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3.1. Marco Regulamentar do Transporte e do Turismo

3.1.1. Transporte e Turismo na Constituição Federal

A Constituição vigente é a que foi promulgada em 5 de outubro de 1988, e no que diz respeito aos transportes ela é bastante pródiga. Já no art. 5º, onde estão listados os direitos e deveres individuais e coletivos, tem-se a imposição para que o Estado promova a defesa do consumidor (inciso XXXII) – o que veio a ser regulamentado com a edição do Código de Defesa do Consumidor (Lei n° 8078, de 11/9/1990), onde o usuário de serviços de transporte encontra resguardo dos direitos de contratante desses serviços, sejam eles públicos ou privados.

Com relação a responsabilização por danos causados a terceiros, o art. 37 - § 6º encontrou guarita naquele mesmo Código de Defesa do Consumidor, que em seu art. 14 cuida da reparação de danos por defeitos relativos à prestação dos serviços.

Também o direito de greve teve alteração, já que nos serviços indispensáveis ao atendimento às necessidades da comunidade, a sua prestação não pode ser integralmente interrompida (Lei n° 7.783, de 26/9/1989), devendo ser comunicada previamente a sua deflagração.

Sobre as competências federal, estadual e municipal a Carta vigente define o que cumpre a cada uma dessas esferas de poder, e com respeito especificamente ao transporte rodoviário interurbano, em âmbito de ligações entre localidades situadas em diferentes unidades federativas – objeto desse trabalho – a competência por sua implementação é do Governo Federal, para explorar, diretamente ou mediante autorização, concessão ou permissão, os serviços de transporte rodoviário interestadual e internacional de passageiros (art. 21 – XXI);

assim como a competência dos transportes intermunicipais é dos Estados, e a que

versa sobre o local de embarque/desembarque numa localidade, ou seja, o terminal rodoviário, é do município.

Também se assegura privativamente à União legislar sobre as “diretrizes de política nacional de transporte” (art. 22 – IX), e sobre “trânsito e transporte” (Art. 22 – XI).

Sobre a concessão ou permissão – que afeta aos serviços regulares de transporte rodoviário de passageiros -, também compete à União para ditar as normas gerais de licitação e contratação, o que está regulamentado em duas leis:

Lei n° 8.897, de 3/2/1995, que dispõe sobre o regime de concessão e permissão da prestação de serviços públicos, inclusive corrigindo um lapso na CF com respeito a manutenção do equilíbrio econômico e financeiro das concessionárias e permissionárias do Estado (art. 175 da CF, que entre outras disposições estabelece que devem estar dispostos em lei os direitos dos usuários, a política tarifária e a obrigação de manter serviço adequado); e a Lei n° 9.074, de 7/7/1995, que estabelece normas de outorga e de prorrogação das delegações. ou seja, com respeito ao transporte regular de pessoas é indispensável a concorrência pública, cumprindo aos estados e municípios apenas estabelecer as condições específicas de disciplina da concessão do serviço de transporte.

A respeito ao ordenamento urbano, encontra-se disciplinado na CF a faculdade de a União criar regiões metropolitanas, aglomerações urbanas ou micro-regiões, que serão de utilidade capital no desenvolvimento deste trabalho.

Sobre a possibilidade de cobrança de qualquer tributo, o único imposto que pode incidir sobre a prestação de serviços de transporte interestadual e intermunicipal de passageiros, que anteriormente era da União, passou a ser dos Estados. Além dele, apenas a cobrança de pedágios, para fins de conservação rodoviária, é possível ser realizada sobre o tráfego dos ônibus em território nacional (as travessias em balsa, e as taxas de embarque em rodoviárias, são pagamentos pela contraprestação de serviços, e não tributos).

O disciplinamento dos modais de transporte aéreo, marítimo ou terrestre a Constituição o remete para lei ordinária (art. 178 – I) e quanto ao transporte internacional, aos acordos firmados pela União, atendido o princípio da reciprocidade (art. 178 - § 1°).

Também na CF está a proteção especial às pessoas portadoras de deficiência, garantindo-lhes veículos de transporte coletivo com acesso adequado

(art. 227 - §2°), e aos idosos – mais de 65 anos – a gratuidade dos transportes coletivos urbanos (art. 230 - §2°). Ambas as disposições, contudo, afetam apenas o transporte regular de passageiros, não tendo efeitos sobre o transporte realizado por ônibus fretado e nos serviços turísticos.

“Turismo” vai aparecer na Constituição no art. 180, no capítulo relativo aos princípios gerais da atividade econômica (o que significa reconhece-lo, no entender de juristas, como uma atividade econômica) com a seguinte disposição: “A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios promoverão e incentivarão o turismo como fator de desenvolvimento social e econômico”. Ou seja, diferentemente dos transporte rodoviários, a atividade turística, exclusiva da iniciativa privada, tem no Estado apenas um elemento de promoção e incentivo, nunca o de execução.

Subentende-se que aquele “fator de desenvolvimento social econômico” diz respeito ao desenvolvimento sustentável, ou seja, aquele que atende às necessidades do presente sem comprometer a capacidade de futuras gerações de atenderem as suas próprias necessidades, e que encontra eco no dizer de Maria da Glória Lanci da Silva (in Cidades Turísticas – Identidade e Cenários de lazer; p. 21)

“os lugares explorados pelo turismo são, em grande parte, vendidos como cenários produzidos sobre uma base paisagística preexistente que, associada a aspectos culturais, históricos e geográficos, constitui a matéria-prima para o processo contínuo de produção e consumo de espaço”, e então, esses cenários se encaixam dentro da perspectiva de um turismo de forma sustentável, comprometido com a preservação do meio ambiente como um todo – natureza, cultura regional e história.

Nesse sentido, encontra-se insculpido na CF, em seu artigo 225, que trata do meio ambiente, “que todos tem direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao poder público e à coletividade o dever de defendê-lo e preserva-lo paras as presentes e futuras gerações”. Fica evidente, por aí, que crescimento econômico (geração de emprego e renda por meio de estímulos às atividades de transporte, hotelaria, alimentação, comércio, artesanato, entretenimento, etc) e desenvolvimento social (inclusão social e melhoria da qualidade de vida), por meio de atividades turísticas exigem um adequado planejamento territorial, que levem em consideração os limites da sustentabilidade, e é aí que deve estar atento o poder público quando implementar ações que visem o desenvolvimento de uma região ou polo turístico.

Ainda como matéria constitucional e que tem interferência sobre a atividade turística pode-se destacar o que dispõe o Art. 23 a respeito da proteção ao patrimônio histórico e artístico nacional, e o Art. 24, em seu inciso VII, que prescreva a competência da União, Estados e Distrito federal em legislar concorrentemente sobre a “responsabilidade por dano ao meio ambiente, ao consumidor, a bens e direitos de valor artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico”.

Há autores que, inclusive, relacionam o direito ao lazer, estabelecido no art.

6° da CF como um dos direitos sociais do cidadão, como uma forma de atribuir ao Estado a obrigação de propiciar meios de desfrute de lazer pela população, onde o turismo estaria, então, incluído, já que se trata de uma forma de lazer, o que não é, de todo, uma interpretação errada ou equivocada, desde que, ao nosso ver, se limite à promoção e incentivo de qualquer atividade turística, mas nunca a sua efetiva operação.

3.1.2. O Transporte Rodoviário na Legislação Ordinária