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A trag´edia dos comuns

O termo “A Trag´edia dos Comuns” vem de uma par´abola pu- blicada pelo economista pol´ıtico William Forster Lloyd em seu livro

Two Lectures on the Checks to Population de 1833, que depois foi po- pularizada e estendida por Garret Hardin no seu artigo The Tragedy of the Commons publicado na revista Science em 1968 ([38]).

A palavra “trag´edia” tem o significado dado por Alfred North Whitehead em seu livro Science and The Modern World : “The es- sence of dramatic tragedy is not unhappiness. It resides in the solem- nity of the remorseless working of things.”. J´a a palavra “comuns” designa uma ´area de pastagem coletiva, sem dono e sem qualquer regulamenta¸c˜ao, usada por pastores na Idade M´edia, que cuidavam do rebanho de ovelhas para obter a l˜a que vendiam para a confec¸c˜ao de roupas.

Com o crescimento do n´umero de fam´ılias de camponeses ao longo do tempo, ocorreu um aumento do n´umero de ovelhas necess´arias para o sustento de cada fam´ılia. Como a ´area de pastagem era de uso comum, nenhuma fam´ılia tinha incentivo para controlar o n´umero de ovelhas de seu rebanho pois, se o fizesse, outras fam´ılias usariam as pastagens de qualquer forma. Com uma superpopula¸c˜ao de ovelhas, a terra que antes era f´ertil, come¸cou a se exaurir. A redu¸c˜ao da ´area de pastagem afetou tanto o rebanho quanto a ind´ustria local de roupas. A par´abola mostra, ent˜ao, que a imprudˆencia em administrar um recurso finito do qual todos se beneficiam pode levar `a ru´ına.

Vamos usar teoria dos jogos para modelar uma vers˜ao ingˆenua da trag´edia dos comuns. Considere uma aldeia com n pastores e seja oi

o n´umero de ovelhas do i-´esimo pastor, de modo que o n´umero total de ovelhas da aldeia ´e o = o1+· · · + on. O custo de compra de uma

ovelha ´e c, independentemente do n´umero de ovelhas que o pastor j´a possui. O benef´ıcio de um pastor em deixar uma ovelha pastando ´e v(o) por ovelha. Como o campo de pastagem ´e um recurso finito, existe um n´umero m´aximo o de ovelhas que ele pode suportar. As- sim, v(o) > 0 se o < o e v(o) = 0 se o≥ o. Naturalmente, v ´e uma fun¸c˜ao decrescente, pois quanto mais ovelhas no pasto, menor ser´a a ´area ´util de pastagem para a pr´oxima ovelha. Mais ainda: se existem poucas ovelhas pastando, colocar uma a mais para pastar n˜ao vai afetar muito as ovelhas que j´a est˜ao pastando mas, por outro lado, se existem muitas ovelhas no pasto, digamos, quase que completando a cota m´axima o, o acr´escimo de uma ovelha prejudica mais acentua- damente a pastagem das demais ovelhas. Admitindo que as ovelhas sejam infinitamente divis´ıveis, estas condi¸c˜oes podem ser modeladas

exigindo-se que v′

≤ 0 e v′′< 0. Desta maneira, v tem um gr´afico tal

como o apresentado na Figura 6.4.

0 o o

v v

Figura 6.4: Gr´afico da fun¸c˜ao v.

Neste jogo, a estrat´egia do pastor i ´e a escolha da quantidade de ovelhas que ele deixar´a no pasto. Podemos ent˜ao considerar que o conjunto de estrat´egias puras do pastor i ´e Si = [0, o). Sua fun¸c˜ao

utilidade ´e dada por

ui(o1, . . . , oi, . . . , on) = oi· v(o1+· · · + oi+· · · + on)− c · oi.

Suponha que c < v = v(0). Vamos caracterizar os equil´ıbrios de Nash o∗ = (o

1, . . . , o∗n) tais que

n

j=1o∗j < o. Para isto, usaremos

as seguintes nota¸c˜oes: σ∗ = n

j=1o∗j e σ∗−i = σ∗− o∗i. Note que a

fun¸c˜ao oi µi −→ ui(oi, o∗−i) = oi· v  oi− σ−i∗  − c · oi

tem as seguintes propriedades: (1) µi´e cont´ınua,

(2) µitem a mesma classe de diferenciabilidade de v em [0, o− σ−i∗ ),

(3) µi(0) = 0, µi(o− σ−i∗ ) < 0, µi(oi)≤ 0 para oi≥ o − σ−i∗ ,

(4) µ′

i(0) = v(0)− c > 0, logo µi´e crescente e, portanto, positiva, em

(5) µi´e cˆoncava em



0, o− σ∗ −i .

