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TRABALHO, EDUCAÇÃO, ESCOLA E AS POSSIBILIDADES DE FORMAÇÃO OMNILATERAL.

De acordo com a visão marxiana, corroboradas por Pistrak (2002), Manacorda (1991), Suchodolsk (1976), educação é mais do que ensino. É um processo de formação humana. E a escola é local de trabalho, de estudo e de atividades culturais e políticas. O desenvolvimento do ensino deve envolver formação intelectual e tecnológica e ser coerente com o método dialético de interpretação da realidade. Neste sentido, a base do trabalho escolar deve ser o estudo do trabalho humano e da participação de crianças e jovens nas diversas modalidades de trabalho, que se apresenta como elemento integrante da relação escola-realidade. O objetivo do ensino numa perspectiva socialista é transformar o conhecimento em concepções ativas, implicando no domínio das ciências, ou seja, do método científico, o que só pode ser atingido via trabalho (Pistrak 2002).

Nesse ponto cabe lembrar a diferença entre o trabalho humano e outras formas de trabalho ou o trabalho animal: apenas o primeiro é revestido de intencionalidade, mecanismo essencial ao processo de produção e reprodução da vida. O trabalho no sentido ontológico constitui-se em “protoforma” da vida humana (Lukács 1981), condição primeira de humanização do homem e de liberdade dada pela possibilidade de escolha de rumos, de métodos - o que eu quero e para que. É mecanismo fundante da praxis social, contendo uma subjetividade, e representando ao mesmo tempo, uma nova objetivação do ser social, o salto da animalidade para o ente social. O que equivale a dizer que a gênese do ser social baseia-se no trabalho, com a diversidade de relações e interações que comporta, seja do homem com a natureza, seja do homem com outros homens. Parece compreensível, pois, que o trabalho ocupe uma posição de centralidade na análise das práticas sociais, políticas e econômicas das sociedades modernas e contemporâneas. É pelo trabalho que o homem busca a produção e reprodução de sua vida societal, criando e renovando as condições de sua própria existência e reprodução (Antunes 1999).

De acordo com Marx (1983) o trabalho é um processo caracterizado pela relação do homem com a natureza, que com ela interage, modificando-se a si mesmo ao modificá-la. Esse processo metabólico é controlado, mediado pelo próprio homem por sua característica de idealizador e pela capacidade de tomar decisões, de orientar sua ação para um

determinado fim, o trabalho mesmo. É esse caráter de intencionalidade e de idealização que diferencia o trabalho humano do trabalho animal - que consta da realização de uma atividade meramente instintiva, repetitiva e voltada exclusivamente para as funções vitais. A busca da finalidade está ancorada em uma necessidade humana e social, levando à produção de valores de uso para satisfação dessa necessidade, sob diversos aspectos, dos especificamente vitais aos estéticos. Nessa condição, o trabalho é positividade, algo desejável e, porque não dizer, agradável, pois, parte da vontade livre e espontânea do sujeito, sem que ninguém o obrigue a executá-lo sob risco de ser penalizado, castigado.

“O processo de trabalho como o apresentamos em seus elementos simples e abstratos, é atividade orientada a um fim para produzir valores de uso, apropriação do natural para satisfazer as necessidades humanas, condição universal do metabolismo entre o homem e a natureza, condição natural eterna da vida humana...” (Marx 1983, p. 153).

Portanto, o trabalho em seu sentido ontológico, deve ser entendido como atividade livre e consciente (Manacorda, 1991). O trabalho é processo de criação de valores, de transformação e desenvolvimento da natureza, da sociedade, e de autodesenvolvimento e autotransformação do próprio homem. É “uma atividade cujo conteúdo constitui a objetivação da vida genérica do homem” (Sushodolski 1976, p.163), pois, através da produção material, do trabalho, a natureza pode ser convertida em realidade humana. Em outras palavras, ao produzir os meios de satisfação das necessidades humanas, o trabalho produz transformações objetivas na realidade e humaniza o próprio homem, que se objetiva no processo de apropriação, transformação da natureza, transformando-se subjetivamente. A atividade vital humana assegura as condições materiais de existência do gênero humano, e nela se forma a dinâmica própria de seu desenvolvimento, que é a relação entre objetivação e apropriação (Duarte 1993).

