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5. A TV interativa, do analógico ao digital, dentro e fora da internet

5.6. TiVO e IPTV: as apostas das empresas a partir das lições anteriores

chat, grupos de discussão, acesso a páginas de web, construção dessas páginas, acesso a vídeo on demand. Em set-top box mais avançados, em que a transmissão do sinal é feita por satélite, a audiência pode pausar por até 30 minutos o programa e voltar a assisti-lo, receber imagem e som de qualidade digital e acessar jogos.

O sistema entrou em funcionamento no final da década de 90 nos EUA.

5.6. TiVO e IPTV: as apostas das empresas a partir das lições anteriores

A partir do ano 2000, quando a tendência de consolidação do cenário de convergência de empacotamento digital para todos os tipos de documento e sinal tornou-se ainda mais forte do que na década anterior, que marcou a abertura comercial da internet, uma tecnologia passou a preocupar a indústria de televisão: o TiVo. Na verdade, TiVo é uma das marcas do produto, a mais vendida entre os modelos de Personal Vídeo Recording (PVR).

O equipamento, adquirido pelo usuário, grava digitalmente a programação dos canais conforme programado. O que, a princípio, pouco tem a ver com um relato histórico da interatividade na televisão comprova, na verdade, tendências apontadas por todos os pesquisadores já citados neste capítulo: de que, a apesar do fracasso das tentativas anteriores, uma das funções permitidas por uma televisão interativa: o vídeo on demand.

Usuários de TiVO (e suas variações) assistem ao que querem, na hora que querem, ainda que não haja uma interação maior do que a do princípio de um

videocassete tradicional. A preocupação das emissoras, nesse sentido, é que TiViewers conseguem, além disso, pular os anúncios veiculados durante os programas, o que atinge sua forma de financiamento, o que poderia, a longo prazo, gerar algum tipo de crise de fórmula. Dizard prenuncia isso quando afirma que a televisão tradicional está sitiada: “em grande parte porque seus públicos (e suas receitas) estão sendo esvaziados pela televisão a cabo, pelos aparelhos de videocassete domésticos e pela internet” (DIZARD: 2000, p. 126). Além disso, há a questão dos direitos autorais de programas (especificamente de filmes) quando esses, digitalizados pelos TiVOS são distribuídos pela internet através de redes P2P40. No momento de escritura desse trabalho, já havia TiVOS programados para evitar o ad-skip (“pular” os comerciais).

Fig. 7: set-top box do TiVO ligado a um televisor

40P2P – peer to peer: redes distribuídas de troca de arquivo que funcionam na internet, cujo

Outra tecnologia – dessa vez não “ameaçadora”, mas desenvolvidas por companhias responsáveis por produtos de telecomunicações e software41 – foi apresentada publicamente na Consumer Electronics Show de janeiro de 2005 pela Microsoft: a IPTV42. Ela não deve ser confundida com televisão pela web, já que seria uma rede própria, com base de fibra ótica, o que teria uma velocidade que poderia ser de dez a mil vezes maior do que o ADSL ou cabo de hoje (ROSE: 2004, p.40).

A idéia de utilizar fibra ótica para um sistema de televisão interativa já estava nos planos da Warner desde o Full Service Network, mas implica um recabeamento das casas, o que torna o investimento caro – por isso a necessidade de um consórcio de grandes empresas. No caso do Full Service Network, há praticamente dez anos, a Warner não teve fôlego financeiro para instalar a infra-estrutura necessária, o que, aliado ao então caos técnico, fez com que o sistema desmoronasse.

Mas a IPTV não é apenas um upgrade do cabo – que, por conta da largura de banda, permite a transmissão de imagens em alta resolução –, é uma nova tentativa de disponibilizar vídeos on demand e abrir a possibilidade de canal de retorno para aplicações como jogos (a princípio, conforme o anúncio da Microsoft) e identificador de chamadas na televisão de acordo com Rose, cujas fontes estimam pelo menos cinco anos até o amadurecimento e disponibilização dessa tecnologia. Justamente possibilidades exploradas anteriormente na história da televisão interativa não-digital.

