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Transformações Produtivas, Impactos no Mundo do Trabalho e Pauperismo

1. DA CRISE DOS ANOS 70 AO CONSENSO DE WASHINGTON

1.1. A Crise da Década de 1970 em Questão: novos parâmetros para uma nova

1.1.2. Transformações Produtivas, Impactos no Mundo do Trabalho e Pauperismo

Sobre as transformações produtivas ocorridas, sobretudo a partir da década de 1970, interessante é analisar, tal como o faz e sugere o já mencionado autor David Harvey (2009, p. 150), “a maneira como o capitalismo está se tornando cada vez mais organizado através da dispersão, da mobilidade geográfica e das respostas flexíveis nos mercados de trabalho, nos processos de trabalho e nos mercados de consumo”.

Nas palavras de Antunes,

Estas mudanças acarretaram profundas repercussões no universo do trabalho e das classes trabalhadoras. Podemos dizer que o mundo do trabalho sofreu uma mutação de forte envergadura. E a empresa dita “moderna”, seja ela uma fábrica, uma escola, um banco, ao alterar seu modo de operação, gerou fortes consequências tanto no que concerne ao trabalho quanto ao mundo do capital. (ANTUNES, 2006, p.41)

Conforme já mencionado, a recessão econômica global dos anos de 1970 pôs na ordem do dia a necessidade de efetivar mudança na estrutura econômica, social e política, até então baseada no sistema fordista. Essa necessidade de câmbio, que garantiria a restauração e manutenção da ordem do capital, revelou-se com a instauração de um sistema de regulamentação econômico político e social novo. Este sistema é denominado, por Harvey (2009), como “acumulação flexível” e, por ele assim definido:

Ela [a acumulação flexível] se apoia na flexibilidade dos processos de trabalho, dos mercados de trabalho, dos produtos e padrões de consumo. Caracteriza-se pelo surgimento de setores de produção inteiramente novos, novas maneiras de fornecimento de serviços financeiros, novos mercados e, sobretudo, taxas altamente intensificadas de inovação comercial, tecnológica e organizacional. A acumulação flexível envolve rápidas mudanças dos padrões do desenvolvimento desigual, tanto entre setores como entre regiões geográficas, criando, por exemplo, um vasto movimento no emprego do chamado “setor de serviços”, bem como conjuntos industriais completamente novos em regiões até então subdesenvolvidas [...]. Ela também envolve um novo movimento que chamarei de “compreensão espaço-tempo” [...] no mundo capitalista – os horizontes temporais da tomada de decisões privada e pública se estreitaram, enquanto a comunicação via satélite e a queda dos custos de transporte possibilitaram cada vez mais a difusão imediata dessas decisões num espaço cada vez mais amplo e variegado. (HARVEY, 2009, p.140)

As novas técnicas organizacionais da produção, com o uso do trabalho parcial, temporário ou subcontratado, a utilização de novas tecnologias e a automação da produção,

nem sempre foram de fácil alcance para as indústrias acostumadas ao padrão de rigidez fordista. Empresas horizontais, que sozinhas eram responsáveis por todas as etapas da produção de seus artigos, não raras se viram impossibilitadas de dar o giro de adaptabilidade a um sistema flexível, vertical e de produção just in time25. Essa não adaptabilidade de algumas as levou à falência ou a fusões e diversificações. Dentre estas se encontravam, inclusive, grandes corporações.

Tudo isso valorizou o empreendimento inovador e “esperto”, ajudado e estimulado pelos atavios da tomada de decisões rápidas, eficiente e bem-fundamentada. O incremento na capacidade de dispersão geográfica de produção em pequena escala e de busca de mercados de perfil específico não levou necessariamente, no entanto, à diminuição do poder corporativo. Com efeito, na medida em que a informação e a capacidade de tomar decisões rápidas num ambiente deveras incerto, efêmero e competitivo se tornaram cruciais para os lucros, a corporação bem organizada tem evidentes vantagens competitivas sobre os pequenos negócios. A “desregulamentação” (outro slogan político da era da acumulação flexível) significou muitas vezes um aumento de monopolização [...] em setores como empresas de aviação, energia e serviços financeiros. Num dos extremos da escala de negócios, a acumulação flexível levou a maciças fusões e diversificações corporativas. (HARVEY, 2009, p. 149-150)

Sobre estas maciças fusões e formação de grandes corporações, vale citar os dados, já sintetizados, que Ênio Silveira expõe em sua resenha (orelha), na segunda edição de “Teorias da Globalização” de Octavio Ianni (1996).

