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CAPÍTULO 3: POLÍTICA DE DIVIDENDOS NO BRASIL

3.2 TRIBUTAÇÃO NA DISTRIBUIÇÃO DE DIVIDENDOS

Agora vamos tratar dos aspectos mais importantes sobre a legislação tributária e a sua relação com a política de dividendos das empresas. É reconhecido que a legislação tributária exerce mudanças no comportamento de escolha ótima dos agentes econômicos, ou seja, exerce mudanças no sentido de incentivar a substituição de opções tributáveis por opções não tributáveis, se os agentes econômicos querem de maximizar alguma função objetivo, como por exemplo, o ganho líquido do investidor após o pagamento dos impostos.

Como exemplo prático, podemos considerar a decisão dos investidores em investir ou não no mercado de ações, quando existe tributação da renda advinda dos ganhos no mercado acionário, como a taxação dos ganhos de capital versus os ganhos do pagamento

de dividendos. No nosso caso, estamos basicamente interessados na legislação que trata de modificações nos lucros das empresas, dos dividendos e dos ganhos de capital.

Um dos eventos recentes mais importantes a respeito da tributação sobre a distribuição de dividendos, foi o fato de que os dividendos distribuídos e calculados com base nos resultados a partir do mês de janeiro de 1996, não sofrem qualquer tipo de tributação.

Portanto, atualmente quaisquer remunerações pagas a título de dividendos, como forma de remunerar os acionistas, não serão tributadas, ou seja, os investidores atualmente recebem integralmente os valores distribuídos. Dessa forma, consideraremos essas remunerações isentas, não passíveis de incidência tributária. Um ponto importante a ser considerado aqui é que essa isenção ocorre tanto para o beneficiário pessoa física quanto pessoa jurídica.

Apresentaremos agora um pequeno resumo sobre as principais modificações introduzidas na legislação a partir da vigência da Lei das Sociedades Anônimas de 1976. No começo da década de 80, existia um grande incentivo à abertura de capital das empresas através do uso de vantagens tributárias, principalmente no que diz respeito sobre a alíquota de imposto sobre os dividendos das companhias abertas. Não obstante, existia uma maior rentabilidade para o acionista que auferisse ganhos de capital na venda de suas ações, visto que essa operação não era tributada. Essa situação continua até o ano de 1988.

Em 1989 foi instituída a tributação sobre os ganhos de capital, fazendo com que as empresas ficassem indiferentes entre distribuir ou não os dividendos. Já no período 1990- 1993, os dividendos passam a ser vantajosos para os acionistas em relação aos ganhos de capital. Na maior parte desse período, a tributação sobre os ganhos de capital foi de 25%, o lucro líquido foi tributado em 8% e os dividendos não eram taxados.

No ano de 1993, o imposto sobre o lucro líquido deixou de ser exigido, além disso, não existia qualquer tributação sobre a distribuição de lucros. Houve uma forte tendência

para a distribuição de dividendos proporcionada pela isenção tributária, e pela taxação de 25% sobre os ganhos de capital.

Em 1995, houve uma redução da alíquota dos ganhos de capital. Dessa forma, ficou mais atrativo para os investidores, a obtenção de rendimentos mais elevados através da venda de suas ações, desde que essa operação fosse de renda variável. Portanto, podemos observar uma forte discrição da legislação tributária em relação a essa matéria.

A partir de 1996 a legislação tributária sobre os dividendos muda radicalmente. Foi instituída a possibilidade de dedução de parte dos dividendos, na forma de JSCP, na base de cálculo do imposto de renda, e também na base de cálculo da contribuição social sobre o lucro (em 1997).

Atualmente a distribuição de dividendos deixou de ser tributada, enquanto que existe a taxação de 20% sobre os ganhos de capital. Com isso, a legislação tributária incentivou a distribuição de dividendos, tanto na forma de JSCP, quanto na sua forma original.

Em um estudo recente, Paiva & Lima (2001) procuraram evidências empíricas a respeito da influência da tributação e dos JSCP na política de dividendos das empresas, antes e depois da instituição dos JSCP na legislação tributária. Os autores utilizaram a metodologia dos Testes de Diferenças entre Médias, e também utilizaram a Análise de Variância para testar as seguintes hipóteses:

a) as empresas aumentaram o nível de pagamento de dividendos (payout) a partir de 1996.

b) não há diferença entre os payouts das empresas que pagaram JSCP daquelas que não pagaram.

c) as empresas que pagaram JSCP distribuíram o benefício fiscal gerado pela redução da base de cálculo do Imposto de Renda das Pessoas Jurídicas (IRPJ) e da Contribuição Social sobre o Lucro (CSSL) para os seus acionistas.

Os resultados dos testes realizados não conseguiram sustentar a hipótese de que a isenção tributária dos dividendos e a manutenção da alíquota sobre os ganhos de capital acarretaram mudanças significativas na política de dividendos das empresas.

Outro resultado interessante foi de que as empresas que pagaram JSCP apresentaram uma tendência de aumento no payout de dividendos, enquanto que as empresas que não pagaram tenderam a um declínio no índice payout. Entretanto, os testes estatísticos não conseguiram rejeitar a hipótese de inexistência de diferenças significativas entre os dois grupos de empresas (as que pagaram JSCP, e as que não pagaram).

O interessante do estudo de Paiva & Lima, é que os resultados encontrados pelos autores são consistentes com os resultados encontrados em Poli & Prociany (1994): as reformas na legislação fiscal de 1990 não modificaram significativamente a política de dividendos das companhias da capital aberto. Ou seja, parece que a evidências empíricas encontradas em Poli & Prociany (1994) e Paiva & Lima (2001) sugerem que a política de dividendos não é alterada significativamente devido a mudanças na legislação tributária. Agora discorreremos sobre os JSCP como uma forma alternativa de remuneração dos acionistas.

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