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3. A Intervenção do Estado no Domínio Econômico: Imposto de Importação e

3.6. Tratamento Tributário na Importação

Em âmbito nacional, dada à importância de regulamentar o que entra no país, há um sistema dotado de requisitos e procedimentos específicos para que possa ser efetivada a entrada de mercadorias estrangeiras no Brasil. O pagamento de tributos é um deles, e um dos tributos é o Imposto de Importação, o qual, no que tange ao seu uso como instrumento de política comercial, é tratado no capítulo 2 (item 2.1.1.). Nesta seção se avança em termos de receita tributária, e níveis de proteção. Ainda, incidem sobre os bens importados: IPI, PIS, COFINS e o ICMS, que serão detalhados na seqüência.

O Imposto de Importação tem como função precípua servir como regulador para o mercado. Este imposto pode ter sua alíquota alterada de acordo com a situação da economia nacional e/ou mundial. Não são poucos os casos que o produto nacional encontra-se em desvantagem em relação ao produto importado, por possuir preços menos competitivos decorrentes da elevada carga de tributária, juros elevados, infra-estrutura deficitária, dentre outro fatores. (Custo Brasil).

Cabe à União, portanto, operar este mecanismo da política econômica, defendendo a produção do mercado interno. Pelo fato de ser um imposto primordialmente regulador de mercado, o Imposto de Importação não está sob o manto do princípio da anterioridade, podendo ser alterado sempre que o governo federal julgar necessário para subsidiar as suas diversas políticas.

Segundo Manfrinato (2002), o Imposto de Importação é tido com um tributo eminentemente extrafiscal, considerando que este imposto tem uma participação não tão significativa, se comparada com o montante da receita tributária da União (vide tabela 1). Mas sua importância é melhor mensurada através de suas funções protecionista, seletora e indutora, exercendo papel estratégico na execução da política de comércio exterior, de interesse para a economia brasileira.

O Valor Aduaneiro da Mercadoria é a base de cálculo do imposto de importação, e é apurado na forma prevista no Acordo Sobre a Implementação do Artigo VII do GATT (Acordo de Valoração Aduaneira ou, simplesmente, AVA-GATT), aprovado pelo Decreto Legislativo n° 30/94 e promulgado pelo Decreto Executivo nº 1.355/94, o qual possui status de lei e estabelece as normas fundamentais sobre valoração aduaneira no Brasil.

61 A aplicação do AVA-GATT é disciplinada pelos artigos 76 a 83 do Decreto no 4.543/02 e pela Instrução Normativa SRF nº 327/03, que estabelece seis diferentes métodos para a determinação do valor aduaneiro das mercadorias importadas. Esse acordo determina que, sempre que não for possível a utilização do primeiro método de valoração, deve-se passar sucessivamente aos métodos seguintes, até que se chegue ao primeiro que permita determinar o valor aduaneiro, e que, conforme seu Artigo 1º, que o valor aduaneiro de mercadorias importadas seja determinado, preferencialmente, pelo primeiro método (o valor de transação), que é o preço efetivamente pago ou a pagar pelas mercadorias, em uma venda para exportação para o país de importação, ajustado de acordo com as disposições do seu Artigo 8º.

O preço efetivamente pago compreende todos os pagamentos efetuados ou a efetuar como condição da venda das mercadorias. Assim, toda e qualquer forma de pagamento indireto que eventualmente seja realizado é parte integrante do valor aduaneiro, conste ele ou não da fatura comercial apresentada à autoridade aduaneira.

O valor aduaneiro das mercadorias importadas significa o valor das mercadorias para fins de incidência de direitos aduaneiros ad valorem sobre mercadorias importadas. Na maioria das vezes, o valor aduaneiro da mercadoria é encontrado a partir do seu valor FOB (Free on Board), acrescido dos valores do frete e seguro internacionais, convertendo-se esses valores para Reais, por meio da taxa de câmbio do dia do registro da importação no SISCOMEX37.

Ademais, sobre o valor aduaneiro incide, além do Imposto de Importação, a Cofins- Importação e o PIS-Importação. Contribuições sociais de competência federal para financiamento da seguridade social, incidentes sobre a importação de produtos estrangeiros. Essas contribuições dão tratamento tributário isonômico entre os bens produzidos no País, que

37O Sistema Integrado de Comércio Exterior – SISCOMEX, foi instituído pelo Decreto nº 660, de 25 de

setembro de 1992, é um sistema informatizado responsável por integrar as atividades de registro, acompanhamento e controle das operações de comércio exterior, através de um fluxo único e automatizado de informações. O SISCOMEX permite acompanhar tempestivamente a saída e o ingresso de mercadorias no país, uma vez que os órgãos de governo intervenientes no comércio exterior podem, em diversos níveis de acesso, controlar e interferir no processamento de operações para uma melhor gestão de processos. Por intermédio do próprio Sistema, o exportador (ou o importador) trocam informações com os órgãos responsáveis pela autorização e fiscalização. Destacam-se as seguintes vantagens do Sistema: harmonização de conceitos e uniformização de códigos e nomenclaturas; ampliação dos pontos do atendimento; eliminação de coexistências de controles e sistemas paralelos de coleta de dados; simplificação e padronização de documentos; diminuição significativa do volume de documentos; agilidade na coleta e processamento de informações por meio eletrônico; redução de custos administrativos para todos os envolvidos no Sistema; crítica de dados utilizados na elaboração das estatísticas de comércio exterior. O módulo Exportação do Siscomex foi desenvolvido pelo Banco Central do Brasil e lançado em 1993. O módulo Importação, desenvolvido pelo Serpro, foi lançado em 1997 (MDIC, 2012).