Segundo relatório anual (1993) da UNCTAD (Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento), um terço da capacidade produtiva mundial no setor privado está sob controle direto ou indireto (através de subsidiárias ou associadas locais) de TNCs, isto é, de Corporações Transnacionais. 37.000 delas, com 206.000 subordinadas em todos os continentes, foram responsáveis por investimentos totalizando 2 trilhões de dólares no ano de 1992. Seus ativos no exterior geraram transações comerciais no montante de 5 e meio trilhões de dólares. As 100 maiores TNCs têm sede em nações desenvolvidas, sendo que a metade de suas subsidiárias se localiza no chamado terceiro mundo. (SILVEIRA, 1996, s/página)

Isto demonstra que a desregulamentação dos mercados e a flexibilidade adquirida pelo processo produtivo acarretaram em uma dispersão organizada no sistema capitalista, o que desencadeou, dentre outras questões, uma corrida entre “os grandes” para a instalação nas melhores áreas com vistas à maximização do acúmulo de mais riquezas e, por consequência, uma maior concorrência intercapitalista26.

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O sistema Just In Time de produção prevê a produção segundo a demanda, o fim dos estoques, trata-se de planejar a produção para o momento certo e na quantidade precisa.

26 Não poderíamos deixar de mencionar, ainda que não possamos, em decorrência da limitação de tempo e espaço, aprofundar o debate, que a existência dos grandes monopólios nos remete ao que Lênin definiu como “era imperialista do capitalismo”. Lênin explicou: “Se fosse necessário dar uma definição o mais breve possível do imperialismo, dever-se-ia dizer que o imperialismo é a fase monopolista do capitalismo. Essa definição

Nas palavras de Costa,

[...], as transnacionais transformaram o mundo numa imensa reserva de matérias-primas e mão-de-obra barata à sua disposição. Ganharam a flexibilidade para a reprodução ampliada do capital a partir de bases internacionais, quer segmentando as peças, de acordo com o menor custo de produção, e montando o produto final nos países centrais, quer fabricando o produto inteiro e vendendo-o nos próprios países onde é fabricado, ou simplesmente podendo desenhar o produto num país, fazer o protótipo em outro e produzir em massa onde haja mão-de-obra mais barata (como ocorre com o tênis Nike) e posteriormente vender a mercadoria no mercado mundial. (COSTA, 2008, p.114-115)

Diante desta dominação do mercado global as empresas transnacionais passaram então a trocar e concorrer entre si. É neste sentido que as grandes fusões e aquisições ocorrem, ou como forma de livra-se do concorrente, ou como forma de somar forças para adentrar e concorrer em novas áreas. Para Costa, “isso significa que as grandes corporações estão avançando aceleradamente no processo de centralização do capital”, não mais apenas em um patamar nacional como ocorrera no passado, “mas do ponto de vista internacional” (ibid., p. 195).

A mobilidade do capital em tempos de desregulamentação dos parâmetros fordistas, associada à produção e acumulação flexíveis tencionou ainda mais a já por essência conflituosa relação entre capital e trabalho. A dispersão produtiva baseada, principalmente, na facilidade de deslocalização do capital gerou padrões de desenvolvimento desigual e

