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A necessidade de organização foi um princípio que se fez presente na comunidade quilombola de Tijuaçu, funcionando como pressuposto para o desenvolvimento das atividades mobilizadas por este grupo étnico-cultural, a partir do momento em que passaram a se

135 perceber como povos quilombolas e encaminhar suas reivindicações colocando-se perante o Estado-Nação, na qualidade de categoria específica.

Mantenho o cuidado de esclarecer que, ao utilizar a expressão “perceber-se como quilombola” não é feita referência a um tipo de identidade forjada, mas apenas diz respeito a um processo de compreensão, ainda que tardia, de sua condição tradicional e que o desconhecimento desta condição durante a maior parte de sua história, encontra-se vinculado à presença de mecanismos ideológicos que sempre foram estruturados, de modo a conter a informação e subsidiar a alienação dos atores sociais negros e afrodescendentes, garantindo, assim, a sua submissão.

A historiografia destes povos encontra-se repleta desses exemplos e, nos diversos interiores deste país, a situação opressiva de negação de informações necessárias para fomentar a capacidade de reflexão destes agentes negros (as) sejam eles (as) quilombolas ou não, ainda funciona como um mecanismo garantidor de sua subordinação em esfera política, já que, desprovidos da informação de sua situação étnica e herdeira de uma história ancestral eivada de lutas, sofrimentos e militâncias, é facilitada a sua condução por parte de quem deseja ou necessita oprimir para continuar garantindo sua posição privilegiada.

Em Tijuaçu as inovações assimiladas e produzidas por estes agentes, durante o processo de compreensão que marcou a transição do estado de comunidade negra rural para uma comunidade quilombola, tiveram início no interior deste grupo étnico, inicialmente, de maneira coletiva, principalmente após a produção do Laudo de Certificação da comunidade junto à Fundação Cultural Palmares, pois, a partir daí, estes sujeitos ressurgidos já passaram a se perceber como um grupo tradicional, buscando, posteriormente, e a cada dia, alargar este entendimento.

Os atores sociais de Tijuaçu, conforme já foi argumentado por esta pesquisa, sempre se perceberam e foram percebidos como “os povos negros do Lagarto”, mantinham entre si a ideia nebulosa de que possuíam descendência entre os africanos escravizados no Brasil, mas até serem certificados como quilombolas, tudo isso parecia uma história que, apesar de ser narrada pela memória oral dos anciãos da comunidade, não possuía consistência real, tampouco se encontrava revestida de credibilidade na região geográfica onde se concentram.

As transformações ocasionadas a partir das informações que começaram a chegar à comunidade desde 1994, através da participação de lideranças femininas no Primeiro Encontro de Comunidades Negras Rurais da Bahia, as visitas que passaram a receber por parte de pessoas ligadas ao Movimento Negro e principalmente o momento específico de

136 produção do Laudo Etnográfico que possibilitou sua certificação, estimularam entre os indivíduos da comunidade de Tijuaçu o vivenciar de um período caracterizado pelo ato de despertar do estado de dormência em relação a sua condição política, visto que tiveram a possibilidade de perceber que todo o anseio nutrido até então, desde as antigas até as atuais gerações do “tronco velho do Lagarto” de verem sua condição étnica e cultural ser divisada com respeito e reverenciada no entorno regional que os circunda, princípio sempre idealizado entre os quilombolas, começar, então, a se tornar realidade.

Os quilombolas também perceberam que o período de transformações que começaram a experimentar não aconteceria marcado pelo imediatismo nem por facilitações, frutos de uma trajetória que, para acontecer de forma desejada, precisaria ser direcionada através da militância constante, fazendo-se necessário também construir dentro do grupo, cotidianamente, o significado simbólico e prático desta militância, já que, até então, não estavam acostumados a vivenciar, em seu contexto de origem, este tipo de atitude e praticamente desconheciam como desenvolver qualquer atividade de representatividade.