O processo de objetivação humana implica a transformação do homem pelo processo de transformação do objeto em instrumentos ou objetos humanizados, que são ao mesmo tempo por ele apropriados em sua vida cotidiana e social mais ampla, constituindo os elementos característicos ou formadores da história de uma geração, cuja continuidade depende de cada geração apropriar-se das objetivações produzidas por gerações passadas. Nesse processo, o indivíduo se apropria das características do gênero e não da espécie humana, que são transmitidas biologicamente (Duarte 1993).

“... a apropriação é um processo amplo, que engloba desde as atividades coletivas de apropriação das obras humanas que se apresentam sob a forma alienada da propriedade privada até a formação dos sentidos e sentimentos humanos...” (Duarte 1993, p. 150).

A característica básica do processo de trabalho é a autonomia do sujeito frente ao objeto a ser produzido. Autonomia de decisão quanto aos meios e fins da atividade laborativa, que subentende a liberdade de escolha, de alternativas, visto que o trabalho não é ação que se esgota em uma única atividade. É processo dinâmico que envolve ações presentes e um constante dever-ser, como forma de procurar atender aos padrões de sociabilidade e existência humana determinados pelos tempos e espaços históricos nos quais os homens se situam.

Contudo, sob a égide do capitalismo o trabalho assume a condição de atividade exterior, imposta, de coisificação e alienação do sujeito, de negatividade, porque dentro dessa ordem ocorre o ”amordaçamento e a esterilização das forças morais e espirituais” do homem (Sushodolski 1976). Nessa condição, o trabalhador não se sente realizado naquilo que faz por não desenvolver livremente suas potencialidades criativas, por isso sente-se deprimido e exausto. O trabalho é tido como uma obrigação, servindo apenas para satisfazer algumas necessidades de sobrevivência. Como diz Marx, no Primeiro Manuscrito (1975): “... O trabalho exteriorizado, trabalho em que o homem se aliena a si mesmo, é um trabalho de sacrifício próprio, de mortificação”. Há uma total inversão de valores, visto que o homem torna-se escravo do trabalho: ele não vive mais para trabalhar, mas trabalha para viver.

A alienação se caracteriza pelo fato de o homem não ter consciência de sua própria produção, e ser dominado pela força “alheia” e “natural” do mundo dos objetos, que penetra nele e o desumaniza (Sushodolski 1976). Numa atividade despida de sentido, alienada, aquilo que produz não serve para satisfazer suas necessidades, e não contribui para o seu autodesenvolvimento. Alienação se refere tanto ao resultado quanto ao processo do trabalho em si. No momento em que o trabalhador não pensa, nem determina objetivos e métodos da atividade do trabalho, e apenas o executa, fica configurada a separação entre trabalho manual e intelectual, aparecendo a ciência como um elemento independente (Marx 1975), do mesmo modo que a sua produção também aparece como algo totalmente alheio.

O caráter externo e de alienação do trabalho, se configura, ainda, pelo fato de o trabalho e o produto do trabalho não pertencerem ao trabalhador, e sim a outro homem, aquele que paga pela força de trabalho. O trabalho realizado é trabalho “incorporado em um objeto” e “convertido em coisa física”, é objetificado. Paradoxalmente, esse objeto aparece como algo alheio, que não lhe pertence, ele não consegue adquiri-lo, e o aumento da produção significa a decadência do trabalhador, pois quanto mais objetos ele produz, mais força de trabalho despende, menos produtos pode adquirir, e mais dominado fica pelo capital. Tais fatos expressam a desvalorização do “mundo humano” em detrimento do “mundo das coisas”. Nas palavras de Marx o trabalho assalariado “... não produz apenas bens; ele também produz a si mesmo e o trabalhador como uma mercadoria, e, deveras, na mesma proporção em que produz bens” (1975, p. 90). O próprio trabalhador torna-se mercadoria ao vender sua força de trabalho, que funciona como meio de garantir sua sobrevivência.

