• Nenhum resultado encontrado

Tratamento, análise e interpretação dos dados

4 DELINEAMENTO METODOLÓGICO

4.3 Tratamento, análise e interpretação dos dados

A fase de análise dos dados não é uma etapa dissociada das demais, ela tem como propósito compreender o material empírico obtido durante a coleta dos dados, confirmar ou não os pressupostos da investigação e, enfim, compreender os contextos para além do que simplesmente aparenta o fenômeno (SOUZA JÚNIOR; MELO; SANTIAGO, 2010).

Para esse procedimento, utilizei o referencial de Strauss e Corbin (2008), que propõe a organização conceitual dos dados em categorias, por meio de um processo de codificação, o que direciona o pesquisador na descrição e compreensão acerca do fenômeno em estudo.

Trata-se do movimento constante de retorno aos dados com liberdade e sem o rigor da linearidade, o que exige do pesquisador sensibilidade, flexibilidade e criatividade para identificar e compreender os significados, bem como concatenar os conceitos que vão emergindo. Os dados passam a ser investigados constantemente acerca de sua relevância no desvelar o fenômeno em estudo e o pesquisador questiona- se: Esse dado refere-se a este estudo? O que ele aponta? O que está acontecendo? (CASSIANI; CALIRI; PELÁ, 1996).

Sobre esse processo, Strauss e Corbin (2008, p. 56) expressam-se como: “ter discernimento e ser capaz de dar sentido aos fatos e acontecimentos dos dados. Isso significa conseguir ver além do óbvio para descobrir o novo”. Para Strauss e Corbin (2008) o procedimento de análise é composto por três etapas distintas, porém complementares denominadas de: a) codificação aberta; b) codificação axial; e c)

codificação seletiva.

Para este estudo, realizei as etapas de codificação aberta e codificação axial, para enfim chegar às categorias de análise. A etapa de codificação seletiva não foi cumprida, pois esse procedimento tem como finalidade a construção da teoria, o que não corresponde aos objetivos deste estudo.

4.3.1 A codificação aberta

Diante das transcrições das entrevistas em arquivo do Word e nomeadas por ordem de acontecimento, as mesmas foram salvas em uma pasta no computador para o procedimento de tratamento e análise dos dados. Para esse procedimento utilizei o software Atlas ti® 7.

Nesse software, criei uma unidade hermenêutica, na qual foram inseridas todas as entrevistas realizadas, e iniciando a leitura em profundidade de cada arquivo. Para essa leitura retomei as questões de pesquisa e observei em cada linha os aspectos que correspondiam ao fenômeno em estudo. Dei início ao processo de codificação, revelado por Strauss e Corbin (2008) como codificação aberta. Nesse procedimento emergiram 162 códigos e, após releitura, reorganizei os códigos semelhantes, sem alterar ou perder qualquer excerto de fala correspondente a ele, encontrando ao final desse procedimento um total de 121 códigos.

Quadro 5 – Processo de extração dos códigos a partir do texto das entrevistas

FALAS CÓDIGOS

a gente não tem a didática, a parte de formação, para poder ter uma forma de passar esse conhecimentos pra eles (Yed)

Eu acho que muita coisa. Desde um pouco de instrução pedagógica, que normalmente a gente não tem (Wega)

eu acho que a gente não tem muita didática para receber o residente [...] a questão didática, porque muitas vezes a gente não consegue passar aquilo porque não tem a didática que o residente está esperando que a gente tenha (Arcturus)

a gente não tem nenhum tipo de treinamento pedagógico, a gente não tem técnica pedagógica nenhuma, a gente faz mais por instinto do que outra coisa, cada um tem a sua forma de ensinar (Polar) não tem preparo, assim, a gente vai no estudo, no jogo de cintura (Antares)

 O preceptor faz a preceptoria por instinto

tem que dominar o assunto, a especialidade, mas é preciso que você tenha algum conhecimento de técnicas, como metodologia do ensino (Propus)

