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Figura de cerimônia (máscara)

Pastoral 16

Dança da bruxa

Nota: A linguagem da dança é o retorno da experiência vertical numa sociedade

que presenciou o início da cultura de massa e, ainda hoje, pode causar espanto e reflexão. Escrito no período final da vida de Wigman (1963), documenta, fixando para a posteridade, seus longos anos de dedicação, alegrias e dificuldades, no universo da dança. Como é curioso constatar aí, por exemplo, o impulso original de cada coreografia até o resultado final e sua recepção pelo público! Suas contribuições, em especial para o estudo da composição coreográfica, apontaram tendências de vanguarda que buscam ser reavaliadas aqui pelo contato com a obra na sua atualidade. Pois, quanto sua leitura não pode ainda fomentar ideias e criações nas novas gerações? Nesta tradução, foi usada a edição de 1986 da editora Battenberg de Munique.

Se traduzir é recriar o imaginário do autor numa outra língua e cultura, o estudo sensível da obra surge como estratégia paralela valiosa para resguardar sua força efetiva. A tradução do texto enquanto signo poético não é só intermediação de informação. Ela exige fidelidade, mas também fluência. O rigor à letra não deve comprometer o espírito original. Daí o domínio do objeto, sem juízo de valor que o reinterprete fora do contexto. Sim, o texto não é um único texto. Na leitura, o tradutor oferece sua própria experiência. O caso, no entanto, exige cuidados extras. Primeiro, se trata de uma artista já falecida e que não pude ver em cena. Além disso, a natureza técnica da reflexão sobre atuar, criar e ensinar dança me levou a propor apropriações cênicas enquanto exercícios de hermenêutica. O livro está colado

à prática. Seu conceito-chave, a linguagem da dança, e suas implicações em Wigman é complementado pela reprodução e observação empírica, como pesquisador-participante. É deste modo que espero compreender melhor sua operação aqui de fazer transpor um signo cênico para o verbal.

Essa tradução deve representar uma fonte para novas pesquisas. Durante sua realização, me ative ao seu valor (ou validade) e permanência (ou durabilidade), esperando atingir um maior número de artistas, estudantes, professores, pesquisadores e outros profissionais da área, sem comprometer o texto original. Traduções envelhecem. Para isso, foi preciso primeiro entender a reelaboração discursiva da linguagem corporal de Wigman. Além de dados históricos, que aparecem sobretudo nos capítulos dedicados às suas coreografias, foi dada especial atenção a trechos de compreensão mais difícil, que requerem um conhecimento das exigências dos ensaios e recursos de criação, de modo a visualizar a dança. Para descrever com mais precisão suas movimentações, Wigman se utiliza muitas vezes de verbos ou locuções preposicionadas (nem sempre encontradas no dicionário). Além disso, noto o uso frequente de substantivos e adjetivos compostos e/ou abstratos, sentenças longas e separadas

apenas por vírgulas ou travessões, e a inversão na ordem direta das orações. Um exemplo é o termo Aussage, que foi traduzido ora por mensagem, expressão, conteúdo ou mesmo forma.

Tais características do alemão levam, na tradução para o português, ainda a uma atenção com a manutenção da fluência, sem comprometer a clareza e estilo originais. Aproveito para destacar a subjetividade de muitas experiências e pensamentos expressos no livro; cabe, assim, também a atenção à sonoridade nas reiterações e atualidade do sentido das palavras na nossa língua, bem como seu uso no meio da dança. Com isso, busquei resguardar imagens e impressões evocadas no texto, sem me desapegar da realidade do seu fazer artístico. Ainda evitei, na medida do possível, modificar a ordem direta das orações, o uso de substantivos abstratos e compostos, e excessivas reiterações – dadas as próprias diferenças do alemão e português. Além da tradução em inglês, também recorri às vezes a termos e expressões atualizadas, usadas no nosso meio da dança hoje, sem deturpar o sentido original alemão. Com isso, me esforcei para que a tradução não envelheça tão depressa, mas seja útil a um maior número de pessoas.

