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Tratado versus constituição anterior caso da Convenção 158 da Organização Internacional

No documento HELOISA HELENA DE ALMEIDA PORTUGAL (páginas 111-117)

2.3 Os posicionamentos do STF na aplicação de tratados internacionais de direitos humanos no

2.3.2 Tratado versus constituição anterior caso da Convenção 158 da Organização Internacional

A Convenção nº 158 da OIT, sobre o Término da Relação de Trabalho por Iniciativa do Empregador, foi aprovada na 68ª reunião da Conferência Internacional do Trabalho (Genebra, 1982) e entrou em vigor no plano internacional em 23 de novembro de 1985.

Os „Considerandos‟ da Convenção declaram que, desde a adoção da Recomendação nº 119, sobre o Término da Relação de Trabalho, de 1963, foram registradas importantes novidades na legislação e na prática de numerosos Estados- Membros relativas às questões que essa Recomendação abrange e que, em razão disso, foi oportuno adotar novas normas internacionais na matéria.195

194 PIOVESAN, Flávia. Direitos humanos ... op. Cit., p. 83-84

A Convenção 158 esclarece que deverão ser previstas garantias adequadas contra o recurso a contratos de trabalho de duração determinada cujo objetivo seja o de iludir a proteção prevista pela Convenção.

O depósito da carta de ratificação, após regular trâmite de aprovação pelo Poder Legislativo (Decreto Legislativo nº 68/92), foi efetuado na Repartição Internacional do Trabalho (RIT) da OIT pelo Governo Brasileiro em 05 de janeiro de 1995. Em seguida, foi promulgada pelo Decreto nº 1.855, de 10 de abril de 1996. Meses após, em 23 de dezembro de 1996, o chefe do Poder Executivo denunciou unilateralmente a Convenção através da publicação do Decreto nº 2.100/96196.

Em suma, a Convenção 158 veda as dispensas imotivadas, determinando que a despedida do empregado deva fundar-se numa causa justificada, seja relacionada com sua capacidade ou conduta, seja para preservar o adequado funcionamento da empresa, estabelecimento ou serviço.

A polêmica em torno do texto da Convenção 158 diz respeito à sua constitucionalidade formal. A proteção da dispensa arbitrária, conforme posto, foi prevista no artigo 7o, I da Constituição Federal, que relegou a regulamentação da matéria à lei complementar.

Estabelece o artigo 7º, I, da Constituição Federal, como direito dos trabalhadores urbanos e rurais, a relação de emprego protegida contra despedida arbitrária ou sem justa causa, nos termos da Lei complementar que prevê indenização compensatória, dentre outros direitos.

196 SABINO, João Filipe Moreira Lacerda. Convenção n. 158 da OIT - Aspectos Polêmicos e Atuais.

Quando da promulgação da Convenção 158, a referida lei complementar ainda não tinha sido publicada e tampouco vigorava o parágrafo terceiro do art. 5o da Constituição Federal, acrescido pela Emenda Constitucional 45 de 08.12.2004, que estabeleceu em sua redação expressamente que os tratados e convenções internacionais sobre direitos humanos que forem aprovados em cada casa do Congresso Nacional, em dois turnos, por três quintos dos votos dos respectivos membros, serão equivalentes às emendas constitucionais.

Não obstante a polêmica em relação aos prazos, a Convenção 158 é considerada por grande parte da doutrina como tratado internacional de Direitos Humanos, e nesta qualidade incorpora-se à ordem jurídica nacional com status de norma constitucional, e por assegurar direitos fundamentais, é considerada verdadeira cláusula pétrea e, portanto, não poderia ser denunciada através de ato único do Presidente da República (Decreto 2.100/1996). Logo, a denúncia foi absolutamente irregular.