Logo, a fun¸c˜ao de melhor resposta do pastor i est´a bem definida: MRi(o∗) = argmaxoi∈(0,o−σ−i∗ )



oi· voi− σ−i∗



− c · oi.

Se o∗

i ∈ MRi(o∗), ent˜ao, pela regra de Fermat, µ′i(o∗i) = 0, isto ´e,

v(o∗

i + σ∗−i) + o∗i · v′(o∗i + σ−i∗ )− c = 0.

Somando-se estas equa¸c˜oes para i = 1, . . . , n e, ent˜ao, dividindo-se por n, obtemos que σ∗ deve satisfazer a seguinte equa¸c˜ao:

v(σ∗) +1 n· σ

· v′) = 0. (6.2)

Por outro lado, se o objetivo ´e maximizar a utilidade coletiva, isto ´e, a soma das fun¸c˜oes utilidades individuais, ent˜ao devemos resolver o seguinte problema de otimiza¸c˜ao:

max

o∈(0,o)(o· v(o) − c · o) .

Usando novamente a regra de Fermat, conclu´ımos que uma solu¸c˜ao σ•

deste problema de otimiza¸c˜ao deve resolver a seguinte equa¸c˜ao: v(σ•) + σ

· v′) = 0. (6.3)

Observe que σ∗ > σ. Com efeito: se, por absurdo, σ≤ σ, ent˜ao

v(σ∗)≥ v(σ), j´a que v ´e decrescente. Mas vtamb´em ´e decrescente,

j´a que v′′ < 0. Desta maneira, 0 > v) ≥ v). Como 0 <

σ∗/n < σ∗ ≤ σ•, segue-se que σ∗ n · v ′) ≥σ ∗ n · v ′) > σ• · v′) e, portanto, 0 = v(σ∗) +σ∗ n · v ′) > v(σ) + σ• · v′) = 0,

uma contradi¸c˜ao. Vemos ent˜ao que o equil´ıbrio de Nash o∗ coloca

mais ovelhas no pasto do que o n´umero de ovelhas sugerido pelo equil´ıbrio coletivo o•. Isto acontece porque cada pastor considera

apenas o seu pr´oprio benef´ıcio e n˜ao o efeito de suas a¸c˜oes sobre os outros pastores.

Convexidade

Neste apˆendice apresentaremos as defini¸c˜oes e propriedades b´a- sicas de fun¸c˜oes convexas necess´arias no texto. As demonstra¸c˜oes omitidas podem ser encontradas em [42].

Defini¸c˜ao A.1 (Conjuntos convexos) Dizemos que U ⊂ Rn ´e um conjunto convexo se, e somente se, para todo p, q∈ U

tem-se

(1− t) · p + t · q ∈ U,

para todo t∈ [0, 1], isto ´e, se o segmento de reta que une dois pontos quaisquer de U est´a sempre contido em U .

Teorema A.1 Seja {Uξ}ξ∈Ξ uma fam´ılia de conjuntos conve-

xos em Rn Ent˜ao



ξ∈Ξ

tamb´em ´e um conjunto convexo em Rn.

(a) (b)

Figura A.1: O conjunto da esquerda ´e convexo enquanto que o da direita n˜ao o ´e.

Defini¸c˜ao A.2 (Semiplanos e Semi-Espa¸cos) Seja a um vetor n˜ao-nulo em Rn e seja c um n´umero real. Os conjuntos

H+={x ∈ Rn | ax ≥ c} e H−={x ∈ Rn | ax ≤ c}

s˜ao denominados, respectivamente, semi-espa¸cos fechados cor- respondentes ao semiplano H ={x ∈ Rn | ax = c}.

Por linearidade, segue-se que semiplanos e semi-espa¸cos s˜ao con- juntos convexos.

Defini¸c˜ao A.3 (Politopos e Poliedros) Um politopo ´e um conjunto que pode ser expresso como a interse¸c˜ao de um n´umero finito de semi-espa¸cos fechados. Um poliedro ´e um politopo limitado.

Note que politopos e poliedros s˜ao conjuntos convexos, como in- terse¸c˜ao de conjuntos convexos.