A mediação para a transformação destas compreensões sobre o que significa ser uma comunidade quilombola ou um quilombo contemporâneo, bem como a maneira a partir da qual precisariam exercer diariamente suas vidas, agora caracterizadas pela militância cotidiana, esta tarefa da qual depende até os nossos dias o crescimento progressivo do grupo foi totalmente sistematizada e assumida por intermédio dos membros que compõem a mesa- diretora da Associação Quilombola. Entretanto, tendo em vista que a comunidade quilombola de Tijuaçu possui um perímetro abrangente e um número considerável de membros, houve a necessidade de descentralizar as atividades que começavam a ser desenvolvidas por parte da direção da AAQTA e democratizar ainda mais as tarefas, criando outra categoria dentro do grupo.

Esta categoria, para ser eficaz em suas atividades, necessitava engendrar um número maior de membros, de modo a expandir suas atividades, facilitando as comunicações que precisavam ser mantidas entre estes agentes que começavam a transformar sua história de silêncio na possibilidade de fazer uso da palavra para recontar sua história e reorientá-la, por meio da construção de novos comportamentos. Vale citar, entre esses o princípio da representatividade e intervenção social, pois estes precisavam ser exercidos pelos quilombolas de maneira responsável, uma vez que qualquer tropeço, principalmente no início de suas atividades, poderia se constituir em um retrocesso capaz de anulá-las e restaurar o princípio da opressão do qual procuravam abdicar.

137 Com este intuito, ainda no ano 2000, alguns meses após a fundação e início dos trabalhos desenvolvidos pela AAQTA, segundo informações prestadas pelos sujeitos que colaboraram com esta pesquisa, foram criadas as Lideranças Comunitárias; categoria que exerce habilmente sua função como forma de dar prosseguimento às atividades e atitudes que são tomadas pela direção da AAQTA no ato das assembleias e com a aprovação dos membros associados.

As Lideranças Comunitárias atuam na qualidade de multiplicadores das informações que são colocadas pela mesa-diretora da Associação durante as reuniões, procurando esclarecer dúvidas e minimizar distorções.

Existem hoje na Vila-centro de Tijuaçu cerca de cinquenta Lideranças Comunitárias que exercem seu trabalho de forma não remunerada, desenvolvendo suas tarefas em cada rua da comunidade. Geralmente em cada rua atuam três ou quatro lideranças, mantendo entre si uma articulação que garanta a fidelidade às ideias professadas pelo grupo, e união nas atitudes tomadas por estes agentes visando ao bem estar pessoal e coletivo.

As Lideranças possuem uma rotina de maior atuação entre os quilombolas, uma vez que são moradoras das ruas que representam, possuindo, por isso, conhecimento com todos os indivíduos que são também moradores - sabem o nome de todos os moradores, o número de membros de cada família, conhecem os problemas econômicos e os desejos de reestruturar melhor e, a cada dia, suas histórias de vida e dos seus vizinhos. Esta proximidade das lideranças junto às ruas onde exercem representatividade, fornecem à direção da AAQTA a tranquilidade de que todas as atitudes mobilizadas poderão contar com o conhecimento dos indivíduos que compõem este grupo étnico.

A necessidade de existir de três a quatro Lideranças em cada rua que compõe a Vila- centro de Tijuaçu, conforme foi esclarecido por estes agentes, acontece devido ao fato de se manter o cuidado de que, na ausência de uma ou outra liderança, o trabalho de: informar, visitar as famílias – ação que realizam uma vez por semana com o propósito de saber de seu bem estar e mover esforços para auxiliá-las caso estejam atravessando alguma dificuldade - recolher a taxa de mensalidade, bem como arrecadar, quando preciso, entre os associados o dinheiro utilizado para pagar o frete do caminhão que traz, quatro vezes ao ano, as cestas básicas distribuídas na comunidade.

Existe também por parte dos quilombolas a conscientização de que o desenvolvimento deste trabalho deve envolver todos os moradores daquela rua específica e que, se em algum momento, as lideranças oficiais, votadas em assembleia, não puderem desenvolvê-lo, deve

138 aparecer alguém que voluntariamente se proponha a fazer isto, visto que destas atividades constantes depende a união, solidariedade e independência da comunidade, fato que é sempre enfatizado durante as reuniões da Associação Quilombola.

