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O TRIBUNAL DE CONTAS DO ESTADO DO PARANÁ (TCE-PR)

O TCE-PR, localizado no município de Curitiba, capital paranaense, tem jurisdição sobre todo território do estado, foi criado em 1947 pelo Decreto-Lei nº 627, é um órgão constitucional de controle externo (PARANÁ, 2006, Art. 1o). Assim como a CF/1988, a Constituição do Estado do Paraná (1989) também expressa o papel do TCE-PR (Art. 75), que atua na fiscalização da administração pública estadual e dos seus 399 municípios. De acordo com Pereira (2017) o TCE-PR fiscaliza mais de 2 mil entes públicos e privados, entre eles as contas do Governador e dos chefes da Assembleia Legislativa, Tribunal de Justiça, Ministério Público, Controladoria Geral, Defensoria Pública, o próprio TC, prefeitos e presidentes das câmaras municipais, empresas estatais e mistas, secretarias estaduais e municipais, porto, autarquias, universidades estaduais, fundos, fundações e entidades do terceiro setor (PEREIRA, 2017).

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A configuração do TCE-PR está prevista na CF/1988, na Constituição do Estado (PARANÁ, 1989), em sua Lei Orgânica (Lei complementar nº 113 de 15/12/2005) e Regimento Interno (Resolução nº 1 de 24/01/2006), que definem suas competências, funcionamento e constituição. Conforme artigo 147 do Regimento Interno (2006), os serviços de natureza técnica e administrativa do TCE-PR são executados por 34 unidades. Integram o órgão, o Tribunal Pleno, as Câmaras, a Presidência, a Vice-Presidência, a Corregedoria-Geral, os Conselheiros, os Auditores, o Ministério Público junto ao TC e o Corpo Instrutivo (PARANÁ, 2005, Art. 112), sendo os cinco primeiros considerados como de caráter deliberativo, conforme esquema apresentado na próxima página (FIGURA 3).

O TCE-PR é composto por pouco mais de 600 servidores, entre eles sete conselheiros, 11 procuradores do Ministério Público junto ao TC; auditores; e funcionários técnicos. Os conselheiros ocupam cargo vitalício e integram o Tribunal Pleno, como visto anteriormente, também devem satisfazer a requisitos constitucionais (PARANÁ, 1989, Art. 77).

Dos sete conselheiros, quatro são escolhidos pela Assembleia Legislativa do Estado do Paraná (ALEP) e três pelo chefe do governo estadual, sendo uma vaga de escolha livre e as outras duas a partir de lista tríplice do Ministério Público e de auditores do próprio TCE-PR (PEREIRA, 2017). Os conselheiros têm as mesmas garantias, direitos, prerrogativas, impedimentos, vencimentos e vantagens dos Desembargadores do Tribunal de Justiça do estado do Paraná (PARANÁ, 2006, Art. 30).

Os procuradores do Ministério Público junto ao Tribunal de Contas atuam enquanto guardas da lei e fiscais de sua execução (PARANÁ, 2006, Art. 66). Estes devem comparecer a todas as sessões do Tribunal e se manifestar quanto aos processos, além de outras atribuições elencadas no Regimento Interno (PARANÁ, 2006) e na Lei Orgânica do TCE-PR (PARANÁ, 2005). Ingressam no cargo por meio da aprovação em concurso público de provas e títulos, sendo o procurador Geral chefe no Ministério Público junto ao TC, escolhido pelo Governador do estado a partir de lista tríplice para mandato de dois anos, sendo permitida recondução pelo mesmo processo (PARANÁ, 2005, Art. 148).

Os auditores, também são nomeados após aprovação em concurso público, sendo delegado a estes a substituição de conselheiros durante férias, licenças, afastamentos legais e quando convocados pelo presidente (PARANÁ, 2006, Art. 50–A). O corpo instrutivo do TCE-PR é formado pelo conjunto de servidores integrantes do quadro de pessoal, que ingressam por meio de concurso público, aos quais competem “o exercício das atividades operacionais, dos serviços auxiliares e administrativos, necessários ao desempenho da função institucional do Tribunal de Contas” (PARANÁ, 2006, Art. 97).

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FIGURA 3 – ESTRUTURA ORGANIZACIONAL DO TCE-PR

FONTE: TCE-PR (s.d.)4

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No que diz respeito a realização de fiscalizações, o Regimento Interno do TCE-PR (2006) determina a necessidade de sua previsão no Plano Anual de Fiscalização (PAF) do órgão, que deve estar em consonância com o Plano Estratégico, este último de duração quinquenal. O primeiro Plano Estratégico elaborado pelo TCE-PR foi o de vigência 2012- 2016, seguido pelo de 2017-2021, assim, a atuação do TCE-PR na fiscalização da “Meta 1” do PNE (2015, 2016 e 2017) perpassa os dois Planos Estratégicos (2012-2016 e 2017-2021). Evidencia-se também o caráter recente dessa prática, pois considerando a data de criação do TCE-PR (1947), o Plano Estratégico poderia estar em sua 14ª edição, bastante distante das duas edições aprovadas até então.

