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Vocação para o turismo e potencial para cruzeiros marítimos

No documento Marcio Claudio Contini.pdf (páginas 45-50)

2 A INDÚSTRIA DOS CRUZEIROS MARÍTIMOS

2.4 O MERCADO BRASILEIRO DE CRUZEIROS MARÍTIMOS

2.4.2 Vocação para o turismo e potencial para cruzeiros marítimos

O Brasil é um país de proporções continentais que ostenta grande variedade de paisagens e pontos turísticos e cujas belezas encantam a todos que têm a oportunidade de conhecê-las.

Impulsionado pela moderada estabilidade econômica mundial das últimas décadas e por políticas econômicas internas assertivas, o país evoluiu muito no campo do turismo e aprimorou significativamente sua estrutura de atendimento e serviços para níveis de qualidade internacionalmente reconhecidos, confirmando aquilo que se chama de vocação natural para o turismo.

Com um litoral de aproximadamente oito mil quilômetros, repletos de belas praias, belezas naturais, cidades históricas e até algumas das principais metrópoles do país, surgiu a oportunidade de desenvolver a atividade de cruzeiros marítimos de turismo que por mais de 50 anos limitou-se a viagens de passagem pelas águas brasileiras nos cruzeiros internacionais de longo curso.

O governo brasileiro proibiu, expressamente, a navegação exclusiva em costa brasileira de navios estrangeiros, mediante o art. 178 da Constituição Federal de 1988. Na ocasião, a justificativa para tal proibição era a de que a atividade estava crescendo muito e era prejudicial ao crescimento da indústria naval local, que, ao que parece, era quase inexistente. Somente os navios de

bandeiras nacionais é quem tinham autorização para operação, o que fazia com que a atividade não decolasse, já que as empresas nacionais eram muito pobres em termos de tecnologia e estrutura nos seus equipamentos.

Em 1996, o segmento voltaria a retomar seu curso de crescimento com a revogação de tal dispositivo legal, exatamente em um momento em que a indústria de cruzeiros mundial passava por uma grande transformação.

As maiores companhias marítimas mundiais, motivadas pelo seu crescimento em outros mercados, voltaram a dar atenção ao mercado brasileiro iniciando um processo irreversível de expansão. A Línea C que já operava no Brasil desde 1949 foi a primeira e posicionar seus navios no Brasil e Argentina.

Com a mudança legal, nasceu o conceito de cruzeiro turístico de cabotagem, que corresponde aos itinerários com escalas em portos exclusivamente brasileiros.

Os portos de Santos e Rio de Janeiro passaram a ser os principais terminais do país para o trânsito de passageiros, dada a sua localização centralizada. Saídas de Santos e Rio de Janeiro com destino a Salvador, no Nordeste brasileiro, aconteciam semanalmente durante todo o verão e passavam por cidades importantes como Ilha Bela, Búzios e Angra dos Reis. Da mesma forma, partindo desses mesmos portos principais, os navios faziam cruzeiros com destino à Argentina e que ainda são conhecidos como cruzeiros ao Prata.

Os brasileiros descobriram a oportunidade de estar a bordo de um transatlântico sem precisar cruzar o oceano. Um período de sete noites a bordo era perfeito para visitar outras cidades e aproveitar toda aquela estrutura de lazer montada para a sua satisfação.

O crescimento do número de passageiros no Brasil foi imediato e o mercado que operava menos de 20 mil passageiros em 1995, passou a atender cerca de 50 mil em 2000 e continuou crescendo até a incrível marca de quase 400 mil passageiros em março de 2008.

A temporada, que se iniciou em dezembro de 2008 e se encerrou em março de 2009, atingiu, segundo a Associação Brasileira de Representantes das Empresas Marítimas - ABREMAR, a marca de 522 mil passageiros embarcados.

Esses números mostram que, nos últimos 10 anos, o mercado cresceu mais de 25 vezes em número de passageiros atendidos. Para os empresários do segmento, o mercado ainda não atingiu seu potencial atual estimado em 1,5 milhões de passageiros ao ano. Talvez esse número seja ainda maior. O mercado norte-americano, por exemplo, tem mais de 12 milhões de pessoas viajando em cruzeiros turísticos pelo mundo.

O ex-presidente da ABREMAR, Sr. Eduardo Nascimento, conta que “verifica-se, hoje, um aumento perto de 35% do segmento ao ano, avanço que se solidifica a cada temporada desde a vinda à costa brasileira do navio Splendour of the Seas, em 2000/2001.” (2009, p. 24).