Da mesma forma que os integrantes que compõem a mesa-diretora da AAQTA, as Lideranças Comunitárias são votadas em assembleia para um mandato de dois anos prorrogáveis por mais dois, se houver disponibilidade para isso. Razão por que a maior parte das pessoas que fazem parte desta categoria exercem suas funções desde que esta foi criada, existindo em cada uma a preocupação e o cuidado de estar preparando alguém para ocupar “seu lugar” quando desejar deixar a função.

Os critérios utilizados para se escolher uma Liderança Comunitária em Tijuaçu, baseiam-se em princípios, como: comprometimento com a causa quilombola, fato que geralmente é demonstrado pelo comportamento que evidenciam nas reuniões promovidas pela Associação; responsabilidade na condução da vida pessoal, de modo a poder estendê-la a militância coletiva a ser exercida no âmbito do grupo; simpatia, constituindo este um dos requisitos fundamentais entre os quilombolas, visto que as lideranças possuem livre acesso às residências das ruas que representam, precisando, portanto, ser bem acolhidas nessas casas; e capacidade de dialogar com as famílias visando ao esclarecimento de dúvidas, assim como para orientação em referência a problemas que demandem esse tipo de intervenção.

De maneira recente, segundo foi citado pelos próprios indivíduos ouvidos por esta pesquisa, os associados têm despertado para um fator considerado importante no exercício das atividades a serem executadas, tanto por parte das Lideranças Comunitárias quanto pelos membros-diretores da Associação Quilombola, o requisito: escolarização. Fazendo-se importante informar aqui que as Lideranças antigas não estão deixando de exercer suas atividades junto ao grupo devido ao não preenchimento deste critério - estão sendo estimuladas a estudar, como forma de melhor compreenderem sua situação de povos tradicionais e se relacionarem com a sociedade envolvente.

Chamo a atenção neste estudo para o fato de que é atribuída uma importância muito grande a instrução escolar em Tijuaçu, muitos quilombolas hoje têm procurado voltar a estudar e os que já estudam têm tido a preocupação de dar prosseguimento, inclusive, cursando universidade, pois percebem o conhecimento científico como um objeto relevante, a partir do qual pode ser anulada ou elevada a contribuição histórica dos povos.

Esta pesquisa teve o cuidado de consultar as Lideranças Comunitárias de Tijuaçu a respeito de como são desenvolvidas suas atividades. Entre as lideranças ouvidas estão,

139 sobretudo, aquelas apontadas pela própria comunidade como sendo as que desenvolvem um trabalho mais atuante de estímulo à conscientização e realização de tarefas:

Olhe nosso trabalho é assim, depois da Associação Quilombola a gente teve curso de capacitação de liderança quilombola e o nosso trabalho é abrir a mente de cada um morador aqui de dentro, a gente tenta fazer as pessoas entender cada vez mais o que é uma comunidade quilombola, o que é ser um quilombola, por que Tijuaçu sempre foi um lugar assim onde o pessoal tem muito a mente fechada, é muito raro assim a gente conseguir abrir a mente de uma pessoa. Então a gente como liderança, a gente tem todo gosto de chegar numa casa e conversar com um morador, dizer o que é que vai acontecer, como é que vai acontecer, explicar o que vai acontecer na comunidade, dizer pra ir pra uma reunião, falar o que vai acontecer lá, a gente tem obrigação de dar explicação pra cada um morador, é justamente por isso que somos 50 lideranças, por que cada rua tem duas e aí aquelas liderança se prontifica de fazer o trabalho na comunidade e convidar o povo pras reuniões, precisou de alguma conversa, a gente vai conversar, se tiver alguma pessoa com algum problema sério de doença a gente tem a obrigação de ir pro hospital levar, se a gente vai pra Bonfim, comprar os remédios, se tiver algum remédio na farmácia, à gente vai lá buscar, então eu acho bom o trabalho de liderança quilombola. (Entrevista realizada como Orelita Damasceno de Santana, 38 anos, em 25/04/12)

Nos esclarecimentos emitidos pela senhora Orelita, mais conhecida em Tijuaçu pelo apelido de Jóia, que exerce suas atividades de Liderança Comunitária desde que esta função foi criada na comunidade, sendo também participante do Samba de Lata. É uma das pessoas mais estimadas entre os quilombolas, devido a sua disposição em trabalhar como vendedora de acarajé e milho em cidades da microrregião para sustentar dignamente sua família e, ainda assim, se mostrar com total interesse pelo exercício da militância em favor dos direitos deste grupo étnico.