Eu acho que a gente precisa ter mais um pouco de treinamento em serviço, a parte também da própria metodologia científica, da parte didática, porque a gente não é treinado para isso (Electra)

 Sente a necessidade de ferramentas e formação para o ensino

Eu acho que a gente deveria ter um treinamento (Canopus)

eu acho que falta um pouco do preparo em si (Pleione)

deveriam ter uma formação direcionada para isso (Maia)

 É necessário formação para a preceptoria

Fonte: Elaborado pelas autoras, UFSC, 2015. 4.3.2 A codificação axial

Após esse exercício, os códigos que se assemelhavam ou se relacionavam foram agrupados e deram origem a 12 famílias, constituindo o procedimento de codificação axial (STRAUSS; CORBIN, 2008). Nesse procedimento a intenção foi reunir os dados e estabelecer conexões entre os códigos (CASSIANI; CALIRI; PELÁ, 1996). A criação de famílias, por sua vez, corresponde a um recurso do software Atlas ti, no qual o pesquisador agrupa códigos, deixando-os em um mesmo grupo, pois reúnem aspectos semelhantes acerca de um tema, questão ou conceito relacionados ao objeto de estudo (CONTRERAS, 2014). Finalizado esse processo, foi possível visualizar de um modo geral o que os dados apresentavam acerca do fenômeno em estudo, e o desafio

de retornar aos questionamentos acerca do fenômeno e desvelar o que os dados falavam sobre ele foi lançado. Isso permitiu o refinamento do material empírico em três macrofamílias: (1) O significado da preceptoria e de ser preceptor; (2) A prática da preceptoria; (3) Os Conhecimentos para o ensino.

No Quadro 6, apresento um exemplo de como se deu o processo de construção das famílias e macrofamílias, a partir do resultado da codificação aberta durante o tratamento dos dados.

Quadro 6 – Construção da macrofamília “Os Conhecimentos para o ensino” e seus respectivos códigos

Codificação Aberta Codificação Axial

Códigos Famílias Macrofamílias

O preceptor não tem didática Conhecimento Pedagógico Geral Os conhecimentos para o ensino  O preceptor faz a

preceptoria por instinto  Sente a necessidade de

ferramentas e formação para o ensino

 É necessária formação para a preceptoria

Não se reconhece preceptor porque não tem a formação A qualificação é uma exigência

Há algumas iniciativas pontuais de qualificação  A qualificação profissional

(lato e/ou stricto sensu) colabora para uma melhor compreensão acerca da preceptoria;/traz fundamentação pedagógica para o ensino Teoria e prática Conhecimento do Conteúdo Teoria Experiência prática Há um modelo que orienta

Conhecimento do currículo Segurança do preceptor

pois sabe o que cobrar e como funciona

Por fim, de posse de todo o material empírico devidamente organizado, procedi ao agrupamento de macrofamílias que convergiam para uma mesma temática e emergiram duas categorias centrais de análise, a saber: A preceptoria; Os conhecimentos para o ensino na preceptoria, como ilustrado no Quadro 7.

Quadro 7 – Exemplo do processo de codificação aberta e axial com elaboração das categorias de análise, UFSC, 2015

Códigos Famílias Macrofamílias Categoria

Planejamento das ações Conhecimento Pedagógico do Conteúdo Os conhecimentos para o ensino Os Conhecimentos para o ensino na preceptoria É necessário ter o DOM para o ensino O preceptor não tem didática Conhecimento Pedagógico Geral O preceptor faz a preceptoria por instinto Sente a necessidade de ferramentas e formação para o ensino É necessária formação para a preceptoria Não se reconhece preceptor porque não tem a formação A qualificação é uma exigência Há algumas iniciativas pontuais de qualificação