62 sofrem a incidência dessas contribuições, e os bens importados, que são tributados às mesmas alíquotas dos bens nacionais.

Tais contribuições sociais atendem também ao princípio da não-cumulatividade e, assim, os valores pagos no momento da importação podem ser creditados pelo importador para posterior compensação com as contribuições por ele devidas. Na quase totalidade das importações, a alíquota aplicável do PIS é de 1,65% e a da Cofins é de 7,6%. A base de cálculo para ambas as contribuições é o valor aduaneiro das mercadorias importadas, acrescido do valor do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Prestação de Serviços (ICMS)38, incidente sobre a importação, e do valor das próprias contribuições, pois elas são incluídas no preço final das mercadorias (cálculo “por dentro”).

Assim as contribuições devidas são iguais a: PIS = Alíquota PIS x (VA + ICMS + PIS + Cofins); e Cofins = Alíquota Cofins x (VA + ICMS + PIS + Cofins).

Para fins de exemplificação, apresenta-se quadro com uma simulação do tratamento tributário na importação a partir das fórmulas constantes da Instrução Normativa SRF n° 572/05.

38 O Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Prestação de Serviços (ICMS) é um tributo de competência

estadual que incide sobre a movimentação de produtos no mercado interno e sobre serviços de transporte interestadual e intermunicipal e de comunicação, bem como sobre os bens importados em geral, a fim de promover tratamento tributário isonômico para os produtos importados e os nacionais. O ICMS é um tributo não-cumulativo, sendo o valor pago no momento da importação creditado pelo importador para compensação com o imposto devido em operações que ele realizar posteriormente e que forem sujeitas a esse tributo. Este tributo atende ainda ao princípio da seletividade, pois o ônus do imposto é diferente em razão da essencialidade do produto. Isso faz com que as alíquotas sejam variáveis, podendo ir de zero, para os produtos essenciais, a 25%, em alguns casos. Ainda, não há uma regulamentação única para esse imposto, cada um dos 26 Estados e o Distrito Federal têm sua própria legislação. A base de cálculo do ICMS é o somatório do valor aduaneiro, do II, do IPI, do próprio ICMS (cálculo “por dentro”), de quaisquer outros tributos incidentes sobre a importação e das despesas aduaneiras referentes à importação, que são os outros gastos efetuados para o despacho de importação, tais como a armazenagem, capatazia, Adicional ao Frete para Renovação da Marinha Mercante (AFRMM), etc, conforme discriminado abaixo:

ICMS = Alíquota ICMS(%) x (VA + II + IPI + ICMS + outros tributos + despesas aduaneiras), ou ICMS = Alíquota ICMS(%) x (VA + II + IPI + outros tributos + despesas aduaneiras) / [1 – Alíquota ICMS(%)] O ICMS integra a base de cálculo das contribuições sociais PIS-Importação e Cofins-Importação. Assim, apenas para fins de cálculo dessas contribuições, o valor do ICMS é aquele encontrado pelo produto da alíquota do imposto e o somatório do valor aduaneiro, do II, do IPI e do ICMS (cálculo “por dentro”), como segue: ICMS p/ cálculo da Cofins e PIS = Alíquota ICMS(%) x (VA + II + IPI + ICMS) , ou ICMS p/ cálculo da Cofins e PIS = Alíquota ICMS(%) x (VA + II + IPI) / [1 – Alíquota ICMS(%)].

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Quadro 7: Simulação do Tratamento Tributário na Importação

Simulação do Tratamento Tributário na Importação

NCM Descrição

85.11.10.00

Velas de ignição para motor com explosão a diesel

Valor da Importação em US$ FOB 1.000,00 Taxa de câmbio de conversão (03.05.12) 1,8918 Valor Aduaneiro convertido para real 1.891,80

II (18%) 340,52

IPI (15%) 334,85

PIS (1,65%) 44,64

COFINS (7,60%) 205,63

ICMS (18%) 618,44

TOTAL PAGO NA IMPORTAÇÃO (Em Reais) 3.435,88

Fonte: Quadro elaborado pelo autor

Para simplificar o cálculo do valor pago na importação do produto exemplificado, não consideramos o valor do frete e seguro internacional, bem como a possível incidência do AFRMM (Adicional ao Frete para a Renovação da Marinha Mercante) no valor de 25% sobre o valor do frete que é a remuneração do transporte aquaviário da carga de qualquer natureza descarregada em porto brasileiro, bem como a sua não inclusão na base de cálculo do ICMS. Além disso, não consideramos a taxa cobrada pela utilização do SISCOMEX.

Por fim, cabe ressaltar que a cobrança do IPI, da COFINS e do ICMS sobre os bens importados em geral objetiva promover tratamento tributário isonômico para os produtos importados e os nacionais. Ainda, são tributos não-cumulativos, sendo o valor pago no momento da importação creditado pelo importador para compensação com o imposto devido em operações que ele realizar posteriormente e que forem sujeitas a esse tributo.

Ou seja, sua cobrança não constitui protecionismo, porque tratam igualmente bens nacionais e importados. É uma aplicação do princípio da tributação no destino, amplamente aplicado no âmbito internacional, isto é, a maioria dos países aplica esse princípio.

Este tributo atende ainda ao princípio da seletividade, pois o ônus do imposto é diferente em razão da essencialidade do produto. Isso faz com que as alíquotas sejam variáveis, podendo ir de zero, para os produtos essenciais, a 25%, em alguns casos. Ainda, não há uma regulamentação única para esse imposto, cada um dos 26 Estados e o Distrito Federal têm sua própria legislação.

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