Em O ator contemporâneo, discuto junto com Armando Silva o papel do talento. Nos referindo ao personagem de Shakespeare, dizemos: “Hamlet, que transpôs a capacidade de mobilização do ator para seus próprios dilemas, não soube lidar com a decisão de vingar a morte do rei seu pai. Pois a arte de bem-viver, que depende das nossas escolhas, é muito mais do que conhecimento adquirido” (BRUCK; SILVA, 2010: 145). Sobre termos importantes no livro, lembro que Wigman discute o talento como algo que não se adquire, mas se possui por si mesmo.

Já no segundo capítulo do livro, Wigman discute a linguagem da dança a partir de três elementos essenciais: tempo, espaço e energia. Assim, a dança não é mera visualidade nem só esforço físico e virtuosismo corporal. O movimento cênico ou gesto do intérprete está preenchido por um conteúdo interior ou pensamento. São ambos, conjuntamente, que dão a força da imagem do palco. E como ferramentas mediadoras que potencializam gesto e pensamento, a dançarina usa por exemplo a experiência e sensação. Para ela ainda, aqueles três elementos essenciais transcendem na dança seu sentido usual, equivalendo a um meio- caminho entre gesto e pensamento. A energia não é só uma força que produz o movimento, mas também calor e sintonia entre os intérpretes. Energia é a tradução que escolhi para Kraft, uma palavra de uso extenso no alemão. Então, a energia é o elemento detonador da vida, como já aparece na cena de Fausto de Goethe, onde este busca traduzir o Velho testamento. O livro ainda mostra em muitos momentos como dar forma em dança para ideias e sentimentos precisos. Finalmente, a noção “Eros pedagógico” também encontra usos hoje, como em Anne

A LINGUAGEM DA DANÇA Conteúdo

O segredo da dança

Linguagem da dança Formas da dança

Também como arte aplicada a dança cumpre sua função Figura de cerimônia Monotonia em giro Dança da bruxa Paisagem oscilante Clamor Face da noite Pastoral Ritmo de festa Dança de verão Canto da tempestade Canção seráfica Sacrifício Canção do destino Danças de outono Dança de Niobe Adeus e obrigado

Dança de grupo e dança coral

O segredo da dança

Meus amigos gostariam que eu escrevesse um livro. Eles dizem que seria o “livro da minha vida”. O que devo contar? Minha vida? A vida plenamente vivida é algo redondo. É melhor deixá-la seguir e se completar, em vez de desmontá-la em vários pedaços como um bolo de aniversário.

Hoje, sou uma mulher velha e, tirando as dores do corpo que sobrecarregam a vida diária, uma velha feliz. E esse é o tempo das “pequenas” alegrias. É doce sentar na escrivaninha, quieta e reconciliada, e deixar os pensamentos correrem livremente, resvalando em sonhos. Os seguindo longe até aí, como quem observa uma ponta de fumaça de cigarro meio azulada. E não mais.

De repente, penso em Marcel Marceau, naquele seu estudo maravilhoso em que mostra diante de nós a vida humana em apenas um minuto, nas suas fases de mudança: a juventude, maturidade, velhice e morte. Experimentei todas elas, as estações da vida, e agora caminho para aquela onde no fim está a morte, como grande conclusão da vida. Não tenho medo dela. Porque sempre que a encontrei com sua grandeza imperiosa ou ameaça sombria e impaciente, estava sempre acompanhada pela magnitude do mais além e a majestade daquelas imensidões silenciosas, que nos fazem curvar; mesmo quando à sua mercê dilacerados de dor. Talvez tenha medo do que possa vir antes da morte, da doença e de ficar muito doente e ser um fardo para as outras pessoas. Mas isso também temos de suportar, como tivemos de suportar tantas coisas na vida, que sem dúvida não foram menos difíceis e, contudo, as superamos. Mas dessa última vez com a consciência reparadora de não ter finalmente de começar tudo de novo.

