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3 O COMBATE AO TRABALHO INFANTIL NO CAMPO (TIC) E A

3.1 O trabalho infantil: noções, espécies e causas

3.1.2 Trabalho infantil sexual

As mesmas carências socioeconômicas que conduzem crianças e adolescentes ao trabalho infantil doméstico são vistas no trabalho infantil sexual. A pobreza e a falta de estrutura familiar, além da baixa escolaridade e falta de amadurecimento, contrastam-se com as compensações econômicas que lhes são ofertadas pelos exploradores sexuais, que vão ganhando espaço na biografia destas

82 OLIVEIRA, Oris de. Trabalho e profissionalização de adolescente. São Paulo: LTr,

2009, p. 165.

83 OLIVEIRA, Oris de. Trabalho e profissionalização de adolescente. São Paulo: LTr,

2009, p. 165.

84 NUNES, Maria do Rosário. Trabalho infantil doméstico: o desafio da superação da

invisibilidade. Revista do Tribunal Superior do Trabalho, São Paulo, v. 79, n. 1, p. 128- 134, jan./mar. 2013. Disponível em: <https://hdl.handle.net/20.500.12178/38641>. Acesso em 17 abr. 2018.

pessoas.

Nesse contexto, de se dizer que o trabalho infantil sexual alcança, de fato, a vida de muitas crianças. É um retrato muito bem talhado no filme “Anjos do Sol”, que precisa ser rasgado do álbum destes brasileiros. Anjos do Sol conta a saga da menina Maria, de quase doze anos, que vive no interior do Maranhão. No verão de 2002, ela é vendida pela família a um recrutador de prostitutas, por desconhecimento, como opção dos pais a oferta de melhores condições de vida. Depois de ser comprada em um leilão de meninas virgens, Maria é enviada para um prostíbulo localizado numa pequena cidade, vizinha a um garimpo, na Floresta Amazônica. Após meses sofrendo abusos, Maria consegue fugir e atravessa o Brasil na carona de caminhões. Ao chegar ao seu novo destino, o Rio de Janeiro, a prostituição se coloca novamente no seu caminho e suas atitudes, frente aos novos desafios, mostram a ausência de opções de viver sua infância e de reencontrar sua família.

O Cenário é preocupante e é abordado pelo professor Zéu Palmeira ao relacioná-lo ao turismo. O professor salienta que “No espaço laboral, notadamente no setor do turismo, vem se observando um aumento do número de casos em que as crianças são ofertadas como atrativos, para os visitantes”. A carência material, compensada com ganhos mais rápidos conduz crianças e adolescentes a esta escolha, apontando, ainda as consequências da prática: “Os riscos principais a que estão submetidos os precoces trabalhadores do sexo são as DST, incluindo a AIDS, sem falar nas sequelas psíquicas”.85

Luiz Antonio Camargo de Melo, expõe corajosamente os danos que este tipo de exploração pode causar nas crianças: “doenças sexualmente transmissíveis, infecções sexuais, vaginas rasgadas, úteros perfurados, mortalidade materna”. Chama atenção também para os efeitos psicológicos, quais sejam: “ataques de ansiedade, pesadelos, tendências suicidas, sentimento patológico de culpa”. Por fim, descreve que “um estudo realizado na Costa Rica com mais de cem menores que haviam sido explorados sexualmente mostrou que mais da metade desses desejavam morrer. Isso é uma situação dramática”. 86 É o relato mais profundo sobre

85 PALMEIRA SOBRINHO, Zéu. Acidente do trabalho: críticas e tendências. São Paulo:

LTr, 2012, p. 356-357.

86 MELO, Luís Antônio Camargo de. Desafio da erradicação das piores formas de trabalho

a prática.

Desse modo é que o trabalho sexual infantil é considerado uma das formas mais perversas da exploração destas pessoas em fase de desenvolvimento, porquanto é ínsita à própria prática os abusos físicos, psicossociais e emocionais, que propiciam sequelas que afetam diretamente o desenvolvimento e a dignidade dos explorados. Com muita propriedade, a Convenção n. 182 da OIT considera a exploração sexual uma das piores formas de trabalho infantil”.87

O professor Zéu aduz que a captação desta mão de obra obtém sucesso em lares que contam com desajustes educacionais, especialmente em relação a crianças que sofrem abandono intelectual, material e afetivo, as vítimas “da permissividade do consumo desumanizante, da violência e da dependência química”.88

Por fim analisa sinteticamente a questão, tecendo uma abordagem nos planos preventivo e recuperativo, nos seguintes moldes:

Os reflexos psicológicos impostos aos explorados sexualmente são tão deletérios que o problema da exploração sexual de menores deve ser objeto de uma política pública preventiva nos ambientes da família, da escola e dos estabelecimentos frequentados pelos menores. No plano recuperativo, o Poder Público deve valer-se da estratégia articulada para retirar o menor da exploração sexual, dando-lhe acompanhamento psicológico e permitindo-lhe formas de qualificação profissional que promovam adequadamente a sua inserção no mercado de trabalho.89

Diga-se que o Nordeste é campeão nesta prática, principalmente nos Estados praieiros, onde o turismo alcança números consideráveis economicamente.

A despeito da OIT considerar trabalho, Cassio Faedo, interpela que tal exploração não deve ser considerada trabalho, mas apropriação com fins econômicos do corpo de outrem para obtenção de vantagem econômica. Lembra que é um tema também combatido em nível internacional, a exemplo do Protocolo 96, jan./mar. 2013. Disponível em: <https://hdl.handle.net/20.500.12178/38665> . Aceso em 17 abr. 2018.

87 PALMEIRA SOBRINHO, Zéu. Acidente do trabalho: críticas e tendências. São Paulo:

LTr, 2012, p. 360.

88 PALMEIRA SOBRINHO, Zéu. Acidente do trabalho: críticas e tendências. São Paulo:

LTr, 2012, p. 360.

89 PALMEIRA SOBRINHO, Zéu. Acidente do trabalho: críticas e tendências. São Paulo:

Facultativo à Convenção sobre os Direitos da Criança referente à venda de crianças, à prostituição infantil e à pornografia infantil, e segue afirmando que “de qualquer sorte, não basta a assinatura de protocolos internacionais e a adoção de normas internas a respeito do assunto, mas de efetivo combate a essas práticas”. Continua destacando “sua absoluta ilegalidade, a qual afirmamos ser trabalho infantil, com todas as reservas, apenas por obrigação de assegurar que se abre uma “chaga” nessas pessoas, que aflige todo ser humano nessa situação.”90