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Transformações nas estratégias de interação com a sociedade

No documento MESTRADO EM HISTÓRIA SÃO PAULO 2013 (páginas 55-63)

2. ARQUIVO E SOCIEDADE: PATRIMÔNIO CULTURAL PARA A

2.1 A abertura dos Arquivos para a sociedade

2.1.2 Transformações nas estratégias de interação com a sociedade

Ao analisar as experiências das três instituições por meio do corpus documental produzido por elas, é possível perceber que diversas mudanças ocorreram no que diz respeito às questões conceituais e estruturais dos produtos ofertados para a integração com a sociedade.       

75 O Prêmio Cultura Viva encontra-se em sua terceira edição. Tal Prêmio é realizado com o patrocínio da Petrobras e

a coordenação técnica do CENPEC (Centro de Estudos e Pesquisas em Educação, Cultura e Ação Comunitária), tendo por objetivo mobilizar, reconhecer e dar visibilidade às práticas culturais que ocorrem em todo o território brasileiro, de modo a favorecer o conhecimento da riqueza e da diversidade do país. Para mais informações consultar: <http://www.premioculutraviva.org.br/premio.php>.

76 Atualmente as atividades oferecidas pelo APCBH são planejadas pelo Departamento de Tratamento, Pesquisa e

 

Nesse sentido, para além das atividades voltadas especificamente para o público escolar, outras atividades, como é o caso das exposições, indicam as transformações nas relações dos arquivos com o público. Neste caso, acompanhar as exposições produzidas pelo Arquivo Público do Estado oferece exemplos claros dessas transformações.

Já pudemos conferir que, desde o início de sua produção, os projetos de exposição vêm se modificando gradativamente. Se em suas primeiras versões (início dos anos 1980) elas ganharam espaço dentro do “salão nobre” da instituição e não possuíam estratégias que possibilitassem a ampliação de seu alcance, com o decorrer de alguns anos (1987) produtos para o público escolar passaram a ser oferecidos a partir delas.

Por meio da criação do programa de Ação Educativa e Cultural no Arquivo do Estado de São Paulo em 1997, outras estratégias foram desenvolvidas com o intuito de levar o Arquivo para “além de seus muros”. Nesse ano, cerca de sete Exposições foram realizadas em parceria com a Secretaria da Cultura do Estado, sendo a maioria em formato itinerante77. Assim, o Arquivo chegou a shopping centers, escolas públicas e particulares, e universidades. A exposição “A Era de Ouro do futebol brasileiro através das lentes do Ultima Hora (1951–1971)” foi à vista do público no Shopping Ática Cultural, já “As faces de 1968” foi montada nas seguintes instituições: Universidade de São Paulo, Museu da Cultura da Pontifícia Universidade Católica (PUC/SP), Faculdades Metropolitanas Unidas (FMU), Colégio Anglo de Osasco, Escola de Aplicação da USP, Colégio São Domingos, Colégio Porto união, EMPSG Vereador Antonio Sampaio, Colégio Mario Schenberg, EMPSG Derville Allegretti e EESG Brasílio Machado.

Essa estratégia também foi utilizada pelo APCBH em anos posteriores. Entre os anos de 2005 e 2008, foi assinado, entre a Fundação Municipal de Cultura e a Associação Cultural do Arquivo Público da Cidade de Belo Horizonte, um convênio denominado “Gestão, preservação e divulgação do APCBH: exposições itinerantes dos acervos e serviços”, que garantiu a extroversão da instituição a um “[...] público que dificilmente seria atingido na própria sede do APCBH: 2500 pessoas em 2006; 13.197 pessoas em 2007; 2.372 pessoas em 2008 [...]” (BELO HORIZONTE, 2008g)

      

77 Entre as sete exposições lançadas no ano de 1998 constam: “O cotidiano vigiado: a colônia japonesa aos olhos do

DEOPS”, inaugurada em novembro; “A era do ouro do futebol brasileiro através das lentes do Ultima hora (1951– 1971)”; “São Paulo em Revista: publicações paulistanas (1870–1930)”; “As faces de 1968”; “A história do DEOPS” e, por fim, duas que tratam de homenagear Florestan Fernandes e Ulysses Guimarães.

Dessa forma, às exposições foram sendo agregadas novas maneiras de interação com a sociedade, estendendo o alcance a públicos antes não considerados como de potencial para diálogo. Essas estratégias de aproximação implicaram em um novo sentido para esse tipo de ação: a ampliação do acesso aos Arquivos e a transformação do acervo em uma experiência mais palatável à população.

Outra modificação que é possível acompanhar nesse percurso diz respeito ao seu formato: passa-se das montagens em espaços físicos a versões virtuais das mesmas.

Dando um salto cronológico na análise dessas experiências institucionais, percebe-se o aproveitamento do avanço tecnológico em favor de um conceito de Arquivo mais democrático. As Mostras Virtuais78, produzidas pelo Arquivo Público do Estado de São Paulo, também podem ser consideradas exemplos dessas transformações79.

Produzidas desde o ano de 2009, essas Mostras consistem na apresentação de uma temática histórica por meio de textos conteudísticos e reproduções de documentos, utilizando-se de redes de comunicação em escala mundial (internet) para disponibilizar tal material80.

Desde o seu lançamento as Exposições Virtuais têm apresentado uma crescente aceitação por parte do público escolar e da sociedade em geral. Por se tratar de um produto disponibilizado em ferramenta virtual, o seu alcance ultrapassa as fronteiras espaciais e temporais, possibilitando o acesso por internautas de diversas localidades81.