Defini¸c˜ao A.4 (Combinac¸˜ao convexa) Sejam x1, . . . , xk∈

Rne λ

1, . . . , λkn´umeros reais≥ 0 tais que ni=1λi= 1. A com-

bina¸c˜ao convexa de x1, . . . , xk com pesos λ1, . . . , λk ´e o ponto

(a) (b)

Figura A.2: O conjunto de todas as combina¸c˜oes convexas de (a) dois pontos distintos ´e um segmento de reta que liga os dois pontos e de (b) trˆes pontos n˜ao-colineares ´e um triˆangulo (lados e interior) com v´ertices nos trˆes pontos.

Teorema A.2 Um subconjunto U de Rn ´e convexo se, e so-

mente se, toda combina¸c˜ao convexa de pontos de U pertence a U .

Defini¸c˜ao A.5 (Func¸˜oes convexas e cˆoncavas) (a) Dizemos que uma fun¸c˜ao f : U ⊂ Rn

→ R definida em um subconjunto convexo U de Rn ´e convexa se, e somente se,

f ((1− t) · p + t · q) ≤ (1 − t) · f(p) + t · f(q), (A.1) para todo p, q∈ U e todo t ∈ [0, 1].

(b) Dizemos que uma fun¸c˜ao f : U ⊂ Rn → R definida em um

subconjunto convexo U de Rn ´e cˆoncava se, e somente se,

f ((1− t) · p + t · q) ≥ (1 − t) · f(p) + t · f(q), (A.2) para todo p, q∈ U e todo t ∈ [0, 1].

A interpreta¸c˜ao geom´etrica ´e a seguinte: para uma fun¸c˜ao convexa, o segmento de reta secante que passa pelos pontos (p, f (p)) e (q, f (q)) sempre est´a acima ou coincide com o gr´afico de f para qualquer

segmen to de r eta secant e p 0 y f (p) f (q) q x gráfico de f (1{ t) p+t q. . (1{ t) f(p)+t f(q). . f((1{ t) p +t q. . )

Figura A.3: Para uma fun¸c˜ao convexa, o segmento de reta secante fica sempre acima ou coincide com o gr´afico da fun¸c˜ao, para quaisquer escolhas de p e q.

escolha de pontos p e q em U (veja a Figura A.3). J´a para uma fun¸c˜ao cˆoncava, o segmento de reta secante que passa pelos pontos (p, f (p)) e (q, f (q)) sempre est´a abaixo ou coincide com o gr´afico de f para qualquer escolha de pontos p e q em U . Note que f ´e cˆoncava se, e somente se, −f ´e convexa.

O pr´oximo teorema estabelece o motivo de convexidade ser uma pro- priedade t˜ao desej´avel em otimiza¸c˜ao.

Teorema A.3

(a) Se f : U⊂ Rn→ R ´e convexa, ent˜ao todo ponto de m´ınimo

local de f em U tamb´em ´e ponto de m´ınimo global de f em U .

(b) Se f : U⊂ Rn

→ R ´e cˆoncava, ent˜ao todo ponto de m´aximo local de f em U tamb´em ´e ponto de m´aximo global de f em U .

Teorema A.4 Seja f : U ⊂ Rn

→ R uma fun¸c˜ao de classe C1

definida em um subconjunto convexo U de Rn.

(a) f ´e uma fun¸c˜ao convexa em U se, e somente se,

f (q)≥ f(p) + ∇f(p) · (q − p), (A.3) para todo p, q∈ U, isto ´e, se, e somente se, cada hiperplano tangente ao gr´afico de f est´a sempre abaixo ou coincide com o gr´afico de f .

(b) f ´e uma fun¸c˜ao cˆoncava em U se, e somente se,

f (q)≤ f(p) + ∇f(p) · (q − p), (A.4) para todo p, q∈ U, isto ´e, se, e somente se, cada hiperplano tangente ao gr´afico de f est´a sempre acima ou coincide com o gr´afico de f .

Aqui∇f(p) denota o vetor gradiente de f em p.

0 y

x gráfico de f

Figura A.4: Para uma fun¸c˜ao convexa, cada hiperplano tangente ao gr´afico de f est´a sempre abaixo do gr´afico de f .

Defini¸c˜ao A.6 (Func¸˜oes quase-convexas e quase-cˆon- cavas)

(a) Dizemos que uma fun¸c˜ao f : U ⊂ Rn

→ R definida em um subconjunto convexo U de Rn´e quase-convexa se, e somente

se,

{x ∈ U | f(x) ≤ c} ´e um conjunto convexo para todo c∈ R.