Teoria e prática Conhecimento do Conteúdo Teoria

Experiência prática Há um modelo que orienta Conhecimento do currículo Segurança do preceptor pois sabe o que cobrar e como funciona Conhecer os residente e suas características Conhecimento do Residente Conhecer os objetivos e finalidades do ensino Conhecimento do Contexto Educacional Conhecer a instituição Senso ético entre outros aspectos como

sensibilidade, inter-relações, conhecer o perfil dos pacientes são importantes para a ensino do preceptor Outros domínios Dificuldade na área da pesquisa Atividade de pesquisa escassa Falta de preparo do preceptor para a pesquisa

Fonte: Elaborado pelas autoras, UFSC 2015. 4.4 Aspectos éticos

O desenvolvimento da pesquisa científica envolve valores e, entre eles, a ética, um ato de intenção e compromisso, preparação e conscientização do profissional no processo de construção do conhecimento (SOUZA et al., 2008). Assim, os aspectos éticos relacionados ao estudo devem ser respeitados pelo pesquisador.

de pesquisas envolvendo seres humanos, seguindo a Resolução n. 466, de 12 de dezembro de 2012, do Conselho Nacional de Saúde, que prevê a submissão do projeto, e todos os documentos a ele relacionados, à apreciação do Comitê de Ética em Pesquisa (CEP), por meio do cadastro do projeto na Plataforma Brasil, no endereço eletrônico http://aplicacao.saude.gov.br/plataformabrasil/login.jsf, além de outros procedimentos que foram cumpridos antes, durante e após a coleta dos dados. Aprovado pelo Comitê de Ética e Pesquisa da Universidade Federal de Santa Catarina, sob o Protocolo nº 426.570, no dia 14 de outubro de 2013.

Nesse sentido, reafirmo o compromisso com a ética na pesquisa e garanto que os dados obtidos foram utilizados exclusivamente para os fins da pesquisa e estão armazenados em banco de dados que compõe o acervo do Grupo de Pesquisa em Educação em Enfermagem e Saúde (EDEN), vinculado ao Programa de Pós-Graduação em Enfermagem, da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Além disso, para manter o anonimato dos participante da pesquisa os mesmos foram denominados com os nomes de estrelas.

5 RESULTADOS

Neste capítulo apresento os resultados obtidos por meio da análise do material empírico, seguindo o passo a passo, conforme descrito no capítulo anterior do “delineamento metodológico”. Assim, atendendo à Instrução Normativa 06/2009 do Programa de Pós-Graduação em Enfermagem da Universidade Federal de Santa Catarina (PEN/UFSC), organizei os resultados desta pesquisa em quatro manuscritos, que ressaltam as categorias e subcategorias que emergiram durante o processo de codificação dos dados (Quadro 8) e conduziram às respostas dos questionamentos desta investigação.

Neste momento, busquei aproximar o referencial teórico de Lee Shulman, que trata dos Conhecimentos Base para o Ensino, aos dados obtidos. Esse processo fez compreender o significado de ser preceptor, como é a prática da preceptoria e quais são os conhecimentos que os preceptores utilizam para ensinar.

No primeiro manuscrito busquei compreender o significado da preceptoria e de ser preceptor nos programas de residência. No segundo manuscrito, direcionei à prática da preceptoria como ação (o que faz) e finalidade pedagógica (para que), usando o gerúndio para reforçar a ideia de processo. No terceiro manuscrito, busquei compreender como o conhecimento do aluno e suas características e o conhecimento do conteúdo são utilizados pelos preceptores no processo de ensino- aprendizagem dos residentes. E no quarto manuscrito propus compreender como os saberes pedagógicos, que integram o Conhecimento Base para o Ensino, são percebidos pelos preceptores na preceptoria.

No Quadro 8 podemos observar como foram organizados os manuscritos, com seus respectivos objetivos, categorias centrais e subcategorias, respondendo ao objetivo geral proposto para este estudo.

Quadro 8 – Resumo dos manuscritos da tese, com objetivos, categorias e subcategorias, Florianópolis/SC, 2015