Deus sabe, era bom esse ter sempre e poder recomeçar. Espero não sentir falta de nada que me foi tirado ou dado. Mesmo os erros que cometi não posso lamentar. Porque a vida sempre apresenta a conta no final. E a gente tem de pagá-la toda. Não, eu não tenho medo da morte. Ela não é a companhia mais fiel da velhice e sua hora a purificação final, que temos de passar?

Olho no espelho. Ele mostra o rosto da minha idade, cheio de rugas e marcas, sulcado, gasto e confiável como uma paisagem, onde se reconhece a si mesmo e não se pergunta mais se lhe agrada ou não. Toda experiência deixou para trás seu rastro. O presente sempre recobriu a impressão anterior, camada sobre camada, e pôs tudo no seu lugar. É estranho pensar que mesmo meu rosto agora ainda vai mudar mais uma vez. E se viver até lá, como será o rosto de uma mulher muito velha? Enfim, estou aqui sentada na minha escrivaninha, tentando decidir o que mesmo devo contar. Viver e experimentar acontece só

uma vez. Olhar para trás para o passado, trazê-lo de volta na lembrança é olhá-lo através do espelho do presente e o reconhecer a partir daí. Sempre fui uma fanática pelo presente e apaixonada pelo momento. Por isso não é nada fácil para mim evocar o caminho da memória das imagens, visões e acontecimentos da minha vida.

Meus amigos, devo lhes contar a história do “patinho feio”, que milagrosamente virou um cisne? Porque ninguém podia imaginar que aquela menininha sem graça iria virar um dia uma bailarina famosa no mundo todo. O que mais parece mesmo uma metamorfose, quase um milagre. Mas para mim esse amadurecimento não teve nada de milagroso. Para isso levou muito tempo, foi muito difícil, mas também muito consistente apesar de todos os desvios. É claro, eu adoro contar histórias. E poderia muito bem imaginar, quando me vem aqui na escrivaninha imagem depois de imagem, as memórias tão divertidas e coloridas que iriam surgir daí. Mas essa é minha tarefa?

Não sou nenhuma escritora e não saberia nunca concentrar personagens e situações num enredo criado livremente e que merecesse um reconhecimento literário. No fundo, teve sempre só um tema em torno do qual meus pensamentos rodaram, como moscas em volta da luz: a dança.

Pois a dança, sempre e mais a dança foi o meio de expressão que me foi dado. Aqui pude inventar e criar. Aqui fiz poesia, dei forma e feição para minhas visões, moldei e construí; e trabalhei duro junto ao homem, com ele e para ele. Talvez eu ame a dança tanto assim porque amo a vida: por causa da sua transformação e transitoriedade, sendo sempre capturada de novo pelo seu “morre e se transforma” incansável. Encarar a vida tal como nos aparece, aceitá-la mesmo quando parece insuportável, permanecer fiel a si mesmo e ajudar, sob a “lei que nos criou”, que as mudanças predestinadas no tempo, espaço e forma se realizem em nós – não é esse o amadurecimento que temos de seguir? Viver a vida e afirmá-la no ato criativo de dar forma, elevá-la, glorificá-la? É sobre isso que quero escrever. Para vocês meus amigos, meus alunos e os que virão depois de mim; e para todos vocês que amam a dança. E mesmo se sua mensagem, na singularidade da sua forma (que é revelação), não quer se deixar prender pela fala ou escrita – porque não precisa delas! -, mesmo assim pode-se passar algo daquela felicidade pura e profunda, com que o homem é abençoado, quando em momentos de total plenitude amplia e molda seu campo de experiência. Do mesmo modo que tentei toda minha vida unir a pessoa e a obra, também procurei abrir caminho aos meus alunos para eles próprios e trazê-los até o ponto onde conhecimento e intuição viram uma coisa só e a experiência e criatividade se interpenetram. E quando agora tento descrever algumas das etapas mais importantes do meu trabalho, não é para ser nenhuma cartilha. Mas talvez tenha

algo a dizer para um e outro, ajudando a conhecer mais o significado da dança. Seu segredo? Está escondido no sopro da vida, que é também o segredo da vida.

