5 APRESENTAÇÃO, ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
B. Trabalho em grupo
O domínio do trabalho em grupo é entendido como a capacidade do facilitador de mobilizar os recursos coletivos do grupo para aumentar a aprendizagem de todos os seus membros. Os aspectos relacionados a esse domínio estão apresentados no quadro 7 e discutidos na sequencia.
Quadro 7 – Domínio do trabalho em grupo
Domínio: trabalho em grupo
Definição
Aspectos que constituem os conteúdos de aprendizagem do trabalho em grupo
Conceituais Procedimentais Atitudinais
Capacidade de mobilizar os recursos coletivos do grupo para aumentar a aprendizagem de todos os seus membros. Conhecer dinâmicas de grupo
Saber trabalhar com grupos Saber ensinar os estudantes a trabalharem em grupo Ajudar os estudantes a se estabelecerem no grupo Assegurar a confiança do grupo Aplicar normas de funcionamento do grupo Participar da dinâmica de cada grupo Promover um ambiente harmonioso que propicie a aprendizagem
Guiar o trabalho do grupo Gerenciar as dinâmicas interpessoais
Evitar críticas e rótulos aos estudantes
Promover a interação entre os membros do grupo Fortalecer o sentimento de cooperação
Diversificar as atividades no trabalho em grupo
Disposição para ajudar os estudantes
Respeito em relação aos estudantes
Comprometimento com a aprendizagem dos estudantes
Empatia para com os estudantes
Coaprendizagem Autocontrole para não dominar a discussão no grupo e resistir à tentação de incorrer no método tradicional “dar aula”
Para que o facilitador tenha o domínio sobre o trabalho em gruo é preciso que ele tenha conhecimentos como os que estão relacionados aos conteúdos conceituais que envolvem o trabalho em grupo, tais como: conhecer o funcionamento das dinâmicas de grupo; saber trabalhar com grupos; saber ensinar os estudantes a trabalhem em grupo.
No que diz respeito aos conteúdos procedimentais, no trabalho em grupo, mais do que simplesmente ajudar os estudantes a encontrarem soluções para um problema proposto, é importante que o facilitador proporcione condições para que os estudantes possam se firmar e trabalhar em grupo, de modo que possam compartilhar seus conhecimentos na construção da aprendizagem colaborativa.
Considerando que nos métodos convencionais de ensino o trabalho em grupo é pouco oportunizado, uma vez que o professor, de modo geral, é visto como o único indivíduo ativo, utilizar atividades nas quais os estudantes têm a chance de se relacionar com seus pares em benefício da aprendizagem colaborativa não faz parte das suas tarefas.
Sendo assim, é preciso que o facilitador ajude os estudantes a se estabelecerem em seus grupos, promovendo a interação entre seus membros. Essa interação pode ser alcançada estimulando a comunicação dos indivíduos, por meio de questões que promovam a discussão, permitindo que os estudantes exponham suas ideias e compartilhem seus conhecimentos no grupo.
Para encorajar o trabalho em grupo é importante que o facilitador participe da dinâmica de cada grupo, procurando ser um bom ouvinte e bom observador. Bom ouvinte porque, com isso, o facilitador se contém em dominar a discussão no grupo e bom observador, pois, assim, pode perceber e valorizar o potencial de cada estudante, sobretudo nas situações em que nota uma ação positiva sendo realizada.
Para tanto, é fundamental que o facilitador evite criticar ou rotular os estudantes na gestão das dinâmicas interpessoais, mas, demonstre interesse e valorize os seus pontos de vista. Esses procedimentos contribuem para construir a confiança e encorajar a ligação entre os membros do grupo.
Além disso, cabe ao facilitador guiar o trabalho em grupo, permitindo que os estudantes concentrem-se e direcionem a discussão durante a aprendizagem com o problema. Enquanto isso, é tarefa do facilitador procurar manter a atenção e ouvir cuidadosamente a discussão dos grupos para que tenha condições de identificar possíveis problemas e determinar o melhor momento de intervir junto ao grupo que apresentar dificuldades no que se refere ao processo de aprendizagem.
É importante, ainda, o cuidado em ouvir e a atenção do facilitador para identificar problemas relacionados ao funcionamento do grupo, ou seja, quando o grupo se desestabiliza, como apresentado no exemplo:
Têm grupos tutoriais que não funcionam bem [...] como tutor você tem o papel de evitar e de conduzir a coisa da melhor forma, né? [...] Às vezes você tem que lembrar o grupo das regras, quando o grupo não está funcionando bem e tal... Professor 4
Nesses casos, é preciso que o facilitador intervenha, relembrando os estudantes sobre as regras estabelecidas, as quais devem ser respeitadas para que se disponham novamente a ouvir e respeitar as opiniões uns dos outros. Encorajar o grupo a reiniciar a discussão, procurando estabelecer um novo foco contribuir para que retomem o equilíbrio no trabalho no grupo.
A aplicação de normas coincide com as considerações de Azer (2005). O autor afirma que, quando o grupo quebra alguma regra por ele definida, cabe ao facilitador lembrá-las ao grupo e reforçar o seu cumprimento para o bom funcionamento do grupo.
Além disso, promover ambientes de aprendizagem em harmonia propicia a interação entre os estudantes e contribui também para fortalecer o sentimento de cooperação. Isso pode fazer com que a ocorrência de desestabilidade e o desrespeito entre os parceiros sejam minimizados nos grupos.
Ademais, motivar os estudantes para participarem das atividades como membros dos grupos, procurando conscientizá-los, contextualizando as situações, relacionando a teoria à prática profissional requer habilidade do facilitador, tendo em vista que muitos estudantes ainda não passaram pela fase do estágio. Além disso, muitos estudantes não adquiriram a experiência da prática profissional.
No que se refere ao funcionamento dos grupos, o papel do facilitador também envolve a habilidade para diversificar as atividades no trabalho em grupo. O trabalho com o problema não deve se restringe à discussão nos grupos para verificarem o que sabem e identificarem as questões de aprendizagem na busca pela solução. Há muitas atividades que podem ser acrescentadas ao PBL que enriquecem e estimulam a aprendizagem colaborativa.
Essa possibilidade corroboram a ideia de Woods (1996b) quando aponta a importância da habilidade do facilitador no que diz respeito à diversificação das atividades, pois funciona como estímulo para a aprendizagem dos estudantes. Essa habilidade pode ser observada no exemplo a seguir.
[...] Eu disse a eles que no dia da apresentação final eu traria representantes do campus, da prefeitura do campus e da própria escola de engenharia para ouvir as sugestões deles. Se tivesse alguma sugestão muito boa, eventualmente, a prefeitura do campus poderia abraçar a ideia e transformar isso numa coisa real.[...]. Professor 3
No que se refere aos conteúdos atitudinais o comprometimento do facilitador, dispondo-se a ajudar os estudantes, respeitando as suas opiniões e ideias favorecem um
relacionamento mais saudável. Além disso, demonstrar empatia, procurando entender à forma como os estudantes aprendem fortalece o processo de ensino-aprendizagem.