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Tipos distintos de atividades propostas por Gardner

Solução de um problema concreto Normalmente científico. São tarefas concretas realizadas no decorrer de determinados processos. Proposta de um esquema conceitual geral Desenvolvimento de esquemas amplos e/ou teorias.

Criação de um produto

Criação de produtos de pequena envergadura. Trabalhos que expressam ideias, emoções e conceitos, mas que, em conjunto, não são descritos como esforços para solucionar problemas ou para criar esquemas conceituais. São casos frequentemente originais de trabalhos dentro de um gênero, ou com intenção de iniciar um novo.

Tipo estilizado de atuação

São formas de arte, como a dança ou o teatro. Um criador individual pode encarnar a forma de arte. Neste caso, a obra não existe separada da realização particular

de uma pessoa em um momento histórico concreto. A atuação pode estar prescrita de diversos modos, mas sempre existe oportunidade para a inovação, improvisação e interpretação. O estado do corpo e as exigências do momento histórico circunscrevem tais atuações.

Atuação de alto risco Quando se entra em uma esfera política ou espiritual. As mesmas palavras e ações de um indivíduo se convertem no terreno em que se desenvolve a criatividade.

Fonte: A autora (2016), com base em Gardner (1995).

Em qualquer tipo de atividade, a pessoa criativa ama a sua obra, e não pode prosperar sem ela, ou seja, encontra prazer em fazer descobertas científicas, em resolver enigmas da natureza ou em completar uma obra artística, afirma Gardner (1999a).

Para Lubart (2007), a noção de processo criativo remete à sucessão de pensamentos e ações que resultam em criações originais e adaptadas. Ao basearem-se no gênero de evidência introspectiva, Lubart (2007), Alencar (1993) e Novaes (1977) trazem a formalização de Wallas (1926) em sua obra ―A arte do pensamento”, em que normatiza o processo de chegar a uma nova generalização, invenção ou expressão poética de uma nova ideia com um modelo de processos criativos dividido em quatro etapas: preparação, incubação, iluminação e verificação.

A fase de preparação, segundo Lubart (2007, p. 94), ―necessita de uma análise preliminar a fim de definir e de colocar o problema. Ela requer um trabalho consciente e demanda educação, capacidade analítica e conhecimentos sobre o problema‖. Para Alencar (1993), nesta fase de preparação o problema é investigado em todas as direções.

Durante a fase de incubação, não há trabalho consciente sobre o problema:

[...] a pessoa pode muito bem se concentrar em outros objetivos ou simplesmente relaxar, se estiver longe do problema. O cérebro continua então a trabalhar inconscientemente, formando associações. Pensamos que as numerosas associações de ideias nascem no decorrer da fase de incubação: o inconsciente rejeita grande parte dessas associações, que ele julga inútil, mas procura, às vezes, uma ideia mais promissora. (LUBART, 2007, p.94).

Em outras palavras, Alencar (1993) diz que, nesta fase de incubação, dois aspectos se salientam: no decorrer deste estágio, a pessoa não está voluntária ou conscientemente pensando no problema particular. Toma lugar uma série de acontecimentos mentais inconscientes.

A fase de iluminação aparece quando a ideia se torna consciente. Lubart (2007, p. 94) diz que ―a iluminação pode se definir por um flash, uma iluminação súbita‖. É uma fase

perturbada por acontecimentos externos, ou quando se tenta precipitar a emergência de ideias. Para Alencar (1993), esta fase ocorre de maneira instantânea e não esperada, dificultando exercer sobre ela algum tipo de controle ou influência.

A fase de verificação, também chamada de trabalho consciente, é quando se necessita avaliar, redefinir e desenvolver a ideia (LUBART, 2007). Para Alencar (1993), a verificação tem característica semelhante à fase da preparação e implica a avaliação da solução proposta. ―Nesta fase, o criador, além de desenvolver uma atividade lógica-racional, deve também exercer o seu sentimento crítico, o que o leva, alguma vezes, a reformular as suas ideias originais ou mesmo a abandonar o seu problema ou questão‖ (ALENCAR, 1993, p.34).

Wallas (1926 apud LUBART, 2007) observou que, ao longo do processo de resolução criativa do problema, pode-se voltar às primeiras etapas. ―Se por exemplo, uma ideia mostrou as imperfeições no momento da verificação, uma outra ideia poderia incubar para resolver essa dificuldade‖ (LUBART, 2007, p.95). E, ainda, da mesma maneira, ―as fases poderiam se sobrepor, por exemplo, quando uma pessoa procura, às vezes, em uma etapa de preparação, por um aspecto do problema e na fase de incubação por um outro aspecto do problema‖ (LUBART, 2007, p.95). O modelo em quatro etapas, ou uma de suas variantes, auxilia muitas pesquisas, afirma Lubart (2007).

Em síntese, começa-se pela apresentação da tarefa – estabelecimento da tarefa ou problema e levantamento das dificuldades− para então passar às etapas do processo criativo, conforme Lubart (2007):

1. Preparação: coleta de informação; análise inicial; trabalho consciente.

2. Incubação: descanso; jogo associativo inconsciente; esquecimento dos detalhes. 3. Iluminação: experiência ―Eureka‖; emergência da ideia.

