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A transferência da Corte joanina para o Rio de Janeiro em 1808 e a mobilidade social ascendente dos homens de negócio

do Estado do Brasil e seus domínios ultramarinos

Mapa 1: A Estrada Real do Comércio, o Caminho Novo e o Caminho Velho

3.1. A transferência da Corte joanina para o Rio de Janeiro em 1808 e a mobilidade social ascendente dos homens de negócio

A transferência da corte portuguesa para o Rio de Janeiro caracterizou-se como um momento decisivo da História política da monarquia Bragantina. Para Kirsten Schultz foi “(...) um momento ‘providencial’ e ‘trágico’, um momento em que a natureza da monarquia, do império e da nação portuguesa foi posta em dúvida e, então, reconfigurada como parte de um esforço para definir uma nova era, segundo alguns contemporâneos, pós-européia.”30 Uma das principais, se não a principal, possessão ultramarina da Coroa portuguesa foi o lugar providencial onde se estruturou a família real e seu séquito. O Rio de Janeiro, sede do então Vice-Reino do Estado do Brasil, transformou-se na nova capital do Império português, estando sob os olhares europeus. Por isso, foi necessário que a cidade do Rio de Janeiro passasse por mudanças sociais, econômicas, políticas e culturais, o que exigiam profundas transformações, principalmente “(...) nas engrenagens que faziam mover o mundo luso-brasileiro.”31

A criação de instituições semelhantes às de Lisboa, constituem uma das engrenagens que fariam mover a nova capital do Império luso-brasileiro. Entre elas, destacamos a Intendência Geral de Polícia, o Conselho Supremo Militar, a Mesa do Desembargo do Paço, a Mesa de Consciência e Ordens, a Casa de Suplicação do Brasil. Ademais, também houve a criação da Real Junta de Comércio Agricultura, Fábricas e

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30 SCHULTZ, Kirsten. Versalhes Tropical: império, monarquia e a Corte real portuguesa no Rio de

Janeiro, 1808-1821. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2008. p.109.

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Navegação deste Estado do Brasil e seus Domínios Ultramarinos,32 sendo que essa instituição foi um importante lócus de atuação dos negociantes. No âmbito cultural houve a vinda de naturalistas, da missão artística francesa, e a criação de instituições culturais e científicas que se enquadrassem à nova sociedade de cortes.33 A criação dessas instituições, portanto, permitiu ao Rio de Janeiro assumir o lugar de capital do Império luso-brasileiro comprovando a importância da cidade nesta conjuntura histórica. 34

Os homens de negócio encontraram nesta conjuntura, a possibilidade de aquecimento de seus negócios mercantis. Isso aconteceu devido ao aumento demográfico da cidade, que mais que duplicou no período 1799-1821 (Vide tabela 8), o que proporcionou uma maior demanda por novos e “velhos” produtos. Neste último caso, por exemplo, os escravos.

Tabela 8: Evolução demográfica da cidade do Rio de Janeiro de acordo com o estatuto jurídico dos habitantes, 1799-1821

Freguesias 1799 1821 Total Livre s (%) Escravo s (%) Libertos (%) Total Livre s (%) Escravo s (%) Libertos (%) Freguesias Urbanas 43376 19578 (46) 14986 (34) 8812 (20) 79321 43139 (54) 36182 (46) - Freguesias Rurais - - - - 33374 14466 (43) 18908 (57) - Total - - - - 112695 57065 (51) 55090 (49) -

Fonte: FLORENTINO, Manolo. Alforrias e etnicidade no Rio de Janeiro oitocentista:

notas de pesquisa. Topoi, v. 3, n. 5, Rio de Janeiro, set. 2002. p. 10.

