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TRATAMENTO DAS RESERVAS DE CRUZEIROS MARÍTIMOS

No documento Marcio Claudio Contini.pdf (páginas 104-107)

3 A IMPORTÂNCIA DA CONTABILIDADE

4.5 TRATAMENTO DAS RESERVAS DE CRUZEIROS MARÍTIMOS

Uma característica particular da atividade de operação de cruzeiros marítimos é a questão do pagamento antecipado em relação ao momento da efetiva prestação dos serviços aos passageiros.

Como se sabe o navio tem um número definido de cabines a serem oferecidas aos hóspedes e é natural que, em um mercado comprador, a procura seja cada vez mais antecipada para que não exista o risco de o passageiro ficar “a ver navios”.

Apesar de o volume de cabines ofertadas pelas operadoras ter crescido significativamente nos últimos anos, a demanda do público local por esse tipo de produto turístico cresceu na mesma velocidade.

Esse equilíbrio de mercado tem permitido o recebimento antecipado dos cruzeiros, resultando em uma situação especial em relação à realidade da maioria dos demais ramos de atividade.

Não importa, nesse caso, se o itinerário é nacional ou internacional, a procura e a velocidade das compras é a mesma, o que proporciona à operadora uma grande segurança em relação à realização do serviço.

A política de reserva dessas empresas contribui muito nesse sentido. A reserva das cabines somente é considerada garantida pela operadora quando ocorre o seu pagamento integral. Em geral, o prazo para a quitação das reservas é de 48 horas, contadas do momento em que a agência de turismo pede a cabine e dá nome aos seus hóspedes. Esse prazo pode ser considerado curto em se tratando de um país com dimensões continentais, como é o caso do Brasil. Mesmo com serviços adequados de correio, é natural que o transporte de documentos, como contratos de compras, cheques etc., seja atrasado pela dificuldade de acesso a algumas localidades.

4.5.1 Adiantamento de clientes

Qualquer que seja a modalidade de pagamento escolhida e até que o cruzeiro tenha sido realizado e o passageiro recebido o serviço que foi

contratado, a operação será considerada como um adiantamento recebido de clientes.

Na hipótese de valores recebidos de clientes por conta de mercadorias a entregar ou serviços a prestar, tais montantes representam, antes de mais nada, uma obrigação da empresa em produzir ou entregar tais itens. (IUDÍCIBUS, 2009, p. 306).

Ademais, o passageiro tem direito contratual de efetuar o cancelamento do seu cruzeiro, desde que respeitados alguns prazos em que são computadas as chamadas penalidades de cancelamento. Existe de fato uma obrigação implícita para a empresa operadora em prover o serviço contratado e o próprio Código Civil regula essa obrigação estipulada, inclusive, limites para a cobrança de penalidades, mesmo que o serviço não tenha sido prestado.

A conta Reservas – Adiantamentos Recebidos de Clientes é, sem dúvida, a principal conta do balanço das armadoras em termos de valores. Todos os pagamentos recebidos dos clientes são contabilizados a crédito dessa conta e lá permanecerão até que o cruzeiro seja realizado. A receita somente é reconhecida por ocasião do encerramento de cada cruzeiro, quando, então, o serviço é considerado prestado de fato e as condições básicas que satisfazem a definição de receitas e ganhos são satisfeitas.

Receita é a expressão monetária, validada pelo mercado, do agregado de bens e serviços da entidade, em sentido amplo (em determinado período de tempo), e que provoca um acréscimo concomitante no ativo e no patrimônio líquido, considerado separadamente da diminuição do ativo (ou acréscimo do passivo) e do patrimônio líquido provocados pelo esforço em produzir tal receita. (IUDÍCIBUS, 2006, p. 168).

Levando-se em conta que os cruzeiros oferecidos pelas operadoras e armadoras internacionais começam a ser vendidos com um ano de antecedência à sua realização, a conta de Reservas integra, na maioria dos casos, o grupo do Ativo Circulante do balanço da operadora.

Cabe ressaltar que os sistemas contábeis informatizados são de extrema importância para o controle adequado dessa conta. Pela sua própria natureza, os adiantamentos de clientes devem ser subdivididos por reserva efetuada, de forma que o controle seja simplificado e a operadora tenha condição de efetuar as reversões a resultado com mais segurança e confiabilidade. Sem sistemas informatizados seria muito difícil a gestão dessas contas e o departamento de controle contábil perderia tempo importante com operação, ao invés de análise e projeção de efeitos no patrimônio.

4.5.2 A variação cambial no caso de cruzeiros internacionais

Quando a reserva se refere a um cruzeiro internacional, ou seja, no caso em que a armadora é quem reconhecerá a receita integral pela venda e a operadora apenas receberá uma comissão por conta do serviço de intermediação, existe ainda uma complicação cambial a ser considerada.

O numerário recebido do passageiro, nesse caso, refere-se a um produto internacional o qual não é propriedade da operadora. Esse recurso, que foi fixado em moeda corrente no momento de seu recebimento, representa um valor a ser transferido para a conta corrente da armadora no exterior no momento em que o serviço contratado seja considerado prestado e o passageiro não tenha mais direito a reembolso. Até que esse momento ocorra, a operadora terá em seu balanço uma exposição cambial, decorrente da própria natureza da operação.

A questão é, portanto, quando registrar essa exposição cambial: no momento em que a obrigação é de fato reconhecida (na data da saída do navio) ou durante o período em que o adiantamento de cliente está registrado no balanço da operadora, mesmo havendo cláusulas de cancelamento dos cruzeiros. Ambos os métodos foram aplicados pelas operadoras e parece-nos que o primeiro método é mais adequado.

Ocorre que o valor recebido do passageiro em Reais, que corresponde a certa quantidade de dólares na data de seu pagamento, corresponde ao montante em moeda estrangeira que a operadora pagará a armadora no

exterior, caso: a) o serviço de cruzeiro seja prestado e b) o passageiro não deseje cancelar a aquisição do serviço antes de sua prestação.

Para a operadora, até que as duas condições sejam satisfeitas, o numerário recebido não passa de um simples adiantamento. Note-se que, no caso de cancelamento, a devolução é feita em reais, nas mesmas quantidades recebidas.

Quando o serviço e considerado prestado, inicia-se a obrigação de pagamento do cruzeiro entre operadora e a armadora no exterior. Nesse momento, a conta de reservas deve, para cada uma das cabines recebidas, ser revertida contra uma obrigação da armadora. Essa obrigação guarda relação com a moeda estrangeira e o preço cobrado pelo cruzeiro. Desse momento até que a remessa seja concluída, haverá a efetiva necessidade de registro de exposição cambial.

No documento Marcio Claudio Contini.pdf (páginas 104-107)