O PAF é elaborado anualmente pela Coordenadoria-Geral do TCE-PR, encaminhado pelo Presidente e aprovado pelo Tribunal Pleno, tendo como referência o plano Estratégico vigente (PARANÁ, 2006, Art. 260). Nele devem estar previstas as auditorias de cunho operacional, inspeções e monitoramentos que serão realizados pelo TCE-PR naquele ano. Desse modo, configura-se como importante documento no planejamento das ações do tribunal, revelando suas prioridades e intencionalidades para o ano de sua vigência. Assim, entende-se que a definição dos temas ou áreas de fiscalização são estabelecidas na elaboração deste documento, portanto subjetivas aos seus autores e ao Tribunal Pleno que decide por sua aprovação.

De acordo com a Lei Orgânica do TCE-PR (2005), cabe ao órgão acompanhar a execução contábil, financeira, orçamentária, operacional, patrimonial e de metas das unidades administrativas dos Poderes Públicos estadual, municipal e dos responsáveis sujeitos à sua jurisdição, por meio de inspeções e auditorias. Os atos do poder público devem ser verificados quanto a sua legitimidade e economicidade, levando em consideração os princípios de legalidade, moralidade, publicidade, eficiência, razoabilidade, proporcionalidade e impessoalidade (PARANÁ, 2005, Art. 9).

Este se configura em um rol extenso de aspectos aos quais o TCE-PR deve se atentar em suas fiscalizações, maior, inclusive, que aquele delimitado na CF/1988, já que a Lei Orgânica do TCE-PR (2005) inclui ainda o acompanhamento de metas das unidades, o que pode legitimar a fiscalização das metas do PNE realizada pelo órgão.

Outro aspecto relevante nessa legislação é previsão de que as administrações públicas não podem sonegar nenhum processo, documentação ou informação às inspeções e auditorias do TCE-PR, sob pena de responsabilização, inclusive com a aplicação de multa (PARANÁ, 2005, Art. 9o, §2o e Art. 87), assim, os administradores são obrigadaos a fornecer a documentação solicitada pelo TCE-PR nas auditorias.

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A Lei Orgânica prevê ainda a possibilidade de firmamento de Termo de Ajustamento de Gestão (TAG) entre o TCE-PR e os administradores estaduais e municipais para “adequar os atos e procedimentos dos órgãos ou entidades sujeitos ao seu controle”, sendo que seu cumprimento permite o afastamento da aplicação de penalidades ou sanções (PARANÁ, 2005, Art. 9o, §5o). Este mecanismo foi incluído recentemente à Lei Orgânica do TCE-PR, pela Lei Complementar nº 194/2016, com inspirações no Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) utilizado pelo Ministério Público. O TAG “trata da solução consensual diante de infração ou possível infração à norma, em substituição à determinação unilateral de correção e fixação de prazo para tal cumprimento, sob pena de sanção” (ATRICON; IRB, 2016a, p. 161). Entre os processos administrativos formalizados pelo TCE-PR, no exercício do controle interno e externo elencados em sua Lei Orgânica (PARANÁ, 2005), estão a prestação e a tomada de contas, a fiscalização de atos e contratos, impugnações, consulta, uniformização de jurisprudência, incidente de inconstitucionalidade, homologação de Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS), sindicância e processo administrativo disciplinar, relatórios de auditoria, inspeção e adiantamento (PARANÁ, 2005, Art. 11, incisos I ao XXI).

Conforme artigo 85 da Lei Orgânica (PARANÁ, 2005), o TCE-PR pode aplicar sanções e medidas como multas, restituição de valores, impedimento para obtenção de certidão liberatória5, inabilitação para o exercício de cargo em comissão, proibição de contratação com o Poder Público estadual ou municipal e a sustação de ato impugnado quando constatar irregularidades em processos administrativos de sua competência. A mesma lei ainda prevê o envio de lista contendo os nomes dos responsáveis de contas julgadas como irregulares pelo TCE-PR ao Tribunal Regional Eleitoral para que sejam declarados como inelegíveis (PARANÁ, 2005, Art. 170).

O TCE-PR pode ainda, realizar fiscalização por iniciativa própria nos órgãos de sua jurisdição “com vistas a verificar a legalidade, a economicidade, a legitimidade, a eficiência, a eficácia, a proteção ambiental, a responsabilidade social e a efetividade de atos, contratos e fatos administrativos” (PARANÁ, 2006, Art. 252). Por meio de sua diretoria-geral também tem autonomia para “elaborar e implementar acordos de cooperação técnica ou instrumentos congêneres a serem firmados pelo Tribunal de Contas com outros órgãos e entidades e

5“Documento que comprova a inexistência de pendências junto ao Tribunal de Contas do Estado do Paraná - TCE. Sua apresentação é exigida pelos órgãos repassadores de recursos para fins de liberação das transferências voluntárias e demais repasses de recursos” (Disponível em: <https://www1.tce.pr.gov.br/conteudo/certidao- liberatoria/117/area/54>. Acesso em 30 mar. 2018).