A proximidade com a Corte, também proporcionou aos homens de negócio ascenderem socialmente por meio dos cargos obtidos no Estado. Segundo Riva Gorenstein, os agentes mercantis eram dependentes, até certo ponto, aos setores

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32 A respeito da Intendência Geral de Polícia, da Mesa de Consciência e Ordens e da Real Junta de

Comércio, conferir os trabalhos de: LEMOS, Mathalia Gama. Um Império nos Trópicos: A atuação do Intendente Geral de Polícia, Paulo Fernandes Viana, no Império Luso-Brasileiro (1808-1821). Dissertação de Mestrado em História. UFF/PPGH.Niterói, 2012; NEVES, Guilherme Pereira das. E receberá mercê: a Mesa da Consciência e Ordens e o clero secular no Brasil, 1808-1828. Rio de Janeiro: Arquivo nacional, 1997; LOPES, 2009, Op.Cit.

33 A respeito da missão francesa Cf.: SCHWARCZ, Lilia Moritz. O Sol Do Brasil: Nicolas-Antoine

Taunay e as Desventuras dos Artistas Franceses na Corte de D. João. São Paulo: Cia das letras, 2008.

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governamentais porque estes determinavam a ação daqueles nos negócios e na vida política e social da corte.35 A atuação política dos negociantes acontecia, quando eles eram deputados da Real Junta de Comércio, Agricultura, Fábricas e Navegação deste Estado do Brasil e seus Domínios Ultramarinos, tinham cargos e ações do recém-criado Banco do Brasil e arrecadavam de impostos para a Coroa em diferentes regiões – como foi o caso de Lopes.

A transformação do Rio de Janeiro na nova capital do Império português exigiu grandes investimentos em obras de infraestrutura na cidade. No entanto, a Coroa estava com dificuldades econômicas e foi obrigada “(...) a apelar para o patrimônio particular dos cidadãos, no atendimento das ‘urgências’ do Estado.”36 Os homens de negócio foram aqueles que atenderam tais urgências, isto é, seus cabedais foram fundamentais para a realização dos empreendimentos na cidade. As mudanças urbanísticas e a criação ou recriação de instituições como a Real Junta de Comércio, o Erário Real e o Banco do Brasil “(...) facilitou o exercício da justiça e do comércio, trouxe prestígio para a cidade e criou oportunidades sem precedentes para o serviço real.”37 Os negociantes, portanto, favoreceram-se com as mudanças empreendidas no Rio de Janeiro em1808, comprovando mais uma vez, o quanto seus cabedais contribuíram para a mobilidade social deste grupo.

Detentores de grandes fortunas em 1808, construídas desde a segunda metade do século XVIII, por meio do tráfico de escravos, comércio da cabotagem e de outros negócios diversificados, os grandes negociantes da Praça do Rio de Janeiro de certa forma interferiram diretamente na economia, o que levou o historiador Theo Piñeiro a caracterizá-los como os “donos do dinheiro”.38 Face ao poder financeiro, e por conta da ajuda financeira à Coroa, foram recompensados com muitas regalias, como mercês, cargos na administração pública, arrecadação de dízimos.

Inúmeros são os exemplos de atuação dos setores privados suprindo com seus cabedais as necessidades do Estado. Em troca, eram agraciados com mercês, honrarias e títulos que não poderiam obter em outras circunstâncias. O vulto das mercês concedidas pelo monarca estava na proporção direta ao valor das contribuições financeiras e prestígio pessoal dos agraciados. A Coroa usualmente concedia postos militares no corpo de Milícias e hábitos das várias ordens religiosas, aos !!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!

35 GORENSTEIN & MARTINHO, Op.Cit. p. 145. 36GORESTEIN, Op. cit. p. 148.

37 SCHULTZ, Op. cit. p. 130. 38 PIÑEIRO, 2002,Op.Cit.p. 274.

141 elementos que se ofereciam para doar ou angariar fundos destinados a obras públicas ou beneficentes (...).39

Conforme enfatizado, no florescer do século XIX os negociantes estabelecidos no ultramar estavam sedentos por distinções honoríficas, o que foi facilitado com a presença de Dom João em 1808. Tal procura por distinções, também aconteceu no Reino português onde os agentes mercantis tiveram a oportunidade de serem aliviados da associação com o ofício mecânico, na administração pombalina. A partir disso, poderiam adquirir os hábitos das Ordens Militares e outras mercês no século XVIII. Logo, tanto no Reino como na futura capital do Império luso-brasileiro ainda estavam presentes resquícios de mobilidade social ascendente própria do Antigo Regime português. Para João Luís Fragoso, a acumulação mercantil se constituiu numa opção por parte dos negociantes portugueses para ascenderem na hierarquia social. No fim das contas, a riqueza dos homens de negócio facilitaria o acesso deles às distinções honoríficas, pois a Coroa necessitava dos cabedais advindos da mercancia.