compreenderia o principal, pois, por um lado o capital financeiro é o capital bancário de alguns grandes bancos fundido com o capital das associações monopolistas de industriais, e, por outro lado, a partilha do mundo é a transição da partilha colonial que se estende sem obstáculos às regiões ainda não apropriadas por nenhuma potência capitalista para a política colonial de posse monopolista dos territórios do globo já inteiramente repartido”. (LÊNIN, 2000, p. 67) Tendo por base os escritos do autor, e daqueles que corroboram de suas afirmações sobre a fase superior do capitalismo, pode-se destacar, de forma resumida, alguns pontos característicos de economias imperialistas: a) O aparecimento dos monopólios; b) A criação do capital financeiro; c) A exportação de capitais; d) A formação dos monopólios internacionais; e) A luta constante pela divisão do mundo entre as grandes potências; f) O rentismo; e, g) O oportunismo. Ao aplicar as contribuições de Lênin (2000) à realidade do capitalismo monopolista contemporâneo Virginia Fontes se remete ao que denomina “capital-imperialismo”. Segundo a autora: “Falar, pois, de capital-imperialismo, é falar da expansão de uma forma de capitalismo, já impregnada de imperialismo, mas nascida sob o fantasma atômico e a Guerra Fria. Ela exacerbou a concentração concorrente de capitais, mas tendencialmente consorciando-os. Derivada do imperialismo, no capital-imperialismo a dominação interna do capital necessita e se complementa por sua expansão externa, não apenas de forma mercantil, ou através de exportações de bens ou de capitais, mas também impulsionando expropriações de populações inteiras das suas condições de produção (terra), de direitos e de suas próprias condições de existência ambiental e biológica. Por impor aceleradamente relações sociais fundamentais para a expansão do capital, favorece contraditoriamente o surgimento de burguesias e de novos Estados, ao mesmo tempo que reduz a diversidade de sua organização interna e os enclausura em múltiplas teias hierárquicas e desiguais. À extensão do espaço de movimentação do capital corresponde uma tentativa de bloquear essa historicidade expandida, pelo encapsulamento nacional das massas trabalhadoras, lança praticamente toda a humanidade na socialização do processo produtivo e/ou de circulação de mercadorias, somando às desigualdades precedentes novas modalidades. Mantém o formato representativo-eleitoral, mas reduz a democracia a um modelo censitário autocrático, similar a assembleias de acionistas, compondo um padrão bifurcado de atuação política, altamente internacionalizado para o capital e fortemente fragmentado para o trabalho” (FONTES, 2010, p.149).

combinado27, “o trabalho organizado foi solapado pela reconstrução de focos de acumulação flexível em regiões que careciam de tradições industriais anteriores” (HARVEY, 2009, p.141), e regiões centrais, já industrialmente desenvolvidas, passaram a adotar técnicas arcaicas como peças centrais em seus sistemas de produção28.

A transformação da estrutura do mercado de trabalho teve como paralelo mudanças de igual importância na organização industrial. Por exemplo, a subcontratação organizada abre oportunidade para a formação de pequenos negócios e, em alguns casos, permite que sistemas mais antigos de trabalho doméstico, artesanal, familiar (patriarcal) e paternalista [...] revivam e floresçam, mas agora como peças centrais, e não apêndices do sistema produtivo. [...] O rápido crescimento de economias “negras”, “informais” ou “subterrâneas” também tem sido documentado em todo mundo capitalista avançado, levando alguns a detectar uma crescente convergência entre sistemas de trabalho “terceiro-mundistas” e capitalistas avançados. Contudo, a ascensão de novas formas de organização industrial e o retorno de formas mais antigas [...] representam coisas bem diferentes em diferentes lugares. Às vezes, indicam o surgimento de novas estratégias de sobrevivência para os desempregados ou pessoas totalmente descriminadas [...], enquanto em outros casos existem apenas grupos imigrantes tentando entrar num sistema de altos lucros no comércio ilegal em sua base. Em todos esses casos, o efeito é uma transformação do modo de controle do trabalho e emprego. (HARVEY, 2009, p.145)

Karl Marx, em sua obra clássica, “O Capital”, sobre as formas de reprodução do capital, já sinalizara que:

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Leon Trotsky, como teórico crítico às relações próprias do sistema capitalista, é célebre principalmente por suas Teorias da Revolução Permanente e do Desenvolvimento Desigual e Combinado. A Teoria do Desenvolvimento Desigual e Combinado é explicitada por Trotsky na obra “História da Revolução Russa” (1967), onde o autor faz de tal revolução exemplo prático na história moderna do que trata em sua teoria. A Teoria parte da constatação de que o capitalismo é um sistema mundial que liga todos os países por meio de seu modo de produção e comércio, como se fosse um só organismo econômico e político. O capitalismo toma formas diferentes nos centros industriais avançados e nos países da periferia, estando estes últimos submetidos à dominação econômica dos avançados. Segundo a Teoria, nos países da periferia, os processos de desenvolvimento socioeconômicos se dão por saltos descontínuos que de forma alguma reproduzem as etapas do processo de industrialização vividas pelos países centrais. Dando o exemplo da Rússia, Trotsky afirma que lá o capitalismo não se desenvolveu a partir do sistema artesanal, ele se desenvolveu sob as bases do capitalismo europeu que liberava para os principais ramos da produção e comunicação uma série de etapas técnicas e econômicas, pelas quais alguns países europeus haviam passado, mas a Rússia não. São estágios diferentes que se combinam. É um processo de desenvolvimento capitalista criado pela união das condições locais (atrasadas) com condições gerais (avançadas). Esta visão dialética do desenvolvimento histórico através de saltos súbitos e de fusões contraditórias permitiu a Trotsky escapar da visão evolucionista da história. (LÖWY, 1995).

