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A Tríade Mãe-Mulher-Professora

E a História humana não se desenrola apenas nos campos de batalha e nos gabinetes presidenciais. Ela se desenrola também nos quintais, entre plantas e galinhas, nas ruas do subúrbio, nas casas de jogos, nos colégios, nas usinas, nos namoros de esquina.

LUCIEN FEBVRÈ

De acordo com Auad (2004), ao considerar a categoria gênero é possível colocar em causa as tradicionais assertivas sobre o que é “natural”, no sentido do que é inato e instintivo para cada um dos sexos.

Rousseau, no século XVIII, em seu Emilio ou da Educação aponta importantes aspectos que deveriam ser considerados na formação das professoras, levando em consideração o estatuto que a debilidade feminina condicionava à mulher, àquele de mãe e educadora:

A educação primeira é a que mais importa, e essa primeira educação cabe incontestavelmente às mulheres: Se o Autor da Natureza tivesse querido que pertencesse aos homens, ter-lhes-ia dado leite para alimentarem as crianças. Falai, portanto às mulheres, de preferência, em vossos tratados de educação, pois além de terem a possibilidade de para isto atentar mais de perto que os homens, e de nisso influir cada vez mais, o êxito as interessa também muito mais. (ROUSSEAU, 1992 p. 439)

Froebel, no século XIX, ao propor um ambiente escolar fora do lar, o Jardim

da Infância, cria a figura da Jardineira, entendida como uma substituta da mãe,

exercendo as atividades atribuídas à mãe em sua ausência, acrescentando que a criança deve ser cultivada pelas jardineiras, com todo amor e carinho sem interferir em seu desenvolvimento natural, indicando que:

Pois no cultivo da primeira infância efetivado pelo coração feminino está o ‘fundamento e a direção de toda a vida futura do ser humano’, uma vez que assim estabeleceu o Criador através da Natureza e do homem. Por isso, as Jardineiras devem ser preparadas como medianeiras entre as naturais qualidades educativas da mãe e os naturais reclamos da infância. Desse modo as jardineiras prestam um auxílio às mães, que se acham impedidas na sua função maternal, porque presas aos afazeres da vida moderna. (FROEBEL apud KOCH, 1985, p.62)

Arce (2001) observa como exemplo da naturalização dos papéis de mãe e educadora, o manual de Froebel de 1848, intitulado: Cantos e conversas de mãe, onde o autor pretendia levar as mães a perceberem seu dever maternal, e interessantemente coloca que:

(...) ao destinar este manual, indistintamente para mães e jardineiras, Froebel começa definir esta mulher não como uma profissional, mas como uma ‘meia mãe’, que entende dos interesses e necessidades da criança, mas possui essencialmente um ‘coração de mãe’ a nortear sua conduta.(ARCE, 2001, p.172).

Também no documento oficial do Ministério da Educação, datado já de

197747, aponta-se alguns conselhos para a contratação profissional de professoras

pré-escolares, o que nos dá pistas da imagem que se cristalizou acerca destas profissionais:

47 Torna-se necessário observar o momento histórico brasileiro quando da escrita do documento

No recrutamento é aconselhável que se aceitem elementos do sexo masculino para alguns cargos (administrativo, serviços gerais e outros), pois considera-se indispensável a presença de homens em programas pré-escolares. Para as atividades que implicam cuidados diretos e ininterruptos com as crianças é preferível que se recrutem mulheres, visando facilitar a formação dos laços afetivos que permitam a melhor adaptação da criança à unidade pré-escolar, e o seu conseqüente afastamento da mãe. (BRASIL, 1977, p.186) 48

O fato é que incontestavelmente a constituição histórica da imagem das professoras de creche tem estado fortemente impregnada da naturalização de suas atividades tidas como maternais assemelhadas aos papéis de esposa e santa

mãezinha49, cujo papel educativo e exercício profissional assemelham-se ao

ambiente doméstico.

Kuhlmann (1998) ao analisar a expansão da educação infantil no Brasil cita Moutinho, que em seus escritos indicava o quão era importante a figura maternal nas educadoras de crianças principalmente na creche:

(...) da escolha das educadoras de creche depende essencialmente o futuro da sociedade. A educadora das creches representa o papel da mãe de milhares de crianças, tem como a mãe, de formar milhões de corações.

