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2.4 Realce e Extração de Feições

2.4.3 Transformada de Hough

A transformada de Hough é uma das técnicas de extração de feições bastante conhecida na prática de processamento de imagens para detecção e vetorização de linhas. Sua principal vantagem é a viabilização da detecção de formas passíveis de

parametrização, como linhas, círculos e elipses, e conseqüentemente, a discriminação de ruídos da imagem com relação às formas parametrizadas.

A origem desta técnica está nos trabalhos desenvolvidos por Hough na década de 60, que abordou o problema original de determinação de pontos colineares na imagem. A transformação clássica foi estendida para identificar posições de formas arbitrárias por Duda e Hart (1972), conhecida como Transformada de Hough generalizada. Desde então vem sendo utilizada em vários trabalhos como em Blanford (1987), Illingworth e Kittler (1988), Roth e Levine (1993), Hansen e Andersen (1997), Habib (2000), dentre outros.

A transformada de Hough clássica, usada para a detecção de linhas retas, envolve a transformação de cada um dos pontos da imagem de uma linha reta para um espaço de parâmetros. O espaço de parâmetros é definido por uma representação paramétrica usada para descrever linhas. Hough optou por usar os parâmetros angular e linear da reta, e assim o espaço de parâmetros torna-se um plano bidimensional (DUDA e HART, 1972).

No método de Hough para retas, cada ponto da borda de uma imagem é transformado, através de um mapeamento, para células no espaço de parâmetros. Este método baseia-se na Equação (1), que é a equação de uma linha no espaço imagem (BALLARD e BROWN, 1982), sendo a o coeficiente angular e b o coeficiente linear da reta:

y=a x+ (1) b

A Figura 8a ilustra dois pontos distintos (P1 e P2) contidos numa linha reta no espaço imagem e a Figura 8b ilustra duas retas no espaço paramétrico (a-b), que correspondem aos dois pontos distintos no espaço imagem.

(a) (b)

Figura 8 - Uma linha (a) no espaço imagem, (b) no espaço de parâmetros.

.

.

A B (x’, y’) (x’’, y’’) y x

.

(a’, b’) b a P1 P2

Considerando as coordenadas do ponto P1 (x’, y’) (Figura 8a) como fixas no espaço imagem, o mapeamento entre os espaços imagem-parâmetros determina uma linha no espaço dos parâmetros (Figura 8b) do ponto considerado.

Seguindo esse raciocínio, um segundo ponto P2 (x”, y”) também terá uma linha associada no espaço de parâmetros, que se interceptará no ponto (a’, b’), correspondente aos coeficientes da linha AB no espaço imagem. Onde as linhas se interceptam no espaço de parâmetros tem-se a indicação da existência e da posição de pontos colineares. De fato, todos os pontos na linha AB produzirão linhas no espaço de parâmetros que se interceptam no ponto (a’, b’).

Quando a reta for vertical, ocorre um problema na utilização da equação da reta pelos coeficientes angular e linear da reta (Equação 1), e o sistema não tem solução. Para evitar este tipo de problema, uma outra parametrização da linha pode ser usada, como a de coordenadas polares.

A parametrização com coordenadas polares foi utilizada por Duda e Hart (1972), com a representação de uma linha por:

θ θ

ρ = cosx + ysen (2)

A geometria correspondente à Equação (2) é mostrada na Figura 9, a qual ilustra a parametrização específica de uma linha reta pelo ângulo θ e a distância normal e algébrica ρ a partir da origem.

Figura 9 - Parâmetros normais para uma linha. Fonte: Duda e Hart (1972).

θ ρ

x y

Se o ângulo θ for restringido ao intervalo [0; π], os parâmetros normais para uma linha são únicos. Com esta restrição, cada linha no espaço x-y corresponde a um único ponto no espaço θ - ρ.

Supondo agora um conjuntos de n pontos {(x1, y1), . . . , (xi, yi)} na imagem (Figura 10), a transformação dos n pontos (xi, yi) gera curvas senoidais (Figura 11) no espaço dos parâmetros θ - ρ (DUDA e HART, 1972):

θ θ

ρ = cosxi + yi sen (3)

A Figura 10 ilustra um conjunto de n pontos, contidos na linha reta do espaço imagem e a Figura 11 ilustra as curvas senoidais que representam cada ponto na linha reta do espaço imagem.

Figura 10 - Projeção dos pontos colineares em uma linha. Fonte: Duda e Hart (1972).

Figura 11 - Curvas senoidais no espaço de parâmetros.

As curvas correspondentes aos pontos colineares da reta na imagem têm um ponto de interseção comum. Este ponto no espaço dos parâmetros (θ - ρ) define a linha que

θ ρ x y

.

.

.

.

.

(xi, yi) (x3, y3) (x2, y2) (x1, y1) . ρ θ 1 2 3 4 (θi, ρi)

passa pelos pontos colineares. Os pontos que se interceptam no espaço de parâmetros para cada linha considerada, indicam os parâmetros correspondentes à forma específica dessa linha no espaço imagem.

Uma propriedade dual da transformação ponto-curva pode ser estabelecida. Considerando um conjunto de n pontos {(θ1, ρ1), . . . , (θi, ρi)} no espaço dos parâmetros (θ - ρ), o mapeamento inverso para o espaço imagem pode ser determinado a partir da Equação (4):

(

i x i

)

sen i

y= ρ − cosθ / θ (4)

As propriedades da transformação ponto-curva podem ser resumidas como segue (DUDA e HART, 1972):

- Propriedade 1: um ponto no plano da imagem corresponde à uma curva senoidal no plano dos parâmetros;

- Propriedade 2: um ponto no plano dos parâmetros corresponde à uma linha reta no plano da imagem;

- Propriedade 3: pontos contidos na mesma linha reta no plano da imagem correspondem à curvas passando por um ponto comum no plano dos parâmetros;

- Propriedade 4: pontos contidos na mesma curva no plano dos parâmetros correspondem a linhas sobre o mesmo ponto no plano da imagem.

Apesar da Transformada de Hough ser uma técnica robusta e muito conhecida, apresenta dificuldades quanto à necessidade de uma grande estrutura de dados. Além disso, não se consegue definir o início e o fim das retas determinadas, o que pode ser realizado em uma etapa posterior à identificação das linhas retas. Por outro lado, os problemas de oclusão e ruídos que ocorrem em imagens orbitais podem ser resolvidos com o apoio deste método.

A grande estrutura de dados usada na técnica de Hough, relacionada a uma matriz de acumuladores (espaço de parâmetros), pode ser restringida usando um intervalo específico para os parâmetros (θ-ρ), se esses parâmetros forem conhecidos a priori.

Para o caso da transformada de Hough para retas, uma possibilidade, é usar a informação a priori da orientação aproximada da reta que se deseja determinar, que pode ser

obtida, por exemplo, pelo cálculo das coordenadas dos extremos dessa reta, definida no espaço objeto, projetadas para o espaço imagem. Assim, a variação de (θ-ρ) é dada apenas nesse intervalo, diminuindo a dimensão da matriz de acumuladores no espaço de parâmetros.

Além da Transformada de Hough para retas, existem a Transformada de Hough para círculos e a Transformada de Hough Generalizada (BALLARD e BROWN, 1982).

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