No depoimento de Jóia fica evidenciada a postura presente e consciente que precisa manter uma liderança. Depende, em parte, da atuação das lideranças a compreensão dos outros indivíduos do grupo em referência à situação específica que estejam vivenciando no momento, bem como sobre a melhor atitude a ser adotada em termos coletivo, almejando beneficiar um grupamento social que viveu a maior parte da sua história relegado ao abandono por parte das autoridades políticas e privados em suas necessidades primárias e secundárias. Por esse motivo, é bastante nítida entre os quilombolas a ideia de que compete a eles zelar pela sua integridade pessoal e coletiva, devendo, inclusive, procurar anular no momento presente, a participação de algumas lideranças políticas, em especial as lideranças políticas bonfinenses, que buscam se aproximar destes sujeitos visando ao proveito particular.

140 A postura mediadora junto à comunidade também transparece no depoimento expresso pela entrevistada, ficando evidente a importância da atuação das lideranças, inclusive para a atitude de construção identitária do grupo, não no intuito de delegar caminhos únicos e homogêneos a serem trilhados por todos, de forma indistinta, até por que este comportamento não é possível do ponto de vista real, e sim, possibilitando aos indivíduos de Tijuaçu uma compreensão mais alargada de sua negritude e herança ancestral africana. Essa diferença verificada e manifesta por este grupo étnico-cultural deve ser utilizada para dignificá-los e não mais para inferiorizá-los. Deve ser também motivo para reflexão crítica sobre o que significa ser quilombola, ter nascido e viver hoje em uma comunidade remanescente de quilombo, buscando interpretar estes valores, uma vez que eles mapeiam suas existências preenchendo- as de significado.

Almejando analisar a forma como são vistos pelo Estado-nação, conhecer as políticas públicas direcionadas a sua etnicidade transformada em categoria para aprenderem a se relacionar com ela, pois por vezes o Estado Nacional, nos construtos simbólicos, ideológicos e jurídicos que direcionam a estes agentes, contribuem para padronizá-los, desconsiderando as singularidades individuais que toda comunidade quilombola abriga e que se traduz em forma de vivência diária.

As Lideranças Comunitárias procuram esclarecer constantemente entre os indivíduos que são moradores de suas ruas, fatores cuja compreensão é relevante para nortear a caminhada de luta e militância destes agentes. Buscam, como foi mencionado pela própria informante, tornar claro diariamente o que significa ser e morar em uma comunidade quilombola, não com o propósito de maquiar e ou manipular uma identidade a ser seguida por estes atores sociais ressurgidos e sim com a iniciativa de lançar luz a fatores que, por serem pouco compreendidos no passado, contribuíram para conduzi-los a uma situação de usurpação de seu território por fazendeiros, exploração e marginalização política, social e cultural.

Constituem tarefas abraçadas pelas lideranças: a capacidade de estimular a conscientização como medida preventiva para abdicar de qualquer situação opressiva que possa se apresentar ao grupo, e uma forma segura de dar prosseguimento a sua existência coletiva e reivindicatória.

O depoimento de Suzana Fagundes da Silva é muito importante para este estudo. Há doze anos ela exerce, atividades militantes na comunidade quilombola de Tijuaçu na qualidade de liderança e também faz parte da Associação da comunidade de Quebra Facão, contribuindo, desse modo com o seu trabalho voluntário para promover um diálogo com os

141 representantes das localidades. Situação comum a outras lideranças comunitárias, devido ao fato de possuírem parentes nas outras localidades que compõem o perímetro quilombola de Tijuaçu, ou por possuírem residência fixa no interior destas comunidades e desenvolverem algumas atividades econômicas na Vila-centro, como é o caso específico de Suzana e, ainda, devido ao fato de serem conhecidas em razão do trabalho que desenvolvem como liderança comunitária, possibilitando serem convidadas para auxiliar nas atividades reivindicatórias exercidas pelas outras associações fundadas nas catorze comunidades que integram o perímetro quilombola de Tijuaçu.