(b) Dizemos que uma fun¸c˜ao f : U ⊂ Rn → R definida em um

subconjunto convexo U de Rn´e quase-cˆoncavo se, e somente

se,

{x ∈ U | f(x) ≥ c} ´e um conjunto convexo para todo c∈ R.

Note que f ´e quase-cˆoncava se, e somente se, −f ´e quase-convexa. Toda fun¸c˜ao convexa ´e quase-convexa e toda fun¸c˜ao cˆoncava ´e quase- cˆoncava. Existem fun¸c˜oes quase-convexas que n˜ao s˜ao convexas. Por exemplo, a fun¸c˜ao f : R→ R definida por y = f(x) = √3

x2 ´e quase-

convexa, mas n˜ao ´e convexa.

0 x

y

Figura A.5: y = f (x) = √3x2 ´e quase-convexa, mas n˜ao ´e convexa

Toda fun¸c˜ao f : R → R mon´otona ´e quase-convexa e quase-cˆoncava. A fun¸c˜ao y = f (x) =⌊x⌋ que leva x ∈ R no maior inteiro menor do que ou igual a x ´e fun¸c˜ao quase-convexa que n˜ao ´e cont´ınua. A fun¸c˜ao da Figura A.6 ´e um exemplo de fun¸c˜ao que n˜ao ´e quase-convexa.

Teorema A.5 Seja f : U ⊂ Rn → R uma fun¸c˜ao definida em

um subconjunto convexo U de Rn.

(a) As seguintes condi¸c˜oes s˜ao equivalentes: (1) f ´e uma fun¸c˜ao quase-convexa em U .

(2) ∀x1, x2∈ U, ∀t ∈ [0, 1], se f(x1)≤ f(x2), ent˜ao

f (t· x1+ (1− t) · x2)≤ f(x2).

(3) ∀x1, x2∈ U, ∀t ∈ [0, 1],

f (t· x1+ (1− t) · x2)≤ max{f(x1), f (x2)}.

(b) As seguintes condi¸c˜oes s˜ao equivalentes: (1) f ´e uma fun¸c˜ao quase-cˆoncava em U .

(2) ∀x1, x2∈ U, ∀t ∈ [0, 1], se f(x1)≥ f(x2), ent˜ao

f (t· x1+ (1− t) · x2)≥ f(x2).

(3) ∀x1, x2∈ U, ∀t ∈ [0, 1],

f (t· x1+ (1− t) · x2)≥ min{f(x1), f (x2)}.

Teorema A.6 Seja f : U ⊂ Rn → R uma fun¸c˜ao de classe C1

definida em um subconjunto convexo U de Rn.

(a) f ´e quase-convexa em U se, e somente se,

0 x y

c

Figura A.6: Um exemplo de fun¸c˜ao que n˜ao ´e quase-convexa.

(b) f ´e quase-cˆoncava em U se, e somente se,

Programa¸c˜ao Linear

Neste apˆendice apresentaremos as defini¸c˜oes e propriedades b´a- sicas da teoria de programa¸c˜ao linear necess´arias no texto. Para detalhes, demonstra¸c˜oes e extens˜oes, recomendamos os excelentes li- vros [14, 52].

Um programa linear ´e um problema de otimiza¸c˜ao onde a fun¸c˜ao que queremos otimizar e as restri¸c˜oes s˜ao todas lineares. Por exemplo,

minimizar x1,x2∈R x1+ x2 sujeito a 3 x1+ 2 x2≥ 8, x1+ 5 x2≥ 7, x1≥ 0, x2≥ 0, (B.1)

´e um programa linear. Para resolvˆe-lo, precisamos encontrar um ponto (x1, x2) do conjunto admiss´ıvel

K ={(x1, x2)∈ R2 | 3 x1+ 2 x2≥ 8, x1+ 5 x2≥ 7, x1≥ 0, x2≥ 0}

que torna o valor da fun¸c˜ao objetivo o(x1, x2) = x1+ x2 o menor

poss´ıvel. O conjunto K est´a desenhado na Figura B.1. Por inspe¸c˜ao, vemos que a solu¸c˜ao ´otima ´e dada por (x∗

1, x∗2) = (2, 1). Este ponto ´e

a interse¸c˜ao da curva de n´ıvel f (x1, x2) = x1+ x2= c “mais baixa”

que intercepta o conjunto admiss´ıvel.

x1 x2 4 3 1 7 2 0 3

Figura B.1: O conjunto admiss´ıvel do programa linear B.1.

