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Trabalho e família: desafios atuais da mulher

Da mesma maneira que o trabalho é constituído pela identidade da pessoa, e de seu subjetivo, a família também ocupa um lugar relevante nessa questão da subjetividade de constituição da identidade do sujeito, então a família e o trabalho ocupam lugar relevante na vida das pessoas, auxiliando na construção de sua personalidade.

Ambas são esferas aparentemente regidas por lógicas diferentes, uma pública e uma privada, no entanto, elas se afetam mutuamente e encontram-se o tempo todo afetadas mutuamente. As pessoas precisam trabalhar e gerar renda para satisfazer suas necessidades

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Matéria divulgada pelo site IBGE. Disponível em: <https://agenciadenoticias.ibge.gov.br/agencia- noticias/2012-agencia-de-noticias/noticias/24267-mulheres-dedicam-quase-o-dobro-do-tempo-dos-homens-em- tarefas-domesticas> Acesso em 17 mai. 2019.

domésticas que não são remuneradas em seus lares, muito mais exercidas por elas.

Nesse contexto destaca Elizabeth Joan Barham, Ana Carolina Gravena Vanalli (2012, p. 52):

É impossível participar das duas esferas de forma satisfatória, uma vez que as normas de conduta de uma esfera atrapalham o desempenho na outra e os horários nunca se encaixam. Sob esse ponto de vista, o gerente ou supervisor percebe as tarefas familiares como interferindo no trabalho, impedindo uma maior dedicação, prejudicando o desempenho profissional dos empregados. Então, o gerente passa a vigiá-los, para que não gastem tempo ligando para casa, conversando com os colegas de trabalho sobre assuntos familiares ou realizando pequenas atividades domésticas no horário de trabalho.

A maioria dos conflitos em relação ao trabalho e vida familiar tem origem justamente na incompatibilidade de horários e espaços, muitas vezes não se consegue separar a vida pessoal com a vida profissional, onde as mulheres trabalham excessivamente na esfera profissional, e ainda assim acaba levando esse trabalho para casa.

Nesse viés observa-se então, que é necessária uma conciliação entre trabalho e família para que haja um bom funcionamento psíquico de quem trabalha, é muito importante que se consiga fazer essa conciliação entre trabalho e família, para não resultar em danos como estresse, depressão, emocional elevado, insônia, coisas que afetam o dia-a-dia da pessoa que passa por esse problema diariamente, afetando mais as mulheres que os homens.

Barham e Vanalli (2012, p. 51), Apontam que:

Entre os empregados que têm responsabilidades profissionais e familiares, os conflitos entre trabalho e família são praticamente universais, com a maioria dos trabalhadores nessa condição sofrendo níveis de estresse que variam de moderado a alto (Cia & Barham, 2008; Gravena, 2006; Vanalli, 2012). Muitas das pesquisas realizadas sobre o equilíbrio dessas responsabilidades objetivam identificar as circunstâncias familiares que estão associadas com os níveis mais elevados de problemas de desempenho no trabalho – por exemplo, a existência de grandes discrepâncias nas responsabilidades familiares do casal [...].

Percebe-se que as pressões sofridas no trabalho conduzem a elaboração de estratégias defensivas, vive-se em um contexto de trabalho onde há muita pressão, entra-se então em um estado que não faz bem a saúde mental, ou seja, um ambiente de trabalho onde o individuo sofre uma pressão muito forte e o clima nesse ambiente se torna negativo, pesado, havendo que se ter responsabilidade por parte do empregador, é necessário que ele encontre estratégias defensivas para conseguir dar conta dessas situações estressoras que se vivencia no local de trabalho na maioria das vezes percebida em mulheres.

E a família se apresenta como um papel extremamente importante nesse processo de estratégias de limpeza e defensivas da mulher, pois, é nesse momento em que ela precisa de ajuda para manter a calma e criar momentos de descontração para que não pense somente em trabalho e tarefas tanto domésticas quanto empresariais, esse processo é o correto, mas precisa-se ter a mudança em relação à distribuição de tarefas no ambiente doméstico, para que isso não venha a somar no estresse vivido diariamente.