Dado a possível (ir)regularidade do trâmite e a (in)validade da denúncia e a questão foi levada ao Supremo Tribunal Federal197, na Ação Direita Inconstitucionalidade – ADI n° 1.480-3 / Distrito Federal, de 04 de setembro de 1997, que decidiu:

Os tratados ou convenções internacionais, uma vez regulamente incorporados ao direito interno, situam-se, no sistema jurídico brasileiro, nos mesmos planos de validade, de eficácia e de autoridade em que se posicionam as leis ordinárias, havendo, em consequência, entre estas e os atos de direito internacional, meta relação de paridade normativa. Precedentes.198

197 ADI 1625-DF e ADI 1480-DF

198 Trecho extraído do voto do Relator Ministro Celso de Mello no julgamento da ADI n° 1.480-3 /

Afirmou o ministro Celso Mello que não obstante a controvérsia doutrinaria em torno do dualismo e do monismo, e da internalização dos tratados internacionais, aprovada a Convenção 158 pelo Congresso Nacional e regularmente promulgada, suas normas gozam de aplicação imediata, mesmo porque o interprocedimental de incorporação da Convenção à ordem positiva interna do Brasil já se concluiu; eis que além de sua aprovação definitiva Pelo Congresso Nacional, sobreveio, a par da ratificação, a promulgação do texto convencional pelo Presidente da República através do Decreto 1.855 de 1996.

Não obstante a controvérsia doutrinária em torno do monismo e do dualismo tenha sido qualificada por CHARLES ROUSSEAU (“Droit International Public Approfondi”, p. 3/16, 1958, Dalloz, Paris), no plano do direito internacional público, como mera “discussion d‟école”, torna-se necessário reconhecer que o mecanismo de recepção, tal como disciplinado pela Carta Política brasileira, constitui a mais eloquente atestação de que a norma internacional não dispõe, por autoridade própria, de exequibilidade e de operatividade imediatas no âmbito interno, pois, para tornar-se eficaz e aplicável na esfera doméstica do Estado brasileiro, depende, essencialmente, de um processo de integração normativa que se acha delineado, em seus aspectos básicos, na própria Constituição da República (LGL\1988\3).

Posteriormente, a Suprema Corte, por maioria, concedeu a medida liminar requerida, suspendendo a eficácia desses diplomas normativos até o julgamento final da ADIn.

AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE – Liminar– Arguição de inconstitucionalidade com o objetivo de questionar a validade jurídico-constitucional do Decreto Legislativo 68/92 que aprovou a Convenção 158 da OIT – Legitimidade da convenção internacional desde que observada a interpretação conforme fixada pelo Supremo Tribunal Federal – Deferimento parcial do pedido de medida cautelar, desconsiderando, entretanto, o caráter meramente programático do texto normativo impugnado.

Entretanto, em 20 de dezembro de 1996, foi editado o Decreto n. 2.100, para tornar público o registro da denúncia da Convenção efetuado pelo Brasil junto à OIT, em 20 de novembro do mesmo ano. O referido diploma mencionava que, a partir de 20 de novembro de 1997, isto é, um ano após o registro da denúncia, a Convenção n. 158 não estaria mais em vigor no País, consoante previsto pelo art. 17, parágrafo 1, desse tratado. Em razão dessa denúncia, o Supremo Tribunal Federal julgou extinta a ADIn pela “perda superveniente de seu objeto”.

Sequencialmente, a Confederação Nacional dos Trabalhadores da Agricultura (CONTAG) em conjunto com a Central Única dos Trabalhadores, ajuizou em 1997 a ADI 1625, impugnando o Decreto 2100, de 1996, alegando a sua inconstitucionalidade, uma vez que só o Congresso Nacional, que aprovou a Convenção, poderia autorizar a denúncia, procedida pelo Poder Executivo. (artigo 49, I, da CF).199

(Petição 151.432/2008): A Confederação Nacional da Indústria – CNI - e a Confederação Nacional do Sistema Financeiro – CONSIF pedem, com fundamento no § 2º do art. 7º da Lei nº 9.868/99, admissão na presente Ação Direta de Inconstitucionalidade, na qualidade de amici curiae. A Lei nº 9.868/99, no art. 7º, § 2º, permite ao Relator, considerando a relevância da matéria e a representatividade dos postulantes, admitir, no prazo deferido para as informações das autoridades das quais emanou a lei ou o ato normativo impugnado,manifestação de outros órgãos ou entidades. Neste caso, porém, verifico que o julgamento da Ação Direta de Inconstitucionalidade nº 1.625 já se iniciou, tendo sido proferidos os votos do Relator, Ministro Maurício Corrêa, e dos Ministros Carlos Britto e Nelson Jobim. Atualmente, os autos se encontram com vista para o Ministro Joaquim Barbosa, estando prevista a retomada do julgamento na Sessão Plenária de amanhã, 29 de outubro. Patente, assim, a extemporaneidade do pedido. Analisando pedido