(MOUTINHO apud KUHLMANN, 1998, p.91)

48 BRASIL, Ministério da Educação e do Desporto. Atendimento ao pré-escolar. Brasília: SEF, 1977.

V. I e II. O documento ainda aponta algumas características necessárias à professora de crianças pequenas, como ter uma voz agradável, saber rir, ser sincera, ser jovem, ter senso de humor e ainda ser bonita!

49 O trabalho intitulado: Ao sul do corpo: condição feminina, maternidade e mentalidades no Brasil Colônia, 2009, de Mary Del Priore, traz interessante análise sobre a construção colonial do

estereótipo da santa mãezinha, através da domesticação dos corpos femininos e da responsabilização da mulher pela edificação da família como forma de atender aos interesses coloniais e da Igreja.

Bruschini e Amado (1988), em seus Estudos sobre Mulheres e Educação:

Algumas questões sobre o Magistério indicam que o conceito de vocação foi

historicamente aceito e expresso por educadores e educadoras, os quais argumentavam ser a escolha da carreira adequada à natureza feminina, onde características e atributos como sentimento, minúcia, dedicação, paciência e amor deveriam ser levados em consideração no momento da escolha profissional. A idéia de que tendências e aptidões inatas são condicionantes para certas profissões induziu um número infinito de mulheres às profissões menos valorizadas socialmente, como única alternativa.

A discriminação histórica sofrida pelo segmento da educação infantil denominado creche se revestiu durante muitos anos das políticas públicas voltadas aos cuidados de crianças pobres, encharcados de conhecimentos da área da saúde e da desprofissionalização das educadoras destas instituições.

Tornou-se necessário buscar no tempo passado onde e como nasceram as configurações atuais acerca da infância, da mulher e do trabalho na sociedade ocidental, de maneira a entender como e por que se naturalizaram e cristalizaram-se os conceitos e concepções que formam a emaranhada teia que enreda mulheres e crianças, na tríade mulher-mãe-professora, legando os atributos relacionados ao cuidado/educação de crianças pequenas exclusivamente ao universo feminino, de forma tão aparentemente natural, que ressoa uníssono no senso comum, de tal maneira que é não é possível desfazê-lo sem um grande esforço reflexivo, acadêmico e militante.

Para tanto, utilizei-me de referenciais teóricos clássicos como Ariès (1992), Perrot (1992, 1991) e Del Priore (1998).

Nesse sentido, reforço como indica Paraíso (1997), de que é necessário contar a história das mulheres, e neste estudo a história das educadoras de creche no município de Guarulhos, do ponto de vista das questões sobre as mulheres ou sobre as relações que se estabelecem de maneira hierarquizante entre o masculino e o feminino, com vistas a abalar “velhas crenças machistas de base patriarcal”.

Assim, entendendo o gênero como construção histórica e social de homens e mulheres e ainda, que os efeitos das relações de gênero estão presentes nas diversas relações sociais e institucionais e entre elas a escola, torna-se necessário analisar estes efeitos no interior das práticas correspondentes, como é o caso das

relações estabelecidas entre as professoras de creche e as mães das crianças, no que se refere ao cuidado/educação de crianças pequenas.

Torna-se necessário deixar evidente que a tensão aqui considerada, tem como propósito evidenciar a natureza conflituosa da incumbência simultânea das responsabilidades familiares (ligadas à esfera privada de atribuições que compõem o trabalho doméstico) e as responsabilidades profissionais exclusivamente às mulheres. De acordo com o que Del Priore (2009) observou existir já na constituição colonial do Brasil:

(...) Esta divisão de encargos no seio da vida doméstica e privada delimitava também os papéis sociais de gênero, e os moralistas do período [ colonial ] são os primeiros a pleitear uma função para a mulher no interior da vida privada. Ela deveria fazer o trabalho de base de todo o edifício familiar: caber-lhe-ia educar cristãmente a prole, ensinar-lhes as primeiras letras e as primeiras atividades, cuidar de seu sustento e saúde física e espiritual, obedecer e ajudar o marido. (DEL PRIORE,2009p. 35)

Hirata e Kergoat (2007) apontam que:

As razões dessa permanência da atribuição do trabalho doméstico às mulheres, mesmo no contexto da reconfiguração das relações sociais de sexo a que se assiste hoje, continua sendo um dos problemas mais importantes na análise das relações sociais de sexo/gênero.

