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Tendo as entrevistas iniciais transcritas e aprovadas pelos participantes, iniciou-se a leitura e a interpretação dos dados. Com os objetivos da pesquisa em mente e mergulhando no movimento de leitura e releitura dos dados, inicialmente foram sendo selecionadas palavras, frases ou ideias que poderiam ser agrupadas sob um mesmo conceito, conforme Bodgan e Biklen (1999):

O desenvolvimento de um sistema de codificação envolve vários passos: percorre os seus dados na procura de regularidades e padrões bem como de tópicos presentes nos dados e, em seguida, escreve palavras e frases que representam estes mesmos tópicos e padrões. Estas palavras ou frases são categorias de codificação. As categorias constituem um meio de classificar os dados descritivos que recolheu (os símbolos segundo os quais organizaria os brinquedos), da forma a que o material contido num determinado tópico possa ser fisicamente apartado dos outros dados. Algumas das categorias de codificação surgir-lhe-ão à medida que for recolhendo os dados. Deve anotar estas categorias para as utilizar mais tarde. (BODGAN E BIKLEN, 1999, p. 221)

12 No estado de São Paulo, supervisor de ensino é um agente externo à escola, lotado na Diretoria de Ensino da

região, com atribuições administrativas e burocráticas. É papel dele relatar os problemas administrativos das escolas e acompanhar o cumprimento dos dispositivos legais, além de auxiliar a equipe escolar a compreendê- los.

Na leitura inicial dos dados, percebemos que as professoras explicaram sobre o significado que atribuem ao termo “avaliação”. Além de ele se configurar como uma forma de saber sobre a aprendizagem do aluno, elas também complementaram esse significado quando expuseram suas práticas de avaliação.

Durante a entrevista, as professoras narraram sobre o que fazem depois da aplicação das provas e, para nós, a avaliação se constitui enquanto processo a partir do momento em que o professor se posiciona diante dos resultados das provas ou dos outros tipos de instrumentos de avaliação, por isso entendemos que essas práticas fazem parte das concepções de avaliação.

Dentre as práticas que se enquadram nessa categoria, destacamos: a forma como fazem o feedback das provas aos alunos; como reorganizam a própria prática quando/se necessário; se, na opinião delas, os alunos veem a avaliação como um recurso para complementar a aprendizagem ou os estudos deles, percebido através das atitudes deles diante dos resultados, mais especificamente, diante das notas.

Assim, elegemos como Concepções sobre avaliação reveladas pelas professoras uma das categorias de análise. Nessa categoria, procuramos reunir elementos que constituem a ideia, a concepção das professoras sobre o que é avaliação.

Para nós, a avaliação é, também, uma forma de investigar a aprendizagem do aluno e, para obter dados que se aproximem ao máximo da realidade, o professor deve ter clareza do que quer investigar e precisa utilizar instrumentos que vão fornecer as informações que se pretende investigar. Cabe lembrar que o erro ou a falta de resposta é também uma forma de manifestação de aprendizagem, por isso reforçamos a ideia de que o instrumento, conforme Luckesi (2011), não pode ser defeituoso.

As três professoras participantes desta pesquisa relataram nas entrevistas que utilizam majoritariamente a prova escrita como instrumento de avaliação. Nesse sentido, elegemos como outra categoria de análise: Maneiras de avaliar praticadas pelas professoras. Assim, o olhar para os dados procurou informações sobre a elaboração e a aplicação de provas. Procuramos agrupar elementos relacionados à elaboração dos instrumentos e às estratégias de avaliação revelados pelas professoras.

Pesquisas recentes revelam que as avaliações externas têm impactado fortemente o currículo escolar (COLA, 2015; MENEZES, 2014; ARAÚJO, 2015; MORAES, 2016; SANTOS, 2015). No estado de São Paulo, por exemplo, esse impacto é evidenciado pelas

metas traças a partir do IDESP13, um dos indicadores da qualidade do ensino na rede estadual paulista, o qual tem como base o desempenho do estudante no SARESP e o fluxo escolar de cada ciclo. Atingir as metas determinadas a partir do IDESP pode significar a atribuição de bônus aos professores e a outros servidores de uma escola. Nessa perspectiva, gostaríamos de saber se, na opinião das professoras participantes, as avaliações externas influenciavam o dia a dia da sala de aula.

Elegemos, então, como outra categoria de análise: Percepções das professoras sobre avaliações externas. Nessa categoria, procurou-se reunir as opiniões das professoras sobre as avaliações externas.