A linguagem da dança17

A dança é uma linguagem viva que é falada pelo homem e diz respeito a ele: uma expressão artística que paira acima do plano da realidade, para falar num nível mais alto, em imagens e alegorias, das emoções mais interiores do homem e necessidade de comunicar. Talvez mesmo a dança peça, acima de tudo, uma comunicação direta sem qualquer rodeio. Porque seu emissor e intermediário é o próprio homem e seu instrumento de expressão é o corpo humano, cujo movimento natural constitui o material da dança: o único material que é seu próprio e do qual dispõe. É por isso também que a dança e sua expressão são tão exclusivamente ligadas ao homem e sua capacidade de se mover com o corpo. Quando essa capacidade não existe mais, a dança se depara com os limites das suas possibilidades criativa e de execução.

Parece pouco! Mas nesse pouco se assenta toda riqueza da sua linguagem, em todas suas manifestações variadas e que sempre podem mudar de novo. É certo que só o movimento do corpo não é ainda dança. Mas é sua base elementar e indiscutível, sem a qual ela não existiria. Quando a emoção de quem dança libera o impulso para tornar visíveis suas imagens até então invisíveis, é pelo movimento do corpo, num primeiro momento, que estas se manifestam. E com o movimento, o gesto projetado no espaço ganha sopro de vida na sua força rítmica pulsante.

Tal movimento dá sentido e significado para a linguagem gestual, formada e estruturada artisticamente. Pois a dança só se torna inteligível quando respeita e preserva seu significado em relação à expressão natural do movimento humano. Além da interpretação pessoal, que sublinha o gestual do bailarino, está a responsabilidade e obrigação quanto ao seu significado universal, ultrapessoal, que ele não pode mudar à força nem substituir arbitrariamente, sem pôr em grande risco a validade geral da sua mensagem. Assim, não posso dizer “céu” se quero me referir à terra.

Como a música, a dança também é chamada uma “arte temporal”. Isso é verdade quando nos referimos às passagens rítmicas mensuráveis, contáveis e que podem ser controladas no tempo. Mas não é tudo! E não seria mais do que teoria caduca querer determinar o ritmo da dança só pelo fator do tempo.

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É verdade, a contagem para nós bailarinos se escreve com letra maiúscula. Nós precisamos dela especialmente para coreografar, durante o processo de criação e ensaio de coreografias de grupo ou balés. Precisamos dela como recurso para dar conta da estrutura das duas linguagens artísticas em cooperação aqui, dança e música, e assim equalizá-las uma à outra no seu decurso temporal, as unindo numa compreensão harmônica. Precisamos dela para definir a pulsação, clarear as transições de um tema para outro, para dar os acentos necessários e futuros com precisão e pausas no movimento e respiração. Se conta para tudo! Os músicos contam e os bailarinos contam. E muitas vezes eles divergem na contagem, porque os músicos contam segundo a linha musical, enquanto os bailarinos contam a partir do ritmo do movimento corporal.

Como o tempo, senão ainda mais incisivo, o elemento da energia também tem seu papel na dança: o se mover e ser movido dinâmico, em que pulsa a vida da dança. Também poderia chamá-la da respiração viva de dançar. Porque ela é o grande senhor misterioso, que opera, desconhecido e sem nome, por trás e em tudo: que comanda silencioso a função dos músculos e articulações; que sabe como animar e relaxar, excitar e reprimir; que estabelece as quebras na estrutura rítmica e domina o fraseado das passagens de movimento fluente; e que, além de tudo, regula as “têmperas” da expressão na mudança variada do seu colorido rítmico e melódico. Claro, isso não tem nada a ver com um modo de respirar que promova a saúde. O bailarino deve conseguir respirar em todas suas posições e situações corporais. E nisso, quase esquece a respiração orgânica; porque está sob a lei da sua força respiratória, dinâmica e propulsora, que se revela numa intensidade própria ao seu nível de tensão. Quando o bailarino cruza o espaço em passos solenes e medidos, sua respiração calma e profunda dá ao seu balanço e movimentação uma sensação de total autocontrole e plenitude. Já quando se põe, com a ajuda de um movimento ágil e sem pausa, baixando e levantando num estado de excitação febril que toma conta não só do seu corpo mas de todo ser, não tem mais para ele nenhum momento de respiração calma. Antes, ele respira na mesma vibração que o agita como todo.