Nessa Europa do Antigo Regime, [...] a mobilidade já era existente. O desenvolvimento do comércio e do Estado tinha criado condições para isso. É nesse contexto que a acumulação mercantil surge como mecanismo de ascensão social e, simultaneamente, de recorrência a uma dada ordem. No final das contas, seria esse tipo de sociedade europeia que montaria o mundo colonial brasileiro.40

Embora a riqueza em si não fosse um fator decisivo para a obtenção de títulos, ela contribuiu para se adquirir capital simbólico, de acordo com as considerações de Maria Aparecida Borrego. Segundo a autora, baseada no trabalho de Fernanda Olival41, os homens de negócio estabelecidos na capitania de São Paulo convertiam o capital mercantil em formas de distinção social, como por exemplo, nos hábitos das Ordens Militares, principalmente os de cavaleiros da Ordem de Cristo.42 A este respeito, Jorge Pedreira também sinalizou que os recursos financeiros dos negociantes podiam ser

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39GORENSTEIN & MARTINHO, Op. cit. p.149. (Grifo nosso) 40 FRAGOSO,1998, Op.Cit. p. 351. (Grifo nosso)

41 Fernanda Olival baseou-se na perspectiva de Pierre Bourdieu, que sinteticamente discute o capital

simbólico como a medida do prestígio que um indivíduo ou instituição possui em determinado campo (político, econômico, social e cultural). Este prestígio do indivíduo na posição e no campo é reforçado por signos distintivos que reafirmam a posse deste capital, como, por exemplo, as insígnias das ordens militares. Cf.: BOURDIEU, Pierre. O Poder Simbólico. Lisboa: DIFEL, 1989.

42 BORREGO, Maria Aparecida de Menezes. A teia Mercantil: Negócios e Poderes em São Paulo

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convertidos em capital simbólico, representado pelas diferentes formas de distinção social.

O seu lugar na estrutura social era definido não só pela capacidade financeira, mas também pela possibilidade de conversão dos recursos assim acumulados em capital simbólico, noutras formas de distinção social. A sua posição relativa era, em grande parte, determinada pela taxa de cambio entre os recursos financeiros e as distinções simbólicas – tais como os hábitos de cavaleiros das ordens militares – que conferiam o reconhecimento social que careciam. 43

As famosas subscrições voluntárias publicadas no periódico “Gazeta do Rio de Janeiro” ilustram claramente, as referidas contribuições financeiras. Nelas, a Coroa obteve grandes quantias financeiras para as despesas do Reino português, por exemplo, na ajuda aos reinóis com a invasão francesa de 1808. Jurandir Malerba sintetizou bem o que era as Subscrições voluntárias:

[...] nas inúmeras listas de socorros que circulavam na corte para salvar as despesas do Estado, ora a casa real, o que daria na mesma coisa. As chamadas “subscrições voluntárias” angariaram dos fiéis vassalos fluminenses e portugueses aqui instalados verdadeiras fortunas, oferecidas generosamente aos cofres públicos. Tratando-se de uma sociedade na qual valores como honra e prestígio predominavam, talvez fizesse bem ao espírito dos subscritores ver seus nomes publicados em folhetos pela secretaria de negócios do reino ou na Gazeta, na qual se repetiam incessantemente, a mesma lista continuando-se, às vezes, por várias semanas.44