(HIRATA E KERGOAT, 2007, p.607).

Em parte essa tensão existente entre as mães e as educadoras de creche

pode ser explicada pela questão da matrifocalidade50, que representa ainda um

paradoxo de empoderamento e vulnerabilidade para as mulheres.

50 Del Priore (2009) explica a questão da matrifocalidade observando que “os filhos validavam o

papel social da mulher enquanto mãe, reforçando-lhe o poder no interior deste espaço que era exclusivamente seu: o fogo domestico” (op.cit. p.49)

Del Priore (2009) conclui que:

(...) Para cumprir esta tarefa [a do cuidado com os filhos e filhas, a mulher] contava com a solidariedade de outras mulheres que viviam

como ela mimetizando a maternidade num fio que costurava existências femininas variadas e reforçava a solidariedade de gênero.

(DEL PRIORE,2009p.49)

Essas mulheres-educadoras, assim como mulheres-mães, que

cotidianamente estão presentes nas creches carregam consigo várias identidades. É então, a partir destas identidades, as que elas já dispõem, em um paradoxo formativo e constitutivo, é que torna-se possível a reconstrução de outras no ambiente da creche: a construção, desconstrução e reconstrução de suas identidades.

O tema que busco desenvolver surgiu, inicialmente, das necessidades que pude observar como gestora em nossas instituições de educação infantil para crianças de zero a três anos de idade : a creche. Necessidade esta de repensar a função da educação infantil, o papel da creche no desenvolvimento da criança pequena, as relações de gênero que permeiam este espaço e a construção da identidade da educadora de creche que atua especificamente com crianças na faixa de zero a três anos em Guarulhos/SP.

Acredito que estes aspectos não estejam desgrudados, visto que tecem a

emaranhada rede que naturaliza51, quase de forma cristalizada, o cuidado/educação

como inerentes exclusivamente ao universo feminino, conforme apontado anteriormente.

Nesse sentido foram considerados para este estudo, os aspectos relativos à construção da profissão docente em seus processos históricos e formativos; o binômio cuidado/educação, bem como a clássica tríade mulher-mãe-professora.

51 A ideologia naturalista rebaixa o gênero ao sexo biológico, reduz as práticas sociais a “papéis

Está claro nos dias de hoje, que educação/cuidado são complementares no que se refere a crianças pequenas, mas o que se torna obscuro ainda, em algumas instituições é que tipo de cuidado e que tipo de educação se propõem a desenvolver, se é que podemos de alguma forma separar de modo definitivo estas duas práticas.

Tratando-se de uma nova prática pedagógica e de uma nova relação entre a educação/cuidado, o deslocamento do olhar para compreender e explicitar este binômio como foco de investigação pode contribuir, de maneira propositiva, para a ampliação e fundamentação de práticas mais consistentes, incluindo o gênero como categoria analítica destas práticas.

Muitas autoras que têm como foco a educação escolar, afirmam ser a escola um espaço pautado pelas relações de gênero, portanto pelas desigualdades hierarquizadas entre o masculino e o feminino, entre elas estão Rosemberg (1994), Carvalho (1995), Louro (1998) e Auad (1998 e 2004).

Algumas autoras como Campos (1994) e Cruz (1996) apresentaram análises dos discursos acadêmicos, evidenciando que a idade da criança e o cuidado com seu corpo se apresentam como fatores determinantes do desprestígio das profissionais de educação infantil, especialmente as da creche.

Essas diferenças reconhecidas e hierarquizadas transformam-se em desigualdades e descortinam-se nas práticas escolares, apresentando-se de forma polarizada e assimétrica nas relações toleradas, encorajadas e induzidas nos diferentes espaços e atividades escolares (AUAD, 2004). Inclusive na relação entre os pares docentes nas relações institucionais, na sua formação e constituição profissional e na conseqüente valorização ou desvalorização de sua atuação profissional, conforme a modalidade educacional em que atua.