O equilíbrio do trabalho, as responsabilidades sociais e as responsabilidades familiares constitui um grande desafio hoje, o desafio de conciliar todos os casos, sendo que o principal é o bom uso do tempo, que é escasso, e deve ser bem planejado, para que não fique tensa a relação entre essas esferas de trabalho e família, e essa tensão afeta particularmente as mulheres, onde acumulam a responsabilidade da vida profissional com responsabilidade da vida doméstica, como visto a responsabilidade de cuidar da família recai sobre elas, na maioria das vezes não possui apoio de seus companheiros e essas responsabilidades familiares são muito visíveis. Priscila Cunha Lima de Menezes (2013, p. 131) aborda essa questão com mais profundidade:

O alcance do equilíbrio entre o trabalho e a família deve passar por uma reanálise do papel feminino e masculino sobre tal questão e também sobre a participação do Estado, dos sindicatos e das empresas. A implementação de medidas de conciliação entre trabalho e família passa por uma reflexão acerca do papel masculino em relação aos encargos familiares. A igualdade entre os cônjuges dentro do ambiente familiar impondo uma redivisão das tarefas com distribuição dos encargos de forma mais igualitária permite o alcance de um patamar superior de igualdade material e faz diminuir as discriminações que acompanham o labor feminino.

A dificuldade de conciliar trabalho e família gera uma serie de tensões tanto no local de trabalho, como nos lares e na sociedade como um todo, podendo assim, diminuir a

qual foi designada, não conseguindo dar conta, é o que destaca Braham e Vanilli (2012, p. 51):

Esses conflitos estão associados a uma ampla variedade de custos profissionais e pessoais. O desempenho do trabalhador no dia-a-dia do seu emprego, a frequência ao trabalho, à disponibilidade para trabalhar mais horas ou participar de projetos especiais dentro da empresa [...]. Além disso, os impactos desses conflitos em nível pessoal, no ambiente familiar do empregado, têm sérias implicações a longo prazo para o seu bem-estar pessoal [...] os custos desses impactos são definidos pela forma como os funcionários e seus gerentes decidem abordar o problema, já que, devido ao perfil

demográfico da força de trabalho, seu surgimento é inevitável.

As empresas entendem que a dedicação da mulher trabalhadora à família atrapalha sua carreira, de fato não é uma percepção só delas, mas de toda a sociedade, então, podemos verificar que isso tem base num pré-conceito, numa percepção distorcida da realidade, concluem que as mulheres ao serem mães possivelmente irão se dedicar menos, no entanto, não é o que ocorre, pois, elas acabam por se dedicarem mais sempre buscando êxito em tudo o que lhe é determinado.

Importante destacar a convenção 156 da OIT6 que fala do compartilhamento das responsabilidades, porque a família não é só da mulher ela também é do homem, mas como tradicionalmente é a mulher quem faz todo o cuidado com a casa, tem-se uma construção que precisa ser mudada, a sociedade precisa aprender de vez que não cabe somente a mulher a responsabilidade de chefe doméstica.

A questão principal é que as mulheres dependem muito de uma mudança na mentalidade que por óbvio vem de toda a sociedade, todavia, os topos das companhias, o empresariado brasileiro, os diretores executivos, conselheiros de administração possuem um papel muito importante na mudança dessa mentalidade, dado que são eles que estabelecem as políticas das empresas.

Então, são eles que podem estabelecer um diagnóstico de todas as carreiras, tanto das mulheres como dos homens, por funções, gênero, raça, dentre outros, para ver se possui

6 Convenção 156 da OIT, data da entrada em vigor: 11 de agosto de 1983. Disponível em: <https://www.ilo.org/brasilia/convencoes/WCMS_242709/lang--pt/index.htm> Acesso em 20 maio. 2019.

alguma desigualdade que eles mesmos não têm consciência. A partir desse diagnóstico eles conseguirão estabelecer mudanças efetivas em suas empresas.

A maioria das empresas não traça de fato esse diagnóstico de lutar a favor de igualdade, pois muitas vezes esse assunto chega através de um movimento sindical, pelos próprios trabalhadores e trabalhadoras que vem lutando há muito tempo por essa igualdade, podemos analisar que a presença da mulher é enorme em relação à organização e planejamento, porém, essas empresas possuem um poder masculino que impede a efetivação desses movimentos.