Na Gazeta Extraordinária do Rio de Janeiro de 14 de outubro de 180845 foi publicada a Subscrição de 10 de outubro corrente, assinada por Dom Rodrigo de Souza Coutinho. A subscrição tinha como objetivo “(...) socorrer os nossos Concidadãos, e Vassalos de S.A.R., que habitão o Reino de Portugal, e que tanto tem soffrido da oppressão e Tyrannia dos Franceses.”46 Para tanto, foi aberto um cofre no Erário Régio para receber os donativos em dinheiro, nomeando-se Dom Fernando José de Portugal, pessoa de confiança de S.A.R, para arrecadar os gêneros alimentícios doados. Na subscrição, observamos os elogios remetidos ao monarca por seu ”Zello, Patriotismo, e Amor do Nosso Virtuozo Soberano.” Além disso, já existiam grandes donativos realizados pelos vassalos, no entanto, os assinantes da carta reafirmam a

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43 PEDREIRA, 1992, Op.Cit. p. 435. (Grifo nosso)

44 MALERBA, Jurandir. A corte no exílio: civilização e poder no Brasil as vésperas da Independência.

São Paulo: Cia das Letras, 2000.pp.246-247. (Grifo nosso)

45 BNRJ. A Gazeta Extraordinária de 14 de Outubro de 1808. Disponível: http://objdigital.bn.br/acervo_digital/div_periodicos/gazeta_rj/gazeta_rj_1808/gazeta_rj_1808.htm 46Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro (BNRJ). A Gazeta Extraordinária de 14 de Outubro de 1808. fl.1.

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importância de se continuarem os donativos, ao declararem: “V.M. ainda prosseguirá com o mesmo zello a achar hum maior numero de Subscriptores, e particularmente de algumas Classes, que ainda se não mostrarão, como he de se esperar o facão (...)”47

Em apoio às medidas tomadas pela Coroa, uma “Carta dos Negociantes desta Praça a S.A.R.” de 27 de setembro de 1808 – tendo a frente Manoel Caetano Pinto – foi publicada na referida Gazeta extraordinária de 14 de outubro. Nela, os negociantes reafirmam sua lealdade à Coroa e apoio a Ela devido a invasão francesa em Portugal, o que gerou a interrupção da navegação e estagnação do comércio. Por conta disso, e para beneficiar os vassalos reinóis frente à situação de penúria vivenciada pela invasão, os negociantes remeteram ajuda alimentícia e financeira. Os gêneros alimentícios contribuiriam para o provimento do exército português e não apenas aos irmãos portugueses, expressão utilizada pelos negociantes da Praça do Rio de Janeiro. Ademais, foi aberto um cofre para o recebimento do dinheiro proveniente das subscrições voluntárias de outros cidadãos abastados da Corte, não necessariamente negociantes. Este valor seria posteriormente remetido a Portugal. 48

Entre os subscritores estava Elias Antonio Lopes que doou a quantia de 200$000 (duzentos mil réis). Jurandir Malerba cotejou o mesmo documento, e sinalizou que a subscrição rendeu a Coara a quantia de 26:375$ 800 (vinte e seis contos, trezentos e setenta e cinco mil e oitocentos réis)49 e Elias Antonio Lopes e mais 39 contribuintes “doaram valores superiores a 150 mil reis.”50 Os maiores donativos eram de negociantes como: Manoel Caetano Pinto, Fernando Carneiro Leão, José Pereira Guimarães, Joaquim Pereira de Almeida & Cia. 51, Dias Viúva e Filhos52, bem como de nobres como D. Rodrigo de Sousa Coutinho e o Conde dos Arcos53. Os gestos de

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47 Idem. fl.1.

48 Idem. fls.1-2. Cf.: Anexo 5 desta dissertação onde encontra-se transcrita na íntegra a referida carta dos

negociantes a S.A.R publicada na Gazeta Extraordinária do Rio de Janeiro

49 MALERBA, Op. Cit. pp. 248-249. 50 Idem. p. 249

51 Fernando Carneiro Leão (em nome da casa Carneiro Leão) doou 800$00, José Pereira Guimarães doou

640$000, a firma Joaquim Pereira de Almeida & Co. doou 400$00. In: BNRJ. A Gazeta Extraordinária de 14 de Outubro de 1808. fls.1-2. A respeito de Fernando Carneiro Leão e da firma Joaquim Pereira de Almeida Cf.: GORESTEIN, Op. Cit., FRAGOSO, Op. Cit., GUIMARÃES, Carlos Gabriel. O “comércio de carne humana” no Rio de Janeiro: o negócio do tráfico negreiro de João Rodrigues Pereira de Almeida e da firma Joaquim Pereira de Almeida & Co., 1808-1830 - primeiros esboços.” In: BITTENCOURT, GEBARA & RIBEIRO (org.). 2010, Op.Cit. (e-book).