Em quase nenhum outro passo de dança, a força da respiração dinâmica e seu efeito (que intensifica a ação) podem ser tão sentidos como no salto. Quando o bailarino começa a pular, ele aciona rapidamente o fluxo da sua respiração de baixo para cima, subindo pelos pés através do corpo, para então prender o ar, do momento que deixa o chão até atingir o ponto mais alto do seu pulo e quase ultrapassá-lo. Nesses breves segundos de máximo empenho, retendo o ar, ele realmente desafia a gravidade, vira um ser alado e parece voar ou flutuar no espaço. Só na curva de descida, sua respiração volta a circular no corpo, que então

relaxa e volta para o chão depois do seu pequeno voo ao alto.

Tempo, energia e espaço: esses elementos são a vida da dança. Mas desse trio de forças elementares, é o espaço o verdadeiro campo de atividade do bailarino, que lhe pertence porque ele que o cria. Não o espaço tangível, limitado e limitante da realidade concreta, mas o espaço imaginário e irracional da expansão na dança, que pode apagar os limites da corporalidade e dá ao gesto assim fluido uma aparência infinita, onde este se amplia como raios, torrente, respiro. Altura e profundidade, comprimento e largura, para frente, para o lado e para trás, a horizontal e a diagonal: esses não são só termos técnicos ou noções meramente teóricas para o bailarino. Ele os experimenta mesmo no próprio corpo. E eles viram sua experiência, porque através deles ele celebra sua união com o espaço. Só nessa irradiação espacial, a dança chega ao seu resultado final e decisivo. Só então seus signos fugidios são condensados numa escrita especular legível e durável, onde o conteúdo da dança vira aquilo que deveria e tem de ser: linguagem, a linguagem artística e viva da dança.

E agora vamos abaixar um pouco a voz e ser cautelosos! Porque queremos entrar no campo da criatividade, o lugar onde a forma escondida e a forma procurada se circundam silenciosamente, se entrelaçam e esperam numa penumbra de sonho pela luz que chega para dar cor e contorno e torná-las uma “imagem” clara. Quem tivesse pressa em penetrar aqui com a lanterna ofuscante da curiosidade, não encontraria nada além de um torvelinho nebuloso. Porque esse lugar não admite intervenção direta. Ele não responde a exigências concretas. Não sabe nada ainda de estrutura, nem conhece nome ou número. Não se submete a nada nem obedece a nenhum comando. É o lugar da prontidão criativa e um santuário. Por isso vamos abaixar a voz e ouvir o bater e palpitar do próprio coração, o murmúrio e sussurro do próprio sangue, que é o som desse lugar. Ele quer virar canção! Mas suas asas ainda estão presas, ainda lhe falta força para desamarrá-las, levantar voo e se expressar. Então ele se afunda no abismo do anoitecer, se abastece das suas forças e volta, cheio de sonho e imagem, num nível onde pode ser compreendido e estruturado.

A capacidade criativa faz parte tanto da esfera da realidade como do campo da fantasia. E têm sempre duas correntes, dois círculos de tensão, que se atraem magneticamente, incendeiam um ao outro e se unem, até que completamente de acordo se interpenetram inteiramente: a prontidão criativa que evoca a imagem e o desejo de agir vibrando até um ponto de obsessão, que se apodera da imagem e transforma sua matéria ainda tão fugaz em substância de trabalho maleável - para lhe dar forma final no cadinho de moldagem.

Compor quer dizer construir. A obra de arte não cai pronta no colo do artista, nem a ideia aparece assim no sonho. O tema para uma dança pode ocorrer ao bailarino tanto no

tumulto da rua como sob a amplidão do céu. A ideia, mesmo na sua concepção, é um presente! Mas a obra de arte é criação, é o fazer artístico pelo qual seu criador tanto é

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