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3 O POLO DE CONFECÇÕES DO AGRESTE

3.3 TORITAMA

Toritama, por sua vez, é o menor município em extensão territorial de Pernambuco – 25,704 km² - e se situa entre Caruaru e Santa Cruz do Capibaribe, distando da primeira 35km e da segunda, 20km. Em 2010, o município tinha uma população de 35.554 habitantes, dos quais 95% residiam na área urbana da cidade. Apesar de possuir pouca área territorial, o município é dos com maiores taxas de crescimento, chegando a 5,01% entre 2000-2010. Além disso, passou de 0,29% em 2010 de participação no PIB estadual para 0,36% em 2015 (CONDEPE/FIDEM, 2017).

Toritama também se originou a partir de uma fazenda, quando parte de uma fazenda de gado foi doada para construção de uma capela que, por sua vez, desencadeou a ocupação da área. Por volta de 1868, com cerca de 20 unidades habitacionais, o centro da ocupação já dispunha de estrutura física voltada ao comércio, as barracas de feira, onde se comercializava produtos alimentícios básicos. Aproximadamente meio século depois, foi construído uma ponte de cimento para a travessia do Rio Capibaribe e conexão da cidade de Toritama com Caruaru, fortalecendo o comércio local que então passou a receber feirantes dessa cidade onde o comércio já era consolidado (CONDEPE/FIDEM, 2006).

De acordo com Braga (2014), o desenvolvimento de Toritama teve três fases:

i. 1940: quando a cidade ainda era distrito e registrava uma produção de calçados populares de couro e de borracha. Essa fase perduraria até as quatro décadas seguintes, mas por volta de 1970 começara a substituição dos calçados de couro por material sintético, nacionais ou importados. A atividade de confecção de Sulanca já emergia em Santa Cruz do Capibaribe e para se adequar as novas demandas comerciais, Toritama passou a adaptar as máquinas e equipamentos utilizados na produção dos calçados de couro para produzir jeans, material de manuseio semelhante ao couro;

ii. 1980 – 2000: a segunda fase é marcada pela consolidação da produção de jeans e inserção de Toritama na rota das Feiras da Sulanca, que passara a ter, semanalmente, suas ruas centrais ocupadas por barracas de feira, compradores, veículos individuais e

coletivos. O caos instalado na cidade juntamente com a Feira da Sulanca, tornou necessária a realocação da feira da Rua Antônio Soares para a Rua do Campo do Ypiranga, na tentativa de ordenar o espaço comercial. Nessa ocasião, houve um acordo entre os três municípios - Toritama, Caruaru e Santa Cruz do Capibaribe - para que cada uma das feiras fosse realizada em um dia específico, constituindo o primeiro arranjo comercial. (BRAGA, 2014);

iii. 2000: A terceira fase se inicia já com o comércio de jeans consolidado e com a mudança do nome do arranjo comercial estruturado anteriormente para Polo de Confecções do Agreste de Pernambuco. A nova nomenclatura foi designada após o Projeto de Desenvolvimento do Polo de Confecções do Agreste que objetivava a modernização da produção através da inserção de profissionais especializados e a dissociação da expressão “sulanca”, por fazer referência a produtos de baixa qualidade. O processo de modernização contou também com a construção do primeiro edifício comercial especializado em confecção do Polo de Confecção (BRAGA, 2014).

O desenvolvimento urbano das cidades de Caruaru, Santa Cruz do Capibaribe e Toritama explanados acima, traz o que Vargas (2001) chama de relação umbilical entre comércio e cidade, pois embora sofrido diversos processos urbanos e mudanças que envolviam diretamente a atividade comercial, as feiras-livres de confecção, essa ainda permaneceu como principal atividade econômica, se fortificando com o passar do tempo e à medida em que recebia outros incentivos, ratificam essa relação. O planejamento urbano comercial de cada cidade foi elaborado por suas respectivas gestões municipais através dos planos diretores e demonstram como essas cidades lidaram com a pujança da atividade e sua interferência no desenvolvimento urbano.