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Sobre esta interpretação de Harvey, Virginia Fontes (2010, p. 62) pondera que: “Para Harvey, a acumulação por despossessão [acumulação por espoliação] indica o renascimento modificado, no mundo contemporâneo, de uma forma arcaica (acumulação primitiva), que volta a se expandir, incidindo, inclusive, nos países já plenamente capitalistas, e que implica a eliminação (espoliação) de direitos e o controle capitalista de formas de propriedade coletiva (como natureza, águas, conhecimento) e, com isso, potencializa sua acumulação”. Segundo a autora, Harvey interpreta a acumulação por espoliação como típica de um momento diferente daquele onde impera a acumulação ampliada, tida como normal, do capitalismo “normalizado”. Para Fontes, no entanto, ambas as formas sempre coexistiram, “a expansão histórica do capitalismo jamais correspondeu a uma forma plenamente ‘normalizada’, pois nunca dispensou a especulação, a fraude, o roubo aberto e, sobretudo, as expropriações primárias, todos, ao contrário, impulsionados” (FONTES, 2010, p.63).

A reprodução simples reproduz constantemente a mesma relação capitalista, capitalista de um lado e assalariado do outro; do mesmo modo, a reprodução ampliada ou a acumulação reproduz a mesma relação em escala ampliada: mais capitalistas ou capitalistas mais poderosos, num pólo, e mais assalariados no outro. A força de trabalho tem de incorporar-se continuamente ao capital como meio de expandi-lo, não pode livrar-se dele. Sua escravização ao capital se dissimula apenas com a mudança dos capitalistas a que se vende, e sua reprodução constitui, na realidade, um fator de reprodução do próprio capital. Acumular capital é portanto aumentar o proletariado29. (MARX, 1971. p. 715 – grifos da autora)

Como resultado desta organização capitalista, cada vez mais concentradora de capital, ao passo que cada vez mais dispersa geograficamente pelo planeta, Antunes esclarece:

[...] intensificam-se as formas de extração do trabalho, ampliam-se as terceirizações, as noções de tempo e espaço também são profundamente afetadas e tudo isso muda muito o modo do capital produzir as mercadorias e valorizar-se. Hoje, onde havia uma empresa concentrada, pode-se, através do incremento tecnológico- informacional, criar centenas de pequenas unidades interligadas pela rede, com número muito mais reduzido de trabalhadores e produzindo muitas vezes mais. (ANTUNES, 2006, p.46)

Os avanços tecnológicos dos meios de produção propiciam que o quantitativo produzido seja cada vez maior com a utilização de um contingente cada vez menor de força de trabalho. A isto se soma a constatação de que, com a desregulamentação associada à facilidade de deslocalização, não só a produção se internacionalizou, mas a oferta de força de trabalho também passa a ser considerada em uma perspectiva global. Sendo assim, torna-se óbvio, um dos mecanismos de formação do proletariado, em diversos cantos do planeta.

É válido esclarecer, com base na crítica à economia política do capital realizada por Karl Marx, que a formação deste exército industrial de reserva, onde o proletariado se insere, é parte de “uma lei da população peculiar ao modo capitalista de produção”. (MARX, 1971, p.732-733) É, portanto, necessária à acumulação e perpetuação do sistema, não deve ser encarada, por conseguinte, como uma “falha no percurso” ou um deslize passível de ser reparado. É algo que, dentro deste sistema, não terá fim.

Em todos os ramos, o aumento do capital variável, ou seja, do número de trabalhadores empregados está sempre associado a flutuações violentas e à formação transitória de superpopulação pelo processo mais contundente de repulsão dos trabalhadores já empregados, ou pelo menos visível, porém não menos real, da absorção mais difícil da população trabalhadora adicional pelos canais costumeiros. [...] Por isso, a população trabalhadora, ao produzir a acumulação do capital, produz, em proporções crescentes, os meios que fazem dela, relativamente, uma população supérflua. (MARX, 1971, p. 732)

29 Marx define o proletariado como “o assalariado que produz e expande o capital e é lançado à rua logo que se torna supérfluo às necessidades de expansão do ‘monsieur capital’”. (MARX, 1971. p.715)

A formação de um “exército de reserva” é componente da lógica de existência e perpetuação do sistema capitalista, pois é ao utilizá-lo como “fator de barganha” que os empregadores/capitalistas conseguem diminuir os salários e suprimir manifestações contrárias por parte dos trabalhadores. A lógica é de que a substituição de um trabalhador que esteja a agir em desacordo com o capitalista, seu empregador e comprador de sua força de trabalho, é bastante rápida uma vez que há um enorme contingente de pessoas disponíveis para substituí- lo no processo produtivo sob cada vez mais baixos custos. Assim como a formação deste exército faz-se necessária para suprir as demandas do capital em momentos de expansão através da garantia de força de trabalho disponível e a baixos custos.

