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TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL

3 ASPECTOS PRÁTICOS DA PRISÃO EM FLAGRANTE NA POLÍCIA JUDICIÁRIA DO CEARÁ

TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL

EMENTA: APELAÇÃO-CRIME. PREVARICAÇÃO. DELEGADO (AUTORIDADE POLICIAL). DENÚNCIA REJEITADA. POSSIBILIDADE. Apelado, delegado de polícia, denunciado por prevaricação em face de não realizar auto de prisão em flagrante de agente que subtraía, em tese, água da sede do Ministério Público e por meio de uma mangueira. Embora não tenha sido elaborado o auto de prisão em flagrante, a autoridade policial determinou a realização de inquérito policial, inocorrendo disso dolo, omissão em apurar o fato. Decisão monocrática confirmada. Apelo improvido. (Apelação Crime, Nº 70011468105, Sétima Câmara Criminal, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Alfredo Foerster, Julgado em 21/07/2005)

Vale lembrar então, que a prisão antes de uma condenação transitada em julgado é uma exceção e que o trabalho policial baseia-se, fundamentalmente, em desvendar o crime. Portanto, da mesma forma que é obrigação do Delegado prender, soltar também será, se a condução for ilegal, seja quem for o condutor.

Saliente-se que o Delegado de Polícia, na qualidade de agente público, quando atua em nome do Estado, pode ser responsabilizado civilmente se causar dano a outrem. Na explicação de Celso Antônio Bandeira de Melo (2005, p. 964) referindo-se ao Art. 37, da Constituição Federal: “A seu turno, a parte final do § 6º do Art. 37, que prevê o regresso do Estado contra o agente responsável, volta-se à proteção do patrimônio público, ou da pessoa de Direito Privado prestadora de serviço público”. Portanto, tendo o Delegado ratificado uma prisão ilegal, poderá responder com seus bens, se assim agiu com culpa a ser provada, mas o Estado-Administração, responderá objetivamente, ou seja, independente de culpa ou dolo, na reparação do dano ao lesado, podendo depois, se provar a culpa subjetiva do agente público, acioná-lo regressivamente. Observe-se a jurisprudência do Supremo Tribunal Federal:

E M E N T A

RECURSO EXTRAORDINÁRIO. POLICIAL CIVIL. RESPONSABILIDADE OBJETIVA DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA POR ATO ILÍCITO PRATICADO PELO AGENTE PÚBLICO NO EXERCÍCIO DAS SUAS FUNÇÕES. INDENIZAÇÃO DEVIDA.

1. A Constituição Federal responsabiliza as pessoas jurídicas de direito público pelos danos que seus agentes, nessa qualidade, causarem a terceiros, não sendo exigível que o servidor tenha agido no exercício das suas funções.

2. Dano causado por policial. Responsabilidade objetiva do Estado em face da presunção de segurança que o agente proporciona ao cidadão, a qual não é elidida pela alegação de que este agiu com abuso no exercício das suas funções. Ao contrário, a responsabilidade da Administração Pública é agravada em razão do risco assumido pela má seleção do servidor.

Recurso extraordinário não conhecido.

(RECURSO EXTRAORDINÁRIO NÚMERO: 135310 / Origem:SP - JULGAMENTO: 10/11/1997 PUBLICAÇÃO: DJ DATA-27-02-98 SESSÃO: 02 - Segunda Turma

Para o doutrinador Hely Lopes Meirelles (2003, p. 639), a ação de reparação de danos referida não poderá ser intentada diretamente ao agente público, segundo este “o Estado indeniza a vítima; o agente indeniza o Estado, regressivamente”. Contudo, Celso Antônio Bandeira de Mello (2005, p.964) critica este posicionamento, entendendo que a ação pode ser dirigida diretamente ao agente que efetivou o dano. Veja-se a explicação:

A norma visa a proteger o administrado, oferecendo-lhe um patrimônio solvente e a possibilidade da responsabilidade objetiva em muitos casos. Daí não se segue que haja restringido sua possibilidade de proceder contra quem lhe causou dano. Sendo um dispositivo protetor do administrado, descabe extrair dele restrições ao lesado. A interpretação deve coincidir com o sentido para o qual caminha a norma, ao invés de sacar dela conclusões que caminham na direção inversa, benéfica apenas ao presumido autor do dano.

Daí, há de se entender, que o Delegado de Polícia, quando analisa uma circunstância de flagrante, deverá fazê-lo com autonomia, serenidade, profissionalismo e segurança jurídica, pois, se for atender a pedidos e ceder a pressões ou a sentimento pessoal, poderá ter seu patrimônio comprometido futuramente, sem prejuízo das demais sanções previstas em lei.

4. CONCLUSÃO

A prisão como forma de punição pela infringência da norma penal é algo moderno. Mesmo criticada e considerada por muitos como um meio ineficaz, ainda não se vislumbrou nenhuma outra medida que possa conciliar a defesa da sociedade com as garantias da pessoa humana. Conclui-se daí que é muito melhor, ou menos pior, a restrição de liberdade que a aplicação dos suplícios praticados no século XIX.

A prisão em flagrante definida como medida excepcional, cuja a aplicação exige rigoroso exame, tem apresentado efeitos significativos aos anseios de uma sociedade que vivencia um avançado crescimento da violência, em reflexo a morosidade do poder judiário e ao crescimento populacional dos grandes centros do país em que a capital do Estado do Ceará, Fortaleza, assume a quarta posição.

O Delegado de Polícia é o aplicador do instituto da prisão em flagrante que exige: solenidade, cautela e precaução, indispensáveis a atos revestidos de discricionariedade. A ordem jurisprudencial e doutrinária precisam ser consideradas na análise da prisão em flagrante diante da perspectiva de que a Constituição vigente recepciona a liberdade de locomoção como direito fundamental do cidadão.

Constata-se que a entrada em vigor da lei número 11.449/2007, seguindo a diretriz principiológica extraída do código de processo penal, pretendeu tornar inequívoca a necessidade de assistência do defensor antes mesmo de iniciado o processo, na fase pre-cautelar da prisão em flagrante. A nova regulamentação legal procurou entender o papel da defesa além do processo judicial, ao exigir a comunicação a Defensoria Pública acerca da prisão em flagrante, caso o autuado não informe o nome de seu advogado.

A entrada em vigor da Lei 11.113/2005 resultou num ganho para a população, que se via muitas vezes desprotegida das rondas ostensivas da polícia militar, quando os componentes de uma patrulha perdiam muitas horas depondo na elaboração de um auto de prisão em flagrante na Delegacia de Polícia.

Nota-se que a Constituição Federal atribuiu objetivamente o trabalho investigativo à Polícia Civil, contudo, a Polícia Militar e o Ministério Público entram nesta seara, mas não de forma objetiva, investigando somente casos de repercussão e notoriedade.

A prisão em flagrante deve ser imediatamente comunicada a autoridade judiciária competente a quem cabe decidir os aspectos legais. O Ministério Público títular do controle externo da atividade policial figura como destinatário indispensável quanto a comunicação da prisão do infrator em flagrante.

A prisão em flagrante efetuada por qualquer do povo é plenamente aceita pela legislação processual, sendo este mais um instrumento de defesa da sociedade, que não poderia ficar a mercê somente dos atos dos agentes públicos.

REFERÊNCIAS

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