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O treinamento resistido trata-se de um tipo de exercício no qual a contração muscular é realizada por um determinado segmento corporal, contra uma força que se opõe ao movimento, ou seja, contra uma resistência que pode ser oferecida por equipamentos de musculação, pesos livres, elásticos, outros acessórios ou pelo peso do próprio corpo. Em geral, os exercícios resistidos são realizados em séries (seqüências contínuas de repetições do movimento) separadas por intervalos com duração variada, que podem ser ativos ou passivos (FLECK & KRAEMER, 1999).

Essa modalidade de treinamento tem crescido em popularidade ao longo das últimas duas décadas. Particularmente pelo seu papel na melhora do desempenho atlético pelo aumento da força muscular, potência e velocidade, hipertrofia, resistência muscular localizada e desempenho motor (Kramer et al., 2004). Tradicionalmente, esse tipo de exercício era praticado particularmente por aqueles que tinham como objetivo aumentar a massa muscular (hipertrofia), tais como os fisiculturistas. Entretanto, atualmente existe um melhor conhecimento acerca dos seus benefícios relacionados à saúde e a doenças crônicas (ACSM; 1990).

Antes de 1990 o TR não fazia parte da recomendação em programas de exercício físico e reabilitação. Atualmente vem sendo recomendado para idosos e cardiopatas pelo Colégio Americano de Medicina Desportiva (ACSM) e Americam Heart Association (AHA) e tem demonstrado eficiência em retardar o aparecimento de certas disfunções ocasionadas pelo envelhecimento e participando do processo terapêutico de várias doenças (FIATARONE et al., 1990; HAGERMAN et al., 2000; VINCENT et al. 2002). Essa atividade é compatível até mesmo para idosos de noventa anos de idade (FIATARONE et al., 1990). Além do mais este tipo de exercício vem conquistando maior espaço e uma nova conotação pelos profissionais da área de saúde e pela população em geral. Sendo hoje um componente necessário nos programas de reabilitação.

Em relação ao processo sarcopênico e suas conseqüências, relacionados ao processo de envelhecimento, o treinamento resistido tem demonstrado ser uma

32 intervenção segura e eficaz para melhoraria da força muscular e desempenho funcional em idosos (ASSUMPÇÃO, 2008; HAKKINEN et al, 2002; VINCENT et al, 2002; SCHLICHT et al, 2001; SULLIVAN et al, 2001; FIATARONE et al, 1994; FRONTERA et al, 1988), além de apresentar melhoras na composição corporal, tanto para aumentos na massa muscular como na diminuição da massa gorda (ASSUMPÇÃO, 2008; HAKKINEN et al., 2001; SANTARÉM, 1999). Esse tipo de exercício pode, portanto, atenuar o quadro de incapacidade funcional e a baixa capacidade física de pessoas dessa faixa etária, haja vista que uma baixa massa muscular e conseqüentemente perda da força têm uma forte relação entre essas variáveis.

De fato, estudos demonstraram efeitos positivos do treinamento resistido sobre a capacidade funcional de idosos e de jovens, mesmo que essas melhoras ainda não tenham sido demonstradas no VO2 max. Desse modo, Ades et al (1996), em 24 idosos saudáveis com mais de 65 anos, relataram que após um programa de treinamento de força aumentou-se a resistência na caminhada submáxima em 9 minutos representando um aumento de 38%. Observaram uma relação significativa entre a alteração na força da perna e a mudança na resistência da caminhada, entretanto, nenhum grupo mostrou alteração no pico de capacidade aeróbia ou na composição corporal, porém, massa magra da perna aumentou no grupo experimental. Parker et al. (1996) estudou mulheres saudáveis com idade entre 60 e 77 anos de idade, que frequentaram um programa de treinamento resistido por três vezes por semana por cerca de 1 hora por sessão durante 16 semanas. Os resultados demonstraram um aumento na força de 57% no teste de 1-RM. Houve diminuição significativa na FC, PAS e DP durante o pós-teste, no entanto, não houve alteração no VO2pico. Portanto,os autores concluíram que a redução na FC, PAS e DP indica que o treinamento de força pode reduzir o estresse cardiovascular durante tarefas diárias em mulheres idosas saudáveis. Maiorana et al. (1997) verificaram os efeitos do treinamento de força em circuito, mas sem a presença de um treinamento aeróbio, em 26 homens com média de idade de 60 ± 8,5 anos, por um período de 10 semanas em não encontraram alterações significativas no VO2pico após o período de intervenção. Adicionalmente, Fiatarone et al. (1990) verificou uma correlação com a velocidade de caminhada e a força muscular nos idosos.

