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Capítulo II – Revisão de literatura

2.3. Setor dos serviços

2.3.8. Transportes

Teixeira (2011) efetuou um estudo de caso, no qual analisou a viabilidade da aplicação do sistema ABC através da utilização de uma simples folha de cálculo na “Transportes Barbas, Lda.”, uma empresa portuguesa sediada na Zona Industrial da Maia do setor de transportes públicos rodoviários de mercadorias. O objetivo foi demonstrar que a implementação do ABC era viável e sem o recurso a softwares específicos, por regra, muito dispendiosos. Segundo a autora os motivos mais apontados para a não adoção do modelo têm sido a complexidade da sua aplicação e as suas exigências em termos de tempo, de recursos humanos especializados e de capacidade financeira. Desta forma, a autora visou com o seu estudo contribuir para se ultrapassar o obstáculo da capacidade financeira. A par disso, pretendeu, por um lado, apurar quais os serviços prestados e os clientes mais rentáveis e, por outro lado, destacar a necessidade de as empresas conhecerem as suas atividades para que as decisões sejam tomadas de forma apropriada e em tempo oportuno.

Embora a empresa em análise tivesse apenas cinco serviços e, portanto, não houvesse muita diversificação, Teixeira (2011) concluiu que os resultados obtidos pelo sistema tradicional e pelo ABC eram diferentes.

Os resultados do modelo ABC salientaram a necessidade de a empresa analisar e ponderar sobre a viabilidade dos diversos serviços, já que alguns apresentavam margens negativas, o que colocava em causa a sobrevivência da empresa. Só o serviço de armazenagem apresentava margem positiva, pois, apesar de ter custos elevados, estes eram compensados pelos valores realizados, o que fazia crer que o espaço disponível no armazém estava bem rentabilizado, devendo investir-se neste serviço. Relativamente aos serviços de transporte nacional e internacional, ambos apresentavam margens negativas. Porém, o serviço de transporte nacional apresentava uma margem menos negativa, pelo que seria o serviço mais fácil de rentabilizar. Acrescente-se também que mesmo no seio do serviço de transporte nacional existia o serviço de carga geral e o dos contentores, sendo este último o que apresentava margem menos negativa, sendo, por isso, aquele em que a empresa deveria apostar, já que acarretava menos custos indiretos.

Desta forma, o ABC demonstrou que, se nada fosse feito, a margem negativa do serviço de transporte nacional, que era o principal serviço da empresa, conduziria ao estrangulamento financeiro da empresa. No que diz respeito ao serviço de transporte internacional, cuja continuidade já vinha sendo posta em causa pela empresa, foi possível concluir que os seus custos, quer diretos quer indiretos, não estavam, de facto, a ser cobertos pelos montantes realizados, o que era explicável pelos seus altos custos com mão- de-obra, pelas flutuações dos preços do combustível e pelos elevados custos indiretos que acarretava.

Nesta conformidade, o cliente nacional, que adquiria o serviço de transporte nacional, apresentava uma margem positiva de armazenagem e o cliente que adquiria o serviço internacional uma margem negativa, pois este serviço gerava custos, diretos e indiretos, muito elevados.

Os resultados apresentados pelo sistema ABC permitiram, assim, realçá-lo como uma importante ferramenta de controlo de gestão, uma vez que conduziu a que a posição da empresa face à concorrência fosse ponderada e a que os recursos disponíveis fossem reafectados a outros serviços, com o intuito de se alcançar maior valor acrescentado para a empresa.

De salientar que o estudo em questão teve algumas limitações devido, por um lado, ao facto de os dados estarem dispersos pelos diversos documentos contabilísticos e a autora não ter tido acesso a dados mais pormenorizados, como km percorridos, rotas efetuadas e tipo de serviços prestados. Por outro lado, devido ao facto de se terem utilizado dados históricos e de o estudo se ter centrado em entrevistas informais efetuadas a gestores e funcionários podia haver uma certa carga de subjetividade e de imprecisão.

Teixeira (2011) propôs, assim, à empresa em análise que efetuasse estudos de mercado e apostasse noutros serviços para rentabilizar o negócio, tais como os serviços de mudanças e de perecíveis, e que redefinisse o seu sistema de apuramento de custos e a estratégia. Adicionalmente propôs, por um lado, a realização de inquéritos aos funcionários para se aferir das atividades realizadas com um menor grau de subjetividade e, por outro lado, a aquisição do chamado software de gestão de frota, o qual permitiria à empresa perceber melhor quais os serviços prestados e desses quais os que deveriam ser eliminados devido aos elevados prejuízos que apresentavam.

Também Baykasoğlu e Kaplanoğlu (2008) efetuaram um estudo de caso numa empresa de transporte terrestre situada na Turquia. No entanto, ao contrário de Teixeira (2011), estes autores não se ficaram pela mera análise da viabilidade da aplicação do modelo: procederam à sua implementação na referida empresa. O objetivo era propor um modelo que melhorasse a eficácia do sistema ABC, através da sua utilização em combinação, por um lado, com um software específico, denominado SIMPROCESS, que auxiliasse a empresa a modelar ou a ajustar os processos de negócio conforme lhe fosse mais conveniente e, por outro lado, com um sistema de hierarquia analítica que ajudasse a empresa na definição mais adequada dos seus cost drivers. Este último sistema referido, também defendido por Tsai e Hung (2009), apesar de ainda ser muito pouco utilizado em combinação com o ABC, confere rigor na análise e escolha dos cost drivers, já que sistematiza a informação, auxiliando a entidade na alocação dos diversos consumos.

Das conclusões desta investigação o autor destacou que o sistema tradicional que vinha sendo utilizado pela empresa não efetuava adequadamente a distribuição dos custos comuns pelos diversos serviços. Pelo contrário, o modelo combinado proposto mostrou-se bastante eficaz para o efeito. Este modelo ABC combinado evidenciou diferenças consideráveis face ao anterior sistema tradicional, nomeadamente no que diz respeito ao serviço de importação da Bélgica para a Turquia, o qual era rentável segundo o sistema

tradicional e depois passou a gerar prejuízo de acordo com o ABC. Na figura abaixo percebe-se claramente essas diferenças detetadas entre os dois métodos (modelo tradicional e modelo ABC combinado) no cálculo dos custos a imputar aos diversos serviços da entidade. Estas diferenças, como acabamos de referir, em alguns casos são bem notórias.

Figura 5 - ABC, TCA cost estimations and the transportation price.

Fonte: Baykasoğlu e Kaplanoğlu (2008, p. 323)