Dizemos que um programa linear est´a na forma padr˜ao se todas as vari´aveis de decis˜ao s˜ao n˜ao-negativas e se todas as restri¸c˜oes s˜ao em igualdade: minimizar x1,...,xn ∈ R c1x1+· · · + cnxn sujeito a a11x1 + · · · + a1nxn = b1, .. . ... ... ... ... am1x1 + · · · + amnxn = bm, e x1≥ 0, . . . , xn≥ 0.

Todo programa linear pode ser reescrito na forma padr˜ao com o uso de vari´aveis de folga. Por exemplo, uma restri¸c˜ao da forma

ai1x1+· · · + ainxn≥ bi

pode ser substitu´ıda, de maneira equivalente, pelas restri¸c˜oes ai1x1+· · · + ainxn− yi= bi e yi≥ 0.

Se uma vari´avel de decis˜ao xipode assumir qualquer valor real, isto ´e,

substituir xi por ui− vi, a diferen¸ca de dois n´umeros positivos. Se

colocarmos o programa linear B.1 na forma padr˜ao, obtemos o se- guinte PL: minimizar x1,x2,y1,y2∈R x1+ x2 sujeito a 3 x1+ 2 x2− y1= 8, x1+ 5 x2− y2= 7, x1≥ 0, x2≥ 0, y1≥ 0, y2≥ 0. (B.2)

Um programa linear pode ser escrito de forma mais compacta usando-se matrizes e vetores:

minimizar x∈Rn c Tx sujeito a Ax = b e x≥ 0, (B.3) onde x ∈ Rn, c ∈ Rn, b

∈ Rm e A ´e uma matriz m

× n. Note que o conjunto admiss´ıvel K = {x ∈ Rn

| Ax = b e x ≥ 0} de um programa linear, quando n˜ao-vazio, ´e um politopo convexo, e que as hipersuperf´ıcies de n´ıvel da fun¸c˜ao objetivo s˜ao hiperplanos.

Problemas de maximiza¸c˜ao podem ser transformados em proble- mas de minimiza¸c˜ao substituindo-se a fun¸c˜ao objetivo o por−o. Mais precisamente, x∗´e uma solu¸c˜ao ´otima de

maximizar

x∈Rn c

Tx

sujeito a Ax = b e x≥ 0, se, e somente se, x∗ tamb´em ´e solu¸c˜ao de

minimizar

x∈Rn −c

Tx

sujeito a Ax = b e x≥ 0.

Na teoria de programa¸c˜ao linear, assume-se que m < n (existem mais inc´ognitas do que restri¸c˜oes em igualdade) e que o posto da matriz A ´e m, isto ´e, as m linhas de A s˜ao linearmente independentes.

Da teoria de ´Algebra Linear sabemos, ent˜ao, que existem m colunas de A que s˜ao linearmente independentes. Renomeando-se ´ındices se necess´ario, podemos assumir que estas colunas sejam as m primeiras. Isto induz uma decomposi¸c˜ao de A e de x:

A = B C , x = ' xB xC ( ,

onde B ´e uma matriz m×m invers´ıvel. Como o sistema linear Ax = b ´e equivalente a BxB+ CxC = b, segue-se ent˜ao que existe uma

solu¸c˜ao x de Ax = b na forma ' xB 0 ( .

Esta solu¸c˜ao ´e denominada solu¸c˜ao b´asica do sistema linear Ax = b associada `a base B. As componentes de xB s˜ao denominadas

vari´aveis b´asicas.

Teorema B.1 (Teorema Fundamental da Programa¸c˜ao Linear) Considere um programa linear na forma padr˜ao B.3, com A matriz m× n de posto m.

(a) Se o programa linear possui um ponto admiss´ıvel, ent˜ao ele possui um ponto admiss´ıvel que ´e uma solu¸c˜ao b´asica do sistema linear Ax = b.

(b) Se o programa linear possui um ponto ´otimo, ent˜ao ele pos- sui um ponto ´otimo que ´e uma solu¸c˜ao b´asica do sistema linear Ax = b.

