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Antes da existência de uma terapêutica específica para a PPc, o prognóstico global dos indivíduos infectados por P. jirovecii era considerado pobre (Hughes 2001). No início da epidemia do VIH a taxa de mortalidade rondava os 30 a 40%, podendo a percentagem de mortes ser superior, principalmente, em indivíduos que apresentavam insuficiências respiratórias (Helweg-Larsen 2004).

Actualmente a implementação do tratamento precoce é essencial, sobretudo devido à rápida progressão da doença e ao, ainda, significativo índice de mortalidade observado (Helweg-Larsen 2004; Varela et al. 2011). A constatação da severidade da doença e a identificação do caso de PPc – leve, moderado ou grave – acaba por ser importante e decisivo para as medidas a desenvolver na altura do tratamento, como o tipo de medicamento a utilizar, a necessidade de suporte respiratório, ou outras intervenções durante o processo terapêutico em meio hospitalar (Castro & Morrison- Bryant 2010; Varela et al. 2011).

Em 1978, estudos confirmaram uma eventual eficiência da terapêutica com fármacos combinados para o tratamento da PPc (Hughes 2001; Helweg-Larsen 2004). Desde então, trimetoprim-sulfametoxazol (TMP-SMZ) é a combinação de fármacos de primeira linha aconselhada para a maioria dos casos, quer em seropositivos para VIH, quer imunodeficientes seronegativos para VIH (Huang et al. 2006; Castro & Morrison- Bryant 2010; Catherinot et al. 2010; Matos & Esteves 2010a; Varela et al. 2011).

TMP-SMZ é constituído por dois agentes antimicrobianos, trimetoprim (TMP) e sulfametoxazol (SMZ), que demonstraram ser altamente eficazes quando combinados (Castro & Morrison-Bryant 2010). Possuem um largo espectro de acção, inibindo um grande número de microrganismos (Munksgaard 2004). Esta terapia actua sobre a síntese de ácido fólico, impedindo a biossíntese sequencial deste ácido, provocando efeitos nefastos no patogéneo (Castro & Morrison-Bryant 2010; Kaneshiro & Limper 2011; Varela et al. 2011).A disponibilidade de terapia oral e intravenosa facilitou a sua instituição e permite o tratamento específico de indivíduos que apresentam casos leves, moderados ou graves de PPc (Catherinot et al. 2010; Huang et al. 2011; Matos et al. 2011). TMP-SMZ é normalmente bem tolerado, com rápida e boa resposta clínica em mais de 80% dos indivíduos (Castro & Morrison-Bryant 2010; Kaneshiro & Limper

2011; Varela et al. 2011). Em contrapartida, reacções adversas são verificadas em 6 a 8% dos imunocomprometidos seronegativos para VIH, sendo esta percentagem mais elevada nos seropositivos para VIH, com uma taxa de 25 a 50% (Castro & Morrison- Bryant 2010). Ineficiência na terapêutica com TMP-SMZ ocorre em até 20% dos casos (Castro & Morrison-Bryant 2010).

Normalmente, a duração do tratamento chega a ser de 14 dias em imunocomprometidos, seronegativos para VIH, e de 21 dias para os seropositivos para VIH. A resposta à terapêutica inicia-se por volta dos primeiros oito dias de tratamento em seropositivos para VIH, sendo a resposta mais rápida, constatada no quarto/quinto dia de tratamento nos outros grupos de risco (Castro & Morrison-Bryant 2010; Varela et

al. 2011). A terapia em determinados casos poderá ser prolongada, sendo normalmente

necessária nos seropositivos para VIH, devido à elevada quantidade de carga parasitária e a uma resposta tardia do tratamento (Castro & Morrison-Bryant 2010).

Alternativas à terapêutica de primeira linha existem e incluem fármacos como pentamidina, primaquina-clindamicina, dapsona-trimetropim e atovaquona (Helweg- Larsen 2004; Huang et al. 2011; Kaneshiro & Limper 2011; Matos et al. 2011). Pentamidina é um dos fármacos mais estudados, tendo sido utilizado no tratamento da PPc antes da epidemia VIH/sida (Castro & Morrison-Bryant 2010). É considerado igualmente eficiente quando comparado ao TMP-SMZ, contudo o facto de ser muito menos tolerável e de possuir uma grande ocorrência de reacções adversas, limita a sua utilização (Huang et al. 2006; Catherinot et al. 2010). A escolha preferencial para o fármaco de segunda linha acaba por ser limitada (Beck & Cushion 2009; Varela et al. 2011), muitas vezes devido à falta de eficácia e à toxicidade apresentadas nestes fármacos que, normalmente, é superior à encontrada na terapia com TMP-SMZ (Helweg-Larsen 2004; Beck & Cushion 2009).

Em termos profilácticos, TMP-SMZ continua a ser a medida aplicada para a prevenção deste organismo oportunista (Huang et al. 2006; Castro & Morrison-Bryant 2010; Matos & Esteves 2010a; Matos et al. 2011), principalmente, devido à sua grande eficácia, baixo custo e largo espectro antimicrobiano (Varela et al. 2011). Medidas alternativas profilácticas são recomendadas quando os indivíduos não são tolerantes a prevenção com TMP-SMZ (Munksgaard 2004). Dapsona, pentamidina, atovaquona,

primaquina são alguns dos agentes profilácticos considerados de segunda linha (Barry & Johnson 2001; Munksgaard 2004; Matos & Esteves 2010a; Huang et al. 2011).

A profilaxia é fundamental para os principais grupos de risco, uma vez que a PPc é considerada uma infecção grave e representativa de uma alta taxa de mortalidade (Catherinot et al. 2010). O nível de contagem de células TCD4+ continua a ser um dos principais factores de risco a considerar, principalmente em indivíduos infectados por VIH, cuja probabilidade de manifestação da PPc aumenta consideravelmente quando o nível destas células é inferior a 200 células/mm3 (Barry & Johnson 2001; Huang et al. 2006; Castro & Morrison-Bryant 2010; Huang et al. 2011; Matos et al. 2011). Candidiase orofaríngica também é um indicador para a implementação de medidas profilácticas em seropositivos para VIH, independentemente da contagem de células TCD4+ (Huang et al. 2006; Castro & Morrison-Bryant 2010; Huang et al. 2011). Outros grupos de risco incluem, imunossuprimidos, como indivíduos transplantados, hematológicos, ou submetidos a quimioterapia, sendo a profilaxia recomendada, uma vez que em determinada fase da imunossupressão, estes indivíduos encontram-se mais susceptíveis de contrair a infecção por P. jirovecii (Hughes 2001; Munksgaard 2004; Huang et al. 2006; Castro & Morrison-Bryant 2010). A profilaxia também é recomendada para seropositivos para VIH que tiveram um episódio recente de PPc, uma vez que a taxa de recidivas é de 50%, em poucos meses após o tratamento (Helweg- Larsen 2004; Huang et al. 2006; Huang et al. 2011; Varela et al. 2011).

A intervenção profiláctica, uma vez iniciada, é recomendada para o resto da vida (Matos & Esteves 2010a). Em determinados casos pode ser interrompida, se o factor de risco relacionado com a aquisição da PPc for minimizado (Huang et al. 2006; Huang et

al. 2011). Com a introdução da HAART, a profilaxia para a PPc tem vindo a ser

suspensa em indivíduos que apresentam uma resposta favorável a esta terapia e que por isso apresentam um nível de contagem de células TCD4+ superior a 200 células/mm3 (Barry & Johnson 2001; Hughes 2001; Helweg-Larsen 2004; Huang et al. 2006).