52 DIEGUEZ, Op.Cit.

53 D. Rodrigo doou 400$000 e o conde dos Arcos 333$333. In: BNRJ. A Gazeta Extraordinária de 18 de

Outubro de 1808. fl.2. Disponível em:

http://objdigital.bn.br/acervo_digital/div_periodicos/gazeta_rj/gazeta_rj_1808/gazeta_rj_extra_1808_006. pdf

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solidariedade financeira a S.A.R eram lembrados pelo regente nos decretos de concessão de alguma mercê aos homens de negócio, o que aconteceu no caso de Elias Antonio Lopes.

Dois anos depois, na Gazeta do Rio de Janeiro de 5 de novembro de 1810 foi aberto um “Annuncio da Subscrição Voluntária, e Caritativa para o Resgate dos Portugueses Captivos em Argel.”54 Estavam cativos em Argel – Norte da África – 615 portugueses, que para serem libertos foi estipulada a quantia de 514:285$840 (Quinhentos e catorze contos, duzentos e oitenta e cinco mil, oitocentos e quarenta réis, por um acordo realizado pela mediação da Inglaterra, durante uma convenção entre Portugal e Argel em 6 de julho de 1810. No anúncio, Dom João convoca os negociantes das cidades marítimas a contribuírem com seus donativos, “repetindo assim novas provas de zelo, e fidelidade com que desejão concorrer, e tem sempre concorrido para tudo o que interessa o real serviço (...)”.55 O anúncio ordenava que “na Gazeta se publicassem os nomes das Pessoas, e das quantias que cada hum fosse concorrendo (...)”56, e os negociantes residentes em Portugal, bem como no Brasil, doaram elevadas quantias para este resgate.

Edite Maria Alberto pesquisou sobre a estrutura e procedimentos realizados em quatorze resgates gerais de cativos portugueses na época moderna, entre o reinado de D. João IV até fins do século XVIII. Entre estes resgates discutiu o caso argelino de 1810. Segundo a autora, aprisionar inimigos com o intuito de se realizarem resgates esteve presente na História de Portugal, principalmente em conflitos entre cristãos e mulçumanos. Os inimigos eram apreendidos para servirem como moeda de troca e fonte de rendimentos.57

A armada portuguesa patrulhava constantemente as águas territoriais e as costas marítimas do Atlântico, importante do ponto de vista estratégico e econômico, do corso marroquino a argelino. Com o objetivo de promover a paz com Argel e evitar sequestros de indivíduos e bens, Portugal enviou em 1786 o oficial da marinha Jacques Filipe de Landerset. A missão tinha por objetivo fixar uma trégua de um ano e negociar a assinatura de um tratado de paz com a autoridade argelina, o que não foi bem

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54 BNRJ. A Gazeta Extraordinária de 5 de Novembro de 1810. Disponível em

:http://objdigital.bn.br/acervo_digital/div_periodicos/gazeta_rj/gazeta_rj_1810/gazeta_rj_1810.htm. fl.7.

55 Idem. fl.8. 56 Idem. fl. 8.

57 ALBERTO, Edite M C M. Um Negócio Piedoso: o resgate de cativos em Portugal na época Moderna.

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sucedido.58 Outras tentativas de negociação foram feitas com o intuito de promover a paz com Argel, tendo até mesmo a participação da Inglaterra, bem como a assinatura de um tratado de paz em 1799 enviando-se o frei José de Santo António Moura. Contudo, ambas as tentativas não deram certo porque o dey (autoridade argelina) pedia elevadas quantias para os tratados de paz e resgate de cativos.59

Em 6 de julho de 1810 foi assinado um Tratado de Trégua e Resgate com Argel.