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acompanhar sua execução, no âmbito de sua competência” (PARANÁ, 2006, Art. 150, inciso XIX).

Como já indicado, um dos instrumentos de fiscalização utilizados pelo TCE-PR é a auditoria, que consiste em “exame objetivo e sistemático das operações financeiras, administrativas e operacionais, efetuado concomitantemente ou posteriormente à sua execução com a finalidade de verificar, avaliar e elaborar um relatório que contenha comentários, conclusões, recomendações e a correspondente opinião” (PARANÁ, 2006, Art. 253).

A auditoria de cunho operacional, é realizada anualmente por equipe técnica, conforme previsto no PAF, sendo este o instrumento utilizado pelo TCE-PR na fiscalização do cumprimento da “Meta 1” do PNE. Trata-se de um tipo de auditoria que, “objetiva examinar a economicidade, eficiência, eficácia e efetividade de organizações, programas e atividades governamentais, com a finalidade de avaliar o seu desempenho e de promover o aperfeiçoamento da gestão pública” (BRASIL, 2015, p. 125).

De acordo com Carvalho (2006), as auditorias operacionais transcendem o conceito de prestação de contas tradicional, conferindo maior transparência às ações do poder público e também responsabilizando os agentes políticos pelos seus atos, desse modo, o autor acrescenta que as auditorias são uma modalidade importante de “fiscalização dos gastos e das ações dos gestores públicos caracterizado como um processo de coleta e análise sistemática de informações sobre processos e resultados de uma determinada política, um programa, atividade ou organização” (CARVALHO, 2006, p. 141).

Além da auditoria, o TC também utiliza outros instrumentos como, as inspeções, levantamentos, acompanhamentos e monitoramentos (PARANÁ, 2006, Art. 256, 257, 259). Desse modo, cabe ressaltar que tais conceitos não são tomados como sinônimos pelo TCE- PR, mas se tratam de instrumentos diferenciados, utilizados pelo órgão para realizar fiscalizações conforme o objetivo pretendido.

De acordo com o “Vocabulário de Controle Externo do TCU” (BRASIL, 2015, p. 496), a inspeção, primeiro instrumento de fiscalização citado no parágrafo anterior, é utilizada pelo TC para “suprir omissões e lacunas de informações, esclarecer dúvidas ou apurar denúncias ou representações quanto à legalidade, à legitimidade e à economicidade de fatos [...]”. Já o levantamento, tem o intuito de “I – conhecer a organização e o funcionamento dos órgãos e entidades da administração direta, indireta e fundacional [...]; II – identificar objetos e instrumentos de fiscalização; e III – avaliar a viabilidade da realização de fiscalizações” (BRASIL, 2015, p. 526).

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Por fim, os outros dois instrumentos de fiscalização utilizados pelo TCE-PR são o acompanhamento e o monitoramento (PARANÁ, 2006, Art. 256, 257, 259), sendo o primeiro utilizado para o exame da legalidade e legitimidade dos atos de gestão ao longo de um período predeterminado, assim como para a avaliação do desempenho de órgãos, entidades, sistemas, programas, projetos e atividades governamentais (BRASIL, 2015); e o segundo, para “verificar o cumprimento de suas deliberações e os resultados delas advindos” (BRSIL, 2015, p. 579).

Desse modo, percebe-se distinção nos instrumentos utilizados pelo TC e, conforme exposto no objeto desse trabalho, a fiscalização realizada pelo TCE-PR nos municípios do estado acerca do cumprimento da “Meta 1” do PNE é feita por meio da utilização do instrumento de auditoria, de modo mais específico, a auditoria operacional.

Assim, esse trabalho utiliza os conceitos de fiscalização e auditoria de acordo com o expresso nesse capítulo, já que estes são os termos utilizados pelo órgão analisado. Desta forma, entende-se fiscalização como “poder-dever de vigilância, exame ou verificação dos órgãos a que a lei atribui a função de exercer um controle público” (BRASIL, 2015, p. 414), sendo a função de fiscalizar estabelecida ao TC pela Constituição Federal desde 1946. Portanto, compreende-se que o conceito de fiscalização é tomado de modo mais abrangente, sendo a auditoria um instrumento utilizado pelo TC para realizar fiscalizações, conforme exposto na atual Constituição Federal (BRASIL, 1988, Art. 71, inc. IV).

Por fim, importante ainda destacar que, conforme Pereira (2017), o TCE-PR configura-se como uma instituição crucial na compreensão da política paranaense, se fazendo presente na condução de interesses políticos no estado por setenta anos, exercendo importante papel político, por vezes negligenciado, já que, como analisa o autor, tem suas indicações baseadas em acordos com o governo estadual e por assim ser, “é um espaço privilegiado na disputa política” (PEREIRA, 2017, p. 116).