O pr´oximo teorema d´a uma interpreta¸c˜ao geom´etrica para pontos admiss´ıveis que s˜ao solu¸c˜oes b´asicas: eles correspondem aos pontos extremos (v´ertices) do politopo K ={x ∈ Rn | Ax = b e x ≥ 0}.

Defini¸c˜ao B.1 (Ponto Extremo) Dizemos que um ponto x em um conjunto convexo U ´e ponto extremo de U se n˜ao existem dois outros pontos distintos x1 e x2 em U tais que x = α x1+

Na Figura B.2, x1, x2 e x3 s˜ao os ´unicos pontos extremos do

conjunto admiss´ıvel K do PL B.1. O ponto x4 n˜ao ´e um ponto

extremo de K, pois ele pode ser escrito como uma combina¸c˜ao con- vexa de x2 ∈ K e x3 ∈ K. Como x6 = α x5+ (1− α) x7 para

algum α ∈ (0, 1), vemos que o ponto x6 (no interior do conjunto

admiss´ıvel) tamb´em n˜ao ´e um ponto extremo de K.

0 x 1 x2 4 3 1 7 2 3 x2 x3 x1 x4 x5 x7 x6

Figura B.2: x1, x2 e x3 s˜ao os ´unicos pontos extremos do conjunto

admiss´ıvel do PL B.1.

Teorema B.2 (Equivalˆencia entre Pontos Extremos e Solu¸c˜oes B´asicas) Seja A uma matriz m× n de posto m, b um vetor em Rm e K = {x ∈ Rn | Ax = b e x ≥ 0} o con-

junto admiss´ıvel de B.3. Ent˜ao x ´e um ponto extremo de K se, e somente se, x ´e um ponto admiss´ıvel que ´e solu¸c˜ao b´asica de Ax = b.

Os teoremas B.1 e B.2 dizem que, para se resolver o problema B.3, n˜ao ´e preciso considerar todos os pontos do conjunto admiss´ıvel K: basta procurar pelo ponto ´otimo entre os pontos extremos (v´ertices) de K! O m´etodo simplex explora esta estrutura para construir um algoritmo muito popular para se resolver B.3. Outra categoria de m´etodos que

recentemente ganhou bastante popularidade ´e a classe dos m´etodos de ponto interior. N˜ao ´e nosso prop´osito estudar estes algoritmos aqui. O leitor interessado poder´a consultar os livros [14, 52]. O que ´e preciso se ter em mente ´e que programas lineares podem ser resolvidos numericamente de maneira muito eficiente nos dias de hoje. A seguir estabeleceremos resultados sobre dualidade, um conceito fundamental e muito ´util em programa¸c˜ao linear.

Defini¸c˜ao B.2 (O problema dual) O problema dual de

minimizar

x∈Rn c

Tx

sujeito a Ax≥ b e x ≥ 0, (B.4) ´e o programa linear

maximizar

λ∈Rm λ

Tb

sujeito a ATλ≤ c e λ ≥ 0,

(B.5)

onde λTb = mi=1λibi. B.5 ´e denominado o problema dual

de B.4. Neste contexto, B.4 ´e denominado problema primal.

Por exemplo, o problema dual do programa linear B.1 ´e

minimizar λ1,λ2∈R 8 λ1+ 7 λ2 sujeito a 3 λ1+ λ2≤ 1, 2 λ1+ 5 λ2≤ 1, λ1≥ 0, λ2≥ 0. (B.6)

O problema dual de qualquer programa linear pode ser encontrado convertendo-o para o formato B.4. Por exemplo, como Ax = b se, e somente se, Ax ≥ b e −Ax ≥ −b, o programa linear na forma padr˜ao B.3 pode ser escrito na forma do problema primal B.4 da

seguinte maneira equivalente minimizar x∈Rn c Tx sujeito a ' A −A ( x ' b −b ( e x≥ 0.

Particionando-se agora as vari´aveis duais na forma (u, v), o problema dual deste ´ultimo PL ´e

minimizar

x∈Rn u

Tb− vTb

sujeito a ATu− ATv

≤ c, u ≥ 0 e v ≥ 0.

Fazendo-se λ = u− v, o problema acima pode ser simplificado, o que nos leva ao seguinte par de problemas duais:

Par Dual B.1 (problema primal) minimizar x∈Rn c Tx sujeito a Ax = b, x≥ 0, (problema dual) maximizar λ∈Rm λ Tb sujeito a ATλ≤ c.

Outros pares de problemas duais de interesse s˜ao dados a seguir.