33 Ainda sobre a temática, mas em indivíduos jovens, Hickson et al. (1980) após a aplicação de 10 semanas de treinamento resistido, utilizando exercícios para membros inferiores, observaram um aumento do perímetro da coxa, aumento da força do quadríceps, além de relatarem melhoras da tolerância ao esforço, no entanto, sem acontecer nenhuma melhora no VO2max. Corroborando com este estudo, Marcinik et al. (1991), encontraram melhora no desempenho de resistência de seus voluntários sem nenhuma alteração significativa da capacidade aeróbia máxima. Nesse estudo, foi observado que para uma mesma intensidade absoluta, menores níveis de lactato sanguíneo foram acumulados quando comparados os dados pré e pós-intervenção. Hurley et al, (1984) não encontraram mudanças no VO2max em homens de meia-idade após 15 semanas de treinamento com pesos. Além disso, os autores observaram as respostas hemodinâmicas ao treinamento, nas variáveis freqüência cardíaca, pressão arterial e débito cardíaco e não encontraram diferenças após a intervenção. Também, Rutherford et al, (1986), em um estudo com homens e mulheres jovens, não demonstraram melhoras no VO2max após 12 semanas de treinamento de força, realizado com exercício de extensão do joelho a 80% de 1-RM, mas apresentaram aumento significativo na força isocinética da musculatura envolvida.

Em contra partida, Lima et al, (2006), em estudo de revisão, conclui o treinamento resistido parece ser capaz de aprimorar a tolerância ao esforço de indivíduos idosos, e que essas melhoras são possivelmente devido ao aumento de força e capilarização muscular, e a maior atividade enzimática. Reportando essa afirmação, após 12 semanas de condicionamento de força com exercícios de extensores e flexores de joelho a 80% de 1RM, idosos saudáveis entre 60 e 72 anos, obtiveram aumento de 1.9ml no VO2max, e ainda os resultados mostraram um aumento de, em média, 28% na secção transversa do músculo vasto lateral, um aumento de 15% no número de capilares por fibra muscular e um aumento de 38% na atividade da citrato cintase. Os autores colocam que os achados mostraram que em idosos saudáveis, um programa de treinamento de força produz mudanças nos músculos exercitados que podem levar a uma melhoria na capacidade aeróbia (FRONTERA, et al, 1990). Vincent et al. (2002), em um estudo com 62 indivíduos de ambos os sexos e com idade variando entre 60 e 83 anos, encontraram significativo incremento no VO2pico em decorrência do treinamento resistido, após 6 meses de

34 intervenção, o que não foi encontrado no grupo controle. Os autores correlacionaram esta adaptação com o aumento de força muscular e identificaram significativo resultado, o que sugere que a potência aeróbia máxima em idosos pode ser comprometida por limitações de força muscular.

Assumpção et al, (2008) analisou 28 voluntárias, com idade de 65,5 ± 3,6 anos, randomizadas em dois grupos, experimental e controle. O grupo experimental participou de um programa de treinamento de força periodizado composto de 24 sessões com um total de 12 semanas de intervenção. Os autores apresentaram um aumento significativo após a intervenção para o grupo experimental, e já para o grupo controle houve uma diminuição significativa. Buzzachera, et al, (2008) com o objetivo de investigar os efeitos de um programa de treinamento de força com pesos livres sobre os componentes da aptidão funcional em mulheres idosas, avaliou 14 mulheres idosas (65,5 ± 3,9 anos), as quais foram submetidas ao treinamento por um período de 12 semanas. O estudo apresentou aumento significativo na força muscular, na resistência de força muscular dos membros superiores, na força de preensão manual e na aptidão cardiorrespiratória, esta última, determinada através do teste de caminhada de seis minutos.

Portanto, os estudos sugerem que o treinamento resistido é capaz de promover melhoras na capacidade funcional da população idosa, com adaptações positivas na força muscular e como conseqüência melhora na realização nas tarefas da vida diária dessas pessoas. E ainda os dados apontam para que essas adaptações possam interferir na melhoria da potência aeróbia máxima. No entanto, a temática se mantém controvérsia, pois são observadas diferenças metodológicas tanto na aplicação do treinamento quanto na medida do consumo de oxigênio o que requer maiores especulações com desenhos experimentais melhores definidos e com utilização de mensurações com padrão ouro.