semelhante nesta mesma ADI, a Ministra Ellen Gracie, então Presidente, negou ingresso à Confederação Nacional dos Metalúrgicos da Central Única dos Trabalhadores - CNMCUT como amicus curiae (DJ 17.9.2007), fazendo as seguintes considerações: “No presente caso, todavia, a peticionária busca atuar formalmente no processo num momento do julgamento em curso em que já foram, como visto, prolatados em Plenário os votos de três integrantes desta Suprema Corte. Noto, ainda, que o signatário da presente petição é também, desde a propositura da referida ação direta, o patrono da requerente Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura – CONTAG. Entendo que o veto ao art. 7º, § 1º, da Lei 9.868/99 não pode representar uma completa ausência de limitação temporal à atividade do amicus curiae. Trazidos à Corte todos os dados advindos dos diversos canais formais e informais abertos no processamento do controle concentrado de normas (petição inicial, informações das autoridades requeridas, manifestação da AGU, parecer da PGR, arrazoados e estudos dos amici curiae, memoriais, perícias, audiências públicas e sustentações orais), chega o momento em que se faz necessária a manifestação decisória e fundamentada dos componentes do Tribunal, pondo-se à parte, nesse instante, a dialética travada pelos grupos que defenderam ou que se opuseram ao ato normativo questionado. Obviamente, sempre será possível contrapor argumentos, razoáveis ou não, após cada fundamento lançado nos votos dos membros do Tribunal. Entretanto, cabe a essa Corte a responsabilidade de chegar a uma decisão final, que deve ser naturalmente obtida por meio da discussão entre seus pares e do pronunciamento último de cada um deles. Nessa mesma direção, o Plenário deste Supremo Tribunal Federal declarou a inconstitucionalidade de dispositivo do Estatuto da Advocacia que previa a possibilidade de realização de sustentação oral após o voto do relator, por ofensa aos princípios do contraditório e do devido processo legal (ADI 1.105 e ADI 1.127, rel. p/ o acórdão Min. Ricardo Lewandowski, julg. em 17.05.06, Informativo STF nº 427).” Ressalte-se que o indeferimento do pedido não impedirá que as razões deduzidas sejam devidamente consideradas no julgamento da causa. Nesses termos, indefiro o pedido de intervenção no processo, na qualidade de amici curiae, formulado pela Confederação Nacional da Indústria – CNI e pela Confederação Nacional do Sistema Financeiro – CONSIF. Junte-se por linha a Petição 151.432/2008. Int..Brasília, 28 de outubro de 2008. Ministro CEZAR PELUSO Vice-Presidente (RISTF, art. 37, I)200

No mérito, o relator, ministro Maurício Corrêa considerou a imprescindibilidade da intervenção do parlamento nos casos de denúncia unilateral

200 (STF - ADI: 1625 UF , Relator: Min. MAURÍCIO CORRÊA, Data de Julgamento: 28/10/2008, Data

de tratados. Em sua visão, a competência outorgada ao Congresso Nacional para resolver definitivamente sobre tratados:

” incluiria não apenas “(...) a faculdade de aprovar e autorizar a sua incorporação ao direito nacional, mas, da mesma forma, decidir acerca de sua exclusão...”.

Assim, somente outra norma da mesma hierarquia poderia retirar do ordenamento jurídico brasileiro os tratados, pois, em caso contrário, conceder-se-ia ao Presidente da República a prerrogativa de derrogar, sem o aval do Poder Legislativo, ato normativo com força de lei, por esse último, aprovado.

No documento HELOISA HELENA DE ALMEIDA PORTUGAL (páginas 111-117)