Par Dual B.2 (problema primal) maximizar x∈Rn c Tx sujeito a Ax = b, x≥ 0, (problema dual) minimizar λ∈Rm λ Tb sujeito a ATλ≥ c.

Par Dual B.3 (O da Defini¸c˜ao B.2) (problema primal) minimizar x∈Rn c Tx sujeito a Ax≥ b, x≥ 0, (problema dual) maximizar λ∈Rm λ Tb sujeito a ATλ≤ c, λ≥ 0. Par Dual B.4 (problema primal) maximizar y∈Rm b Ty sujeito a Ay≤ c, y≥ 0, (problema dual) minimizar x∈Rn c Tx sujeito a xTA≥ bT, x≥ 0.

Teorema B.3 (Teorema fraco de dualidade) Se x e λ s˜ao admiss´ıveis para os problemas B.3 e B.5, respectivamente, ent˜ao cTx≥ λTb.

Este teorema mostra que um ponto admiss´ıvel para um dos pro- blemas fornece uma cota para o valor da fun¸c˜ao objetivo do outro problema. Os valores associados com o problema primal s˜ao sempre maiores ou iguais aos valores associados com o problema dual. Como corol´ario, vemos que se um par de pontos admiss´ıveis pode ser encon- trado para os problemas primal e dual com valores iguais da fun¸c˜ao objetivo, ent˜ao estes pontos s˜ao ´otimos.

Teorema B.4 (Teorema forte de dualidade) Se um dos problemas B.3 ou B.5 tem uma solu¸c˜ao ´otima finita, ent˜ao o outro tamb´em ter´a uma solu¸c˜ao ´otima finita e, neste caso, os valores das respectivas fun¸c˜oes objetivo s˜ao iguais. Se a fun¸c˜ao

objetivo do problema primal n˜ao ´e limitada inferiormente, ent˜ao o conjunto admiss´ıvel do problema dual ´e vazio e, se a fun¸c˜ao do objetivo do problema dual n˜ao limitada superiormente, ent˜ao o conjunto admiss´ıvel do problema primal ´e vazio.

O conjunto admiss´ıvel do problema dual B.6 do programa linear B.1 est´a desenhado na Figura B.3. Por inspe¸c˜ao, vemos que a solu¸c˜ao ´

otima ´e dada por (λ∗

1, λ∗2) = (4/13, 1/13). Este ponto ´e a interse¸c˜ao da

curva de n´ıvel g(λ1, λ2) = 8 λ1+ 7 λ2= c “mais alta” que intercepta

o conjunto admiss´ıvel. Lembrando que (x∗

1, x∗2) = (2, 1) ´e a solu¸c˜ao

do problema primal B.1, vemos que f (x∗

1, x∗2) = x∗1+ x∗2= 3 = 8 λ∗1+ 7 λ∗2= g(λ∗1, λ∗2),

como afirma o teorema forte da dualidade.

¸1 ¸2 0 3/8 3/7 1/3 1/5 (4/13, 1/13)

Figura B.3: O conjunto admiss´ıvel do problema dual B.6 do pro- grama linear B.1.

Por fim, gostar´ıamos de observar que se a fun¸c˜ao objetivo do pro- grama linear B.3 n˜ao ´e limitada inferiormente no conjunto admiss´ıvel

K ={x ∈ Rn

| Ax = b e x ≥ 0} ,

ent˜ao existem ponto extremo x e raio extremo r de K tal que o valor da fun¸c˜ao objetivo de B.3 em x = x + t r tende a−∞ quando t tende a +∞. Em particular,

cTr < 0.

Dizemos que r ´e um raio de K se, e somente se, r= 0 e o conjunto {p ∈ Rn | p = x + t r e t ≥ 0} est´a contido em K para todo x ∈ K.

Um raio r de K ´e extremo, se n˜ao existem outros dois raios r1 e r2

de K (com r1= t r2para todo t > 0) e um escalar s no intervalo (0, 1)

tal que r = s r1+ (1− s) r2. 0 x1 x2 r2 r1 r3 K

Figura B.4: Os vetores r1 e r2 n˜ao s˜ao raios extremos de K. O ve-

Respostas dos exerc´ıcios

Cap´ıtulo 2

[01] O processo de dominˆancia estrita iterada reduz o jogo para uma matriz 1×1 com um ´unico perfil de estrat´egias puras: (s13, s22).