O fetiche da mercadoria reside no fato de reduzir as relações de trabalho e as relações entre os homens a relações entre objetos materiais, entre coisas, ocultando as características sociais do trabalho dos homens, que se apresentam como “características inerentes a mercadoria” (Marx 2001), e “igualando”, através do mecanismo da equivalência de troca, produtos qualitativamente diferentes, abstraindo suas qualidades concretas e as diferenças de trabalho neles contidas. A relação entre produtores assume uma relação entre produtos, de mercadoria com mercadoria, como algo estranho, fora dos sujeitos, tendo a troca como o momento supremo de caracterização dos trabalhos sociais, como relações “reificadas” entre as pessoas. O bem produzido, de valor de uso passa a valor de troca, corporificado na mercadoria, alienando dessa relação os sujeitos produtores, fazendo com que seus trabalhos particulares apareçam como totalmente independentes uns dos outros, embora possuam uma especificidade no tocante ao caráter social, e uma identidade como trabalho humano.

No trabalho alienado o homem aliena-se em relação aos outros homens, cujas relações se antagonizam entre os que trabalham e aqueles que fazem com que os outros trabalhem, entre proprietários e não proprietários. Ao alienar-se, o homem fica privado da “essência genérica humana”, isolando-se cada vez mais do gênero, como se a capacidade de produção fosse uma luta individual e não respeitante a outros homens. Portanto, a alienação

caracteriza-se pelo fato de os homens não perceberem a realidade como processo que constroem cotidianamente, mas sim como algo exterior a eles, que os domina, pois embora a produzam concretamente, não participam de sua organização de forma consciente.

O fetichismo da mercadoria e do dinheiro torna os homens dependentes de produtos objetivos que aparecem como externos e alheios ao trabalho humano; degenera o homem, gera especulação: criar novas necessidades nos outros para que sejam induzidos a comprar novos produtos, criando dependência, conduzindo a novos “prazeres” e à “ruína econômica”. No universo da troca e da comercialização tudo é passível de ser vendido ou comprado, e o consumismo é estimulado de modo a assegurar esse processo, extrapolando a real necessidade de bens e produtos ou a utilidade que venham a ter para as pessoas: o valor de uso é artificializado e subsumido pelo valor de troca. O que é compreensível dentro do sistema capitalista, pois o capital vive da circulação e venda de produtos, da qual provêm o dinheiro e o lucro que o sustenta, lucro que decorre do processo de trabalho como um todo, e não apenas do produto final.

“O dinheiro é um cristal gerado necessariamente pelo processo de troca, e que serve, de fato, para equiparar os diferentes produtos do trabalho e, portanto, para converte-los em mercadorias... Os produtos do trabalho se convertem em mercadorias no mesmo ritmo em que determinada mercadoria se transforma em dinheiro” (Marx 2001, pp.111/112).

A posse do dinheiro desumaniza as relações entre os homens, tornando-as injustas e falseadas: as pessoas não são aquilo que aparentam ser e, no entanto, é essa aparência ou representação que aparece como se fosse real, e, no dizer de Marx, a realidade é transformada em mera representação. As possibilidades financeiras ditam as novas representações, destruindo os critérios verdadeiramente humanos de avaliação das coisas e dos homens, que são avaliados pelo que têm e não pelo que realmente são ou constitui sua verdadeira capacidade e natureza. É o que Sushodolski chama de o “poder destrutivo do dinheiro”.

No processo de alienação dois fatores têm papel preponderante: a divisão do trabalho e a propriedade privada. A propriedade privada é fruto da alienação, ao mesmo tempo em que a produz. É sinônimo da separação entre os homens: entre os que se beneficiam da alienação e aqueles que com ela são penalizados e explorados, entre aqueles

propriedade privada é vista como meio de extração do lucro e de acumulação de capital, às expensas da exploração de um homem sobre outros. É negação da condição natural e universal do sujeito, que num quadro de alienação do trabalho, aliena-se de suas ações, sentidos e pensamentos, passando a considerar um objeto como seu apenas quando o tem, portanto, quando existe para si como capital, ou seja “quando é diretamente comido, bebido, vestido, habitado etc. Em síntese, quando é utilizado de alguma forma” (Marx in: From 1975).

