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Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a cidade de Tiradentes possui área de 83,047 km² (Figura 12) e população estimada em 7.551 habitantes, dos quais 6.146 são alfabetizados (81,39%). Tem Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDHM) estimado em 0,740, contando com valor do rendimento nominal mediano mensal per capita dos domicílios particulares permanentes de R$510,00 (IBGE, 2014a).

Figura 12 – Localização Geográfica de Tiradentes

Fonte: Google, 2014.

Em termos educacionais, em Educação (2014) consta que Tiradentes possui dez escolas: oito são Municipais (atendem à Educação Infantil e ao Ensino Fundamental), uma é Estadual (atende ao Ensino Médio) e uma é particular, de atendimento à Educação Especial. O sistema de ensino de Tiradentes apresenta 1.181 matrículas, sendo 152 na Educação Infantil, 847 no Ensino Fundamental e 182 no Ensino Médio. Segundo o mesmo Censo, a rede de ensino conta com 15 professores no nível pré-escolar, 54 no Ensino Fundamental e 11 no Ensino Médio (IBGE, 2014b).

Apesar de não ser objeto de estudos desta pesquisa, o projeto “Tiradentes Digital” precedeu a escolha da cidade como uma das integrantes da política “Um computador por Aluno Total” (UCA TOTAL). Levando isso em consideração, julgamos pertinente traçarmos algumas considerações a respeito do “Tiradentes Digital”, cujo objetivo foi “[...] proporcionar à população, com ênfase nas comunidades com acesso restrito às tecnologias, o uso de serviços digitais”, tendo para isso implementado ações que envolveram “capacitação e formação dos profissionais envolvidos nas áreas contempladas pelo projeto [...]”, o “[...] estudo da performance das tecnologias envolvidas [...]”, além de “[...] discutir meios e mecanismos para a sustentabilidade dos projetos de inclusão digital” (BERNARDES, 2012, p. 2).

Dessa maneira, conforme sinalizado na introdução desta pesquisa, a partir do ano de 2006, Tiradentes foi cidade piloto do projeto do Ministério das Comunicações de “Cidades Digitais”.

[...] A cidade mineira foi escolhida pelo Minicom não só por ser turística e, em função disso, atrair atenção natural da mídia e dos cidadãos. Topografia acidentada e pequena rede escolar a ser conectada contribuíram para Tiradentes ser a eleita: num lugar com essas características, diversos tipos de testes poderiam ser realizados. Assim, em março de 2006, iniciou-se a instalação do projeto, batizado de Tiradentes Digital, na cidade de menos de 7 mil habitantes. [...] Inicialmente, quatro torres de transmissão e repetição do sinal foram instaladas em pontos estratégicos, a fim de cobrir o Centro Histórico e parte dos 83 quilômetros quadrados. Isso possibilitou a conexão, já no primeiro semestre de 2006, de todas as seis escolas da cidade (cinco municipais e uma estadual) e do único telecentro do município, situado dentro da Escola Marília de Dirceu, no Centro Histórico. [...] Num segundo momento [...] foi instalada mais uma torre, que aumentou a cobertura em cerca de 30%. [...] há em média 110 usuários da rede, nos diferentes pontos, incluindo a prefeitura, postos de saúde, associação de moradores e telecentros comunitários. Há cobertura em uma área de aproximadamente 4 km², o que inclui 80% da área urbana da cidade. A banda, que inicialmente era de 1 Mbps, em pouco tempo teve que ser aumentada. Atualmente o link é de 2 Mbps (GUIA DAS CIDADES DIGITAIS, 2014).

Com algumas justificativas para o Projeto Tiradentes Digital, o Guia das cidades Digitais (2014) anunciou ações de infraestrutura que envolveram a iniciativa piloto do Ministério das Comunicações. Curiosamente, percebe-se que, apesar do investimento em ativos de rede (torres e roteadores, entre outros), existiu um gargalo quanto ao acesso à internet, uma vez que a banda disponibilizada era/é ínfima. E esse fato fica ainda mais evidente quando tratado o “foco educacional do Projeto Tiradentes Digital”, uma vez que a “[...] banda [total] é subdividida: 1 Mbps para uso educacional, 1 Mbps para os outros usos. Em tese, nas seis escolas do município, os alunos podem utilizar a rede para intensificar e ilustrar o conteúdo visto em sala de aula” (GUIA DAS CIDADES DIGITAIS, 2014). Paradoxalmente, considerando os números anteriores, o que deveria ser uma ação de inclusão digital revela-se fragilizada mediante seus objetivos. Afinal, a conexão disponibilizada pelo Projeto, pretensamente, deveria suprir as demandas dos setores de atendimento público da

cidade e também toda a rede educacional, o que é tecnicamente impraticável29 com os

números apresentados (2 Mbps).

Ao revisitar nossa fonte de informações sobre o Projeto cidades Digitais dentro da esfera governamental brasileira, percebemos que o sítio http://www.inclusaodigital.gov.br/ foi descontinuado e a matéria passou a integrar o sítio do Ministério das Comunicações. Além disso, Tiradentes não integra mais a lista dos municípios considerados “cidades Digitais” (MINISTÉRIO DAS COMUNICAÇÕES, 2014a).

Em relação ao projeto “Tiradentes Digital”, consta em Ministério das Comunicações (2014b) um pequeno release intitulado “Qualidade da educação aumenta com internet gratuita”. A nota informativa não é fundamentada em pesquisa científica e traz as impressões da coordenadora pedagógica do Projeto na cidade na época. O texto é transcrito a seguir.