Analisando as estatísticas anuais de acesso, entre os anos de 2009 e 2011, nota-se uma crescente procura por esse tipo de produto. Nesse período, o número de acessos cresceu aproximadamente 90% como aponta o gráfico abaixo.

      

78 Segundo Pierre Lévy, a palavra virtual é proveniente do latim medieval virtualis, palavra derivada de virtus que

significa ‘força’, ‘potência’. Para o filósofo, “[...] o virtual tende a atualizar-se, sem ter passado no entanto à concretização efetiva ou formal [...] é como o complexo problemático, o nó de tendências ou de forças que acompanha uma situação, um acontecimento, um objeto ou uma entidade qualquer, e que chama um processo de resolução: a atualização.” (LÉVY, 2011, p. 15-16).

79 É possível acessar as Exposições Virtuais realizadas pelo APESP por meio do link:

<http://www.arquivoestado.sp.gov.br/difusao/acao_exposicoes.php>.

80 Trataremos desse produto pedagógico no terceiro capítulo.

81 Entre eles estão os Estados: Pará, Minas Gerais, São Paulo, Bahia, Rio de Janeiro, Espírito Santo, Goiás, Ceará,

Rio Grande do Sul, Pernambuco, Mato Grosso, entre outros. Também acessam as exposições internautas do Distrito Federal.

 

Gráfico 1 - Número de acessos anuais das Exposições Virtuais (2009, 2010, 2011)

Em outros gráficos podem ser observados os números de acessos por exposição:

Gráfico 3 – Número anual de acessos por Exposição (2010)

Gráfico 4 - Número anual de acessos por Exposição (2011)

Esse crescimento acentuado no número de acessos explica-se pelo trabalho de divulgação das exposições em diferentes meios de comunicação, como programas de rádio, revistas, blogs, sites, mailing institucional, entre outros. No gráfico 2, referente ao ano de 2009, pode ser observado que o número total de acessos está bem abaixo daqueles dos outros anos, isso se deu pelo fato de as exposições terem sido lançadas a partir da metade do ano e por sua quantidade menor naquele momento.

 

Os números referentes à exposição “Manuscritos na História” também nos chamam a atenção. Nesse caso, por se tratar de uma temática mais ampla que dialoga diretamente com outras áreas do conhecimento, houve grande número de acessos.

Outro avanço na elaboração dessas Mostras é o de poder aferir junto aos seus visitantes virtuais a qualidade das propostas, bem como o perfil do público. Nos relatórios e planejamentos pesquisados, muito pouco se conseguiu identificar da avaliação do público em relação às atividades oferecidas: seja sobre os materiais pedagógicos, as visitas, as oficinas pedagógicas ou outras82. No entanto, o feedback do público atendido pode ser analisado em alguns documentos pesquisados. No caso das Exposições Virtuais, foi a partir da edição “Manuscritos na História” que houve a possibilidade de os visitantes avaliarem o material por meio de um questionário objetivo. Nele também foi possível deixar comentários e sugestões.

Vejamos os gráficos abaixo referentes às avaliações de tal exposição lançada em 2011.

Gráfico 5 - Avaliação dos textos da Exposição

      

82 Essa é uma realidade constatada que ainda merece atenção, fazendo-se necessário a criação de ferramentas que

Gráfico 6 - Avaliação das atividades pedagógicas

O gráfico 5 corresponde as respostas dos visitantes ao item 5 do questionário: “Quanto à clareza e objetividade do conteúdo textual, você o avalia como: excelente, muito bom, bom, regular ou ruim?” (SÃO PAULO (Estado), 2011a). Nesse caso, percebe-se que a avaliação é bem positiva, sendo que aproximadamente 80% consideram a exposição entre os indicadores excelente e muito bom.

Em relação ao gráfico 6, que apresenta a avaliação das atividades pedagógicas sugeridas, os visitantes responderam a seguinte pergunta: “Quanto às atividades pedagógicas e sua adequação com a temática da exposição, você as avalia como:  adequadas, parcialmente adequadas ou inadequadas?” (SÃO PAULO (Estado), 2011a). Como podemos observar, 89% dos avaliadores consideram as atividades adequadas.

Além de todos esses elementos avaliativos é possível verificar qual o perfil dos visitantes que buscam por esse tipo de produto (gráfico 7). Nesse caso, os avaliadores em sua maioria são professores de História e alunos de graduação da mesma área, como podemos observar:

 

Gráfico 7 - Perfil dos avaliadores.

No entanto, a porcentagem do perfil “outros” – que corresponde àqueles que não são ligados à área acadêmica do ensino de História ou da pesquisa, ou seja, pesquisadores em geral – também é significativa, representando 12% dos acessos83.

Outros exemplos de estratégias de difusão com vistas à alcançar amplamente o público também se transformaram com o incremento de ferramentas como a internet e os novos meios de comunicação. Podemos citar a disponibilização de publicações para download nos sítios institucionais, bancos de dados online composto por documentos digitalizados do acervo entre outros.

      

83 De posse de informações quantitativas referentes às últimas exposições lançadas em 2012 (“Ferrovias Paulistas” e

“1932: a guerra paulista”) é possível observar o crescimento do número de acessos pelo perfil “outros”. Respectivamente, representaram 38% e 36% dos acessos.

No documento MESTRADO EM HISTÓRIA SÃO PAULO 2013 (páginas 55-63)

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