4. Verificação: exame crítico da ideia; conclusão dos detalhes.

A fase de inspiração criativa, para Novaes (1977), varia muito individualmente de acordo com o problema a ser resolvido, bem como com a necessidade a ser preenchida. ―Pode produzir uma avalanche de ideias e de impressões que o indivíduo criador procura captar, vivendo intensamente do ponto de vista intelectual e emocional‖ (NOVAES, 1977, p. 50).

Eysenck (1999) diz que o estudo da criatividade inclui quatro componentes: processo criativo, produto criativo, pessoa criativa e situação criativa, destacados a seguir com ‗grifos’ da autora desta pesquisa:

Primeiro há o processo criativo, isto é, a produção de conteúdo novo e original; esse processo, se repetido regularmente pela mesma pessoa, faz surgir a noção de traço. Segundo, temos o produto criativo que pode incluir o traço da criatividade, mas também muito mais. Terceiro, temos a pessoa criativa, que mostrará criatividade, é lógico, mas também muitas outras características. E finalmente, temos a situação criativa, tal como definida socialmente – e alguns períodos históricos parecem ter muito mais probabilidade de produzir pessoas e produtos criativos do que outros. (EYSENCK, 1999, p.206).

Segundo o autor, a distribuição normal de traço não implica uma distribuição normal do produto. Com base nesta afirmação, Eysenck (1999) sugere um possível conjunto de variáveis (cognitivas, ambientais e de personalidade) que podem interagir de modo multiplicador para a produção de resultados e realizações criativas, (EYSENCK, 1999, p.213):

- Variáveis cognitivas: inteligência; conhecimento; habilidades técnicas; talentos especiais. - Variáveis ambientais: fatores político-religiosos; fatores culturais; fatores socioeconômicos; fatores educacionais.

- Variáveis de personalidade: motivação interna; confiança; não conformismo; criatividade (traço).

De acordo com Eysenck (1999, p. 213), ―esse modelo também serve para explicar o fato de que a criatividade como um traço pessoal não parece apresentar uma correlação elevada com a realização‖. Para Ostrower (2004, p.11), a pessoa é um ser consciente e sensível em qualquer contexto cultural, ou seja, ―a consciência e a sensibilidade das pessoas fazem parte de sua herança biológica, são qualidades comportamentais inatas, ao passo que a cultura representa o desenvolvimento social do homem; configura as formas de convívio entre as pessoas‖.

As culturas assumem formas variáveis que se alteram com rapidez, ―incomparavelmente mais rápidas do que eventuais alterações biológicas no homem. As culturas se acumulam, se diversificam, se complexificam e se enriquecem [...] desenvolvem- se por motivos sociais, se extinguem ou são extintas‖ (OSTROWER, 2004, p.11). A autora conclui que as culturas não são herdadas, mas sim transmitidas.

O ser humano surge na história como um ser cultural (OSTROWER, 2004). Ao agir, a pessoa age culturalmente, apoiada na cultura e dentro de uma cultura. Ostrower (2004, p.13) define o que é cultura: ―são as formas materiais e espirituais com que os indivíduos de um grupo convivem, nas quais atuam e se comunicam e cuja experiência coletiva pode ser

transmitida através de vias simbólicas para a geração seguinte‖. O fato de surgir como ser cultural trouxe vantagem para o ser humano no decorrer da história, pois a seleção natural favoreceu aqueles que conseguiram usar a cultura, o trabalho e a criatividade em seu benefício (OSTROWER, 2004).

De acordo com Ostrower (2004), a criatividade está vinculada ao trabalho das pessoas, isto é, os processos criativos surgem dentro dos processos de trabalho, e este fazer intencional da pessoa é um fazer significativo. Para a autora, os processos criativos são processos construtivos globais. ―Envolvem a personalidade toda, o modo de a pessoa diferenciar-se dentro de si, de ordenar e relacionar-se em si e de relacionar-se com os outros. Criar é tanto estruturar quanto comunicar-se, é integrar significados e é transmiti-los‖ (OSTROWER, 2004, p.142-143).

Johnson-Laird (1990) assume que um processo criativo tem três propriedades características. Primeira: como todos os processos mentais, parte de alguns elementos constituintes que estão determinados, ou seja, não se pode criar do nada. Segunda: o processo não tem uma meta precisa, somente algumas restrições ou critérios preexistentes que se deve cumprir. Cria-se dentro de gêneros ou paradigmas, e inclusive a criação de um gênero novo deve cumprir certos critérios. Terceira: um processo criativo dá lugar a um resultado que é novo para a pessoa, que não é simplesmente recordado ou percebido e que não está construído por repetição, nem mediante um simples procedimento determinístico. A criação requer algo mais que uma imitação ou cálculo.

O resultado de um processo criativo pode não ser verdadeiramente original, afirma Johnson-Laird (1990). Um processo mental pode ser criativo, mesmo que outras pessoas tenham a mesma ideia. A originalidade genuína é algo que incumbe a sociedade, mas não é uma noção puramente psicológica. O valor do processo criativo é que seus resultados são julgados surpreendentes, brilhantes e não banais (JOHNSON-LAIRD, 1990). Estes julgamentos dependem dos processos mentais de muitas pessoas, e a ciência cognitiva poderia explicá-los em termos gerais. Todavia, dependem de acontecimentos históricos, culturais e científicos, completa Johnson-Laird (1990).

Novaes (1977, p.21) traz as definições de Taylor para os níveis de criatividade, ou seja, os modos de manifestar o comportamento criativo. Esses níveis estão apresentados no Mapa 8 a seguir.