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TRIANGULAÇÃO DOS DADOS MATRIZ INTERPRETATIVA COMPLEXA (MIC)

CAPÍTULO 1 – DESIGN INVESTIGATIVO

1.4 TRIANGULAÇÃO DOS DADOS MATRIZ INTERPRETATIVA COMPLEXA (MIC)

A triangulação consiste na integração dos diferentes métodos organizados para o desenvolvimento da pesquisa. Para Flick (2009, p. 32), “a triangulação supera as limitações de um método único por combinar diversos métodos e dar-lhes igual relevância”. De acordo com Hébert, Goyette e Boutin (2010, p. 76), “a triangulação é um procedimento de validação instrumental efetuado por meio de uma confrontação de dados obtidos a partir de várias técnicas”.

A partir do conjunto de dados provenientes da coleta, foi necessário fazer a validação por meio da triangulação, para que obtivéssemos consolidação teórica e um olhar panorâmico sobre a circularidade dos elementos que compõem os Programas, em busca de uma identidade profissional dos professores principiantes/ingressantes e mentores/formadores, tendo em vista as suas especificidades, correlacionadas aos processos formativos institucionalizados. Conforme corrobora Morin (2002, p. 14), “a relação entre a parte e o todo, não é apenas a parte que está no todo, mas o todo que está igualmente na parte”. De acordo com Maciel (2000, p. 28), “a realidade é feita de laços e interações, sendo que para compreendê-la é preciso um pensamento em constante movimento entre as partes e o todo, percebendo o complexus – o tecido que junta o todo”. Para Moraes (2003, p. 195-196), “ cada unidade constitui um elemento de significado referente ao fenômeno que está sendo investigado. [...] Análise textual se inicia com a desmontagem de documentos do corpus, procurando-se individualizar nesse processo unidades de significado referentes ao fenômeno sob investigação”.

Por conseguinte, a matriz interpretativa complexa resulta da triangulação do conjunto dos dados e da construção/reconstrução da teoria, que possibilitará circularidade integrativa e proposição de uma proposta [trans]formativa, ancorada nos diferentes elementos da pesquisa,

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sob o fio condutor do pensamento complexo, sempre considerando a necessidade de circularidade entre as informações advindas do conjunto dos dados acerca dos programas entrelaçados à matriz teórica. Nesse sentido, “é preciso desestabilizar a ordem estabelecida, desorganizando o conhecimento existente. Tendo como referência as ideias dos sistemas complexos, esse processo consiste em levar o sistema semântico ao limite do caos” (MORAES, 2003, p. 196). Assim, a “ordem, desordem e organização co-produziram-se simultânea e reciprocamente. Sob o efeito dos encontros aleatórios, as imposições originais produziram ordem organizacional” (MORIN, 1997, p. 55).

Dessa forma, para que haja organização, é necessário a desordem para que aconteça a auto-organização e quebre a lianearidade do processo. Para Morin (1986, p. 48), “a auto- organização liga a referência a si e a referência ao que é outro: o meio e as coisas do meio”. Para Maciel (2000), permitir que a realidade seja compreendida em sua complexidade e subjetividade é necessário um olhar global no todo e nas partes, por isso não há uma sequência linear na dinamização da matriz interpretativa complexa, pois os eixos interconectam-se em circularidade. Conforme Morin (2010, p. 566),

[...] os desafios da complexidade encontram-se por toda a parte. Se quisermos um conhecimento segmentário, encerrado a um único objeto, com a finalidade única de manipulá-lo, podemos então eliminar a preocupação de reunir, contextualizar, globalizar. Mas se quisermos um conhecimento pertinente, precisamos reunir, contextualizar, globalizar nossas informações e nossos saberes, buscar, portanto, um conhecimento complexo.

A circularidade integrativa, na perspectiva da auto-organização, dá-nos a condição de entrelaçar a trajetória pessoal, formativa e profissional, para compreender os elementos relevantes que constituem o todo de uma forma interconectada, agregada à singularidade- subjetividade-complexidade de cada indivíduo, proveniente do conjunto de dados, tendo em vista a concepção de uma proposta de processo [trans]formativo em rede, frente aos desafios da Educação Superior.