[02] (a) N˜ao existem estrat´egias dominantes neste jogo.

(b) (l1, c1) e (l2, c2) s˜ao os ´unicos equil´ıbrios de Nash em es-

trat´egias puras do jogo. [03] (a) c2domina estritamente c1.

(b) (l2, c2) ´e o ´unico equil´ıbrio de Nash em estrat´egias puras do

jogo.

[04] (a) N˜ao existem estrat´egias dominantes neste jogo.

(b) (desviar, n˜ao desviar) e (n˜ao desviar, desviar) s˜ao os ´unicos equil´ıbrios de Nash em estrat´egias puras do jogo.

[05] (a) N˜ao existem estrat´egias dominantes neste jogo.

(b) (brigar, amea¸car) e (amea¸car, brigar) s˜ao os ´unicos equil´ıbrios de Nash em estrat´egias puras do jogo.

[06] Usando o processo de dominˆancia fraca iterada, o jogo se reduz para uma matriz 3× 3:

Eixo A B C Al ia d o s 1 (+13,−13) (+29,−29) (+ 8,− 8) 3 (+18,−18) (+22,−22) (+31,−31) 6 (+23,−23) (+22,−22) (+19,−19) .

[07] O processo de dominˆancia estrita iterada reduz o jogo para uma matriz 1× 1 × 1 com um ´unico perfil de estrat´egias puras: (x3, y2, z4).

[08] O processo de dominˆancia estrita iterada reduz o jogo para uma matriz 1× 1 × 1 com um ´unico perfil de estrat´egias puras: (x2, y1, z2).

[09] O perfil de estrat´egias (x2, y2, z3) ´e o ´unico equil´ıbrio de Nash

em estrat´egias puras do jogo.

[10] (a) Para o jogador 1, a estrat´egia M ´e fracamente dominada pela estrat´egia T e tamb´em fracamente dominada pela es- trat´egia B. Para o jogador 2, a estrat´egia L ´e fracamente dominada pela estrat´egia R.

(b) O processo de elimina¸c˜ao das estrat´egias fracamente domi- nadas conduz a duas redu¸c˜oes 1× 1: {(B, C)} e {(T, R)}. (c) Os equil´ıbrios de Nash em estrat´egias puras s˜ao (T, C),

(T, R) e (B, C). Note que (T, C) n˜ao est´a entre os per- fis de estrat´egias encontrados no item anterior.

[11] Suponha, por absurdo, que s∗ = (s

1, . . . , s∗n) n˜ao seja um e-

quil´ıbrio de Nash. Ent˜ao devem existir ´ındice i e estrat´egia pura s[1]

i ∈ Si, com s[1]i = s∗i, tais que ui(si∗, s∗−i) < ui(s[1]i , s∗−i).

Como, por hip´otese, o processo de elimina¸c˜ao reduz o jogo ape- nas para o perfil s∗, segue-se que o perfil (s[1]

i , s∗−i) foi eliminado

em alguma etapa do processo. Dados que as estrat´egias puras em s∗

−i n˜ao foram eliminadas (se o fossem, o perfil (s∗i, s∗−i)

porque a estrat´egia s[1]

i foi fracamente dominada por outra es-

trat´egia s[2]

i . Logo, ui(s[1]i , s−i) ≤ ui(s[2]i , s−i) para todo s−i

que pode ser constru´ıdo com as estrat´egias que restaram nos espa¸cos de estrat´egias puras dos outros jogadores neste est´agio do processo (que inclui s∗

−i) e, mais ainda, pelo menos para

um s[2]

−i, vale a desigualdade estrita: ui(s

[1] i , s [2] −i) < ui(s [2] i , s [2] −i). Das desigualdades

ui(s∗i, s∗−i) < ui(s[1]i , s∗−i)≤ ui(s[2]i , s∗−i)

e ui(s[1]i , s [2] −i) < ui(s[2]i , s [2] −i) segue-se que s[2] i = s∗i e s [2] i = s [1] i .

Agora, por sua vez, o perfil (s[2]

i , s

[2]

−i) tamb´em foi eliminado du-

rante o processo. Dados que as estrat´egias puras em s[2]

−i n˜ao

foram eliminadas nesta etapa (se o fossem, o perfil (s[1]

i , s

[2]

−i)

tamb´em seria eliminado e, portanto, ele n˜ao existiria nas eta- pas seguintes), segue-se que a elimina¸c˜ao correu porque a es-

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