• Nenhum resultado encontrado

CAPÍTULO 2 EXPLORANDO A MATERIALIZAÇÃO

2.1. Disputas paradigmáticas no campo político

2.1.2 Transições na “qualidade” da gestão pública

As experiências latinomaricanas com a “participação” remetem para a defesa de paradigmas nem sempre convergentes.

O processo de democratização verificado na América Latina na década de 1980 não se completou sinergicamente, não renasceu desvinculado das particularidades deixadas pelos governos militares, entre tantas, uma das mais graves heranças e, necessariamente destacável, seria a política de manutenção de uma população “apolítica”. Para Finot (2001, p.15)

[…] al nuevo Estado democrático le correspondería, básicamente: (i) en lo económico, crear las mejores condiciones para la competitividad; (ii) en lo social, reducir la pobreza y asegurar equidad, y (iii) en lo político, viabilizar

22

Tomando como referência a política da Secretaria de Desenvolvimento Territorial (SDT) do Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA) no Brasil, por exemplo.

una participación constructiva. Además, cumplir estas funciones con eficiencia y probidad. El logro de estos objetivos resulta tanto más difícil cuanto: (i) durante el centralismo se desarrolló una cultura proteccionista que favorece funcionamientos monopólicos; (ii) las desigualdades y en particular la pobreza resultaron acrecentadas por la crisis y el consiguiente ajuste, y (iii) durante el centralismo se fortaleció una fuerte cultura paternalista, clientelista y prebendalista .

Assim, a promoção da descentralização buscava superar alguns problemas como: a corrupção, a participação, a equidade e a competitividade. Pode-se observar que, em relação à situação anterior, houve melhorias, entretanto, não ocorreram os resultados esperados na redução da concentração econômica em algumas regiões, apesar dos enormes gastos públicos para promovê-la e, além disso, a corrupção cresceu substancialmente. Finot (2001, p.24) complementa:

Los mayores interrogantes, sin embargo, se refieren a la esperada contribución de la descentralización a la competitividad. No se está logrando contrarrestar una tendencia a la concentración, no hay evidencias de que la descentralización política contribuya a una mayor eficiencia – incluida la reducción de la corrupción - y sí existen serios indicios de que los actuales sistemas de financiamiento están contribuyendo a crear presiones inflacionarias.

Neste contexto, pode-se observar que a descentralização política, foi realizada através de uma fórmula bastante conservadora em seu estabelecimento, pois manteve-se a estrutura central, de certo modo intacta, e ainda incrementaram os inúmeros sub-governos descentralizados, porém todos envoltos em um sistema político-partidário onde a participação cidadã se dá, basicamente, pelo comparecimento as urnas. Nesta estruturação administrativa, se produziram exorbitantes gastos públicos que refletiram nas pressões inflacionárias e assim, o Estado adquiriu um grande “peso” em relação a sua baixa funcionalidade refletida através de seus serviços precários.

Neste sentido, o que se tenta expor, de modo geral, nesta seção, tomando-se como referência o modelo embrionário de democratização implantado no Brasil, é que para alterar os quadros de centralização política aqui vivenciados, gerou-se outra forma de centralismo, ou seja, atribuiu-se aos partidos políticos as decisões sobre as perspectivas de desenvolvimento que a sociedade assumiria e, assumiria através do voto obrigatório. Neste quadro de formação deste centralismo partidário é necessário destacar um dos problemas de maior incidência, a corrupção, sobre a qual Finot (2001, p.24) realiza sua leitura colocando que

Se puede afirmar que, en general, la corrupción globalmente habría aumentado con la descentralización debido a tres factores adicionales, vinculados entre sí: (i) la multiplicación de procesos de asignación sin que se haya logrado movilizar el control social, (ii) la mayor dificultad consiguiente para que los órganos centrales de control puedan cumplir sus funciones, (iii) el mayor grado de relaciones personales entre autoridades y proveedores (Tanzi, 1997). En general, las oportunidades de corrupción serían mayores en los casos en que la descentralización no alcanza a los niveles más próximos al ciudadano y más bien contribuye a potenciar nuevos centralismos.

De modo geral, é possível observar que o processo de descentralização política culminou, na verdade, numa espécie de centralismo político-partidário, em que o desenvolvimento passou a depender, principalmente, da conjuntura estabelecida após cada processo eleitoral. Cada localidade, por menor que seja, passou a contar com prefeituras e bancadas executivas, espraiando a organização partidária para todos os lados, transformando o processo eleitoral numa subversiva manipulação de massas, onde a publicidade passou a desempenhar papel fundamental.

Este cenário, entre outros fatores, proporcionou visualizar e dialogar com outras matrizes/utopias organizativas, as quais buscavam escapar das novas dependências e centralismos, perseguindo um modelo de sociedade radicalmente democrática, participativa, desconcentrada, estável e eqüitativa, preconizando democracias de base participativas em agregação territorial. Deste modo, a abordagem territorial, ancorada em princípios da democracia deliberativa, foi percebida como a oportunidade de criar ambientes de interação entre as instituições e organizações sociais e o governo central, formulando outra idéia de governança democrática que, de certa forma, não depende diretamente da organização político- partidária.

2.1.3 Identificando convergências

A alternância de processos de centralização e descentralização indica a concorrência de paradigmas divergentes em disputa. Neste contexto, retomando brevemente a abordagem utilizada nas considerações acerca do campo político, entende-se que a tendência a “desbabelização” indicada pelo mesmo, revela-se nos processos descentralizadores para os governos da sociedade. Sob governo dos Estados-Nação promoveram-se centralismos descentralizadores, incorporando instâncias de discussão política descentralizadas setorialmente, contudo, altamente

dependentes da estruturação central. Observando-se, atualmente, a tentativa da idealização de propostas no sentido da materialização de processos de territorialização, em que a gestão pública se desenvolveria a partir dos territórios, ou seja, haveria uma passagem da perspectiva setorial para a territorial, a qual ainda dependeria do centralismo estatal, entretanto, este teria com menor incidência nas decisões acerca do desenvolvimento, levando em conta, assim, a organização local. Este processo viria acompanhado de um repensar nas formas de participação, com valorização da participação direta, a qual para se afirmar estabelece disputa com o paradigma da participação por representação.