O trabalho de uma liderança comunitária é um trabalho muito pesado, eu diria. Por que você tem que estar na comunidade e você tem que assistir reuniões, fazer reuniões, informar à comunidade o que tá se passando. Pedir opiniões, tentar mudar, eu falo tentar por que quando a pessoa não quer a gente não muda, a gente tenta esclarecer dúvidas e questões que passa na cabeça de alguns moradores da comunidade e ali a gente tem que demonstrar amor, carinho, impor ordem quando é necessário, por que as comunidades quilombolas elas são muito visadas politicamente. E a gente tenta passa pra comunidade o seguinte: que ela receba a visita, mas assim primeiramente a gente tem que saber o por que dessa visita, qual é a intenção dessa visita. O por que de fulano tá na comunidade? O que ele pode ajudar a gente? O que ele pode atrapalhar? Por isso acontece vinte e quatro horas por dia. E eu falo sempre não assine nada sem ler, não fale nada sem saber o que está falando e primeiramente conhecer as pessoas que chegam na comunidade, por que é muito difícil e chega muitas pessoas pra atrapalhar a comunidade. (Entrevista realizada com Suzana Fagundes da Silva, 38 anos, em 25/04/12) O sentido de peso que a senhora Suzana atribui ao trabalho desenvolvido por uma liderança comunitária é interpretado por esta pesquisa, sobretudo levando-se em consideração as conversas informais que periodicamente mantenho com estes agentes, como sinônimo de responsabilidade por estar encabeçando uma causa que congrega todos os sujeitos de Tijuaçu que se reconhecem como quilombolas e que em torno desta atribuição tem orientado suas vivências desde 2000, ressignificando valores, padrões de comportamento e mantendo a consciência de que qualquer atitude tomada nunca será analisada de forma particular. Nesses casos, as atenções serão voltadas para o sujeito que a praticou e o grau de importância das quais se revestem estas atitudes sempre recairá sobre todo este grupo étnico-cultural.

Um aspecto apontado na fala da senhora Suzana e do qual deve se revestir o comportamento adotado por parte de uma liderança comunitária em Tijuaçu é o princípio da vigilância, visto que, desde que foi certificada junto à Fundação Cultural Palmares, a comunidade tornou-se o centro das atenções da cidade de Senhor do Bonfim, figurando, atualmente, como o distrito principal e isto em função de alguns benefícios acessados pelos

142 quilombolas, capazes de diminuir, no âmbito deste grupo étnico, a força de atuação das autoridades políticas bonfinenses.

Tem sido comum algumas autoridades exercerem um assédio constante junto aos quilombolas com o propósito de aparecerem na comunidade como autores dos benefícios direcionados aos povos tradicionais. Nas conversas informais desenvolvidas com estes sujeitos, eles esboçaram claramente que não se impressionam diante das pressões de alguns vereadores ou representantes do poder executivo de Senhor do Bonfim, que chegam até a comunidade, desejando ocupar a posição de “pai da criança” - expressão utilizada pelos próprios quilombolas, diante das aparições indesejadas de alguns políticos em situações que não lhes compete aparecer ou estar.

Benefícios, que é importante que se mencione aqui, não representam favores e sim direitos legítimos dos quilombolas, por conta da dívida histórica que este país possui em relação aos povos negros (as) e afrodescendentes. Mesmo assim, em pleno século XXI, ainda existem indivíduos entre autoridades políticas, latifundiários, intelectuais, comunicadores e, até artistas, capazes de enfatizá-los, ressaltando sua primazia em forma de benfeitoria, quando, na verdade, o que se descortina aos nossos olhos são medidas tardias e pouco