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CAPÍTULO I PRINCIPAIS FUNDAMENTOS EM CONTRACEÇÃO

QUADRO 7 DESMITIFICANDO ALGUNS MITOS RELACIONADOS COM OS MÉTODOS CONTRACETIVOS Anticoncecionais orais combinados

6. A TOMADA DE DECISÃO EM CONTRACEÇÃO

A escolha contracetiva revela-se uma decisão complexa, marcada por várias considerações que têm sido analisadas ao longo do tempo por diversos autores, embora com enfoque em diferentes vertentes, algumas por vezes controversas.

O estudo da problemática da decisão em contraceção deve ter em conta que se trata da adesão a uma espécie de regime terapêutico por um longo período, implicando um determinado comportamento periódico e sistemático (Costa & Leal, 2005).

Nesta perspetiva, alguns autores alertam para a importância de reconhecer que a adesão a uma terapêutica ou tratamento pode ser diferente entre os indivíduos, assim como o mesmo indivíduo pode aderir de forma distinta em diferentes momentos da sua vida, pelo que se torna importante conhecer as diferentes circunstâncias que influenciam o grau de adesão individual (idem).

A tomada de decisão em contraceção e a adesão efetiva ao método escolhido envolve, assim, diversos aspetos, sendo o primeiro a determinação da pessoa em querer controlar a sua fertilidade e escolher que método utilizar.

Outros aspetos como a idade, os conhecimentos sobre contraceção, os valores individuais e características pessoais, as redes sociais, as influências familiares e comunitárias, os atributos dos métodos contracetivos, a sua disponibilidade e a facilidade em obtê-los, bem como a informação e o aconselhamento em contraceção constituem variáveis que se podem relacionar de forma positiva ou negativa, influenciando o comportamento contracetivo (Costa & Leal, 2005; Penaforte et al., 2010; Maia, Ribeiro & Guimarães, 2011; Águas, Bombas & Silva, 2016).

No que diz respeito à análise por grupo etário, para os adolescentes ou jovens adultos o preservativo tende a ser o método de eleição a par do anticoncecional oral (ACO). A decisão dos jovens pelo preservativo pode justificar-se pelo baixo custo, fácil utilização, ausência de efeitos colaterais, esporadicidade das relações sexuais e prevenção da IST, para além da gravidez indesejada. A pílula é escolhida por ser o método mais conhecido, seguro, de fácil acesso, controlado pelas mulheres e pela eventual inacessibilidade do preservativo em relações ocasionais. As mulheres mais velhas tendem a optar pelo DIU ou pelo preservativo,

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tendo este um carácter sobretudo de ação contracetiva e não tanto de prevenção de IST (idem).

O estudo de Poncet et al. (2013), realizado em França com 7070 mulheres com idades entre 18 e 45 anos, revelou que o status socioeconómico foi um fator determinante para a diferença da prática contracetiva entre as mulheres imigrantes e imigrantes de segunda geração e as mulheres autóctones. A baixa escolaridade e o desemprego foram associados a uma redução estimada de 31,0% a 59,0% nas oportunidades de uso de anticoncecionais no primeiro grupo de mulheres.

No que concerne à informação sobre contraceção, vários estudos demonstram a sua importância para uma escolha adequada às verdadeiras necessidades da mulher/casal. As fontes de informação variam segundo a faixa etária, sendo que as jovens até aos 20 anos procuram informação na internet ou junto de colegas/amigos e as mulheres mais velhas privilegiam a informação veiculada pelo médico de família e pelo médico ginecologista. Todavia, diferenças no tipo de aconselhamento feito pelos vários profissionais de saúde podem influenciar a decisão sobre o tipo de métodos a escolher (Bombas et al., 2012; Águas, Bombas & Silva, 2016).

Os aspetos relacionados com os conhecimentos sobre contraceção e o aconselhamento nesta vertente serão abordados de forma mais sistematizada em sub-capítulos posteriores. Concretamente neste, analisamos como as características dos métodos contracetivos podem determinar a sua escolha, como alguns modelos de comportamentos em saúde podem ser preditores do comportamento contracetivo e, ainda, como o suporte social e a atitude são relevantes em todo este processo.

6.1. Atributos dos métodos contracetivos como determinantes da adesão

Segundo Guillebaud (2007 apud Neves 2013: 13) “o método perfeito de contraceção deve corresponder às seguintes características: eficácia de 100%, conveniente, seguro e bem tolerado, reversível, que previne as infeções sexualmente transmissíveis, não oneroso, fácil

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utilização e aplicabilidade, maior difusão possível nas diferentes regiões do globo, adaptável às diferenças socioculturais e de acordo com as convicções da utente/casal”.

No entanto, reconhece-se a dificuldade em concertar de forma efetiva os vários atributos dos anticoncecionais acima descritos, tanto mais que as características consideradas mais importantes diferem com base no contexto individual de cada mulher/casal e podem mudar ao longo das diferentes fases reprodutoras (Neves, 2013; Wyatt et al., 2014).

Assim, numa primeira análise, o aconselhamento e a prescrição de um método contracetivo deve basear-se nas orientações da Organização Mundial de Saúde, tendo em conta as seguintes características:

 Mecanismo de ação: como funcionam os métodos anticoncecionais;

 Modo de uso: forma de usar, incluindo a ação em situações de intercorrências (e.g. esquecimento da toma da pílula, presença de efeitos colaterais);

 Eficácia: as taxas de gravidez para um determinado método quando em uso típico (usado consistente e corretamente) dão uma ideia geral da eficácia na experiência individual de cada mulher/casal;

 Efeitos colaterais: incómodos, bem como sinais e sintomas de alguma complicação;  Efeitos não-contracetivos: efeitos a nível da saúde não relacionados com o efeito

anticoncecional de cada método (e.g. a pílula sobre a acne; o SIU na dismenorreia).  Critérios de elegibilidade médica: condições clínicas que podem significar limitações

para o uso dos diferentes métodos, podendo variar entre o uso sem restrições até ao método de última escolha ou ao uso interdito (WHO, 2015).

Junto da população feminina, Wyatt et al. (2014) concluíram, a partir da revisão sistemática que realizaram, que os principais atributos de métodos anticoncecionais importantes para as mulheres no processo de tomada de decisão, dividem-se em quatro principais categorias - aspetos mecânicos e práticos do uso, efeitos do método e normas sociais (Quadro 8).

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