Batista e Codo apud Rosemberg (1984), apontam que “sejam professoras,

funcionárias ou especialistas, as mulheres representam mais de 80% da força de trabalho em educação”52.

52 De acordo com a RAIS 98, o Ensino Pré-escolar no Brasil é a ocupação mais feminina com 94,8%

O fato é que não podemos esquecer que temos uma escola maciçamente

ocupada por mulheres, e que a estreita relação entre a educação e o universo feminino constituídas mutuamente em suas representações de certa maneira constituem essa díade. Mulheres deixam suas casas para trabalharem como operárias e como tal, deixam seus filhos aos cuidados de outras mulheres, que por sua vez também deixaram seus filhos e casas por um trabalho assalariado. Esta é uma observação necessária para entender as relações estabelecidas entre mães e educadoras, considerando gênero e classe como categorias analíticas.

Interessante torna-se lembrar que a docência e o magistério das séries iniciais são ainda atividades predominante femininas. No caso das professoras de creche em Guarulhos a tabela abaixo demonstra melhor essa questão:

Tabela 3- Número de profissionais de creche considerando o gênero:

Homens 37

Mulheres 1.159

Total 1.196

Fonte: Tabela construída para este estudo por meio de dados publicados no Diário Oficial do Município de Guarulhos – 19 de novembro de 2010. Página 27-32

Um dos conceitos importantes para o objeto de pesquisa, desenvolvido durante as observações para a escrita desta dissertação, foi o de entender que a dificuldade que temos para entender e conhecer consiste em romper as amarras do reconhecer e de que é preciso identificar num território novo aquilo que faz algum sentido, neste caso considerar o gênero das professoras de creche como elemento fundamental na trajetória profissional destas mulheres e em suas formações à luz dos referenciais teóricos.

As questões de gênero não só estão presentes de forma implícita, tácita e oculta nas relações escolares, como ocupam um importante lugar nas relações construídas entre as professoras, as mães de alunos e a gestão escolar, demonstrando que a categoria gênero, associada a outras categorias de análise

deixam à mostra de maneira mais límpida as instituições e os sujeitos constituintes e constituídos por elas.

Torna-se muito mais interessante para a análise de tais relações escolares se levarmos em conta, como de forma instigante sugere Auad (1998), a percepção de que a realidade escolar é constituída por sujeitos determinados por um sexo, pertencentes ao gênero feminino ou masculino, de diferentes raças e gerações. As origens da creche, na sociedade ocidental, está baseada no trinômio complexo e delicado mulher-criança-trabalho. O que coloca importantes questionamentos a cerca da constituição da instituição creche, baseada na assimétrica relação entre os modelos masculinos e femininos, questionamentos que se apresentaram com urgência para este estudo.

Carvalho (1995), em analise sobre a questão identitária das professoras

primárias53, quase sempre é desconhecido o fato de que ao tratar-se “de uma

maioria feminina de docentes tem conseqüências sobre essa identidade e sobre as formas como as professoras organizam seu trabalho”. Lembra-nos, que longe de ser

tomada como qualidade negativa, a relação estabelecida entre trabalho doméstico e docência, este deve ser visto:

(...) como um modelo de trabalho docente arduamente construído ao longo da história do Magistério e da história do trabalho remunerado das mulheres: uma forma marcadamente feminina de organizar as tarefas e relacionar-se com os alunos; uma prática estabelecida a partir de anos de trabalho nas escolas, que pode conter formas de resistência ao controle externo e às restrições sobre a autonomia da professora.(CARVALHO, 1995 p.421-422)

Além da abordagem de gênero para analisar a formação identitária das educadoras de creche, o estudo em questão coloca, de forma propositiva, a criança no centro da questão em relação à instituição creche. Com este intuito, poderemos

53 Procurei manter o termo utilizado pela autora, termo este utilizado em virtude da legislação

educacional vigente, professoras primárias, entendendo que a adequação para nossos dias e na legislação educacional atual, deveria conter a expressão Educação Básica

cumprir uma dupla função: a de flexibilizar as relações geracionais, entendendo a criança como ser produtor e transformador da cultura e ao mesmo tempo, deslocar o foco que centra unicamente, e de forma naturalizadora, na mulher, as “obrigações” em relação ao cuidado/educação de crianças pequenas, que apresentam-se numa forma social de culpabilização da mãe que não realiza tais atividades.