O balanço dos dois primeiros anos do projeto Tiradentes Digital mostra que a pequena cidade mineira viu sua rotina mudar com a conexão gratuita à internet. Além da comodidade para os sete mil habitantes, o rendimento dos alunos da rede pública aumentou de forma notável. O impacto na educação municipal, de acordo com a coordenadora pedagógica do Tiradentes Digital, Magda Marostegan, pode ser medida pela frequência diária de quase 100% dos alunos, redução significativa na evasão escolar e um rendimento escolar crescente. ‘As escolas possuem laboratórios de informática com uma média de 10 computadores e 90% dos professores já fizeram cursos de informática educacional e novas mídias’, diz Magda. Tiradentes Digital foi um dos primeiros projetos do Programa cidades Digitais. É uma parceria entre o MC, a prefeitura, a Universidade Federal de Ouro Preto, com participação de empresas privadas. O projeto leva acesso gratuito à internet à área urbana, beneficiando escolas, órgãos públicos, comerciantes e os turistas, que podem acessar a rede em seus laptops a qualquer momento. Ele cobre o centro histórico e alguns bairros do município com uma rede de comunicação sem fio (tecnologia wireless mesh). Atualmente, cinco escolas da rede pública são contempladas, duas delas localizadas na zona rural. Para privilegiar o uso educacional da internet, a velocidade de conexão é maior nas escolas (MINISTÉRIO DAS COMUNICAÇÕES, 2014b).

O texto sugere um aparente sucesso do “Tiradentes Digital”, merecendo destaque – por sua coordenadora pedagógica – os desdobramentos no cotidiano

29 Em uma visita de pesquisa à cidade de Tiradentes, realizada em novembro de 2013, constatamos

que a rede pública “Tiradentes Digital” tem conexão de qualidade inferior a uma linha discada (dados nos Anexos 2 e 3).

educacional (frequência, redução de evasão escolar e melhoria de resultados). Ambicioso, o trecho citado provoca reflexões e omite informações quanto às condições de acesso à internet do Projeto (largura de banda), afinal: como prover acesso satisfatório à população de sete mil habitantes com uma banda de 1Mbps? Se na época da publicação do release, em média, cada escola pública possuía 10 computadores em suas dependências, como assegurar acesso igualitário e qualitativamente satisfatório ao público discente atendido mediante a infraestrutura disponibilizada? Um dado para uma reflexão sobre essas indagações pode ser encontrado no “Anexo 2”, de Bernardes (2012, p. 7), no qual consta a informação de que o “link de conexão não atende às necessidades do projeto”.

Em um contato com uma das coordenadoras30 do projeto “Tiradentes

Digital”, esta avaliou as ações empreendidas:

Dentro das expectativas deste Projeto [Tiradentes Digital], dessa iniciativa, que foi até fevereiro de 2011, a avaliação foi satisfatória porque em termos de infraestrutura e pedagogicamente: de capacitação para essa utilização desse Projeto, foi realizado. Foi mobilizada uma equipe. Toda equipe foi mobilizada para funcionar o Projeto. A partir de fevereiro de 2011 a gestão foi toda municipal. E ai essas capacitações, manutenções, dar continuidade neste Projeto ficou a cargo da Prefeitura. O projeto saiu de forma satisfatória. Dentro de Tiradentes foi feito um levantamento de como que poderia o Projeto... A Prefeitura dar andamento no Projeto com os recursos da cidade. A gente já deixou tudo já planejado para que eles continuassem esse Projeto.

Conhecendo as condições apresentadas em Guia das cidades Digitais (2014) e em Ministério das Comunicações (2014a), questionamos à coordenadora se hoje seria possível considerar aquela ação como um Projeto de cidade digital.

Então, igual a gente estava conversando, a visão hoje de cidade digital não é só implantar a tecnologia. É prover serviços ao cidadão mediados pela tecnologia. [...] Estavam iniciando [...] esse viés para que seja considerado “cidade tecnológica”. Até propusemos na época, eles participarem desse novo projeto em que o Ministério hoje está... Para participar dessa seleção de 80 cidades, só que a gestão municipal não... Acho que não se interessou. Não sei por quê. Não mandaram a proposta para concorrer. [...] ia ser contemplada com toda essa infraestrutura de fibra ótica para prover serviços ao cidadão.

30 Mais uma vez, destacamos a importância do ciberespaço em nossa pesquisa, já que foi nas

(rel)ações estabelecidas no virtual que pudemos localizar uma das coordenadoras do “Tiradentes Virtual”, a qual nos disponibilizou a fonte Bernardes (2012).

As falas da coordenadora entrevistada evidenciam a descontinuidade do Projeto “Tiradentes Digital” a partir de fevereiro de 2011 e a reconfiguração do sentido do termo “cidade digital” pelo Ministério das Comunicações. A indicação da pouca articulação da gestão municipal mediante os objetivos do Projeto indicia uma possível motivação para que a cidade de Tiradentes não conste mais entre as atuais localidades atendidas pelo plano de cidades digitais do Ministério da Comunicação. Apesar de avaliar como “satisfatório” o Projeto, a coordenadora não mencionou a fragilidade do link disponibilizado para acesso à internet, confirmado em Bernardes (2012, p. 7). Cabe registrar que o “Tiradentes Digital” utilizou parte31 dos R$

1.009.101,23 oriundos dos cofres públicos em sua execução (BERNARDES, 2012, p. 6).