Nessa perspectiva, é necessário ter a compreensão de como o conhecimento se constrói. Com base em Morin (2012), o conhecimento constitui um processo de reconstrução, a partir de sinais, signos, símbolos, sob a forma de representações, ideias, teorias, discursos. A organização dos conhecimentos é realizada por meio de princípios que compõem a ligação e a separação. Assim, para Morin (2012, p. 24), “o processo é circular, passando da separação à ligação, da ligação à separação e, além disso, da análise à síntese, da síntese à análise. Ou seja: o conhecimento comporta, ao mesmo tempo, separação e ligação, análise e síntese”.

Nesse sentido, o processo circular é compreendido como princípio organizador, um método; segundo o pensamento complexo de Morin et al. (2003, p. 34), “o método, visto como caminho/ensaio/estratégia contém um conjunto de princípios metodológicos que configuram um guia para um pensar complexo”. Então, a circularidade entres as partes e o todo se dá na disjunção das partes e a religação, a partir das conexões conceituais no todo da tese, pois “o todo só funciona como todo se as partes funcionarem como partes. O todo deve estar relacionado com a organização” (MORIN, 1997, p. 122).

Desta forma, a pesquisa foi organizada em fases, que compõem a organização do trabalho; a primeira constituiu a realização de um levantamento conceitual, aprofundamento da matriz teórica e integração dos aportes teóricos e metodológicos. A segunda fase comportou a realização da pesquisa exploratória com 100% dos participantes dos programas, por meio de questionários eletrônicos via Google Drive, no contexto brasileiro; análise dos formulários digitais respondidos; sistematização das informações; seleção de amostragem dos questionários exploratórios para entrevistas narrativas, partindo das informações da etapa exploratória; entrevistas narrativas: interlocução com gravação em dispositivo digital e transcrição. Na terceira fase, foi realizado o estágio de doutorado-sanduíche na Universidade de Sevilha – Espanha; a tradução para o Espanhol37 do questionário exploratório; foram enviados questionários eletrônicos, via Google Drive, para 100% dos participantes do programa, totalizando 27(vinte sete ) Mentores e 66 (sessenta e seis) Principiantes, no período de 2010 a 2011; foram analisados os formulários digitais respondidos, para a realização de sistematização das informações; seleção de amostragem dos questionários exploratórios para entrevistas narrativas. Além disso, foi ampliado e reelaborado o Estado da Arte, a partir de publicações provenientes dos Congressos Internacionais sobre Professores Principiantes e a Inserção Profissional na Docência; realização das entrevistas narrativas e transcrições em espanhol (transcrevemos em espanhol para preservar e valorizar a internacionalização do estudo). Na quarta fase, foi realizada a desconstrução das categorias que sinalizaram os principais indicadores encontrados nas entrevistas narrativas e na triangulação das informações, surgindo as categorias emergentes; por meio do Programa

Maxqda, que resultou em um quadro referencial, os resultados da pesquisa foram cruzados

com o referencial teórico, produzindo o corpus da pesquisa. A quinta fase foi constituída pela

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análise interpretativa complexa38, a partir da realização do estudo sistematizado no quadro de análise, em que entrelaçamos os objetivos da investigação e o referencial teórico. Foi elaborado um site para agregar todos os Congressos, a fim de que os futuros pesquisadores possam desenvolver suas pesquisas. Na sexta fase, foi realizada a construção da proposta de processos formativos de [trans]formação em rede, bem como a construção do relatório final (tese) e a organização da defesa final. Finalização da organização do site e encaminhamentos para o término dos livros, provenientes do estudo realizado no Estado da Arte.

Embora o trabalho tenha acontecido nessa ordem, ocorreram variações durante o desenvolvimento da pesquisa; a variação de maior impacto foi a de que o programa de formação na Universidade de Sevilha já havia sido finalizado e, por isso, tivemos algumas dificuldades em relação ao retorno do questionário exploratório, embora os professores principiantes e mentores ainda se encontrassem na universidade. Vale lembrar que as autorizações institucionais (Apêndices E e F) foram encaminhadas e assinadas pelos responsáveis das duas instituições, obtendo-se a anuência para a realização da pesquisa; a pesquisadora compromete-se em preservar a privacidade dos sujeitos da pesquisa, expressa pelo Termo de Confidencialidade (Apêndice G), dispondo de elementos para prover a sua segurança e o seu bem-estar durante as fases do estudo; para os sujeitos da pesquisa, elaborou-se um modelo de Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE), em português e espanhol, que deverá ser lido e assinado por eles (Apêndice H)