Diante desse cenário, empresários e autoridades têm dedicado um pouco mais de atenção ao setor e às oportunidades que ele oferece, aumentando os níveis de investimento em estrutura portuária, atendimento e operação de serviços paralelos à recepção de navios de turismo em suas cidades.

Dados da ABREMAR dão conta de que o mercado de venda de cruzeiros movimentou cerca de US$ 340 milhões na temporada de 2008/2009, o que justificou a presença no país de cinco grandes operadoras de cruzeiros, dedicadas à venda de produtos na América do Sul com 16 navios em operação.

Segundo relatório publicado pela mesma associação sobre o impacto econômico da atividade (2008, p. 18), os impostos recolhidos aos cofres públicos são bastante significativos se levado em conta que dizem respeito a apenas cinco empresas. O Quadro 4 mostra esses valores ao longo das últimas temporadas:

Impostos Recolhidos Milhões de US$ Temporada 2008/2009 34,5 Temporada 2007/2008 40,2 Temporada 2006/2007 22,0 Temporada 2005/2006 12,9 Temporada 2004/2005 7,4

Quadro 4 – Impostos no Segmento de Cruzeiros Marítimos Fonte: Abremar (2008)

Tanto o volume de faturamento como o de impostos recolhidos deve ser ainda maior na temporada 2009/2010 com o incremento de mais 200 mil passageiros em seus 18 navios em operação nas águas nacionais.

A operadora de origem espanhola, Ibero Cruzeiros, é uma das empresas que vai ajudar nesse crescimento, pois sua operação, no Brasil, deve incrementar o volume de passageiros em aproximadamente 100.000.

A armadora Royal Caribbean International, que atuou até 2009 por meio de operadores locais, já constituiu um escritório sede no Brasil e, a partir de agora, deve consolidar ainda mais sua posição no mercado Brasileiro.

A vinda de novas armadoras ou mesmo a consolidação de algumas com suas próprias marcas e escritórios confirma o potencial brasileiro para cruzeiros marítimos. As agências de turismo espalhadas pelo país agradecem e esperam por suas comissões.

São mais de cinco mil agências de viagens brasileiras que, ao longo do tempo, se especializaram na venda de cruzeiros. Comissionadas pelas armadoras, essas empresas movimentaram, nos últimos anos, uma soma importante de recursos que impulsionou o segmento. O Quadro 5 mostra essa evolução:

Comissões Pagas Milhões de US$ Temporada 2008/2009 37,4 Temporada 2007/2008 32,9 Temporada 2006/2007 21,4 Temporada 2005/2006 14,9 Temporada 2004/2005 8,4

Quadro 5 – Comissões Pagas no Mercado Brasileiro Fonte: Abremar (2008)

Com o crescimento da temporada vem, também, o crescimento do volume de empregos ofertados pela atividade. A operação de cruzeiros marítimos é particular nesse sentido, pois o fato de os navios estarem visitando diversos portos no país resulta em uma dispersão dos empregos em cada ponto tocado. Nas cidades em que os navios passam, bem como no seu entorno, existe um grande movimento gerado pelos quase 3.500 passageiros e tripulantes desembarcados. Isso quer dizer que o comércio e os serviços

oferecidos nesses locais são beneficiados diretamente pela chegada dos visitantes.

Além disso, existe toda uma estrutura portuária que inclui serviços governamentais, de check in, agências de navegação e prestadores de serviços diversos que atuam ativamente em cada parada do navio. Não é só o tamanho do navio ou o número desses que pode aumentar esse potencial de geração de empregos. Basta que os cruzeiros tenham menos dias e o número de atracações será maior, demandando mais empregos no setor.

Empregos Gerados Total Temporada 2008/2009 39.138 Temporada 2007/2008 42.726 Temporada 2006/2007 32.596 Temporada 2005/2006 23.493 Temporada 2004/2005 14.725

Quadro 6 – Empregos Gerados no Mercado Brasileiro Fonte: Abremar (2008)

Todos esses fatores em conjunto, sejam de natureza geográfica ou econômica, aliados a essa tendência de crescimento irreversível do segmento, ora demonstrada, dão a clara importância da atividade para o país.

A conclusão é que o Brasil ganha sim com a operação de navios em suas águas, embora algumas pessoas, com interesses específicos, se esforcem para dizer o contrário. No momento, as notícias nas rádios nacionais informam que o próprio governo brasileiro pede ajuda às armadoras durante a Copa Mundial de Futebol de 2014, uma vez que não existe estrutura hoteleira suficiente e habilitada para atender à demanda que será criada.

No documento Marcio Claudio Contini.pdf (páginas 45-50)