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1.5 ORÇAMENTO: TUDO É TRANSPARENTE OU HÁ ALGO SIGILOSO?

1.5.1 Transparência no Orçamento Público

Antes de iniciar o debate sobre a Transparência no Orçamento, é oportuno abordar o princípio constitucional da publicidade, o qual estipula que “a administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência”. Pelos entendimentos de Alexandrino e Paulo (2010), esse princípio tem dois aspectos de interpretação. Um refere-se ao princípio da publicidade oficial dos atos administrativos, sendo condição necessária para que certa norma tenha efeitos jurídicos. O outro, ao princípio da transparência, em que o poder público deve ser o mais transparente possível, para que a sociedade conheça as ações dos agentes públicos.

Em um dispositivo da CF88, no inciso XXXIII, do art. 5º, que trata sobre Direitos e Deveres Individuais e Coletivos, existe a determinação de que todos têm direito à informação. Pois, todos têm direito a receber dos órgãos públicos informações de seu interesse particular, ou de interesse coletivo ou geral, que serão prestadas no prazo da lei, sob pena de responsabilidade, ressalvadas aquelas cujo sigilo seja imprescindível à segurança da sociedade e do Estado.

Esse dispositivo constitucional trouxe a previsão do direito à informação. Contudo, havia a necessidade de regulamentação para que o direito fosse efetivamente disponibilizado. Em sequência, a Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF), surgiu como um dos marcos essenciais na política de transparência governamental brasileira. De acordo com Culau e Fortis (2006, p. 9), “a leitura dos dispositivos da LRF sobre transparência permite constatar que a sistemática adotada no Brasil de divulgação das informações encontra-se alinhada com as melhores práticas internacionais”.

No estudo da LRF, percebe-se a preocupação com a Transparência das finanças governamental. A LRF cita regras e procedimentos com o fim de auxiliar a elaboração e divulgação de relatórios e demonstrativos de finanças públicas, para se realizar a fiscalização e o controle. Tendo como objetivo possibilitar ao cidadão a avaliação da atuação da administração pública por meio dos relatórios e demonstrativos fiscais. São instrumentos de transparência da gestão fiscal, aos quais será dada ampla divulgação, inclusive em meios eletrônicos de acesso público: os planos, orçamentos e leis de diretrizes orçamentárias; as prestações de contas e o respectivo parecer prévio; o Relatório Resumido da Execução Orçamentária e o Relatório de Gestão Fiscal; e as versões simplificadas desses documentos.

A transparência será assegurada também mediante incentivo à participação popular e realização de audiências públicas, durante os processos de elaboração e discussão dos planos, lei de diretrizes orçamentárias e orçamentos; liberação ao pleno conhecimento e acompanhamento da sociedade, em tempo real, de informações pormenorizadas sobre a execução orçamentária e financeira, em meios eletrônicos de acesso público; e adoção de sistema integrado de administração financeira e controle, que atenda a padrão mínimo de qualidade estabelecido pelo Poder Executivo da União.

A partir da implementação da LRF, o governo vem elaborando relatórios sobre o acompanhamento do aspecto fiscal do orçamento, os quais são divulgados

bimestralmente, com informações da execução orçamentária e financeira. As determinações de publicidade e transparência na LRF objetivam garantir que a sociedade tenha acesso suficiente a dados da política fiscal do governo, para fomentar o exercício ao direito de fiscalizar a gestão das finanças públicas. Nesse sentido, Sacramento e Pinho (2009, p. 7) expõem que “a transparência na gestão fiscal da administração pública no Brasil, com o advento da LRF, foi bastante aprimorada”.

Com o passar dos anos e o avanço tecnológico, houve a necessidade de maior disponibilização de dados e informações pelos órgãos e entidades da Administração Pública Federal pela internet, daí que surge o Decreto nº 5.482/2005, formalizando a criação do Portal da Transparência no âmbito do Poder Executivo Federal, como instrumento de disponibilizar dados e informações pormenorizadas da execução orçamentária e financeira da União e, ainda, cria os Portais da Transparência pública, em que os órgãos e instituições que utilizam de recursos públicos devem divulgar a execução desses recursos.

A publicação da Lei complementar nº 131/2009 trouxe um reforço à LRF, ressaltando a importância da temática ligada à transparência. Além de prevê a obrigatoriedade de três entes da federação disponibilizarem informações da execução orçamentária e financeira de forma detalhada, em tempo real e por meio eletrônico, ainda determinou a criação do Portal da Transparência Pública. Sem falar que obrigou os entes a disponibilizar a qualquer pessoa física ou jurídica o acesso a informações concernentes às suas receitas e despesas, proporcionando o acompanhamento das ações do governo pela sociedade.

Logo em seguida, em 2011, a LAI surgiu trazendo inovações no campo da transparência de informações do governo. Ela estabeleceu que o acesso à informação é regra geral e o sigilo, a exceção, haja vista que a transparência de informações públicas é o meio para exercer a democracia. De acordo com a lei, subordinam-se a ela a Administração direta e indireta de todos os poderes e entes federativos. Ainda, determina a sua aplicação também às entidades privadas sem fins lucrativos que recebam, para realização de ações de interesse público, recursos públicos, seja diretamente do orçamento ou por meio de subvenções sociais, contrato de gestão, termo de parceria, convênios, acordo, ajustes ou outros instrumentos congêneres.

A LAI trouxe regramentos quanto ao acesso a informações e da sua divulgação, estabelecendo regras para o pedido de acesso a informações que não foram disponibilizadas espontaneamente, inclusive como fazer recursos, caso o acesso seja negado. Além disso, prevê casos de restrições de acesso à informação quando consideradas imprescindíveis à segurança da sociedade ou do Estado, sendo passíveis de classificação em ultrassecreto, secreto e reservada. Previu, também, a transparência ativa e a passiva dos atos governamentais, sua publicação representou um importante acontecimento para o fortalecimento das políticas sobre transparência pública no Brasil, inclusive na seara orçamentária.

Atualmente, além dos Portais da Transparência, temos alguns instrumentos que fomentam a transparência pública, como o Sistema Integrado de Administração Financeira do Governo Federal (SIAFI), Sistema Integrado de Custos (SIC) e o SIGA BRASIL, os quais evidenciam dados e informações públicas sobre a execução orçamentária e financeira do governo federal, tornando-as transparente.