As transformações produtivas propiciaram a internacionalização da produção e, em paralelo, proporcionaram também o acirramento da concorrência no interior da classe trabalhadora por postos de trabalho, em âmbito internacional. Como destaca Marx (1971, p.743), “as fases alternadas dos ciclos industriais fazem-na [a superpopulação relativa] aparecer ora em forma aguda nas crises, ora em forma crônica, nos períodos de paralização”.

A crise estrutural da década de 1970, e o esforço norte-americano para livrar-se desta, fizeram ampliar o contingente do exército industrial de reserva, e a existência desta superpopulação relativa tornou-se evidente em suas diversas formas de existência30.

Para Maria Augusta Tavares e Marcelo Sticovsky,

Do ponto de vista do trabalho, a reestruturação produtiva ampliou as formas de exploração, além de ter expulsado milhares de trabalhadores do processo produtivo, determinando os crescentes índices de desemprego. O desemprego de longa duração não está mais restrito à periferia do sistema capitalista, mas se encontra disseminado por todo o mundo. (TAVARES; SITCOVSKY, 2012, p.218)

A superpopulação relativa se expressa, segundo Marx (1971), naqueles trabalhadores que periodicamente estão desempregados ou parcialmente empregados. Ademais, pode assumir as formas flutuante, latente e estagnada.

A forma flutuante é aquela que se manifesta no proletariado ora empregado, ora desempregado. Aquele que é chamado a suprir as necessidades de produção do capital por certo período de tempo e, depois, é dispensado e, assim, direciona-se à procura de outro capitalista a quem possa vender sua força de trabalho31. A expressão latente da

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Segundo Marx (1971), a “superpopulação relativa” constitui um “exército industrial de reserva” que está disponível às vontades do capital.

31 Como exemplo poderíamos considerar aqueles profissionais que migram com constância de empresa para empresa, seja por situação de desemprego temporário seja por troca voluntária. Entretanto, no Brasil contemporâneo, um exemplo clássico são os trabalhadores das grandes obras que estão sendo realizadas. Tais trabalhadores vinculam-se às empreiteiras, quando estas necessitam concretizar os empreendimentos (sempre

superpopulação relativa manifesta-se, sobretudo, em áreas rurais. Segundo Marx (1971), não ocorre no campo a oscilação entre momentos de atração e repulsão da força de trabalho, neste sentido, os trabalhadores não flutuam entre a situação de emprego e desemprego, eles permanecem no desemprego – o que leva à assertiva de existência, no campo, de uma população supérflua sempre latente32. A terceira forma da superpopulação relativa caracterizada por Marx (1971) é a estagnada. Esta se refere ao contingente populacional que trabalha em condições irregulares ou informais. Esta parcela da superpopulação relativa é a mais robusta, ela tende a aumentar na medida em que decair as condições de reprodução daqueles que se encontram nas duas categorias anteriores – a informalidade, ou a prestação de trabalho irregular, pode ser uma alternativa para a reprodução dos trabalhadores que não encontram quem compre sua força de trabalho. Esta reprodução se dará em condições de degradação constante – o pauperismo será a ameaça e a vida desta população “supérflua”33. (MARX, 1971)

Sobre a dispersão desta superpopulação relativa no mundo, Coggiola esclarece que:

Os países do centro da acumulação capitalista, por concentrarem e centralizarem o capital financeiro, concentram também os segmentos superiores do exército industrial de reserva (flutuante), os trabalhadores que se reciclam e voltam ao mercado de trabalho. Os países periféricos concentram as frações mais profundas do exército industrial de reserva, a parte “latente”, a superpopulação estagnada que constitui parte do exército de trabalhadores em ação, mas com ocupação totalmente irregular. O setor mais profundo é o que mais se desenvolve, na periferia capitalista. Cresce em número de pessoas, e desenvolve o que Marx chamou de “o mais