A divisão do trabalho está na origem e agudização da alienação. Com o desenvolvimento das forças produtivas, o trabalho que era articulado de modo quase natural no processo da manufatura, passa a assumir forma parcelar, com trabalhadores de ofícios diversos e independentes executando tarefas específicas dentro de um conjunto de ações que conduzem ao produto final. Assim, inaugura-se a divisão do trabalho quando cada trabalhador perde a capacidade de exercer seu ofício específico em toda a sua extensão, do começo ao fim, pois, a produção é organizada em diversas operações especializadas, e “cada operação se cristaliza em função exclusiva de um trabalhador, e a sua totalidade é executada pela união desses trabalhadores parciais” (Marx 2001, p. 392), num trabalho extremamente dividido, repetitivo, restrito e ininterrupto, que é por isso mesmo despido de sentido, alienado. Mais grave ainda, é o fato de essa divisão “converter” o produto do trabalho em mercadoria a ser comercializada.

Alienação é um processo histórico social, não é condição característica do ser humano. É uma tendência, e não uma condição de todo e qualquer trabalhador. A alienação faz parte de uma estrutura político-econômica determinada, que é a capitalista. Está claro, portanto, que a superação da alienação implica a superação do modelo de sociedade capitalista e a implantação de um novo tipo de sociedade, a sociedade socialista, que de acordo com a concepção marxista, é condição de regresso do homem a si mesmo, como ser social, e de uma relação autenticamente humana, por permitir a libertação total de todas as forças humanas (Sushodolski 1976).

A libertação das forças humanas impõe a necessidade de se eliminar a propriedade privada e a divisão do trabalho, propondo a organização e operacionalização do trabalho de forma consciente e com um caráter social, de modo que o trabalho generalizado e coletivo esteja pautado na indissociabilidade entre manual e intelectual, e permita a articulação

social e a real cooperação dos trabalhadores entre si, tanto no tocante ao processo de trabalho como um todo, quanto à distribuição da produção. No lugar da propriedade privada teremos a apropriação dos instrumentos de produção por todos os indivíduos, devendo igualmente estar a disposição e sob a responsabilidade de todos. Da mesma forma que a troca só poderá se processar estando “subordinada” a todos os indivíduos, ocorrendo entre os trabalhadores, e não mais conforme o sistema capitalista, entre mercadorias estranhas aos sujeitos.

Tanto a apropriação das forças produtivas quanto circulação e troca deverão ocorrer em escala universal. Considerando-se que o proletariado tem caráter universal, é preciso construir uma forma de produção e de desenvolvimento, também universais (Marx e Engels 2001). Preferencialmente, mediante uma ação de transformação simultânea, abrangendo diversos outros países ao mesmo tempo, de modo a garantir a sustentação das mudanças a serem empreendidas no sentido da construção da nova sociedade.

Impõe-se nesse processo, também, a necessidade da organização comunitária partindo da concepção de comunidade como livre associação dos sujeitos enquanto indivíduos que são, com suas particularidades. E isso implica o desenvolvimento mais amplo possível das forças produtivas e a livre participação dos indivíduos. Portanto, essa associação é condicionada por uma interdependência de fatores financeiros e pela solidariedade entre seus membros (Marx e Engels 2001). A vida em comunidade é condição indispensável para o indivíduo desenvolver suas faculdades em todos os sentidos. Representa, ainda, condição de liberdade pessoal, que se contrapõe à concepção de comunidade no capitalismo, que é na realidade, pseudocomunidade, pois, a associação entre os indivíduos é ditada por uma necessidade imposta e não voluntária: participam enquanto membros de uma classe e não como indivíduos, sendo identificados e reconhecidos pela “média” obtida através da comparação com outros da mesma classe (Marx e Engels 2001).

A alienação não pode ser superada apenas na esfera filosófica e da consciência, e sim na atividade social real, na organização social do trabalho, onde o trabalhador seja um sujeito coletivo e não individual, participando na produção e no consumo, realizando uma divisão social do trabalho de modo consciente, explicitando as relações sociais estabelecidas entre os homens durante todo o processo de trabalho e não apenas ao final.

Segundo Marx, as possibilidades de superação da alienação encontram-se nas contradições do próprio sistema capitalista: no contraste entre a gritante auto-alienação e exclusão sócio- econômica, e no não aproveitamento das possibilidades de completo desenvolvimento do homem. O processo de desalienação está pautado na concepção de trabalho como mecanismo de criação e transformação livre e espontânea da natureza física e humana, e na valorização do tempo livre.