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Comcast, Time Warner, SBC e Verizon (chamadas Baby Bells por terem surgido da divisão da Bell nos EUA.

Fig. 8: Telas de menu da IPTV. Os serviços demonstrados são: detalhamento de programa, guia de programação, guia de programas gravados, “loja” de vídeo e mensagens

instantâneas

A IPTV já era apontada há mais de cinco anos: “Embora existam outras tecnologias competitivas, como a televisão a cabo e os satélites, é provável que o cabo de fibra ótica seja a tecnologia usada para fornecer serviços de mídia nos próximos anos” (DIZARD: 2000, p. 83). É a lógica do telecosmo, ou era do pós- computador (GILDER: 2001), em que o limite é a largura de banda, já que a distribuição de informações já estaria toda digitalizada de acordo com o autor. A

partir de seus estudos, ele afirma no título da 18a Lei do Telecosmo43 que a TV está obsoleta:

A televisão, de alta potência e baixa opção, morrerá. Está rapidamente cedendo lugar à largura de banda de baixa potência da internet com uma miríade de opções. Um corolário desta lei concerne à publicidade: os anúncios de TV não são propaganda; eles são desperdício de tempo. A maioria dos banners de internet também não são anúncios. Darão lugar a anúncios informativos e transacionais que as pessoas desejam ver. A internet delega poder ao cliente; no futuro, as empresas não serão capazes de enganar ou ludibriar seus clientes a ler seus anúncios (sic). (GILDER: 2001, p. 309).

Acreditamos que é cedo demais para afirmar categoricamente a morte da televisão da forma como o escritor faz. Até porque essa dissertação explora justamente a relação híbrida entre a organização de produtos audiovisuais ofertada pela televisão e ao que a internet permite acesso. Mas concordamos com o autor quando ele reivindica que a largura de banda (infinita, nas suas palavras) é que mudaria as relações de consumo de informação. Especificamente no caso da televisão, a largura de banda é uma das questões-chaves do próprio desenvolvimento da televisão digital (por conta da possibilidade já mencionada de compressão de sinais)44. Daí para a existência de um canal de retorno (interatividade para o usuário) a distância é pouca, já que sobraria espaço (literalmente) para o upstream45 de dados.

43São vinte as Leis do Telecosmo de Gilder.

44A relação entre resolução e largura de banda é uma das questões discutida quando se fala

na guerra de formatos de televisão digital, já que quanto maior a resolução, maior a

necessidade de banda – o que significa, tratando das bandas VHF e UHF, um limite teórico para a quantidade de canais disponíveis. Falando de televisão aberta, claro. A guerra de formatos será explicada mais adiante.

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6. A busca por uma experiência audiovisual interativa

Além dessa breve revisão de experimentos tecnológicos de oferta de televisão interativa, acreditamos ser também importante observar o comportamento das próprias emissoras tradicionais em sua busca de interação com o espectador, ainda que por vias que podemos chamar de multimídia (se entendermos esse conceito como uma reunião de diferentes mídias), já que depende de um retorno da audiência por telefone, e-mail, chat, página de web da emissora, mensagem de texto, etc.

O primeiro programa a ser lembrado nesse sentido lembrado pelos telespectadores brasileiros é o Você decide, da Rede Globo46, onde havia, inicialmente, dois finais para uma mesma trama. Ia ao ar aquele com o maior total de ligações durante a transmissão do programa.

A emissora ainda oferece o Intercine – sessão de cinema em que o filme a ser apresentado no dia seguinte (dentro de algumas opções oferecidas) também é decidido pela audiência e transmite o Big Brother Brasil, que assim como outros reality shows (não exclusivamente globais42) depende da participação da audiência para saber quem será eliminado ou quem será o vencedor.

É um nível baixo e limitado de interação, conceito cuja definição é problemática, especialmente pela sua difusão excessiva e apropriações por diferentes áreas e que será discutido em outra parte deste trabalho, mas são

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Conforme o Dicionário da TV Globo, esse foi o primeiro programa a permitir que o espectador interferisse ao vivo no final da história apresentada. O programa foi ao ar de abril de 1992 a agosto de 2000.