Tratar o assunto, o de mulher, o de mãe e o de trabalhadora, como uma tensão insolúvel é a meu ver, entender que a questão entre identidade de grupo e identidade individual como aponta Scott, não pode ser resolvido, precisa ser tratado enquanto paradoxo formativo do indivíduo e da identidade, de forma a compreender que a diferença é a organizadora da vida social.

Há a necessidade de se considerar a tensão existente. Enfrentar o desafio de viver com o paradoxo todos os dias e aceitar que se acumulam em cada um de nós todas as identidades que nos pertencem.

A divisão social do trabalho carrega consigo dois princípios organizadores distintos, apontados por Hirata e Kergoat (2007): o princípio da separação e o

principio hierárquico. O principio da separação carrega consigo a idéia de que

existem trabalhos de homens e existem trabalhos de mulheres e o principio hierárquico determina que o trabalho de um homem seja mais valorizado do que o trabalho de uma mulher

Nas sociedades modernas, salariais, a produção não é organizada de acordo com as necessidades da população, a reprodução se subordina à produção. Com a entrada da mulher no mercado de trabalho, a fecundidade e o significado social do filho são transformados. (GIFFIN, 1999).

A inexistência de condições adequadas à formação nos leva a busca de alternativas que possibilitem o processo de construção de identidade e profissionalização que respeite a educadora de creche como profissional do cuidado e também da educação.

Existem muitos desafios a serem enfrentados na construção da identidade das educadoras de educação infantil, em especial na faixa de atendimento da creche, nesta etapa de construção é necessário a valorização do trabalho destas profissionais e o reconhecimento da sua especificidade, do seu conhecimento e o

fortalecimento do Projeto-Político-Pedagógico das creches, construídos de forma coletiva. De acordo com Fusari (1990):

Discutir a formação dos profissionais da educação escolar, no cotidiano da Escola fundamental, significa, portanto, colocar realidade no contexto mais amplo da democratização do ensino e da própria sociedade brasileira. Isto significa assumir a formação do educador em serviço, como um meio e não como um fim em si. (FUSARI, 1990,

p.26)

É de grande importância possibilitar ao corpo docente a capacidade de agir, pensar, sentir e tornar a agir, num processo contínuo de reflexão sobre sua própria prática docente, como determinante de uma ação pedagógica transformadora. Desta forma esse resgate da competência docente (técnica), através da formação dentro do próprio ambiente de trabalho, onde a educadora é o sujeito de sua própria constituição, caracteriza-se como um dos focos para o presente estudo.

A superação do modelo de creche baseado nas assimétricas relações entre o masculino e o feminino que centram unicamente na mulher os cuidados relativos às crianças pequenas pode dar-se a partir da construção de uma identidade, de um reconhecimento da importância e da especificidade de um determinado trabalho próprio e específico daquele grupo de educadoras, as antes Agentes de Desenvolvimento Infantil, agora Professoras de Educação Infantil (PEI).

Muitos trabalhos têm sido produzidos no meio acadêmico a respeito da formação de professores, mas pouquíssimo se tem abordado a relação do trabalho das profissionais de educação infantil que trabalham com crianças pequenas, as educadoras de creche, e a naturalização dos papéis femininos a partir da categoria gênero.

Scott (1990) propõe uma leitura da história em que a categoria gênero tenha realce e onde se busque a articulação entre outras categorias de analise, como a raça e a classe. A proposta de Scott chama a atenção para a necessidade de constituir-se uma teoria com potencial analítico para o campo do gênero, assim como se fez com a categoria “classe” a partir da obra de Karl Marx.

Silva (2006) traz em sua pesquisa, a constatação de que os aspectos conflitivos da relação creche ⁄ família se revelam na representação social que as educadoras de creche fazem das famílias atendidas, como pobres e despreparadas para educar e cuidar de seus filhos, concordando com Monção (1999): “as

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