Com foco nessas categorias, as entrevistas das professoras foram novamente lidas e interpretadas à luz de estudos e pesquisas sobre avaliação educacional e temas correlatos, como o tratamento do erro e o sucesso e fracasso escolar.

A segunda fase das entrevistas também seguiu o mesmo movimento de leitura, selecionando palavras e conceitos afins. No entanto, esse movimento se deu de forma direcionada, a partir das categorias de análise estabelecidas inicialmente, visto que o motivo da realização da outra entrevista era para complementar as informações iniciais e tirar algumas dúvidas que surgiram durante a análise preliminar.

6 Ato de avaliar: teoria e prática

A partir das categorias gerais que nortearam a leitura e interpretação das entrevistas e tendo em mente que um dos objetivos da pesquisa é conhecer as concepções das professoras sobre avaliação, foi realizada a análise dos dados, estudados e refletidos a partir do referencial teórico estudado. Também foram levantadas algumas informações sobre as professoras, que são apresentadas a seguir. A fim de preservar a identidade das participantes, foram atribuídos nomes fictícios quando fizemos menção a nomes.

Foi traçado um perfil sobre a formação das professoras participantes desta pesquisa, sobre cursos e especializações que realizaram e em quais anos do Ensino Fundamental elas costumam atuar.

A professora Marcela é formada em Licenciatura para o Ensino de Ciências, pela Fundação de Ensino Otávio Bastos (FEOB), em São João da Boa Vista – SP. Ela iniciou a carreira de professora, em 1996, ministrando aulas de Ciências (Biologia, Física, Química e Matemática). Quando ela se inscreveu em um concurso público para professor do estado de São Paulo, precisou optar por uma disciplina, sendo a Matemática a escolhida, pois, para ela, o campo de atuação seria maior. Tendo sido aprovada no concurso, por volta de 1998, ela foi efetivada como professora da rede estadual do município de Bauru. Antes de ter sido efetivada na rede estadual de ensino na escola cenário da pesquisa, desde o início de sua carreira ela lecionava nessa escola como professora eventual.

Marcela cursou, simultaneamente, duas pós-graduações lato sensu: Educação Matemática, com duração de dois anos, e Práticas de Ensino, com duração de um ano. Marcela comentou que, por questões pessoais, não conseguiu realizar outros cursos de longa duração e, quando estava numa situação mais estável, não se interessou por cursos online e não encontrou algo do seu interesse que fosse presencial. A principal motivação apontada por ela para fazer esses cursos está relacionada à progressão salarial.

A professora Sandra se formou em Licenciatura para o Ensino de Ciências, com habilitação em Matemática, pela UNESP de Bauru, em 1989. Logo após a formatura, quando ainda não tinha cargo de professora efetiva, ela ministrou aulas de Matemática no curso de Magistério (Nível Médio). Dois anos depois, passou a ministrar aulas para turmas de Ensino Médio, quando se mudou para São Paulo. Atualmente, além de lecionar no Ensino

Fundamental, na escola cenário desta pesquisa, ela atua também no Ensino Médio em outra escola. Após a graduação, Sandra fez vários cursos de capacitação oferecidos pela Secretaria de Estado da Educação, tanto voltados para a formação de professores quanto para o ensino de matemática.

A professora Valéria graduou-se em Licenciatura em Matemática pela UNESP de Bauru e iniciou sua carreira docente ainda durante o curso de graduação em 2001. Ela não fez especialização ou pós-graduação relacionada ao ensino de matemática, mas, depois de concluir a licenciatura, também graduou-se em Pedagogia pela UNESP de Bauru. Segundo a professora, cursar Pedagogia foi motivado pelo interesse em atuar também em gestão educacional e não na docência nos anos iniciais do Ensino Fundamental. No entanto, até o momento, ela atua apenas como professora de matemática no Ensino Fundamental II. Atualmente, por ter tido uma filha recentemente, está lecionando somente na escola onde a pesquisa foi desenvolvida.

Tendo em vista algumas características da escola, do espaço físico, as características pessoais do coordenador, relatadas por professores e funcionários, o qual promove motivação no ambiente de trabalho, e um perfil sobre a formação das participantes, as próximas seções abordam as práticas das professoras no que diz respeito à avaliação educacional. Cabe ressaltar que a análise apresenta elementos das duas entrevistas realizadas com cada professora. A primeira entrevista, que deu origem às categorias de análise, será referenciada como “entrevista 1” e a segunda entrevista, que traz dados complementares, será referenciada como “entrevista 2”.