévio que lhes garante a inteligibilidade dos textos.

Ao se estabelecer parâmetros de organização para estruturar uma definição terminológica, estudiosos como Wüster e Dressen deram importância à normalização, visando desfazer ambigüidades que pudessem gerar interferências negativas em qualquer ato de comunicação científica e técnica. Na Biologia, por se tratar de uma área de especialidade, a redação dos textos está calcada na prática de definições de termos que são aparentemente desconhecidos dos alunos. Por vezes, tais definições distanciam-se dos leitores, contendo informações excessivamente específicas para um leigo.

Sobre os tipos de definições terminológicas, o Manual de Terminologia20 (Pavel e

Nolet, p. 25) prevê vários modelos de redação, mas deu destaque a quatro tipos de definição:

20O Manual de Terminologia disponível pelo site

(i) por gênero próximo e diferença específica;

(ii) por função;

(iii) por descrição de uma ação;

(iv) por paráfrase sinonímica;

Essas observações a respeito das definições dos conceitos de especialidade são encerradas, no Manual, com algumas recomendações ao terminólogo. Entre elas uma chama a atenção por levar em conta o perfil dos usuários. Nela sugere-se que o tipo de definição seja adaptado às necessidades de comunicação e ao nível de conhecimento dos usuários. Quando o assunto abrange conteúdos de uma área de especialidade a alunos do Ensino Médio, nenhuma outra recomendação poderia ser mais adequada.