35 3.3. DESEMPENHO FÍSICO E GENÉTICA

O desempenho físico requer a combinação integrada de muitos fatores, alguns treináveis (fisiológicos, psicilógicos e biomecânicos), alguns ensinados (táticos) e outros que estão fora do controle dos atletas e dos técnicos (genéticos e idade cronológica). No entanto, sugere-se atualmente que o fator determinante do potencial atlético são os dotes genéticos, o que inclui características antropométricas, cardiovasculares, composição de fibras musculares e a capacidade de adaptação ao treinamento (SMITH, 2003).

A genética, o ambiente e a interação entre ambos têm impacto importante sobre o desempenho físico, já que diferenças no genótipo e no treinamento contribuem para diferenças observadas em relação ao sucesso esportivo (HOPKINS, 2001). Também se observa a existência de indivíduos que se adaptam bem ao estímulo do exercício e ao treinamento e aqueles que não se adaptam ao exercício ou a um tipo específico de exercício ou ainda aqueles que mesmo treinando melhoram pouco suas valências físicas (BOUCHARD et al, 1992; SKINNER, 2001). Diferentes níveis de responsividade ao treinamento também estão presentes em indivíduos portadores de cardiopatias e doenças respiratórias (MARK e LAUER, 2003), como também em diferentes idades, raças, sexo e em todos os níveis iniciais de consumo máximo de oxigênio.

O VO2max varia amplamente entre indivíduos, e o nível de atividade física habitual de cada pessoa contribui para uma proporção substancial dessa variância interindividual. No entanto, após relevar as diferenças referentes ao nível habitual de atividade física, permanece uma variabilidade substancial no VO2max entre os indivíduos. E, claramente, fatores genéticos desempenham um papel determinante no VO2max das pessoas (HAGBERG et al.,1998).

Nesse sentido, são publicados anualmente, desde 2000, estudos que revisam publicações sobre possíveis genes candidatos ao desempenho físico humano. Esses estudos têm por objetivo descrever o mapa genético humano para desempenho físico e características relacionadas à aptidão física e saúde. Na primeira versão 29 genes foram descritos (RANKINEN et al, 2000). Em contraste o mapa genético de 2004 incluem 140 genes autossômicos e locos de características quantitativas e mais 4 no cromossomo X. Além disso, existem 16 genes

36 mitocondriais nos quais as variações da seqüência genética foram mostradas com influencias relevantes nos fenótipos estudados, no entanto os autores relataram que o tema ainda permanece em fase de desenvolvimento (WOLFARTH et al, 2005).

A última versão, apresentada este ano (2009), demonstra a evolução dos estudos relacionando a genética e exercício, pois mapa genético agora inclui 214 genes autossômicos e mais sete outros relacionados ao cromossomo X. Além disso, existem 18 genes mitocondriais que influenciaram os fenótipos de desempenho e aptidão física (BRAY, et al, 2009). Nesse estudo foram demonstrados genes como AMPD1, TNF, IGF 1 e 2, CNTF, ACTN 3, VDR e ECA, entre outros, estarem diretamente ligado aos fenótipos de força muscular e exercícios com características anaeróbicas. Em relação ao fenótipo de resistência, ou seja, capacidade aeróbia, em estudos de associação, genes como BDKNB 2, NOS 3, ADRB 2 foram apresentados como candidatos a este fenótipo. Já, em resposta ao treinamento os genes CHRM 2 e o APOA 1 foram estudados e não apresentaram influências significativas após o treinamento no fenótipo VO2max. Entretanto, os autores concluem que o gene da ECA continua sendo o mais estudado do qualquer outro gene em relação ao fenótipo de capacidade aeróbia. Os resultados conflitantes entre os vários estudos para o gene ACE exemplifica a complexidade dos estudos entre genética e exercício físico. Apesar da enorme atenção que o gene da ECA receba, ainda não é possível concluir com certeza se o polimorfismo comum da ECA é verdadeiramente envolvido na variação genética humana sobre os fenótipos de desempenho e aptidão física e suas respostas ao exercício físico regular.

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