Tempo de trabalho e tempo livre foi uma questão amplamente debatida por Marx e Engels, no século XVIII, e que atualmente vem à tona em decorrência da crescente onda de desemprego que assola o planeta5, e também da exploração crescente e continuada dos trabalhadores. Dentre os mecanismos de solução que estão sendo pensados, figuram o da redução do tempo de trabalho (horas efetivamente trabalhadas) com vistas à redistribuição do serviço/emprego, procurando incorporar uma maior número de trabalhadores e reduzir os índices de exclusão do mercado de trabalho. Essa discussão em outros países (Itália e França, por exemplo) já se encontra bastante avançada dado suas peculiaridades em termos econômicos e políticos, e ao adiantado processo de reestruturação produtiva em que se encontram.

No Brasil esse tema tem integrado a agenda de discussões das centrais sindicais e sindicatos nos últimos cinco anos, principalmente. Saudada em muitos lugares como um instrumento de equalização dos problemas sociais, tem caráter ambivalente que aflora nas negociações sindicato-empresa. Para além de divergências de aplicabilidade técnica, existem divergências conceituais e de propósitos entre esses dois segmentos sociais. Vejamos, pois:

- Muitas empresas concordam ou adotam a medida de redução do tempo de serviço desde que os salários também sejam “redistribuídos” - na verdade, reduzidos - e que isso não implique em maiores custos e, conseqüentemente, na redução de seus lucros;

- Os trabalhadores concordam com a redução das horas de trabalho, como mecanismo de solidariedade para com outros trabalhadores, porém, discordam da redução de salários - que acabaria por afetar as condições de vida destes, impondo maiores restrições à satisfação das

5 Os dados dos países que compõem o grupo das oito maiores populações de desempregados do mundo em

milhões de pessoas apontam: Índia com 41,344, Brasil com 11,454, Rússia com 7,395, China com 5,950, Indonésia com 5,872, Estados Unidos com 5,655, Alemanha com 3,685, e Japão com 3,2 (Cf. estudo “Globalização e desemprego: breve balanço da inserção Brasileira”, realizado pelo economista Márcio Poschmann, fonte: Jornal A gazeta, Cuiabá-MT, 29.05.02).

necessidades básicas e sociais. Ao mesmo tempo desconfiam que a simples a redução da jornada de trabalho não seja garantia de que trabalharão menos, isto é, não lhes garante uma efetiva redução do tempo de trabalho.

É compreensível essa preocupação dos trabalhadores, pois conforme afirma Antunes (1999c) a redução da jornada de trabalho não implica necessariamente na redução do tempo de trabalho, e pode, ao contrário, levar à intensificação das tarefas, significando que o trabalhador dentro de uma carga horária de trabalho relativamente menor continuará executando as mesmas tarefas, num ritmo mais intenso para não deixar nada por fazer. Assim, o contexto da luta pela redução da jornada de trabalho deve comportar, também, a luta pela redução do tempo opressivo do trabalho.

A “humanização” do trabalho, ou seja, como torná-lo menos desgastante e mais prazeroso, foi uma temática amplamente discorrida por Marx e Engels, que argumentavam que ao atingir um certo nível de produtividade, e a partir de uma justa e uniforme distribuição do trabalho entre todos os membros de uma sociedade, haveria uma redução do tempo a ser dedicado ao trabalho, aumentando proporcionalmente o “tempo disponível para a livre expansão dos indivíduos”. “Economizar tempo de trabalho e aumentar o tempo livre, ou seja, o tempo que serve para o desenvolvimento completo do indivíduo, o que atua em contrapartida sobre a força produtiva do trabalho e a aumenta” (Marx 1978, p.178).

Os citados autores estabeleceram uma relação entre o tempo de trabalho efetivamente gasto para produção de determinado objeto ou para a execução de determinada função e as horas excedentes trabalhadas, caracterizando estas últimas, a existência da mais-valia no caso dos trabalhadores assalariados, que rendia maiores lucros aos patrões. Obedecendo à lógica direta de uma relação de compra e venda significaria dizer que o serviço a ser executado em troca da força de trabalho vendida ao empregador corresponderia apenas a um X número de horas (socialmente necessárias à produção de determinada mercadoria), supondo a existência de um tempo restante a ser disposto pelo trabalhador da maneira que melhor lhe conviesse (lendo, jogando bola, estudando). Ocorre

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