Caruaru, a maior e mais velha das três cidades, foi a primeira a elaborar o Plano Diretor feito em 2004. Embora essa cidade tenha se desenvolvido vinculada à feira, o Plano Diretor de 2004 não traz diretrizes ou estratégias de gestão voltada para os espaços comerciais. A Feira Livre que é uma das grandes âncoras para a economia da cidade é tratada pelo seu potencial cultural, pois sobretudo é um Patrimônio Cultural Imaterial reconhecido pelo IPHAN. Outros equipamentos importantes para a atividade comercial na cidade, como o Polo de Caruaru que antecede a elaboração do Plano Diretor, não é mencionado no documento. O edifício se insere na área expansão ao norte da cidade, na área lindeira a um dos Eixos de Atividades Múltiplas – EAM, caracterizada pela tendência a mudança de uso habitacional para o uso comercial, na qual

o único parâmetro urbanístico que favorece a instalação de outros equipamentos comerciais do tipo é incentivar a mudança de uso citada. Apesar de havido a inserção de outros equipamentos de venda atacadista, condomínios fechados, loteamentos residenciais e, também, de um campus universitário (CAA-UFPE), nas áreas próximas ao edifício, a expansão urbana foi pífia e insuficiente para gerar uma nova dinâmica na área.

Em Santa Cruz do Capibaribe o Plano Diretor foi elaborado anos mais tarde, em 2006, quando o principal eixo comercial de Santa Cruz do Capibaribe encontrava-se na área do centro antigo e se expandia até a rodovia PE 160, onde já era notável a tendência à expansão no sentido norte e oeste, principalmente, pela instalação do equipamento que abrigaria a Feira da Sulanca, o Moda Center Santa Cruz, que ocorreu nos meses seguintes. O Plano Diretor de 2006 estabelece como diretriz principal da área urbana, o Desenvolvimento Urbano, Industrial e Comercial com ênfase na consolidação da cidade como centro de serviços urbanos de relevância regional e propõe ações que visem à ampliação, melhoria da qualidade da produção industrial, diversificação produtiva e inserção no mercado nacional, dentre as quais, sugere a articulação entre o centro antigo da cidade com o Moda Center Santa Cruz, o qual eles tratam como uma nova centralidade (SANTA CRUZ DO CAPIBARIBE, 2006).

No Plano Diretor de 2006, nota-se a prescrição da descentralização da atividade comercial para as margens ao norte da PE-160, área que o Moda Center Santa Cruz se situa, através dos termos “nova centralidade” ou “novo centro urbano” que o fazem referência. Destaca-se também nesse Plano os projetos estruturadores que enfatizam a importância da área para a cidade, dentre os quais a consolidação da PE-160 como um Eixo Estruturante que permitiria acesso fácil a toda a cidade, inclusive articularia o centro antigo e o Moda Center Santa Cruz com vistas a favorecer a convivência mútua das duas centralidades.

Naquele ano, o Plano Diretor da cidade de Toritama também foi elaborado. O Plano demonstra uma preocupação maior com o planejamento urbano comercial através da proposição de diretrizes com a melhoria da feira livre e dos equipamentos comerciais existentes, fosse através de discussão pública com a população e/ou com órgãos federais e estaduais ou através de intervenção direta na área comercial, inclusive, buscando promover novos centros de bairro. O Parque das Feiras, implantado em 2001, situa-se numa zona destinada para ocupação por grandes equipamentos, inclusive, as feiras livres e os empreendimentos atacadistas e varejistas, e que serão sujeitadas à gestão especial, dessa forma, foi prevista para a área uma Operação Urbana Consorciada (OUC), que envolveria o Parque das Feiras, o

Agamenon Moda Center e entorno, para onde seria transferida a Feira Pública, com objetivo de reorganizar o local da feira de confecções e conectá-la aos demais espaços comerciais existentes.

Embora essas cidades agrestinas sejam fortemente vinculadas ao comércio, os planos diretores, enquanto instrumento de ordenação territorial, parecem não aprofundar a gestão dos espaços que abrigam ou que viriam abrigar a atividade comercial de forma adequada. Em Caruaru, o Plano Diretor não apresenta diretrizes significantes com vista a ordenar, gerir ou planejar os espaços comerciais já consolidados – Feira Livre –, bem como os novos modelos desses espaços, como o Polo de Caruaru. Nas cidades de Santa Cruz do Capibaribe e de Toritama, os planos foram elaborados contemporâneos aos processos de realocação das Feiras da Sulanca para os novos espaços comerciais, o Parque das Feiras e o Moda Center Santa Cruz, com a expectativas de serem elementos descentralizadores e guiarem a expansão urbana para a área no qual estão implantados.

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