Enquanto as empresas não mudarem sua forma de pensar, as mulheres vão seguir enfrentando obstáculos, mesmo mudando sua postura. Elas precisam realmente questionar se seus espaços são realmente inclusivos e meritocráticos, pois, a meritocracia não faz necessariamente todo mundo igual, mas entende as necessidades específicas para que as pessoas tenham as mesmas condições de trabalho, no momento em que prestarem atenção se existe igualdade salarial, se as decisões importantes de negócio estão sendo tomadas sem vieses e sem crenças.

A respeito do assunto Amaral (2012, p. 18) ressalta a importância de haver mudanças a cerca do explanado:

[...] As transformações nas relações de gênero, no sentido da conquista de vínculos mais igualitários na dimensão do poder e a quebra gradativa dos estereótipos de gênero que encerram homens e mulheres em roteiros sociais rígidos, são as mudanças necessárias para que as mulheres possam desenvolverem seus talentos profissionais e suas potencialidades.

Na esfera da sociedade e governo analisa-se o que pode ser feito para que isso seja modificado, criar políticas públicas que tornem mais fácil à vida da mulher profissional, como por exemplo, aumentar a licença paternidade, para que os homens desde cedo sejam instigados a terem um papel ativo na paternidade, garantir que toda a mulher consiga creches para seus filhos, apesar de existirem ainda não são uma realidade para todas as brasileiras. Em conformidade com Maria Cecília Coutinho de Arruda (1995, p. 8):

[...] um programa sério para a igualdade de direitos deverá levar estes pontos em consideração. [...] Nesse caso, em que a mulher passa a integrar a empresa para suas tarefas profissionais, cabe ao poder público adaptar às necessidades

Menezes (2013, p. 124) também traz a ideia a respeito do assunto:

A rede de creches, especialmente as gratuitas, todavia, não é suficiente no país, de modo que muitas mulheres não podem optar por tal instrumento de conciliação com os seus deveres familiares e laborais. O mesmo não ocorre entre as que possuem maior poder aquisitivo e podem dispor de tais serviços com mais facilidade e escolha.

Afinal, as mulheres precisam se perguntar e mudar sua postura em relação a sua carreira, e os homens também precisam ter um papel ativo nessa discussão, em razão de, atualmente a liderança majoritariamente ser masculina em todos os setores da economia, precisam perceber que devem valorizar o trabalho da mulher. Infelizmente no final de 2018, o Fórum Econômico Mundial 7 relatou que as mulheres irão levar mais de 200 anos para atingir a real igualdade de gênero no mundo, percebe-se lamentavelmente que nada é fácil quando se trata de mulher.

Em contrapartida, pode-se avançar um pouco e essa mudança se dará se os três atores, mulheres, empresas e sociedade assumirem um protagonismo nessa mudança, com certeza ira se encurtar algumas décadas e dariam mais realizações para as mulheres, ganhos para as empresas, economia e para as relações sociais. Segundo Arruda (1995) ―tanto na vida profissional quanto empresarial, social e política, a promoção da mulher precisa passar por um efetivo reconhecimento de igualdade de direitos com o homem‖. Nesse sentido a mulher precisa ser mais forte do que nunca.

No âmbito da responsabilidade do empregador deve-se criar politicas publicas de enfrentamento do preconceito de gênero no mercado de trabalho e com relação à responsabilidade da família, sabe-se o quanto existe um ideal de família para cada pessoa, mas o ideal seria aquela família que se respeita, se cuida, se ajuda, conversa, onde todos os membros possuem um interesse comum e mais importante que ama incondicionalmente, infelizmente para muitas pessoas essa não é a realidade, por fim, essas duas esferas trabalho e família devem sempre estar em harmonia.

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Matéria divulgada pelo site G1 em 18 de dezembro de 2018. Estudo publicado pelo WEF. Disponível em: <https://g1.globo.com/economia/noticia/2018/12/18/forum-economico-mundial-ve-2-seculos-para-fim-de- desigualdades-de-genero-no-mercado-de-trabalho.ghtml> Acesso em 15 mai. 2019.

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